6.8.13
Fusca, Fusquinha, Fuscão. Em todas suas variedades e quase 70 anos de história, o simpático carrinho – tão querido de Hitler – conquistou os corações de milhões de motoristas. E continua vivendo até hoje, no New Beetle.
Fusca, Fusquinha, Fuscão. Em todas suas variedades e quase 70 anos de história, o simpático carrinho – tão querido de Hitler – conquistou os corações de milhões de motoristas. E continua vivendo até hoje, no New Beetle.
O último Volks Sedan do mundo recebe as devidas honras no México.
O dicionário Aurélio nem arrisca uma etimologia: "Fusca: automóvel Volkswagen de motor de 1200 ou 1300 cilindradas; fusquinha". O termo possui ainda uma segunda acepção – "embriaguez, bebedeira", no português do Cabo Verde. Mas que dificilmente terá algo a ver com esse veículo de design absolutamente único.
O Brasil apelidou o Volkswagen Sedan com este nome curioso e de origem enigmática, ao contrário do resto mundo, onde é infalível a alusão a sua forma de besouro: Käfer na Alemanha, Beetle ouBug nos países de língua inglesa, Escarabajo nos de língua espanhola, Maggiolino na Itália, ou Coccinelle na França.
Este ícone da indústria automobilística mundial foi criado em 1934 na Alemanha por Ferdinand Porsche, sob encomenda de Adolf Hitler. A meta do líder nazista era apresentar um "carro do povo", um Volkswagen, portanto.
Quando de seu lançamento, no ano seguinte, ele apresentava, entre outras características revolucionárias, motor refrigerado a ar e câmbio de quatro marchas. As duas pequenas janelas traseiras, em forma de "D" só apareceriam em 1936. De resto, quatro assentos, desempenho de até 100 quilômetros por hora, cruz suástica no pedal de freio, tudo por apenas 990 reichsmark: um povo, umreich, um carro.
Salvo pela sorte
Com o início da Segunda Guerra Mundial, o pacífico besourinho foi mobilizado como veículo bélico, com uma produção de 70 mil unidades e em diversas variantes, inclusive uma anfíbia. O fim da guerra quase significou a morte do Käfer: a fábrica de Hanôver estava em ruínas, mesmo antes do término de sua construção.
Foi necessária a providencial intervenção do major inglês Ivan Hirst, que redescobriu o modelo do velho "Volks". E assim a produção foi retomada, para serviços de primeira necessidade, como atendimento médico ou correios.
Prova do sucesso do projeto Fusca – do ponto de vista de uma "seleção natural das espécies industriais" – é o fato de que, aperfeiçoamentos de design à parte, não houve qualquer alteração significativa em sua mecânica, até 1956. A esta altura o automóvel já conquistava os Estados Unidos. Nos anos 60 ele foi mascote do movimento hippie.
Cartaz do Fusca de 1969Na década seguinte, sua popularidade era coroada com o lançamento, pelos Estúdios Walt Disney, de Se meu Fusca falasse. Tratava-se do primeiro de uma série de filmes dedicados a Herbie, um carrinho tão inteligente quanto sensível. Tudo isso, bem antes da primeira crise mundial do petróleo: quem se importava se o rechonchudo modelo não fazia nem sete quilômetros por litro de gasolina e engolia um horror de óleo?
Crepúsculo de uma lenda
Carisma à parte, os dias do Fusquinha estavam contados. Sua produção na Europa seria suspensa em 1978, e no Brasil, na década seguinte. O significado afetivo do veículo ainda era tão notável que, no início da década de 90, o então presidente Itamar Franco tentou heroicamente ressuscitá-lo.
A Volkswagen do Brasil completou meio século de existência em março de 2003. Desde o lançamento do Fusca no país, em 3 de janeiro de 1959, foram vendidas 3,3 milhões de unidades. Uma marca que nem um outro monstro sagrado como a Kombi pode fazer esquecer.
Em 10 de julho de 2003, foi fechada a última linha de produção do Fusca do mundo, em Puebla, no México. Uma existência de honrarias chegava a um fim nem tão digno assim: a prefeitura da Cidade do México condenara seus 100 mil táxis verdes, todos Fuscas, por tornar irrespirável a atmosfera da capital. Um golpe de misericórdia para a lenda automobilística, que nos últimos tempos não vendia mais do que mil unidades por mês.
A imortalidade do besouro - Mas não é à toa que o escaravelho – também uma espécie de coleóptero – é o símbolo egípcio da imortalidade: o Fusca sobrevive agora em seu sucessor, o New Beetle: mais cool, mais econômico. Os fuscamaníacos mais radicais sem dúvida torcerão o nariz para as modernizações na forma externa e outros detalhes. Mas é bom não esquecerem que, em cada "novo besouro", sorri o espírito de um simpático e venerável Fusquinha.
Data 16.08.2003
Autoria Augusto Valente
Fonte: DW