22.8.13
HISTÓRIA DA REPÚBLICA DA ÁFRICA DO SUL
Os europeus tomam contato com a região em 1487, quando o navegador português Bartolomeu Dias contorna o Cabo da Boa Esperança.
Ponto estratégico na rota comercial para as Índias e habitada por diversos grupos negros (bosquímanos, khoi, xhosas, zulus), a região é povoada por imigrantes holandeses, franceses e alemães no século XVII. Esses colonos brancos – chamados bôeres ou africânderes – fixam-se na região e desenvolvem língua própria, o africâner.
Em 1806, os ingleses tomam a Cidade do Cabo e lutam contra negros e bôeres. Os choques levam os bôeres a emigrar maciçamente para o nordeste (a Grande Jornada, de 1836), onde fundam duas repúblicas independentes, Transvaal e Estado Livre de Orange. A entrada dos britânicos no Transvaal provoca tensões e resulta na Guerra dos Bôeres, que termina com a vitória britânica...
Postal com o mapa de Transvaal e Estado Livre de Orange, e os retratos do Presidente Krüger e do General Joubert. Paul Kruger foi Presidente da República do Transvaal entre 1883 e 1902.
Luta entre o Reino Unido e a população bôer, descendente de colonizadores holandeses e fundadores das repúblicas independentes de Transvaal e Orange, no nordeste da África do Sul.
Em 1899, eclodiu entre os colonos holandeses e os ingleses a Guerra dos Boers ou Guerra dos Bôeres, marcando com batalhas sangrentas a disputa do rico território sul-africano... O conflito, que dura de 11/10/1899 a 31/05/1902 (como mostra a imagem abaixo), inicia-se com a tentativa da Coroa britânica de anexar as duas repúblicas, ricas em jazidas de diamante, ouro e ferro.
Carnê emitido pela África do Sul em 2002, em comemoração ao Centenário da Guerra Anglo Boer.
Cartão-postal com a bandeira e o Brasão de Armas da República do Transvaal.
Do lado esquerdo, o postal ilustra a Guerra dos Bôeres, com a inscrição: “Para a Independência de Transvaal”. O outro é sobre a chegada do Presidente Krüger, no dia 22/11/1900, em Marseille – França. Em 1902, o Presidente Krüger foi mandado para o exílio, onde veio a falecer em 1904.
Os bôeres, que ocupam a região desde 1830, lutam para preservar sua independência. Os ingleses veem nesse nacionalismo um perigo à dominação do Reino Unido no sul da África. A princípio, a supremacia é dos bôeres, que começam a guerra. Invadem a colônia do Cabo, além de sitiar cidades importantes e anexar territórios ingleses. Mas, em 1902, acontece a contra-ofensiva inglesa. A superioridade britânica em homens e armamentos derrota os bôeres.
Os cartões-postais mostram o General Delarey (26/10/1902) e o General Dewet (29/10/1902). Ambos são desenhos assinados pelo artista Orens.
As tropas inglesas devastam e queimam propriedades ao longo da guerra. Os bôeres capturados são colocados em campos de confinamento, onde morrem cerca de 20 mil pessoas. As notícias sobre o tratamento desumano dado pelos ingleses aos prisioneiros intensificam a imagem negativa do Reino Unido perante a opinião internacional...
Do lado esquerdo, um postal sobre a Guerra Bôer (Eendragt Maakt Magt), com retrato do Presidente Krüger. Ao lado, desenho sobre o General Botha, assinado pelo artista Orens.
Com a Paz de Vereeniging (1902), as repúblicas são incorporadas ao Reino Unido e, bem mais tarde, em 1910, juntam-se às Colônias do Cabo e de Natal para constituir a União Sul-Africana.
Cartão-postal com o Presidente Krüger, Dr Leyds e Conselheiros de Estado.
Apartheid
A partir de 1911, a minoria branca, composta de africânderes e descendentes de britânicos, promulga uma série de Leis que consolidam seu poder sobre a população majoritariamente negra. A política de segregação racial doApartheid (separação, em africâner) é oficializada em 1948, com a chegada ao poder do Partido Nacional (NP), que domina a política por mais de 40 anos.
O Apartheid impede o acesso dos negros à propriedade da terra e à participação política e os obriga a viver em zonas residenciais separadas dos brancos. Casamentos e relações sexuais entre pessoas de raças diferentes tornam-se ilegais...
A oposição ao Apartheid toma forma na década de 50, quando o Congresso Nacional Africano (CNA), organização negra criada em 1912, lança campanha de desobediência civil. Em 1960, a polícia mata 67 negros que participavam de uma manifestação em Sharpeville, favela situada a 80 quilômetros de Johanesburgo.
O Massacre de Sharpeville – como se torna conhecido – provoca protestos no país e no exterior. Como consequência, o CNA é declarado ilegal. Seu líder, Nelson Mandela, é preso em 1962 e condenado à prisão perpétua... Como veremos na breve história de Nelson Mandela, abaixo...
Ativista e político sul-africano, nome de maior projeção da luta contra o Apartheid. É um dos líderes do processo de negociação que conduz a maioria negra ao poder e se torna o 1º Presidente negro eleito no país, em 1994. Nascido em Umtata, Transkei, filho de uma família real do Tembu, tribo da etnia xhosa. Mandela foi educado em uma escola missionária britânica e na Fort Hare University, da qual foi expulso, junto com Oliver Tambo, por liderar uma greve, em 1940.
Conseguiu se formar advogado pela Universidade da África do Sul. Funda em 1944, com ajuda de Walter Sisulu e Tambo, a Liga da Juventude do Congresso Nacional Africano (CNA), grupo de direitos civis que luta contra o regime autoritário branco. Esses 3 homens alcançaram a cúpula do CNA em 1948, com Mandela na presidência em 1950. Mandela casou-se com Evelyn Ntoko, com quem teve 3 filhos. Divorciaram-se anos mais tarde.
Em 1952, lidera a campanha de desobediência civil às leis racistas, percorrendo todo o país, na luta contra o Apartheid e pela conquista dos direitos democráticos de seu povo. Preso por traição, em 1955/1956, é absolvido cinco anos depois. Em seguida ao Massacre de Shaperville (1960), realizado pela polícia sul-africana contra manifestantes, o CNA é declarado ilegal. Mandela ajuda a fundar seu braço armado, o Lança da Nação. É preso em 1962 e condenado a cinco anos de cadeia. Sua pena é ampliada para prisão perpétua em 1964.
Em 05/07/1989, o Presidente sul-africano Pieter Botha entrevista-se com Nelson Mandela para preparar sua libertação. Mas, foi o seu sucessor na liderança do Partido Nacional, Frederik Willem de Klerk, que no dia 02/02/1990 anuncia no Parlamento as primeiras medidas para pôr fim ao sistema de Apartheid. Libertado em 11/02/1990, assume a liderança do CNA e negocia a nova Constituição com o governo de Frederik de Klerk. O Presidente De Klerk pede perdão pelo Apartheid, em outubro de 1992. Um ano depois, em outubro de 1993, De Klerk e Mandela recebem o Prêmio Nobel da Paz.
É posta em vigor a nova Constituição provisória não-racial, que outorga direito de voto à maioria negra e, em 27/04/1994, as primeiras eleições multirraciais na África do Sul são realizadas. Nelson Mandela sai candidato pelo Congresso Nacional Africano e se torna Presidente.
Série de 4 valores emitida pela África do Sul em 10/05/1994 para marcar a Inauguração Presidencial (Presidential Inauguration), cujos selos mostram: Nelson Mandela (45c), as palavras combinadas do Hino Nacional, “Die Stem von Suid Afrika” e “Nkosi Sikelel iAfrika” (70c), Bandeira Nacional da nova democrática África do Sul (95c) e Edifícios da União onde Mandela tomou posse como Presidente em 10/05/1994 (R1.15).
Do lado esquerdo, selo emitido em 1999 pela Irlanda, Celebrando o Milênio (Celebrating The Millennium), mostra que Nelson Mandela é tido como um dos mais famosos personagens do século XX. Do lado direito, selo da Noruega, que compreende uma série de 8 valores emitida em 2001, para marcar as comemorações do Centenário do Prêmio Nobel (Nobels Fredspris 100 ár), cujos selos mostram: 5.50 Aung San Suu Kyi (1991), 5.50 Nelson Mandela(1993), 7.00 Alfred Nobel (1833-1896), 7.00 Henry Dunant (1901), 9.00 Fridtjof Nansen (1922), 9.00 Mikhail S. Gorbatsjov (1990), 10.00 Martin Luther King (1964) e 10.00 Rigoberta Menchu Tum (1992).
Bantustões – Nos governos dos Primeiros-ministros Hendrik Verwoerd, de 1958 a 1966, e B.J. Voster, de 1966 a 1978, a política do Apartheid agrava-se. Uma série de leis classifica e separa os negros em diversos grupos étnicos e linguísticos, gerando um processo que cria, em 1971, os bantustões – nações tribais independentes onde os negros são confinados.
Com o fim do império colonial português na África (1975) e a queda do governo de minoria branca (1980) na Rodésia, atual Zimbábue, o domínio branco na África do Sul entra em crise. Em 1984, uma revolta popular contra o Apartheid leva o governo a decretar Lei Marcial.
A comunidade internacional reage e a ONU decreta sanções à África do Sul como forma de pressão pelo fim do Apartheid. Acuado, o Presidente Pieter Botha promove reformas, mas mantém os aspectos essenciais do regime. No mundo todo ganha corpo um movimento pela libertação de Mandela...
Fim do Apartheid – Ocorrem várias mudanças no país com a posse de Frederik de Klerk na Presidência, em 1989, em substituição a Botha. Em fevereiro de 1990, Mandela é libertado e o CNA recupera a legalidade. De Klerk revoga leis raciais e inicia o diálogo com o CNA. Sua política, criticada pela direita, é legitimada por um plebiscito só para brancos, realizado em 1992, em que 69% dos votantes se pronunciam pelo fim do Apartheid.
Mas entre os negros também há resistências... O Partido da Liberdade Inkhata, organização zulu (etnia Zulu), disputa com o CNA a representação política dos negros. Seu líder, Mangosuthu Buthelezi, acusa Mandela de traição. A disputa degenera em sangrentos conflitos.
Cartão-postal sobre etnia: luta entre Assegais....
Eleições multirraciais: Em 1993, inconformados com o avanço das reformas, líderes de 21 grupos extremistas brancos fundam a Frente Nacional Africânder (FNA) e ameaçam criar um país independente no Transvaal. Mesmo com essa resistência, De Klerk convoca para abril de 1994 as primeiras eleições multirraciais para um governo de transição.
Eleito Presidente pelo CNA, o partido de Mandela, obtém 62,6% dos votos, conquistando 252 das 400 cadeiras da Assembleia Nacional. O CNA junta-se ao NP para formar o governo de unidade nacional. A aliança possibilita o primeiro governo multirracial do país. O Parlamento aprova, em novembro de 1994, a Lei de Direitos sobre a Terra, restituindo propriedades às famílias negras atingidas pela lei de 1913, que destinara 87% do território sul-africano à minoria branca.
Em junho de 1995 é aprovada a Lei de Reconciliação e Promoção da Unidade Nacional, que cria a CRV. Presidida pelo arcebispo Desmond Tutu, a CRV tem poderes para anistiar crimes contra direitos humanos praticados na vigência do Apartheid. Fim do governo de unidade nacional – Em junho de 1996 ocorre ampla mudança na equipe de governo: todos os ministros do PN são substituídos por simpatizantes do CNA em consequência da retirada do partido de De Klerk do governo. A decisão do PN foi motivada pelo fato de o partido discordar de alguns pontos da nova Constituição, aprovada em maio de 1996.
Anistia e privatização – A CRV recebe até o início de 1997 cerca de 3,5 mil confissões de crimes contra os direitos humanos, entre elas a de cinco policiais brancos que assumem a autoria do assassinato do ativista negro Steven Biko, em 1977. No fim de novembro, Winnie Mandela, ex-esposa do Presidente, depõe perante a Comissão de Verdade e Reconciliação. Ela e seu grupo de guarda-costas e colaboradores são acusados de violação aos direitos humanos, que incluem pelo menos seis assassinatos praticados entre 1988 e 1992.
Em março de 1997, o governo vende 30% da Telekom (estatal de telecomunicações) para um consórcio da Malásia, na maior privatização ocorrida na África Subsaariana. Em junho, a justiça sul-africana condena o líder do neonazista Movimento de Resistência Africânder, Eugène Terreblanche, a seis anos de prisão por tentativa de assassinato de um de seus empregados negros...
Fonte: http://www.girafamania.com.br/africano/materia_asul_historia.htm