7.9.13
E se a África não sofresse a “partilha”?
Desde o século XV, quando os europeus iniciaram sua expansão marítima para a América, a Ásia e a África, até meados do século XX que estes 3 continentes sofreram a “ingerência” do homem branco. Alguns locais mais, outros menos – a América, por exemplo, passa para o “domínio” dos EUA definitivamente após o fim da Primeira Guerra Mundial -, mas o fato é que os interesses comerciais europeus influenciaram o mundo todo durante um bom tempo. E talvez o continente africano tenha sofrido as piores consequências deste domínio.
De todos os processos imperialistas sofridos pela África, nenhum fez o continente sangrar tanto quanto o que nós historicamente denominamos de “partilha”. Mas antes de entender o que exatamente foi esta partilha, vamos ver como os países europeus enxergavam a África.
Fonte de mão-de-obra barata e mercado consumidor formado por sub-humanos:
Os europeus nunca esconderam que a África serviria apenas como área de exploração. O discurso real pode estar escondido atrás de uma cruz que batizava os “infiéis” ou de uma imposição ao fim do tráfico de escravos feita ao país que mais exportava mão-de-obra barata para suas lavouras, mas a verdade é que os africanos sempre sofreram alguma influência direta em suas vidas causadas pelos europeus desde os primeiros contatos com a África sub-saariana, lá no século XV.
E as justificativas eram várias: desde a já citada “falta de religião” dos povos, o que garantia a presença de missionários, passando pelo conceito disseminado entre os antropólogos europeus que viveram nos séculos XVIII e XIX, que o homem negro fazia parte de uma “sub-raça” humana, desprovida de desenvolvimento, e por isso fadada à dominação do homem branco.
A escravidão que tirou milhões de africanos de suas tribos e levou-os para as lavouras da América só acabou porque naquele momento as nações produtoras de bens de consumo – principalmente a Inglaterra – precisavam de maiores mercados consumidores… e escravo não recebia salário, por isso não tinha como participar deste mercado consumidor.
Assim o europeu ia ditando o ritmo das mudanças no continente africano. E quando foi necessário definir exatamente cada território que cada país imperialista deveria tomar conta, os europeus usaram a velha tática do “dividir para conquistar”.
“A partilha”: esqueçam a geografia, uma linha reta é mais fácil de traçar.
Os africanos tinham, em maior ou menor grau, uma clara noção de territorialidade, do espaço onde seu povo vivia e onde começava o território do outro povo. E os povos entravam sim em atrito, dependendo das relações humanas que existiam entre eles e que foram moldadas por séculos de convivência. Notem que este “atrito” foi colocado na frase para designar qualquer relação entre os povos, seja ela uma relação amistosa ou não, ok?
Todos estes atritos, principalmente os não-amistosos, eram resolvidos de alguma forma. Pela via diplomática, em uma reunião entre os “chefes”, ou pela guerra. Mas eram resolvidos da forma “africana”, e cada um com seus problemas, concordam? E o que o homem branco fez ao delimitar suas áreas de influência na África? Vamos tentar explicar com o desenho abaixo:
O péssimo desenho acima representa (vamos imaginar, ok? o professor aqui não sabe desenhar) um pedaço do continente africano. Reparem que os territórios circulares eram inicialmente ocupados por povos distintos, com diversos fatores que os separavam – cultura, religião, idioma etc…
O homem branco veio e disse que de uma hora para outra uma linha estava separando estes povos. Em alguns lugares, o povo que era numeroso, unido e forte passou a ser minoria naquele espaço geográfico que agora o homem branco dizia ser um “país”. Esquece a cultura e o idioma diferentes, de um dia para outro você foi obrigado a viver em um mesmo território com um povo que podia – ou não – ser bem diferente do seu. Estas divisões vão causar diversos conflitos étnicos em diversos pontos da África. E não se assustem, na Europa e na Ásia também ocorreram – e ainda ocorrem até hoje – conflitos entre alguns povos.
Agora vamos observar o mapa real da África após a “partilha”.
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A Conferência de Berlim, que ocorreu entre 1884 e 1885, dividiu o continente nestas “áreas de influência” como nós podemos ver ao lado. O que definiu exatamente a área que cada país deveria tomar conta foram os trabalhos de exploração do interior do continente feito por homens como David Livingstone e John Speke, além dos contatos comerciais a partir das navegações, a maioria feita bem antes da Conferência de Berlim.
Esta divisão inicial também sofreu com guerras entre colonos de países diferentes como, por exemplo, a guerra dos Bôeres, entre colonos holandeses e os ingleses que viviam no sul do continente. O motivo? A descoberta de diamantes na região.
Aproveitando a “deixa”, outro fator que levou os europeus a controlar o continente foi justamente a quantidade de metais e pedras preciosas, além das matérias-primas. Por viver muito tempo “isolado” do mundo exterior, a África tinha toneladas de metais e outros “tesouros” enterrados, esperando apenas a extração. Como os africanos até sabiam trabalhar bem o metal mas não o faziam em larga escala, o europeu encontrou muita matéria-prima para as crescentes indústrias e fábricas que produziam as riquezas de seus países.
Mas e a África sem a “partilha”?
Bom… o continente já conta com mais de 50 países, muitos definidos a partir destas partilhas. A África sofreu um grande “boom” de independências logo após o fim da Segunda Guerra Mundial, mas os problemas causados pelas divisões existem até hoje.
Muitos países são extremamente subdesenvolvidos, em grande parte por conta da exploração imperialista, e hoje em dia alguns perdem milhões de dólares por ano tentando estancar conflitos internos – que tem vários motivos, muitas das vezes são conflitos étnicos motivados por diferenças históricas entre povos distintos obrigados a viver dentro da mesma fronteira -, além do não-crescimento das economias justamente pela insegurança causada por estes conflitos.
Países sofrem com a fome crítica, existem milhares de campos de refugiados espalhados pelo continente e a situação, dependendo do país, só tende a piorar.
Na África do Sul nós tivemos uma época intensa de apartheid, aquele regime segregador que separava brancos e negros. Talvez, se o homem branco não invadisse a África, nós nunca teríamos um exemplo como Nelson Mandela para mostrar ao mundo que apesar das diferenças, somos todos iguais. Mandela é uma personalidade valorosa para o mundo, mas não seria tão bom se o homem não dependesse destes exemplos para ser melhor com o próximo?
Fonte: http://www.historiazine.com/2011/08/e-se-a-africa-nao-sofresse-a-partilha.html