É sabido que os filósofos pré-socráticos (filósofos da physis) são os pensadores anteriores a Sócrates (470/469 a.C–399 a.C). Esses filósofos são considerados os pioneiros da Filosofia ocidental. Em suas lucubrações, buscavam um entendimento para o primeiro princípio – arché – princípio esse que deveria estar presente em todos os momentos da existência de todas as coisas manifestas. Essa arché deveria estar no início, no desenvolvimento e no fim de tudo.
De certa forma, parece que a Humanidade não avançou muito nessa matéria – na realidade retrocedeu – pois continua a buscar esse primeiro princípio – Deus – nas mais diversas pirotecnias que nascem, caducam e desaparecem. Se o homem parasse um instantinho só para refletir no que disse Xenófanes — mas, se mãos tivessem os bois, os cavalos e os leões, e pudessem com as mãos desenhar e criar obras como os homens, os cavalos pintariam figuras de deuses semelhantes a cavalos e os bois semelhantes a bois, tais quais eles próprios — talvez não achasse engraçada essa reflexão. Mas, poucos praticam a dialética e muito poucos meditam ou discorrem sobre questões e problemas filosóficos. Ir às compras e dissipar é mais prazeroso!
Tales de Mileto
[(624 a. C. (?) - 547 a. C. (?)]
(Não se conhecem fragmentos de Tales. Seu pensamento é conhecido através de Aristóteles, Diógenes Laércio, Heródoto, Teofrasto e Simplício).
O Cosmos é um.
Essa é uma questão recorrente no âmbito da Filosofia. Não há um único filósofo que não tenha meditado sobre o Universo, e, na realidade, tanto faz que se admita o Universo como sendo um ou vários, isto é, que se pense em ilimitados universos, pois se prevalecer o segundo entendimento a soma ilimitada de todos os ilimitados universos dará como resultado um Universo-Mãe ilimitado.

Pode-se, enfim, inferir do pensamento deste Filósofo que se tudo provém da Água; à Água tudo haverá de retornar. A grande especulação que fica em aberto é se Tales considerava esse primeiro princípio como H2O ou se reconhecia algo anterior que produziria a própria H2O! Estou inclinado a ficar com a segunda hipótese. Ora, se o Cosmos é um, como disse Tales, como ele poderia ter pensado que uma coisa material (H2O) pudesse dar origem a coisas imateriais? Como poderiam os deuses, a inteligência cósmica e instâncias mais elevadas provirem da H2O física, molecular (ainda que o conceito de molécula não fosse conhecido publicamente)? Este raciocínio, que não repetirei, vale para todas as especulações metafísicas dos Iniciados Pré-socráticos. Se hoje ainda não é possível dizer tudo, que dirá há mais de dois milênios! Daí os mitos gregos, por exemplo, que não diziam nada e diziam tudo.
Anaximandro de Mileto
[(547 a. C. (?) - 610 a. C. (?)]
O Ilimitado é eterno, imortal e indissolúvel.

Percebendo que tudo o que é gerado chega a um fim e é dissolvido, Anaximandro (parente, discípulo e sucessor de Tales) admitiu que todo e qualquer princípio deriva de um Princípio Indefinido Ilimitado e Eterno que não envelhece e é responsável pela gênese e pela dissolução do Universo, repetindo-se desde um tempo ilimitado. Segundo Teofrasto, Anaximandro afirmou que o princípio de todas as coisas existentes não é nenhum dos denominados elementos (Água, Ar, Terra e Fogo), mas o Ápeiron (sem limites) — ... uma outra natureza 'Ápeiron', de que provêm todos os céus e mundos nele contidos... E a fonte de geração das coisas que existem é aquela em que se verifica também a destruição 'segundo a necessidade'; pois pagam castigo e retribuição uns aos outros pela sua injustiça, de acordo como o decreto do Tempo...
A pluralidade dos mundos, segundo o Filósofo, seria derivada de uma ruptura na unidade do Ápeiron, e a sucessão ilimitada de mundos pode ser entendida de duas maneiras: como continuidade cósmica ou como hiatos acósmicos, nos quais, entre mundo(s) e mundo(s) existiriam hiatos extra cósmicos (Ápeiron). O 'Ápeiron' se nos apresenta – segundo José Manuel Fernández – como a fonte inesgotável de energia [em perpétuo movimento] que garante a transformação [evolução ou perene reintegração] e a unidade do cosmos [em si mesmo].
Anaxímenes de Mileto
[(585 a. C. (?) - 528/525 a. C. (?)]
Como nossa alma, que é Ar, nos governa e sustém, assim também o sopro e o Ar abraçam todo o cosmos. (Este é o único fragmento conhecido de Anaxímenes, embora, segundo Gerd Bornheim, não haja certeza de que seja autêntico.)

Xenófanes de Cólofon
(Escreveu exclusivamente em versos)
[(580/577 a. C. (?) - 460 a. C. (?)]
Tudo sai da Terra e tudo volta à Terra. Tudo que nasce é Terra e Água. Nascemos todos da Terra e da Água.
Os mortais imaginam que os deuses são engendrados, têm vestimentas, voz e forma semelhante a eles.
Mas, se mãos tivessem os bois, os cavalos e os leões, e pudessem com as mãos desenhar e criar obras como os homens, os cavalos pintariam figuras de deuses semelhantes a cavalos e os bois semelhantes a bois, tais quais eles próprios...
Um único deus, o maior entre deuses e homens, nem na figura nem no pensamento é semelhante aos mortais.
Homem nenhum viu e não haverá quem possa ver a verdade acerca dos deuses e de todas as coisas das quais eu falo; pois, mesmo se alguém conseguisse se expressar com toda exatidão possível, ele próprio não se aperceberia disso. A opinião reina em tudo.
Aos deuses atribuíram Homero e Hesíodo tudo o que entre os homens é vergonhoso e digno de censura: roubar, cometer adultério e enganar uns aos outros.

Fonte: http://www.algosobre.com.br/filosofia/filosofos-pre-socraticos.html