2.12.13
Batalha de Samar
II Guerra Mundial / Pacífico
25-10-1944
Este acontecimento teve inicio em: 25-10-1944 e terminou em 25-10-1944
Vencedor: Nenhum
Forças em presença:
Estados Unidos da América
Japão
A batalha de Samar, ocorrida ao largo da ilha de Samar (a ilha que fica a norte da ilha de Leyte) foi um dos recontros navais que decorreu na sequência da invasão americana das Filipinas, que começou com o desembarque na ilha de Leyte em 20 de Outubro e com o consequente combate terrestre entre forças norte-americanas e japonesas.
O plano japonês para contrariar a acção norte-americana, passava pelo envio de três forças navais, duas delas destinadas a atacar a 7ª esquadra americana.
Aquela esquadra, ainda que poderosa, era essencialmente uma enorme força de desembarque e apoio logístico, apoiada por couraçados antigos, que deveriam ser utilizados para atacar as posições japonesas na ilha de Leyte. Não era uma força especialmente preparada para o combate naval.
Para essa função, os norte-americanos possuíam a 3ª esquadra, equipada com 16 porta-aviões e sete couraçados.
Mas os japoneses tinham enviado uma terceira força naval para servir de «isco» e para atrair a poderosa 3ª esquadra americana para norte (ver Batalha de Cape Engano).
Com a 3ª esquadra americana a norte, a perseguir a força de porta-aviões, os grandes couraçados japoneses ficariam com o caminho livre para atacar a numerosa mas militarmente menos poderosa 7ª esquadra americana que se encontrava no golfo de Leyte a apoiar a força de desembarque.
Infelizmente para o lado japonês, as informações sobre a data do desembarque não permitiram às duas esquadras japonesas chegar ao golfo de Leyte a tempo de atacar a força naval americana quando esta se encontrasse a desembarcar as tropas (20 de Outubro).
Mesmo assim, os japoneses ainda tinham oportunidade para (com a operação em «pinça» que tinham organizado), destruir ainda os navios da 7ª esquadra americana que continuavam no golfo de Leyte a prestar apoio logístico às forças americanas em terra. Quando a movimentação japonesa começou, já os americanos estavam em terra na ilha de Leyte.
A principal força japonesa, comandada pelo vice-alm. Kurita, (a que também se pode chamar de «força central») saiu do Bornéu, e deveria passar pelo estreito de San Bernardino e inflectir para sul, onde entraria em contacto com a 7ª esquadra americana, ao mesmo tempo que a força do vice Almirante Nishimura (apoiada pelos quatro navio do vice-almirante Shima) atravessaria o estreito de Surigao, atacando a também a 7ª esquadra a partir de sul.
A força de Kurita, tinha no entanto sido detectada, e como resultado disso os japoneses tinham sido atacados por aviões americanos desde a manhã do dia 24 de Outubro, no que ficou conhecido como batalha de Mar de Subuyan. Na prática, tratou-se de um conjunto de ataques levados a cabo por aviões de dois dos grupos de batalha da 3ª esquadra norte-americana (a mais poderosa das duas). Este recontro foi relatado pelos aviadores americanos como tendo sido um confronto devastador para a frota japonesa. Os pilotos americanos relataram o afundamento dos mesmos navios várias vezes e transmitiram ao comando da frota a ideia de que a força japonesa que se encontrava no Mar de Sibuyan tinha sido praticamente aniquilada.
O almirante Halsey, no comando da 3ª esquadra, decide por isso concentrar os seus esforços dirigindo os seus grupos de batalha «Task Forces» para norte, onde entretanto tinha sido detectada a força de porta-aviões do almirante Ozawa. A enorme 3ª esquadra americana, tinha caído na armadilha, ao perseguir os porta-aviões que os japoneses tinham enviado para atrair os americanos.
Caminho aberto para a frota principal japonesa
Embora os americanos tivessem atacado a principal das esquadras japonesas no «Mar de Sibuyan» Kurita, tinha perdido apenas um dos dois super-couraçados da classe Yamato, o irmão gémeo «Musashi», e tinha deixado para trás cruzadores pesados e alguns contra-torpedeiros mas continuava a contar com um grande numero de poderosos navios. Esses navios, continuaram a navegar, passando pelo estreito de S.Bernardino rumando depois a sul ao encontro da 7ª esquadra americana.
Quando às primeiras horas da manhã do dia 25 de Outubro de 1944, a enorme e subvalorizada força do almirante Kurita passa pelo estreito de São Bernardino, a principal esquadra americana, está a navegar noutra direcção, para norte, em direcção à esquadra «fantasma» do vice-almirante Ozawa. Por isso, os navios de Kurita, vão encontrar pela frente apenas uma das forças da 7ª esquadra do alm. Kinkaid que protege o seu flanco norte.
Mas a 7ª esquadra é uma esquadra de desembarque, pelo que a sua força de protecção, é constituída por porta-aviões de escolta[1], navios de pequenas dimensões, muitas vezes utilizados apenas como transportes de aviões, outras para operações de luta anti-submarina e capazes de atingir no máximo uma velocidade de 18 nós.
Está preparado o cenário para a batalha de Samar, uma das batalhas navais mais desproporcionadas que alguma vez tiveram lugar na História.
Esquema geral das batalhas que ocorreram nas Filipinas entre 20 e 25 de Outubro.
(A) - Desembarque naval na ilha de Leyte
(B) - Batalha de Sibuyan: Perda do Musashi
(C) - Batalha do Estreito de Surigao
(D) - Batalha de Samar
(E) - Batalha de Cabo Engano
O início da batalha
Na foto o porta-aviões de escolta Gambier Bay, um dos navios que seriam afundados pelos japonese durante a batalha de Samar.
A força americana de porta-aviões de escolta da 7ª esquadra era designada TG-77.4 e estava dividida em três sub-grupos designados Taffy-1, Taffy-2 e Taffy-3 por conveniência das comunicações rádio.
Estas forças de pequenos porta-aviões, estavam extremamente ocupadas, pois as divisões que combatiam na ilha de Leyte, ainda não tinham aeródromos em terra, pelo que era a esta força que o exército pedia apoio aéreo.
Por volta das 06:27 da manhã, e já depois de passar o estreito de S.Bernardino, o alm. Kurita a bordo do couraçado Yamato, é informado de que fora avistada actividade aérea. O almirante japonês estava apreensivo, porque aguardava que os seus navio fossem atacados pelos porta-aviões americanos
Poucos minutos depois, as notícias precipitam-se, e os vigias japoneses detectam a presença de navios americanos, que são imediatamente identificados como porta-aviões.
Mas os japoneses identificaram mal os navios americanos, e assumiram que os porta-aviões que tinham avistado eram grandes porta-aviões da 3ª esquadra americana.
Achando que não tem hipótese de resistir aos aviões americanos, que espera que se estejam a preparar para o atacar, Kurita, ordena aos seus navios que assumam posições de ataque. A esquadra japonesa vai aproximar-se e atacar os americanos com os tiros dos canhões dos couraçados.
Ataquem com o que tiverem disponível
Kurita, ordena aos seus navios que formem uma linha para atacar os americanos de forma convencional, atingindo os navios americanos com «bordadas».
Por seu lado os americanos que identificaram os japoneses às 06:45 inicialmente não entenderam que estavam na presença do grosso da esquadra japonesa que pensavam ter sido destruída no dia anterior.
Os pequenos porta-aviões recebem imediatamente ordem para lançar os seus aviões contra os japoneses. Os pedidos de auxilio são enviados pelos americanos sem qualquer codificação em comunicação aberta, que podia ser captada pelos japoneses.
Apenas a Taffy-2 pode enviar alguns dos seus aviões e a Taffy-1 está demasiado para sul, possuindo apenas um pequeno porta-aviões de escolta.
É dada ordem para lançar os aviões como eles estiverem armados, o que deixará os japoneses perplexos com o facto de serem atacados de forma descoordenada por aviões americanos que na maioria dos casos não estão devidamente preparados para atacar navios de grande porte.
Depois de lançar as aeronaves, o comandante da Taffy-3 decide rumar para sul para se afastar dos japoneses, mas os seus navios têm uma velocidade máxima de 18 ou 19 nós, inferior portanto à velocidade dos navios japoneses.
Entretanto, o alm. Kurita, continua sem perceber o que realmente se passa. OS japoneses não estão familiarizados com a silhueta dos porta-aviões de escolta e por isso não entendem que têm pela frente uma força insignificante.
Continuando a achar que está na presença do grosso da esquadra americana os japoneses temem aproximar-se demasiado para não ficarem ao alcance dos canhões dos couraçados americanos, que na realidade não estão lá.
O rugir do rato
Na verdade, não é apenas a falha dos seus observadores que induz Kurita em erro, é também a ferocidade com que os americanos atacam os navios japoneses.
Várias vezes os contra-torpedeiros armados com os seus cinco canhões de 127mm lançam-se contra os cruzadores pesados japoneses e não só os atacam, como lançam cortinas de fumo, destinadas e impedir os navios de atacar os porta-aviões de escolta da Taffy-3.
A temeridade dos americanos terá consequências. O contra-torpedeiro Johnston, ataca o cruzador pesado Kumano e atinge-o, mas em contrapartida é atingido pelo fogo combinado do cruzador pesado e de um couraçado.
Os contra-torpedeiros aproximam-se e manobram para lançar torpedos contra os navios japoneses que são forçados a dispersar, sem saber que os contra-torpedeiros americanos na verdade não têm torpedos para disparar.
Quando por volta das 07:30 a chuva que tinha começado meia hora antes permite aos japoneses estimar a velocidade do inimigo, começa a tornar-se evidente que os porta-aviões americanos não conseguem atingir 19 nós. Isso quer dizer que não poderiam ser grandes porta-aviões de esquadra, que normalmente poderiam ultrapassar os 30 nós com facilidade.
Em desespero de causa, e para tentar proteger os porta-aviões, são dadas ordens aos contra-torpedeiros de escolta [2] para atacarem os navios japoneses com torpedos. Os pequenos contra-torpedeiros aproximam-se tanto dos navios japoneses que estes últimos não conseguem baixar os canhões suficientemente para os atingir
Acima o «Samuel B Roberts»: Contra-torpedeiro de escolta com um deslocamento de 1350t , velocidade máxima de 24 nós e armado com dois canhões de 127mm, recebeu ordem para atacar os cruzadores japoneses com torpedos.
Entre as 08:30 e as 08:45 os contra-torpedeiros japoneses tentam lançar o seu ataque de torpedos, mas a confusão resultado das cortinas de fumo, e o ataque dos aviões dos porta-aviões de escolta da Taffy-2 complicam a acção.
Por volta das 09:00 os japoneses perderam completamente o controlo táctico da situação e o combate desenrola-se na base do «cada um por si», mas a força americana está em maus lençóis.
A confusão é enorme e os cruzadores japoneses encontram-se no flanco esquerdo da força americana e os contra-torpedeiros japoneses no flanco direito.
Os japoneses estão tão perto que os porta-aviões americanos respondem ao fogo japonês com o fogo do seu único canhão de 127mm.
Os pequenos porta-aviões não eram blindados. Por isso, os projecteis dos cruzadores e couraçados perfuravam o navio sem explodir, mas o fogo das armas de menor calibre era devastador.
A inferior velocidade dos porta-aviões de escolta começou a fazer-se sentir, e à medida que os japoneses se aproximavam, os navios que seguiam atrás começaram a ser atingidos. A cerca de 10.000m os porta-aviões Gambier Bay e St.Lo são pesadamente atingidos pelo fogo dos cruzadores japoneses. Vários incêndios destroem os navios, e o Gambier Bay volta-se e afunda-se às 09:05.
Mas por nessa altura, os aviões da Taffy-2 que se tinham reabastecido, voltam para atacar os japoneses e atingem pesadamente o cruzador japonês Chokai, que se afunda 20 minutos depois.
As coisas correm mal aos japoneses também por outras razões. Vários navios estão danificados e a protecção de escolta aos grandes couraçados está em risco, mas para piorar as coisas, o vice almirante Kurita recebe a informação de que a força japonesa de dois couraçados e vários cruzadores que deveria atacar a partir de sul, foi destruída nessa mesma madrugada.
Também nessa altura a força japonesa localiza a aproximação da segunda força de porta-aviões de escolta Taffy-2, que tinha estado a enviar os seus aviões para atacar os navios japoneses.
Mais uma vez, a grande distância, os japoneses voltam a identificar mal os porta-aviões de escolta, desta vez como porta-aviões ligeiros[1] escoltados por cruzadores, que na realidade eram apenas contra-torpedeiros.
Perante este cenário, Kurita dá ordens aos seus navios para inverterem o rumo e voltarem para trás. Até às 13:00 o almirante japonês ainda discutirá com os seus oficiais o que fazer e que acção tomar, mas a sua situação é precária e a possibilidade de serem atacados pelos americanos agora que no flanco sul a frota japonesa foi derrotada, torna inútil qualquer acção adicional. Às 13:10 os navios da força central japonesa, retiram e termina a batalha de Samar.
[1] - É importante distinguir os três tipos de navios porta-aviões que estiveram em operação durante a II Guerra Mundial.
Enquanto o primeiro tipo de porta-aviões não se confunde, a distinção entre os dois tipos mais pequenos é algumas vezes razão de confusão.
O porta-aviões de esquadra, é um navio de grandes dimensões, com capacidade para transportar de 60 a 100 aeronaves. Está equipado com caças para garantir a superioridade aérea e atacar os aviões bombardeiros inimigos e também com aviões bombardeiros e/ou torpedeiros. São navios que deslocam mais de 30.000 toneladas.
Este navio atinge uma elevada velocidade de 30 a 33 nós, que é a «velocidade de esquadra» em combate.
O porta-aviões ligeiro é um navio de dimensões mais pequenas que o porta-aviões de esquadra. Ele tem menores dimensões e transporta menos aviões, ficando limitado a um número de 20 até um máximo de 40 aeronaves. A principal função deste tipo de navio é a de garantir a defesa de uma esquadra, nomeadamente de forças de menores dimensões. É um navio com um deslocamento entre as 10.000 e a 20.000 toneladas. Como deve acompanhar uma esquadra, ele tem que dispor de motores suficientemente poderosos para atingir a velocidade de 30 a 33 nós.
O porta-aviões de escolta por seu lado é um navio com características diferentes dos outros dois. Ao contrário dos seus dois congéneres, ele tem menores dimensões, normalmente entre as 8.000 e as 12.000 toneladas, mas é construído em cima de um casco civil, não necessariamente desenhado para operações militares navais.
O porta-aviões de escolta, é muito mais lento, atingindo velocidades entre os 15 e os 20 nós, o que é suficiente para escoltar comboios de navios mercantes (é daí que vem o nome).
O porta-aviões de escolta está normalmente equipado com uma força de 15 a 25 aeronaves dedicados à luta anti-submarina ou para ataque a outros navios. O porta-aviões de escolta não opera normalmente caças para combate ar-ar, função que é normalmente destinada aos outros dois tipos de porta-aviões.
[2] – O contra-torpedeiro de escolta é um navio com um deslocamento pouco superior a 1.000 toneladas e fracamente armado. Destina-se basicamente a operações de escolta anti-submarina. As suas dimensões são idênticas às corvetas da actualidade.
Fonte: http://www.areamilitar.net/HISTbcr.aspx?N=125