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22 de agosto de 1942: O Brasil entra na II Guerra Mundial



por: Lucyanne Mano

Diante das frequentes agressões dos submarinos alemães à navegação costeira do Brasil, que culminaram com o afundamento de cinco navios da nossa marinha mercante, o Presidente da República Getúlio Vargas convocou uma reunião com todo o seu ministério no Palácio Guanabara, sede do governo, no Rio de Janeiro, para examinar e definir a posição do Brasil perante o andamento da II Guerra Mundial. Atendendo aos anseios da população, expressos nas ruas de todo país, o governo tomou a decisão histórica de se juntar aos Aliados, cujas principais forças eram a URSS, os EUA e o Império Britânico, contra as potências do Eixo, liderados pela Alemanha, Itália e Japão. Após a reunião, o Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP) divulgou um comunicado no qual o Brasil declarava guerra aos países do Eixo.

A população brasileira recebeu a decisão do governo com grande entusiasmo e mostras de patriotismo. No Rio de Janeiro, logo após a divulgação do comunicado do DIP, centenas de cariocas se deslocaram às ruas do centro da cidade, improvisando comícios onde oradores saudavam o apoio aos Aliados, e as pessoas cantavam o hino nacional.

Além do comunicado à população, o governo brasileiro enviou uma mensagem aos governos da Alemanha e da Itália informando-os da decisão do país. No nota, além dos ataques a seus navios, o Brasil evocou as declarações de solidariedade americana votadas na Oitava Conferência Internacional de Lima e na Primeira, Segunda e Terceira Reuniões de Ministros das Relações Exteriores das Repúblicas Americanas como justificativa para sua decisão

A Força Expedicionária Brasileira
O governo brasileiro somente enviaria tropas para as zonas de conflito cerca de dois anos depois da declaração de guerra à Alemanha e à Itália. Em 2 de julho de 1944, o primeiro escalão das Forças Expedicionárias Brasileiras (FEB), sob o comando do general Mascarenhas de Morais, saiu do Brasil com destino à Nápoles, e entrou em combate com tropas alemães em meados de setembro do mesmo ano. Em 6 de junho de 1945, o Ministério da Guerra do Brasil ordenou que as unidades da FEB na Itália se subordinassem ao comandante da primeira região, no Rio de Janeiro, o que significava a dissolução do contingente. No total, foram enviados para a zona de guerra cerca de 25.300 brasileiros, que auxiliaram os Aliados nos momentos finais de vitória do conflito na Europa.
Fonte: Jblog

HISTÓRIA DA REPÚBLICA DA ÁFRICA DO SUL



Os europeus tomam contato com a região em 1487, quando o navegador português Bartolomeu Dias contorna o Cabo da Boa Esperança.

Ponto estratégico na rota comercial para as Índias e habitada por diversos grupos negros (bosquímanos, khoi, xhosas, zulus), a região é povoada por imigrantes holandeses, franceses e alemães no século XVII. Esses colonos brancos – chamados bôeres ou africânderes – fixam-se na região e desenvolvem língua própria, o africâner.

Em 1806, os ingleses tomam a Cidade do Cabo e lutam contra negros e bôeres. Os choques levam os bôeres a emigrar maciçamente para o nordeste (a Grande Jornada, de 1836), onde fundam duas repúblicas independentes, Transvaal e Estado Livre de Orange. A entrada dos britânicos no Transvaal provoca tensões e resulta na Guerra dos Bôeres, que termina com a vitória britânica...

Postal com o mapa de Transvaal e Estado Livre de Orange, e os retratos do Presidente Krüger e do General Joubert. Paul Kruger foi Presidente da República do Transvaal entre 1883 e 1902.






Luta entre o Reino Unido e a população bôer, descendente de colonizadores holandeses e fundadores das repúblicas independentes de Transvaal e Orange, no nordeste da África do Sul.

Em 1899, eclodiu entre os colonos holandeses e os ingleses a Guerra dos Boers ou Guerra dos Bôeres, marcando com batalhas sangrentas a disputa do rico território sul-africano... O conflito, que dura de 11/10/1899 a 31/05/1902 (como mostra a imagem abaixo), inicia-se com a tentativa da Coroa britânica de anexar as duas repúblicas, ricas em jazidas de diamante, ouro e ferro.

Carnê emitido pela África do Sul em 2002, em comemoração ao Centenário da Guerra Anglo Boer.



Cartão-postal com a bandeira e o Brasão de Armas da República do Transvaal.



Do lado esquerdo, o postal ilustra a Guerra dos Bôeres, com a inscrição: “Para a Independência de Transvaal”. O outro é sobre a chegada do Presidente Krüger, no dia 22/11/1900, em Marseille – França. Em 1902, o Presidente Krüger foi mandado para o exílio, onde veio a falecer em 1904.



Os bôeres, que ocupam a região desde 1830, lutam para preservar sua independência. Os ingleses veem nesse nacionalismo um perigo à dominação do Reino Unido no sul da África. A princípio, a supremacia é dos bôeres, que começam a guerra. Invadem a colônia do Cabo, além de sitiar cidades importantes e anexar territórios ingleses. Mas, em 1902, acontece a contra-ofensiva inglesa. A superioridade britânica em homens e armamentos derrota os bôeres.

Os cartões-postais mostram o General Delarey (26/10/1902) e o General Dewet (29/10/1902). Ambos são desenhos assinados pelo artista Orens.



As tropas inglesas devastam e queimam propriedades ao longo da guerra. Os bôeres capturados são colocados em campos de confinamento, onde morrem cerca de 20 mil pessoas. As notícias sobre o tratamento desumano dado pelos ingleses aos prisioneiros intensificam a imagem negativa do Reino Unido perante a opinião internacional...

Do lado esquerdo, um postal sobre a Guerra Bôer (Eendragt Maakt Magt), com retrato do Presidente Krüger. Ao lado, desenho sobre o General Botha, assinado pelo artista Orens.



Com a Paz de Vereeniging (1902), as repúblicas são incorporadas ao Reino Unido e, bem mais tarde, em 1910, juntam-se às Colônias do Cabo e de Natal para constituir a União Sul-Africana.

Cartão-postal com o Presidente Krüger, Dr Leyds e Conselheiros de Estado.






Apartheid

A partir de 1911, a minoria branca, composta de africânderes e descendentes de britânicos, promulga uma série de Leis que consolidam seu poder sobre a população majoritariamente negra. A política de segregação racial doApartheid (separação, em africâner) é oficializada em 1948, com a chegada ao poder do Partido Nacional (NP), que domina a política por mais de 40 anos.

O Apartheid impede o acesso dos negros à propriedade da terra e à participação política e os obriga a viver em zonas residenciais separadas dos brancos. Casamentos e relações sexuais entre pessoas de raças diferentes tornam-se ilegais...

A oposição ao Apartheid toma forma na década de 50, quando o Congresso Nacional Africano (CNA), organização negra criada em 1912, lança campanha de desobediência civil. Em 1960, a polícia mata 67 negros que participavam de uma manifestação em Sharpeville, favela situada a 80 quilômetros de Johanesburgo.

O Massacre de Sharpeville – como se torna conhecido – provoca protestos no país e no exterior. Como consequência, o CNA é declarado ilegal. Seu líder, Nelson Mandela, é preso em 1962 e condenado à prisão perpétua... Como veremos na breve história de Nelson Mandela, abaixo...

Ativista e político sul-africano, nome de maior projeção da luta contra o Apartheid. É um dos líderes do processo de negociação que conduz a maioria negra ao poder e se torna o 1º Presidente negro eleito no país, em 1994. Nascido em Umtata, Transkei, filho de uma família real do Tembu, tribo da etnia xhosa. Mandela foi educado em uma escola missionária britânica e na Fort Hare University, da qual foi expulso, junto com Oliver Tambo, por liderar uma greve, em 1940.

Conseguiu se formar advogado pela Universidade da África do Sul. Funda em 1944, com ajuda de Walter Sisulu e Tambo, a Liga da Juventude do Congresso Nacional Africano (CNA), grupo de direitos civis que luta contra o regime autoritário branco. Esses 3 homens alcançaram a cúpula do CNA em 1948, com Mandela na presidência em 1950. Mandela casou-se com Evelyn Ntoko, com quem teve 3 filhos. Divorciaram-se anos mais tarde.

Em 1952, lidera a campanha de desobediência civil às leis racistas, percorrendo todo o país, na luta contra o Apartheid e pela conquista dos direitos democráticos de seu povo. Preso por traição, em 1955/1956, é absolvido cinco anos depois. Em seguida ao Massacre de Shaperville (1960), realizado pela polícia sul-africana contra manifestantes, o CNA é declarado ilegal. Mandela ajuda a fundar seu braço armado, o Lança da Nação. É preso em 1962 e condenado a cinco anos de cadeia. Sua pena é ampliada para prisão perpétua em 1964.

Em 05/07/1989, o Presidente sul-africano Pieter Botha entrevista-se com Nelson Mandela para preparar sua libertação. Mas, foi o seu sucessor na liderança do Partido Nacional, Frederik Willem de Klerk, que no dia 02/02/1990 anuncia no Parlamento as primeiras medidas para pôr fim ao sistema de Apartheid. Libertado em 11/02/1990, assume a liderança do CNA e negocia a nova Constituição com o governo de Frederik de Klerk. O Presidente De Klerk pede perdão pelo Apartheid, em outubro de 1992. Um ano depois, em outubro de 1993, De Klerk e Mandela recebem o Prêmio Nobel da Paz.

É posta em vigor a nova Constituição provisória não-racial, que outorga direito de voto à maioria negra e, em 27/04/1994, as primeiras eleições multirraciais na África do Sul são realizadas. Nelson Mandela sai candidato pelo Congresso Nacional Africano e se torna Presidente.

Série de 4 valores emitida pela África do Sul em 10/05/1994 para marcar a Inauguração Presidencial (Presidential Inauguration), cujos selos mostram: Nelson Mandela (45c), as palavras combinadas do Hino Nacional, “Die Stem von Suid Afrika” e “Nkosi Sikelel iAfrika” (70c), Bandeira Nacional da nova democrática África do Sul (95c) e Edifícios da União onde Mandela tomou posse como Presidente em 10/05/1994 (R1.15).



Do lado esquerdo, selo emitido em 1999 pela Irlanda, Celebrando o Milênio (Celebrating The Millennium), mostra que Nelson Mandela é tido como um dos mais famosos personagens do século XX. Do lado direito, selo da Noruega, que compreende uma série de 8 valores emitida em 2001, para marcar as comemorações do Centenário do Prêmio Nobel (Nobels Fredspris 100 ár), cujos selos mostram: 5.50 Aung San Suu Kyi (1991), 5.50 Nelson Mandela(1993), 7.00 Alfred Nobel (1833-1896), 7.00 Henry Dunant (1901), 9.00 Fridtjof Nansen (1922), 9.00 Mikhail S. Gorbatsjov (1990), 10.00 Martin Luther King (1964) e 10.00 Rigoberta Menchu ​​Tum (1992).






Bantustões – Nos governos dos Primeiros-ministros Hendrik Verwoerd, de 1958 a 1966, e B.J. Voster, de 1966 a 1978, a política do Apartheid agrava-se. Uma série de leis classifica e separa os negros em diversos grupos étnicos e linguísticos, gerando um processo que cria, em 1971, os bantustões – nações tribais independentes onde os negros são confinados.

Com o fim do império colonial português na África (1975) e a queda do governo de minoria branca (1980) na Rodésia, atual Zimbábue, o domínio branco na África do Sul entra em crise. Em 1984, uma revolta popular contra o Apartheid leva o governo a decretar Lei Marcial.

A comunidade internacional reage e a ONU decreta sanções à África do Sul como forma de pressão pelo fim do Apartheid. Acuado, o Presidente Pieter Botha promove reformas, mas mantém os aspectos essenciais do regime. No mundo todo ganha corpo um movimento pela libertação de Mandela...

Fim do Apartheid – Ocorrem várias mudanças no país com a posse de Frederik de Klerk na Presidência, em 1989, em substituição a Botha. Em fevereiro de 1990, Mandela é libertado e o CNA recupera a legalidade. De Klerk revoga leis raciais e inicia o diálogo com o CNA. Sua política, criticada pela direita, é legitimada por um plebiscito só para brancos, realizado em 1992, em que 69% dos votantes se pronunciam pelo fim do Apartheid.

Mas entre os negros também há resistências... O Partido da Liberdade Inkhata, organização zulu (etnia Zulu), disputa com o CNA a representação política dos negros. Seu líder, Mangosuthu Buthelezi, acusa Mandela de traição. A disputa degenera em sangrentos conflitos.

Cartão-postal sobre etnia: luta entre Assegais....



Eleições multirraciais: Em 1993, inconformados com o avanço das reformas, líderes de 21 grupos extremistas brancos fundam a Frente Nacional Africânder (FNA) e ameaçam criar um país independente no Transvaal. Mesmo com essa resistência, De Klerk convoca para abril de 1994 as primeiras eleições multirraciais para um governo de transição.

Eleito Presidente pelo CNA, o partido de Mandela, obtém 62,6% dos votos, conquistando 252 das 400 cadeiras da Assembleia Nacional. O CNA junta-se ao NP para formar o governo de unidade nacional. A aliança possibilita o primeiro governo multirracial do país. O Parlamento aprova, em novembro de 1994, a Lei de Direitos sobre a Terra, restituindo propriedades às famílias negras atingidas pela lei de 1913, que destinara 87% do território sul-africano à minoria branca.

Em junho de 1995 é aprovada a Lei de Reconciliação e Promoção da Unidade Nacional, que cria a CRV. Presidida pelo arcebispo Desmond Tutu, a CRV tem poderes para anistiar crimes contra direitos humanos praticados na vigência do Apartheid. Fim do governo de unidade nacional – Em junho de 1996 ocorre ampla mudança na equipe de governo: todos os ministros do PN são substituídos por simpatizantes do CNA em consequência da retirada do partido de De Klerk do governo. A decisão do PN foi motivada pelo fato de o partido discordar de alguns pontos da nova Constituição, aprovada em maio de 1996.

Anistia e privatização – A CRV recebe até o início de 1997 cerca de 3,5 mil confissões de crimes contra os direitos humanos, entre elas a de cinco policiais brancos que assumem a autoria do assassinato do ativista negro Steven Biko, em 1977. No fim de novembro, Winnie Mandela, ex-esposa do Presidente, depõe perante a Comissão de Verdade e Reconciliação. Ela e seu grupo de guarda-costas e colaboradores são acusados de violação aos direitos humanos, que incluem pelo menos seis assassinatos praticados entre 1988 e 1992.

Em março de 1997, o governo vende 30% da Telekom (estatal de telecomunicações) para um consórcio da Malásia, na maior privatização ocorrida na África Subsaariana. Em junho, a justiça sul-africana condena o líder do neonazista Movimento de Resistência Africânder, Eugène Terreblanche, a seis anos de prisão por tentativa de assassinato de um de seus empregados negros...




Fonte: http://www.girafamania.com.br/africano/materia_asul_historia.htm

Quais foram os colonizadores da África?

Beatriz Vichessi e Patrícia Giuffrida


As fronteiras na África foram determinadas entre os séculos 15 e 16, com a colonização européia. Como cada país europeu conquistou regiões diferentes, então as fronteiras respeitaram essa divisão. Como, no entanto, a marcação territorial não respeitou a distribuição dos povos que já viviam ali, alguns deles foram divididos em diferentes países ou, em alguns casos, grupos inimigos ficaram sob o mesmo governo.

"Não dá para dizer que todos os problemas que existem na África até hoje, como briga entre povos e, consequentemente, os milhões de refugiados, sejam consequência dessas fronteiras artificiais impostas, mas certamente isso teve um papel muito importante", afirma Juliano da Silva Cortinhas, professor de Relações Internacionais da Universidade Católica de Brasilia.

Os colonizadores vieram de diversos países - França, Portugal, Alemanha, Bélgica, só para citar alguns europeus. O primeiro momento de colonização do continente ocorreu entre 1880 e 1910 (veja o mapa abaixo). Antes da chegada deles, o que existia eram sociedades tribais organizadas, e não estados nacionais. A África não foi o único continente onde esse tipo de imposição aconteceu. Na América Latina como um todo, incluindo o Brasil, sabe-se que os povos que não foram dizimados pelos colonizadores tiveram que viver segundo a organização imposta pelos estrangeiros. "Na África não houve esse processo de destruição das populações, porque os europeus viam os africanos como mercadoria do tráfico de escravos", explica o professor.

"Somente dois países não foram colônias em nenhum instante: Libéria (que era um estado formado por escravos libertos dos Estados Unidos) e Etiópia (que foi dominada pela Itália entre 1936 e 1941)", afirma Luiz Arnaut, professor da Universidade Federal de Minas Gerais.

A África hoje é composta por 54 países independentes e uma riqueza inumerável de idiomas, bem como de etnias, algumas, infelizmente, ainda em conflito.



Fonte: http://revistaescola.abril.com.br/historia/fundamentos/historia-colonizadores-africa-450594.shtml

A INVENÇÃO DA ROUPA

Durante o Paleolítico, através da manipulação de caules e plantas, o homem inventou uma das mais fantásticas descobertas da história: a roupa. Através do desenvolvimento milenar da confecção de fios compridos e resistentes a partir de caules e plantas, as roupas protegeram a humanidade em ambientes de extremo frio e tornaram-se uma poderosa ferramenta para a construção da identidade humana, ratificando valores e crenças perante os grupos sociais e provando que o vestuário é parte intrínseca de cada modo de vida.


Padrões geométricos tradicionais da região da Ásia Central - Fonte: A História Mundial da Roupa, de Patricia Anawalt (Senac, 2011)

As estampas do traje do sentinela da cidade de Susa do séc. 6 parecem ter sido tecidas através da técnica de tapeçaria

A manipulação de caules e plantas durante a Idade da Pedra Lascada resultaria em uma descoberta que revolucionaria a humanidade: a roupa. Confeccionadas a partir de fibras vegetais, as primeiras roupas desenvolvidas pelo homem não tinham nenhuma relação com aquecimento ou pudor, e sim com a sinalização de um estágio de vida, especialmente o início da fertilidade e/ou casamento. Em A História Mundial da Roupa (Senac, 2011), a historiadora Patricia Riff Anawalt comenta que há indícios de que as representações abstratas de figuras humanas da arte rupestre do Paleolítico (período em que o homem registrou as pinturas e gravuras mais fantásticas da história humana) tenham servido para ilustrar linhagens genealógicas. A evidência mais antiga de roupa confeccionada em fibra vegetal data de 6.500 a.C. e foi encontrada na caverna Nahal Nemar, em Israel: um saco de linho não tecido, emaranhado com agulha e contendo botões de pedra, que provavelmente indicaria ser um chapéu cerimonial. "A função aparente era anunciar a idade da pessoa", completa Anawalt.

Linhagens genealógicas seriam representadas em figuras abstratas humanas

Linhagens genealógicas seriam representadas em figuras abstratas humanas

Motivos bordados da Europa oriental - Fonte: A História Mundial da Roupa, de Patricia Anawalt (Senac, 2011)

Iconografia de tecido de tapeçaria do Peru, que retrata atividades religiosas dos habitantes - Fonte: A História Mundial da Roupa, de Patricia Anawalt (Senac, 2011)

Há 50 mil anos atrás, com a chegada do homem moderno (Homo sapiens) do Oriente à Europa, o Homo neanderthalensis desapareceu em apenas alguns milhares de anos. A população européia diminuiu drasticamente com a Era do Gelo que ocorreria em seguida. Durante o período em que os grupos humanos foram se recompondo gradativamente foram realizadas as maiores inovações culturais, incluindo o desenvolvimento das primeiras roupas modernas.

Os períodos de glaciação contribuíram com profundo impacto na atividade humana: mais que uma necessidade de adornar-se para o grupo e sinalizar os estágios de vida, agora tornava-se vital o desenvolvimento de roupas grossas para proteção dos corpos do ambiente extremamente frio. O uso de fibras têxteis teria começado há cerca de 20 a 30 mil anos, quando os humanos descobriram como criar fios longos e resistentes a partir de caules curtos e fracos das plantas. A partir daí seriam produzidas as primeiras peças de roupa do mundo, incluindo saias de corda franjadas.

Chapéus de diferente tribos da Mongólia - Fonte: A História Mundial da Roupa, de Patricia Anawalt (Senac, 2011)

Ao longo de milênios, uma grande variedade de fibras vegetais foi utilizada em todo o mundo para produzir o tecido. No Oriente Médio, a principal fibra para confecção era o linho; já em outras regiões de clima temperado ao norte do Oriente Médio, o cânhamo era a fibra mais utilizada. O algodão, que já era conhecido no norte indiano antes de 3.000 a.C., espalhou-se para o Mediterrâneo apenas em 700 a.C., com a chegada de carneiros à Mesopotâmia, que anunciou uma mudança na história do vestuário.

Conjunto de casamento da Macedônia do século 20, adornado com losangos bordados em lã que fazem associação direta à fertilidade

Tecelã e tear de tensão dorsal em ilha de Flores, no sudeste asiático - Fonte: A História Mundial da Roupa, de Patricia Anawalt (Senac, 2011)

O primeiro indício concreto de tecido da Mesopotâmia foi encontrado em Jarmo, no Iraque, em 7.000 a.C. Outro traje de tecido simples datado do mesmo ano foi encontrado no sudeste da Turquia, comprovando que a população daquela região já possuía algum domínio na técnica de tecelagem. Por volta de 4.000 a.C, com a chegada e evolução dos carneiros lanosos na região da Mesopotâmia, houve um avanço representativo no desenvolvimento de tecidos e roupas, em grande parte pela possibilidade de se tingir a lã com cores vivas.

Segundo Patricia Anawalt, os trajes drapeados à moda suméria constituíram o padrão de vestuário na Mesopotâmia por um longo período; "já as cores e estampas dos tecidos tornaram-se progressivamente luxuosas. As roupas eram tecidas num tear horizontal apoiado no chão, usando fios de lã ovina, pêlo caprino ou, em menor escala, linho. O pêlo caprino era aparentemente usado na fabricação de cordas, cobertores e camas; o linho era usado para fazer cobertas e cortinas de templos, trajes sacerdotais, lençóis, representações do vestuário de divindades, e tecidos utilizados em rituais médicos e outras cerimônias."

Poncho masculino navajo de estilo clássico - Fonte: A História Mundial da Roupa, de Patricia Anawalt (Senac, 2011)

Colete infantil norte-americano decorado com amuletos na forma de lagartos - Fonte: A História Mundial da Roupa, de Patricia Anawalt (Senac, 2011)

Mulher da tribo Ndebele vestindo um avental de contas com motivo tradicional africano - Fonte: A História Mundial da Roupa, de Patricia Anawalt (Senac, 2011)

Chefe ganês vestindo tecido cerimonial com insígnias douradas - Fonte: A História Mundial da Roupa, de Patricia Anawalt (Senac, 2011)

Em relação ao vestuário básico masculino, os registros deixados pelos antigos sumérios incluem duas categorias de roupas. A primeira parece ser de vestuário de ritual feitos com pele animal; a segunda era o traje básico: um longo retângulo de tecido de lã franjado enrolado no torso (com as extremidades sobrepostas) e uma das suas extremidades drapejadas sobre o ombro esquerdo, deixando o braço livre. Ao longo dos séculos, os mesopotâmios da elite passaram a usar longas túnicas de mangas curtas, que eram consideradas um sinal de status superior. A condição social do indivíduo era refletida através do comprimento das túnicas de tecidos franjados e da riqueza de ornamentação, quase sempre com representações de deuses. Já o traje básico feminino durante o Antigo Império Egípcio era um vestido tubo, longo e justo, sustentado por alças largas.

No século 16 a.C., a túnica de mangas curtas surgiu como um novo tipo de vestimenta, como é o caso da Estátua do Novo Império da tumba de Meryt e seu marido, Maya, tesoureiro nos reinos dos faraós Tutancâmon e Horemheb (imagem abaixo). Assim como o vestuário masculino, os trajes femininos também permaneceram simples, acentuando a quadratura dos ombros, a finura da cintura e quadris e o alongamento do corpo. Ao longo da extensa história do Egito Antigo, todas as mulheres, homens e crianças usavam uma tanga circular presa ao corpo com cordões.

Estátua do Novo Império de Meryt e seu marido Maya, circa 1319-1292 a.C.

Componente dos trajes sumérios, os penteados nas figuras masculinas eram volumosos, partindo do meio e caindo até o peito em grossos cachos, além de barbas pesadas e retangulares. Segundo Anawalt, "os registros mais antigos indicam que os homens egípcios deixavam crescer a barba somente no queixo. Essa barba era frisada e tingida (às vezes com hena) e ocasionalmente trançada com fios de ouro. (...) Desde os tempos mais antigos, tanto homens como as mulheres das classes altas egípcias usavam volumosas perucas ou toucas de cabelo falso. Serviam não apenas como adorno, mas também para proteger a cabeça contra o sol forte, cumprindo assim a função de um chapéu. As perucas eram penteadas de várias maneiras, cada uma com características de um período; de modo geral, tornaram-se progressivamente mais compridas e os arranjos de cachos e tranças - fixados com cera de abelha - mais complexos."

Busto da rainha Nefertiti vestindo uma coroa alta, circa 1379 a.C.

Desde os tempos mais antigos, tanto os homens quanto as mulheres das altas classes egípcias usavam volumosas perucas ou toucas de cabelo falso. Não serviam apenas como adorno: servindo para proteção da cabeça contra o sol forte tornavam-se uma espécie de chapéu feminino. Tudo indica que as mulheres sumérias usavam o cabelo partido ao meio de maneira a emoldurar o rosto. Alguns milênios mais tarde, as damas da corte assíria ainda adotavam um estilo de penteado muito similar, embora adornado luxuosamente por elegantes distintivos reais, como é o caso do diadema da rainha Puabi (imagem abaixo). Várias eram as peças componentes do penteado real da rainha suméria: uma fita dourada enrolada diversas vezes em volta da cabeça; uma faixa de lápis-lazúli na testa, contas de cornalina (variedade vermelha do quartzo) sustentando argolas de ouro; contas de cornalina enfeitando as pontas de folhas douradas de álamo e salgueiro; um ornamento de cabelo dourado na parte de trás da cabeça, decorado com sete rosetas. Anawalt complementa: "O esplendor desse adorno é realçado por um enorme par de brincos dourados, sustentados por quatro espirais de ouro pendendo do contorno do cabelo. A rainha suméria foi enterrada com 74 criados, muitos dos quais também usavam adornos na cabeça, mas nada que se comparasse ao dela."

Distintivo real da rainha suméria Puabi, composto por fitas douradas e folhas de álamo e salgueiro e faixas de lápis-lazúli, circa 2.500 a.C.

Sandálias do Novo Império, no refinado estilo de relevo entalhado - Fonte: A História Mundial da Roupa, de Patricia Anawalt (Senac, 2011)

Botas confeccionadas com pêlo de foca e decoradas com tiras de pêlo - Fonte: A História Mundial da Roupa, de Patricia Anawalt (Senac, 2011)

Outro elemento decisivo de agasalho foi o calçado. As sandálias, que surgiram em torno de 814 a.C., eram amarradas no tornozelo e com o dedão preso por um anel. No Egito, homens e mulheres usavam sandália confeccionadas em palha e folhas de palmeira ou papiro trançadas à mão. As sandálias de couro raramente eram usadas, mas sandálias elegantes aparecem com frequência nas figuras retratadas durante o período Amarna (capital do Antigo Egito durante o reinado do faraó Amenófis IV). Já na tumba de Tutancâmon foram encontrados quase cem calçados, desde peças de uso diário até os itens mais extravagantes. O notável par de sandálias (imagem abaixo) pertenceu ao rei Tutancâmon e nunca teria sido usado. Combinando madeira com casca, couro verde e folhas douradas, retratam prisioneiros asiáticos e núbios amarrados, além de oito arcos que simbolizavam inimigos tradicionais do Egito. A escolha da decoração seria uma forma metafórica de "pisar" ininterruptamente em seus adversários.

Par de sandálias do rei Tutancâmon. O calçado foi confeccionado em casca, couro verde e folhas douradas (Foto: Linda De Volder)

Câmara Cascudo, em Civilização e Cultura (Global, 2004) ratifica o calçado como um outro item relevante de agasalho humano. "Agasalho-defesa que possibilitou uma libertação das condições ásperas do terreno. Facilitou e ampliou o autotransporte humano. Com o pé calçado, as pedras agudas, areias ardentes e soltas, espinhais, lama, neve, o gelo escorregadio e liso foram quotidianamente vencidos e a distância superada." E completa: "O sapato, imagem do pé, simbolizava o corpo e sua situação no solo teve expressão de magia simpática."

Segundo Cascudo, foi agasalhando-se que homem passou sucessivamente a valorizar a defesa exterior, tornando-se emblemática, simbólica, política. Para o antropólogo, classes, funções e atos estariam ligados a uma exigência de plano da indumentária. Seja para funcionar como um indicativo de fertilidade ou casamento, sinalizar os estágios de vida (que sobrevive ainda hoje na arte tribal de certos grupos étnicos isolados), hierarquizar dos valores e crenças de cada grupo social; ou como item indispensável no combate às baixas temperaturas, a roupa sempre atuou no âmbito da preservação e proteção humana. Ao longo dos tempos, a indumentária (incluindo sapatos e chapéus) refletiu as influências entre as diversas culturas através dos diversos modos de ornamentação, provando que o vestuário é parte intrínseca de cada modo de vida.

Fonte: http://lounge.obviousmag.org/anna_anjos/2013/05/a-invencao-da-roupa.html

A Guerra Dos Farrapos - 1835







"Compatriotas. O amor à ordem e à liberdade, a que me consagrei desde minha infancia, me arrancaram do gozo do prazer da vida privada para correr convosco à salvação de nossa querida pátria. Vi a arbitrariedade entronizada, e não pude ver por mais tempo surdo a vossos clamores; pedistes a cooperação do meu braço, e dos braços que me acompanham, e voei à capital afim de ajudar-vos a sacudir o jugo que com a mão de um inepto administrador vos tinha imposto uma fracção retrograda e anti-nacional.



Compatriotas! vossos votos justas exigências já estão satisfeitas. Caducou aquela autoridade cujo manto cobria os atentados de homens perversos, que têm conduzido esta benemérita província à borda do precipício. Corresteis às armas depois de haver esgotado todos os meios que a prudência e o amor à ordem vos sugeria, não para destruir, mas sim para consolidar a sagrada Constituição que juramos; não para vingar-vos dos ultrajes que diariamente vos faziam os corifeus de um partido anti-nacional, mas sim para garantir as liberdades pátrias de seus ataques, tanto mais terríveis, por isso que eram exercidos à sombra da Carta Constitucional; corresses emfim às armas para sustentar em sua pureza os princípios políticos, que nos conduziram ao sempre memoravel sete d`abril, dia glorioso de nossa regeneração, e total independência.



O resultado de vossa nobre empresa não podia ser duvidoso, pois que ela era reclamada pela justiça, e pela opinião, esta rainha do universo, cujo poder é irresistivel: triunfasses, brasileiros livres! e com vossa decisão, e vosso triunfo destes uma prova de que sois dignos dos benefícios da liberdade; patenteasses os nobres sentimentos de nacionalidade que inflamam vossos peitos; comprovasses, emfim, que vossa fronte jamais dobrará ao pesado jugo da arbitrariedade.



Esses motivos, e estes sentimentos, que convosco partilham todos os corações verdadeiramente brasileiros, justificarão vossa conduta aos olhos dos mais rígidos censores dos movimentos populares. Apressuremo-nos, pois, a manifestar aos nossos irmãos habitantes das mais províncias da união brasileira, os fundamentos das nossas queixas e o dos nossos temores. Conheça o Brasil que o dia 20 de setembro de 1835 foi a consequência inevitável de uma má e odiosa administração; e que não tivemos outro objeto, e não nos propuzemos a outro fim, que restaurar o império da lei, afastando de nós um administrador inepto e faccioso, sustentando o trono do nosso jovem monarca e a integridade do império.



Sim, compatriotas, devemos ao Brasil, que neste momento tem seus olhos fitos em nós, esta manifestação tanto mais sincera e pronta, quanto maior é o dever em que nos achamos de desvanecer os temores com que nossos inimigos o quizerem alarmar, acusando-nos de sustentar vistas de desunião e república. Desgraçadamente nesta província, como nas demais do império, existe uma facção retrograda adversa por princípios e interesses à nova ordem de cousas, e inimiga implacável de todos aqueles que professam decidido amor às liberdades pátrias. Apoiado este partido anti-nacional pelo marechal Barreto, cuja ambição desmedida, e princípios impopulares são assás conhecidos, deixou sentir sua fatal influência em todas as presidências anteriores à do Sr. Braga; mas nunca ousou mostrar-se tão descaradamente como neste último período.

Burladas foram as esperanças dos amigos de nossa pátria , que regosijavam-se de ver, pela primeira vez, um filho seu elevado à primeira dignidade da província!

Quantos bens deviam esperar-se! quantos males precavidos! mas uma triste fatalidade quis o contrário.

A inaptidão que desde logo mostrou para tão elevado cargo, e a versatilidade de caracter do Sr. Braga favoreceram os desígnios dos perversos, que nele acharam o instrumento de seu rancor contra os livres; e no poder anexo à presidência o meio de saciar suas ignobeis vinganças. Ninguém ignora os sucessos da noite de 24 de outubro do ano passado, e dos dias consecutivos; ninguém ignora como o partido anti-nacional, armando braços mercenários, e estrangeiros, ocupou militarmente o Trem de Guerra da capital, e ameaçou com aparatos bélicos os cidadãos pacíficos que festejavam em aquela noite com cânticos patrioticos as salutares reformas do nosso pacto social: o costume autorizava o festejo, a ordem presidia os passos de um povo que se entrega ao prazer, e marchavam na sua frente os juizes de paz dos distritos que percorria; porém, apesar disso pouco faltou para que o estrondo do canhão, e o grito da morte não sucedesse aos sons festivos, e a expansão da nacionalidade satisfeita.

Aquelas ameaças, aquele armamento desusado, não foi quiçá o primeiro insulto cometido contra a nossa nacionalidade? Não merecia um pronto e exemplar castigo? Não poderia executá-lo o braço poderoso de um povo irritado? Podia sim, mas não o quiseram os patriotas, amigos da ordem; colocaram em seus peitos os justos ressentimentos; esperaram providência e justiça de sua primeira autoridade. Vãs esperanças! Enquanto o vulcão das paixões ameaçava abrazar a capital, que tazia o Sr. Braga? Embriagava-se, com mágua o dizemos, embriagava-se de prazer na cidade do Rio Grande entre festins e banquetes, deixando naquelas espinhosas circunstâncias o timão do Estado entregue ao capricho de seu irmão o Sr. Pedro Rodrigues Fernandes Chaves, jovem turbulento e faccioso, e o mesmo que dirigia e dava impulso ao partido que naquele momento aterrorizava a capital. As notícias sempre mais aterradoras, que deste ponto recebia, pareceram despertá-lo por um instante do seu letargo; chamou-me então, e em nome da pátria conjurou-me a que usando de todo o meu influxo fosse manter o sossego público: voai, acalmai, conciliar, e fazei deter o furor do povo; evitai toda a efusão de sangue; assegurai-lhe que pronto regressarei, e ele aplaudirá minha justiça.

Compatriotas! O nome da pátria nunca soou em vão aos meus ouvidos, e sempre me prestei voluntário a prestar-lhe meus serviços; acreditei nas palavras enganadoras do sr. Braga, e voei ao vosso lado; dóceis ouvistes minhas palavras de paz, detivesses o braço já pronto a descarregar o golpe mortal sobre vossos agressores, e por mim confiasses novamente em vosso presidente. Mas quem o acreditaria! o pérfido havia-me iludido, e meu patriotismo tão somente lhe serviu de instrumento para também iludir-vos e desarmar-vos. Como poderá justificar-se semelhante conduta em a primeira autoridade, que não deve ouvir outra voz que a da justiça, nem ter outras vistas que as do bem do povo que rege! Se o ex-presidente houvesse desejado o bem-estar e tranquilidade da província, não teria desamparado o lugar que a lei lhe confiou, teria acudido prontamente ao ponto que ameaçava a conflagração, e o castigo dos facciosos teria satisfeito a justiça de um povo ultrajado.

Não por certo, não tinha em vista o bem da pátria quando levou desde o Rio Grande a confusão e a discórdia a todos os ângulos da província; quando em seu regresso a capital aprovou quanto de mais desatinado e criminoso havia cometido seu lugar-tenente Rodrigues Fernandes Chaves; quando afastou de si seus antigos amigos, os sustentadores das instituições livres; quando, ingrato a meu zelo pelo restabelecimento da tranquilidade pública, ousou chamar-me caudilho de fascinorosos, e revolucionário. Insensato! Se eu tivesse querido levantar o estandarte da rebelião, que melhor oportunidade que a exaltação em que se achavam os espíritos? Que motivo mais plausível que o insulto feito à nacionalidade? Que meios mais poderosos que as cartas que seu passado temor, e mais que tudo a certeza de que eu não abusaria delas, me havia confiado? Mas já era surdo à austera linguagem da verdade, e prestava tão somente ouvidos às baixas lisonjas, e aos pérfidos conselhos de um partido que queria vê-lo envolvido em seus interesses, e cúmplice em seus crimes para assegurar-se da impunidade e do triunfo dos princípios retrógrados. Deixou o sr. Braga de ser administrador de um povo livre, desde que ao império da lei substituiu o espírito de facção, e o povo desde aquele instante deixou de respeitá-lo. Sem força moral, sem opinião, um governo não subsiste senão pela desmoralização, pela intriga e pela agressão, e este foi caminho cheio de precipícios em que se lançou o sr. Braga. Vós o vistes, Rio-grandenses, apoiar na corte com sua autoridade as mais vergonhas intrigas do marechal Barreto, para perder aqueles cujas luzes e patriotismo transtornavam seus planos ambiciosos e despóticos; em quanto com seu poder nesta cidade autorizava as desejadas vinganças. O primeiro golpe dado contra a liberdade conduz insensivelmente, e de um modo inevitável a todos os outros: é uma porta aberta à arbitrariedade, e uma vez que ela se introduz ninguém pode prever em que ponto parará.

Compatriotas! Vós testemunhasses esta verdade, e os cidadãos mais decididos pela causa do povo foram o alvo de uma sistemática perseguição; prodigalizaram-se empregos aos homens mais impopulares, a aqueles que eram mais indigitados para professarem princípios mais retrógrados e antinacionais; o direito de petição garantido por nossa Constituição foi desatendido, e os peticionários tratados como sediciosos; encheram-se os cárceres de patriotas, e toda a província foi envolvida em processos e querelas; introduziu-se a desmoralização na guarda-nacional de infantaria para dispersá-la, e se suspendeu arbitrariamente do seu comando ao tenente-coronel Silvano José Monteiro de Araújo e Paula, cujo crime era seu inabalável patriotismo; criou-se uma guarda pretoriana debaixo do nome de guarda-nacional de cavalaria para custodiar a cidade; mandou-se com ingentes gastos, e detrimento do erário público ao valente batalhão de caçadores n2 8 para as longínquas fronteiras de Missões; removeu-se da vila do Jaguarão para Bagé a companhia de caçadores que ali se achava por ordem da Regência, duplicando sem necessidade nem motivo plausível, as despezas, pelo custoso de transporte de víveres, munições e bagagem, a pontos tão distantes. Silva Tavares, capitão da extinta segunda linha, foi nomeado comandante da fronteira do Rio-Grande a despeito das instruções da Regência de 8 de março de 1834, sujeitando assim à nulidade, e malvadez deste homem perverso, um sem-número de chefes valentes e aguerridos; retirou-se do comando da fronteira do Rio Pardo ao veterano dos nossos guerreiros, o sr. Bento Manuel Ribeiro, e foi substituído pelo tenente-coronel da mesma extinta segundo linha, José Antonio Martins, cujo único título é a particular inimizade que consagra ao sr. Bento Manuel Ribeiro, e pertencer a facção do marechal Barreto; vimos emfim debaixo da presidência do sr. Braga o templo de Temis convertido em forja das mais injustas perseguições; vimos cidadãos armados contra cidadãos; vimos deportações; vimos violada por duas vezes a sagrada garantia do habeas corpus na pessoa do honrado patriota major José Mariano de Mattos; e vimos finalmente impunes a escandalosa introdução de africanos, e da moeda de cobre, terríveis açoites desta malfadada província. Com estes e muitos outros atentados, que por brevidade omito, se satisfizeram as exigências do marechal Barreto, de Pedro Chaves, e da facção retrógrada; mas era forçoso capear as perseguições com o manto da utilidade pública, era forçoso legalizar atos perpetrados contra a opinião da grande maioria da província. Chegou a época da instalação da nossa Assembléia provincial, e a fala do presidente arrancou a máscara com que cobria uma política hipócrita e rasteira: a calúnia mais feroz foi proferida no seu seio com altivez e ousadia, e a província tremeu por sua tranquilidade e existência, ouvindo a voz de sua primeira autoridade revelar-lhe uma conspiração, cujo fim era desmembrá- Ia da grande família brasileira, e acusar como autores de tão nefando projeto aos mais conspícuos defensores das liberdades pátrias, a aqueles que em todos os tempos valorosamente expuseram suas vidas e verteram seu sangue em defesa da integridade do Império. Projeto insensato! O golpe mortal que o ex-presidente premeditou dar na honra e bem merecida opiniao de seus adversarios, reverberou-se contra sí! Graças sejam dadas à energia dos generosos patriotas deputados da oposição! Eles advogaram a causa da inocência contra o aparato do poder, e contra a liga dos facciosos que se sentavam nos bancos da nossa Assembléia provincial: sua nobre e austera linguagem aterrou a calúnia, perseguiu ao caluniador em suas últimas trincheiras, e obteve a glória de obrigá-lo a mais abjeta retratação, e de tranquilisar a província manifestando-lhe que não existia a revelada conspiração: um clamor geral de indignação sucedeu ao do temor que se havia querido incutir, e essa justa indignação acabou de fazer desprezível a autoridade do sr. Braga.

Depois desta derrota, quem teria ousado permanecer no eminente lugar que se tinha deshonrado? Mas o sr. Braga já se não achava livre para retroceder ainda que o houvesse querido; obsecado pelo partido retrógrado, por seus compromissos pessoais, e pelo fatal influxo de seu irmão, sempre pronto a incitá-lo a toda a classe de violências, persistiu na presidência, e continuou sua marcha opressora e anti-nacional. O partido faccioso em sua mesma raiva achava nova forças para intentar novas empresas contra os interesses da maioria desta província que em seu delírio tratava de sediciosa e anárquica. Acreditou que sua posição era todavia a mais forte a despeito da opinião pública que lhe era contrária. Os lugares mais importantes estavam confiados a membros de sua facção, e inutilizados a maior parte dos influentes do partido liberal; contava com um número crescido de facciosos no seio da representação provincial; contava com o apoio de seu corifeu o marechal Barreto, que ousava prometer-lhe sacar força armada de um Estado vizinho para sufocar qualquer tentativa dos homens livres; a liberdade de imprensa lhe servia de veículo para espalhar suas doutrinas retrógradas e impopulares, atacar com o fél da calúnia reputações adquiridas por uma larga série de serviços feitos à pátria, semear a discórdia e dividir para reinar, contava com o tesouro nacional para comprar prosélitos, e suprir os gastos de uma administração pródiga e desatinada, e contava emfim com magistrados corrompidos e prevaricadores para legalizar injustas perseguições, e os atos mais arbitrários. Estes eram os elementos com que contava a transata administração, e podiam os brasileiros livres sofrer por mais tempo seu jugo pesado e imoral, e deixar a seus filhos o triste exemplo da arbitrariedade triunfante? O cálice da amargura ainda não estava cheio, mas não tardou a sê-lo. Não contente o partido retrógrado de apresentar em seus imundos periódicos aos nossos honrados e industriosos camponeses como sepultados nas trevas da mais crassa ignorancia, como ineptos para defender seus interesses políticos, e apelidados bárbaros, pobretões e proletários, projetou sobrecarregá-los com um novo e oneroso imposto de dez mil réis anual sobro cada légua quadrada; imposto contrário aos princípios de economia política, impondo injusto e cruel, porque recai sobre o capital e não sobre o produto-, injusto e cruel finalmente, porque pesa com desigualdade em razão da maior ou menor fertilidade dos campos. Vãos foram os esforços dos deputados liberais para oporem-se a tão opressiva lei; ela passou a despeito da sã razão, e do bem-estar dos nossos comprovincianos. O sr. Braga que pelo art. 15 da lei das reformas estava autorizado a negar sua sanção a qualquer lei quando entendesse não convir aos interesses da provi 1 ncia, e que podia por consequência, suspendendo a execução, prevenir os males que ela arrastava após si, longe de querer fazê-lo, desde logo sancionou e mandou cumprir. Faltavam-lhe porventura razões em que fundasse a sua negativa? Não por certo; filho desta província tinha todos os conhecimentos necessários para julgar o imposto impolítico e injusto; porém o espírito de facção dirigia todos os atos de sua funesta administração. Devia-se necessariamente prever o descontentamento que excitaria este novo imposto, e que a sua execução ocasionaria um pronto e geral levantamento; deviam pois os facciosos arbitrar modo de conjurar a tempestade provendo-se uma força armada devota à sua vontade, e comandada por chefes de sua facção. Em vão a buscariam eles nos valentes veteranos! Aqueles que combateram pelas liberdades pátrias jamais poderiam converter-se em algozes de seus concidadãos, jamais desembainhariam a espada para degolar seus pais, seu filhos e seus amigos! Não. Os militares do Brasil regenerado vertem seu sangue para defender a pátria, e não para oprimi-Ia. Buscariam eles esta força entre os beneméritos guardas nacionais da campanha? Certamente que não; são estes os mais vexados e oprimidos pelo imposto.

Aonde buscariam pois esta força? Custa dizê-lo! Na criação de um corpo de polícia de setecentas praças, na organização de um corpo de janízaros que com a ponta de suas espadas fizessem exequíveis as medidas mais impopulares e opressivas. Podemos assegurar por honra desta província que este revoltante projeto jamais passaria em nossa Assembléia se tivesse sido proposto e discutido com as formalidades do estilo; mas a cabala e a surpreza lhes fez obter o que de outro modo nunca teria obtido; este corpo foi criado por uma simples emenda do sr. Manuel Felizardo quando se discutia a lei do orçamento provincial, autorizando ao mesmo tempo o presidente para fazer seu regulamento! Semelhante modo de criar um batalhão achou a mais forte oposição da parte dos nossos deputados liberais, e apesar de haver sido aquela emenda firmada maliciosamente pelos deputados partidários da administração facciosa e por alguns outros que iludidos se prestaram às vistas iníquas dos srs. Chaves e Felizardo, apesar, dizemos, daquela nova espécie de abaixo-assinado (até agora desconhecido nos debates parlamentares) que representava a maioria da Assembléia, equivalia a uma votação antes da discussão, apenas passou por dois votos, e esta corte formidável cujas despezas teriam absorvido a enorme soma de duzentos contos de réis anuais, de facto foi feita e organizada pelo sr. Braga, que desta arte assumiu os dois poderes. Tantas arbitrariedades e tantos atentados em um povo que se preza de ser livre deviam emfim cansar seus sofrimentos. A inquietação que desde os primeiros meses da presidência do sr. Braga se tinha derramado na maior parte desta província, e que por tantas vezes a prudência e amor à ordem haviam acalmado, como acendida por virtude elétrica, apareceu novamente e se fez geral.

A nossa pátria pareceu ao esperto observador como um enfermo, a quem uma febre ardente mortifica, e que alternativamente espera e teme que a crise que o atormenta lhe dê saúde ou morte. Em vão, compatriotas, buscáveis uma táboa de salvação, ela estava na Carta, mas naqueles momentos a Carta era letra morta, as vias legais vos eram obstruidas, a apatia do Governo central não vos deixava transluzir a mais pequena esperança de melhoramento, os males vos ameaçavam já de perto, qualquer dilação era perigosa, e a força vos ia dominar, e destruires, cidadãos, a força com a força. Cumprimos, riograndenses, um dever sagrado repelindo as primeiras tentativas de arbitrariedade em nossa cara pátria; ela vos agradecerá e o Brasil inteiro aplaudirá o vosso patriotismo e a justiça que armou vosso braço para depor uma autoridade inepta e facciosa, e restabelecer o império da lei. Compatriotas, eu acrescentarei à glória de haver sido em outros tempos vosso companheiro nos campos de batalha, e havermos conduzido contra vossos inimigos externos, a glória ainda mais nobre e perdurável de haver concorrido a libertá-la dos seus inimigos internos, e salvá-la dos males da anarquia. O governo de facção desapareceu de nossa cena política, a ordem se acha restabelecida. Com esse triunfo dos princípios liberais minha ambição está satisfeita, e no descanso da vida privada a que tão somente aspiro, gozarei o prazer de ver-vos desfrutar os benefícios de um governo ilustrado, liberal e conforme com os votos da maioria da província. Respeitando o juramento que prestamos ao nosso Código sagrado, ao trono Constitucional, e à conservação da integridade do Império, comprovareis aos inimigos de nosso sossego e felicidade, que sabeis preferir o jugo da lei ao dos seus infratores, e que ao mesmo tempo nunca esqueceis que sois os administradores do melhor património das gerações que vos devem suceder, que este património é a liberdade, e que estais na obrigação de defendê-la a custa de vosso sangue e de vossa existência. A execração de nossos filhos cairá sobre nossas cinzas, se por nossa desmoralização e incúria lhes transmitirmos este sagrado depósito desfalcado e corrompido; e suas bênçãos se nos acompanharão ao sepulcro se lhes deixarmos o de virtude e patriotismo.

Porto alegre, 25 de setembro de 1835.

Bento Gonçalves da Silva"

Folclore



Folclore é um gênero de cultura de origem popular, constituído pelos costumes, lendas, tradições e festas populares transmitidos por imitação e via oral de geração em geração. Em 22 de agosto, o Brasil comemora o Dia do Folclore. A data foi criada em 1965 através de um decreto federal. No Estado de São Paulo, um decreto estadual instituiu agosto como o mês do folclore.

Definição

O termo folclore (folklore) aparece pela primeira vez cunhado por Ambrose Merton - pseudônimo de William John Thoms - em uma carta endereçada à revista The Athenaeum, de Londres, onde os vocábulos da línguainglesa folk e lore (povo e saber) foram unidos, passando a ter o significado de saber tradicional de um povo. Esse termo passou a ser utilizado então para se referir às tradições, costumes e superstições das classes populares. Posteriormente, o termo passa a designar toda a cultura nascida principalmente nessas classes, dando ao folclore o status de história não escrita de um povo.

À medida que a ciência e a tecnologia se desenvolveram, todas essas tradições passaram a ser consideradas frutos da ignorância popular. Entretanto, o estudo do folclore é fundamental de modo a caracterizar a formação cultural de um povo e seu passado, além de detectar a cultura popular vigente, pois o fato folclórico é influenciado por sua época.

No século XIX, a pesquisa folclórica se espalha por toda a Europa, com a concientização de que a cultura popular poderia desaparecer devido ao modo de vida urbano. O folclore passa então a ser usado como principal elemento nas obras artísticas, despertando o sentimento nacionalista dos povos.

Para que serve?
O folclore é o modo que um povo tem para compreender o mundo em que vive. Conhecendo o folclore de um País, podemos compreender o seu povo. E assim conhecemos, ao mesmo tempo, parte de sua História. Mas para que um certo costume seja realmente considerado folclore, dizem os estudiosos que é preciso que este seja praticado por um grande número de pessoas e que também tenha origem anônima.

Qual a origem da palavra "folclore"?
A palavra surgiu a partir de dois vocábulos saxônicos antigos. "Folk", em inglês, significa "povo". E "lore", conhecimento. Assim, folk + lore (folklore) quer dizer ''conhecimento popular''. O termo foi criado por William John Thoms (1803-1885), um pesquisador da cultura européia que em 22 de agosto de 1846 publicou um artigo intitulado "Folk-lore". No Brasil, após a reforma ortográfica de 1934, que eliminou a letra k, a palavra perdeu também o hífen e tornou-se "folclore".

Características do fato folclórico
Para se determinar se um acontecimento é folclórico, ele deve que apresentar as seguintes características:

Tradicionalidade: vem se transmitindo geracionalmente.
Oralidade: é transmitido pela palavra falada.
Anonimato: não tem autoria.
Funcionalidade: existe uma razão para o fato acontecer.
Aceitação coletiva: há uma identificação de todos com o fato.
Vulgaridade: acontece nas classes populares e não há apropriação pelas elites.
Espontaneidade: não pode ser oficial nem institucionalizado.
As características de tradicionalidade, oralidade e anonimato podem não ser encontrados em todos os fatos folclóricos como no caso da literatura de cordel, no Brasil, onde o autor é identificado e a transmissão não é feita oralmente.


Campos do Folclore


1- Música
2- Danças e festas
3- Linguagem
4- Usos e costumes
5- Brinquedos e brincadeiras
6- Lendas, mitos e contos
7- Crenças e superstições
8- Arte e artesanato

1- Música
Caracteriza-se pela simplicidade, monotonia e lentidão. Sua origem pode estar ligada a uma música popular cujo autor foi esquecido ou pode ter sido criada espontâneamente pelo povo. Observa-se a música folclorica sobretudo em brincadeiras infantis, cantos religiosos, ritos, danças e festas.

São exemplos: cantigas de roda

Ciranda cirandinha
Ciranda, cirandinha
vamos todos cirandar
vamos dar a meia-volta
volta e meia vamos dar
O anel que tu me deste
era vidro e se quebrou
O amor que tu me tinhas
era pouco e se acabou
Por isso, D. Fulano
entre dentro dessa roda
diga um verso bem bonito
diga adeus e vá-se embora


Ouça algumas cantigas de roda:





acalantos;
modinhas;
cantigas de trabalho;
serenatas;
cantos de velório;

O velório é uma cerimônia fúnebre na qual os parentes e amigos da pessoa falecida vão dar o último adeus antes da cremação ou do enterro. Sua duração é variada: de poucas horas a mais de um dia, podendo inclusive acontecer durante a madrugada.
O velório também é visto como um intervalo de tempo dado para aquele que parece estar morto na esperança de que não esteja realmente. Há algumas doenças e situações em que não se morre mas os sinais são típicos de um morto: o coração para, os sinais vitais cessam. Mitos populares dizem que há casos de pessoas que ficaram até uma semana em estados assim e "voltaram à vida" como se nada tivesse acontecido, como alguém que volta de um coma.




Geralmente o velório é realizado em um lugar próprio para isso contíguo ao cemitério, embora possa ser feito em outros lugares - especialmente quando o morto foi uma pessoa célebre, realizando-se neste caso em sedes de governo ou de instituições, palácios, câmaras municipais, prefeituras etc.

O cantor brasileiro (que já ganhou vários prêmios internacionais) Milton Nascimento, em sua música, "Sentinela", canta o sentimento que há quando do funeral:

"Morte, vela, sentinela sou
Do corpo desse meu irmão que já se vai
Revejo nessa hora tudo o que ocorreu
Memória não morrerá"
cantos de cemiterio;


2- Danças e festas
As danças acompanham as músicas em vários rituais folclóricos. É uma forma de dança social que se desenvolveu como parte dos costumes e tradições de um povo e são transmitidas de geração em geração. Muitas danças exigem pares, outras são executadas em roda, às vezes se colocam em fileiras. Embora as danças folclóricas sejam preservadas pela repetição , vão mudando com o tempo, mas os passos básicos e a música assemelhem-se ao estilo original. Todos os países têm algum tipo de dança folclórica e a maioria pertence apenas a sua nação, como por exemplo: a tarantela, italiana, o drmes, croata ou o krakowiak, polonês e o frevo brasileiro. Algumas são executadas em ocasiões especiais, como a polca de Natal sueca, a hayivka, dança da Páscoa ucraniana, a hochzeitstanz, dança austríaca de casamento e o reisado brasileiro, que festeja a véspera do dia de Reis. As principais danças folclóricas brasileiras entre outras são:


DANÇA DO CAMALEÃO. Esta dança foi pesquisada e colhida nos municípios paraibanos de Taperoá, Santa Luzia e Pombal, pelos próprios integrantes do Grupo Folclórico do SESC, na época de sua criação, no final dos anos 60.


Faz alusão ao lagarto conhecido como camaleão que muda de cor de acordo com a época/tempo, espécie muito comum nas regiões citadas, que por ser de cor das folhagens das plantações (milho, feijão e outros), passa a ser confudido com as folhas.
O camaleão tem como principal defesa a cauda que usa para chicotear quem o ataca. Foi no gesto de girar usando a cauda que as pessoas vendo, adaptaram para a dança.Com os passos da chula e alusão ao lagarto, a coreografia do giro com o pulo, foi criada/adaptada baseada na cauda do camaleão, que ao usa-la para se defender, chicoteia o ar dando um pulo.
Fonte: http://folclore.pb.sesc.com.br/curiosidades.html
Fonte vídeo: YouTube - Fábio A. Sexugi


DANÇA CHULA. Dança folclórica do Rio Grande do Sul, executada por homens e cuja coreografia, com muitas sapateadas, exige grande habilidade do dançarino. É acompanhada de palmas, violão, cavaquinho, pandeiros e castanholas.(1) .


Dança muito difundida em Portugal e também dançada pelos Açorianos. A Chula caracteriza-se pela agilidade do sapateio do peão ou diversos peões, em disputas, sapateando sobre uma lança estendida no salão.
A chula tradicional era dançada da seguinte forma: Dois dançarinos ficavam frente a frente tendo entre si uma lança de quatro metros de comprimento. Cada um dos oponentes executava uma seqüência de difíceis passos coreográficos indo até a extremidade oposta da lança e retornando ao seu lugar de origem.(2)
Fonte vídeo: YouTube - Portal Folclórico Brasileiro


3- Linguagem
As principais manifestações do folclore na linguagem popular são as seguintes:

Adivinhações: também chamados de adivinhas. Consistem em perguntas com conteúdo dúbio ou desafiador.

Exemplos de adivinhas

'O que é o que é???'

1. Está no meio do começo, está no começo do meio, estando em ambos assim, está na ponta do fim?
2. Branquinho, brancão, não tem porta, nem portão?
3. Uma árvore com doze galhos, cada galho com trinta frutas, cada fruta com doze sementes?
4. Uma casa tem quatro cantos, cada canto tem um gato, cada gato vê três gatos, quantos gatos têm na casa?
5. Altas varandas, formosas janelas, que abrem e fecham, sem ninguém tocar nelas?

Respostas:

1. A letra M
2. Ovo
3. Ano, mês, dia, hora
4. Quatro
5. Olhos

Parlenda: são palavras ordenadas de forma a ritmar, com ou sem rima. Parlenda vem de parlar s. f., parlenga; palavreado; arenga; tagarelice. É uma reunião de palavras com pouco ou nenhum objetivo e importância. É um palavreado bom de se ler, falar e ouvir. É chamada de trava-línguas, quando é repetida de forma rápida ou várias vezes seguidas, provocando um problema de dicção ou paralisia da língua, que diverte os ouvintes.
Exemplo:

"O rei de Roma ruma a Madri. "

"O rato roeu o rabo da raposa."

"Rosa vai dizer à Rita que o rato
roeu a roupa da rainha."

"O rato roer roía e, a Rosa Rita Ramalho,
do rato a roer se ria!"

"O rato roeu a rolha da garrafa da rainha.


Provérbios: ditos que contém ensinamentos. Dinheiro compra pão, mas não compra gratidão. A fome é o melhor tempero. Ladrão que rouba a ladrão tem cem anos de perdão. Pagar e morrer é a última coisa a fazer.
Quadrinhas: estrofes de quatro versos sobre o amor, um desafio ou saudação.
Piadas: fatos narrados humorísticamente.
Piada ou Anedota é uma história curta de final geralmente surpreendente e engraçado com o objetivo de causar risos ou gargalhadas (ou sensação de) no leitor ou ouvinte. É um tipo específico de humor que, apesar de diversos estilos, possui características que a diferenciam de outras formas de comédia.




Joãozinho é um nome genérico que se utiliza em piadas que envolvem um garotinho que faz perguntas ou comentários que provocam espanto em adultos. Esse é o nome utilizado no Brasil e em Portugal, mas esse contexto de piada também é utilizado em outros países. Há uma variação, que é Juquinha.
Os nomes mais populares são: Little Johnny (Estados Unidos), Jaimito (Espanha), Pepito (México), Vovochka (Rússia), Pepícek (República Tcheca), Pierino (Itália) e Toto (França).

Exemplo: O Joãozinho vai com sua irmã visitar a avó:
— Vovó, como é que as crianças nascem?
— Bem, as cegonhas trazem as criancinhas no bico, meus netinhos.
Joãozinho cochicha para a sua irmã:
— E aí, o que é que você acha? Contamos a verdade para ela?


Literatura de Cordel: livrinhos escritos em versos, no nordeste brasileiro, e pendurados num barbante (daí a origem de cordel), sobre assuntos que vão desde mitos sertanejos às situações social, política e econômica atuais.
Frases prontas: frases consagradas de poucas palavras com significado direto e claro.
Frases de pára-choque de caminhão: frases humorísticas ou religiosas que caminhoneiros pintam em seus pára-choques.

4- Usos e costumes
Neste campo inclui-se ítens à respeito da alimentação, cultivo, vestuário, comportamento etc, de um povo de uma região.

5- Brinquedos e brincadeiras
Os brinquedos são artefatos para serem utilizados sozinho, como a boneca de pano, o papagaio (pipa), estilingue (bodoque), pião...

As brincadeiras envolvem disputa de algum tipo, seja de grupos ou individual, como o pega-pega, bolinha-de-gude, esconde-esconde, etc.

6- Lendas, mitos e contos
Lenda é uma narração fantasiosa sobre um fato real. De caráter fantástico e/ou fictício, as lendas combinam fatos reais e históricos que aconteceram com fatos irreais que são meramente produto da imaginação aventuresca humana.

Com exemplos bem definidos em todos os países do mundo, as lendas geralmente fornecem explicações plausíveis e até certo ponto aceitáveis para coisas que não têm explicações científicas comprovadas, como acontecimentos misteriosos ou sobrenaturais.

Mito é uma história em torno de algo irreal, é um relato em forma de narrativa com carácter explicativo e/ou simbólico, profundamente relacionado com uma dada cultura e/ou religião. O termo é, por vezes, utilizado de forma pejorativa para se referir às crenças comuns (consideradas sem fundamento objectivo ou científico, e vistas apenas como histórias de um universo puramente maravilhoso) de diversas comunidades. No entanto, até acontecimentos históricos se podem transformar em mitos, se adquirem uma determinada carga simbólica para uma dada cultura. Na maioria das vezes, o termo refere-se especificamente aos relatos das civilizações antigas que, organizados, constituem uma mitologia - por exemplo, a mitologia grega e a mitologia romana.

Todas as culturas têm seus mitos, alguns dos quais são expressões particulares de arquétipos comuns a toda a humanidade. Por exemplo, os mitos sobre a criação do mundo repetem alguns temas, como o ovo cósmico, ou o deus assassinado e esquartejado cujas partes vão formar tudo que existe.

Mito não é o mesmo que fábula, conto de fadas, lenda ou saga. Exemplo de mitos brasileiros:

Boitatá
Caipora
Caipora é uma entidade da mitologia tupi-guarani. É representada como um pequeno índio de pele escura, ágil, nu, que fuma um cachimbo e gosta de cachaça.

Habitante das florestas, reina sobre todos os animais e destrói os caçadores que não cumprem o acordo de caça feito com ele. Seu corpo é todo coberto por pelos. Ele vive montado numa espécie de porco-do-mato e carrega uma vara. Aparentado do Curupira, protege os animais da floresta. Os índios acreditavam que o Caipora temesse a claridade, por isso protegiam-se dele andando com tições acesos durante a noite.

Chupa-Cabras
Curupira
Mula-sem-cabeça
Mula-sem-cabeça é uma lenda do folclore brasileiro.

A mulher que fez algum mal se transforma em mula-sem-cabeça, como castigo, na noite de quinta para sexta-feira. No passado, diziam que "mulher que namorasse padre" tinha esse destino. Sai pelos campos soltando fogo pelas ventas e relinchando. Seu encanto, segundo a lenda, somente será quebrado se alguém conseguir tirar o freio de ferro que carrega na cabeça. Em seu lugar, aparecerá uma mulher arrependida.

Papai Noel
Pé-grande
Ralã-barrão
Saci Pererê
Um mito tipicamente brasileiro

Inicialmente retratado como um curumim meio endiabrado, não se diferenciava muito das crianças indígenas, com duas pernas e de cor morena, com a diferença de possuir um rabo.

No norte do Brasil, a Mitologia Africana o transformou em um negrinho que perdeu uma perna lutando capoeira, imagem que prevalece nos dias de hoje. Herdou também da Cultura Africana o pito, uma espécie de cachimbo, e da Mitologia Européia, herdou o pileo, um gorrinho vermelho.

É considerado uma figura brincalhona, que diverte-se com os animais e pessoas, criando dificuldades domésticas, ou assustando viajantes noturnos com seus assobios. O mito existe pelo menos desde o fim do século XVIII. O saci não tem amigos, vivendo solitário nas matas.

A lenda diz que o Saci está nos redemoinhos de vento, e que pode ser capturado jogando-se uma peneira sobre estes. Deve-se então retirar o capuz da criatura para garantir sua obediência, guardando o Saci em uma garrafa. A lenda também diz que os sacis nascem de gomos de bambús, eles ficam dentro do gomo durante sete anos, e depois saem para viver mais setenta e sete anos e quando morrem se transformam em cogumelos venenosos ou orelhas de pau.

Um Conto é uma narrativa de uma façanha de forma fantasiosa. A Bela Adormecida é um conto de fadas, criado pelo escritor francês Charles Perrault, sobre uma princesa que é enfeitiçada para dormir até que um príncipe encantado a desperte com um beijo de amor.


7- Crenças e superstições
Sabença: sabedoria popular utilizada na cura de doenças e solução de problemas pessoais através de benzeduras.

Crendice: crença absurda, também chamada de ablusão.

Superstição: explicações de fatos naturais como consequências de acontecimentos sobrenaturais. Coceiras: Se apalma da mão coçar, é sinal que irá receber dinheiro. Se a palma da mão esquerda é que estiver coçando, uma visita desconhecida está para aparecer. Coceira na sola do pé significa viagem ao exterior.

Elefantes: Ter um elefante de enfeite, sobre um móvel qualquer, sempre com a tromba erguida mas de costas para a porta de entrada, evita a falta de dinheiro.

Orelha: Se sua orelha esquentar de repente, é porque alguém está falando mal de você. Nesses casos, vá dizendo o nome dos suspeitos até a orelha parar de arder. Para aumentar a eficiência do contra-ataque, morda o dedo mínimo da mão esquerda: o sujeito irá morder a própria língua.

Objetos perdidos: A maneira mais eficiente de encontrar algo que desapareceu é dar tres pulinhos para São Longuinho.


8- Arte e artesanato
Compreende uma ampla área, que se estende desde a culinária até o artesanato propriamente dito. Baseiam-se em técnicas rudimentares de produção e utilizam-se de matéria-prima natural como madeira, ossos, couro, tecido, pedras, sementes, entre outros.

O Artesanato é essecialmente o próprio trabalho manual ou produção de um artesão (de artesão + ato). Mas com a mecanização da indústria o artesão é identificado como aquele que produz objetos pertencentes a chamada cultura popular.

O artesanato é tradicionalmente a produção de caráter familiar, na qual o produtor (artesão) possui os meios de produção (sendo o proprietário da oficina e das ferramentas) e trabalha com a família em sua própria casa, realizando todas as etapas da produção, desde o preparo da matéria-prima, até o acabamento final; ou seja não havendo divisão do trabalho ou especialização para a confecção de algum produto. Em algumas situações o artesão tinha junto a si um ajudante ou aprendiz.

História: Os primeiros objetos feitos pelo homem eram artesanais. Isso pode ser identificado no período neolítico (6.000 a.c) quando o homem aprendeu a polir a pedra, a fabricar a cerâmica como utensílio para armazenar e cozer alimentos e descobriu a técnica de tecelagem das fibras animais e vegetais. O mesmo pode ser percebido no Brasil no mesmo período. Pesquisas permitiram identificar uma indústria lítica e fabricação de cerâmica por etnias de tradição Agreste que viveram no sudeste do Piauí em 6000 a.c.

Historicamente, o artesão, responde por todo o processo de transformação da matéria-prima em produto acabado. Mas antes da fase de transformação o artesão é responsável pela seleção da matéria-prima a ser utilizada e pela concepção, ou projeto do produto a ser executado.

A partir do século XI, o artesanato ficou concentrado então em espaços conhecidos como oficinas, onde um pequeno grupo de aprendizes viviam com o mestre-artesão, detentor de todo o conhecimento técnico. Este ensinava em troca de mão-de-obra barata e fiel, recebendo ainda vestimentas, comida e conhecimento. Criaram-se as Corporações de Ofício, organizações que os mestres de cada cidade ou região formavam a fim de defender seus interesses.


O processo de Joana D’Arc

Mesmo presa, a Donzela foi uma ameaça para seus adversários. Eles arquitetaram um julgamento falacioso para transformar a “enviada de Deus” em discípula de Satã



por Philippe Contamine

"Joana d’Arc, uma das pessoas de índole mais simples que a história produziu, está em processo eternamente”, escreve o acadêmico Jean Guitton. O inquérito contra a Donzela – para empregarmos um termo jurídico – começou com a sua estada, que se prolongaria por várias semanas, em Poitiers, na França, em março de 1429, no curso das quais os doutos da Igreja e também os juristas do Estado vigiavam permanentemente seu comportamento, inquirindo-a com perguntas insidiosas tanto para tentar atingir sua enorme credibilidade quanto para delinear sua personalidade.

O primeiro veredicto a que chegaram é que não havia nada de inquietante, nem de suspeito a respeito daquela pastora pouco culta que, dizendo-se guiada por vozes, se apresentara diante do delfim afirmando que viera para conduzir os franceses à vitória. Sua boa-fé parecia verdadeira; seu projeto era santo. Talvez a Providência, enfim, tivesse decidido intervir a favor de Carlos VII da França, um rei considerado muito cristão, e de seus súditos. Certamente, o instrumento dessa intervenção poderia surpreender, mas era teologicamente admissível. Era fato – assim mostrava a Bíblia – que o céu se interessava pelo destino dos povos e das nações. Logo, não apoiar a iniciativa da “enviada de Deus” que desejava provar a origem sobrenatural de sua missão por meio de um “sinal” perante a cidade de Orléans, sitiada havia seis meses pelos ingleses, seria dar provas de ingratidão. Parecia absolutamente inevitável, pode-se dizer necessário, sobretudo num momento de angústia, confiar nela.

E o milagre acontece! As palavras da pequena Joana são confirmadas. O cerco de Orléans é desfeito (8 de maio de 1429) e, logo a seguir, três outras cidades do vale do Loire são reconquistadas. Quando os ingleses são derrotados em Patay (18 de junho), a reconquista do reino se acelera – e Carlos VII, conduzido pela Donzela de Orléans (a partir dessa data, ela será conhecida por esse nome), é sagrado rei, na catedral de Reims, no dia 17 de julho, em clima de entusiasmo geral. Mesmo depois de tudo isso, as interrogações continuam: que força se esconde por trás dessas vitórias espetaculares?

A propaganda da Coroa francesa reforçou a dimensão religiosa da personalidade de Joana. A Donzela foi apresentada como uma profetisa que já teria sido anunciada por outros profetas. A resposta veio no mesmo campo da religiosidade, o que começou a traçar o destino da pastora guerreira. Um tratado em latim, redigido por um acadêmico parisiense, sem dúvida especialista em direito canônico, que foi escrito nas últimas semanas de 1429, nos dá o testemunho disso. O objetivo foi responder à obra de Jean Gerson Sobre uma donzela (De quadam puella, 14 de maio de 1429), onde são enumeradas as razões para crer nos propósitos santos de Joana.

No tratado anônimo, as críticas endereçadas a Joana são as seguintes: vestia-se como homem, tinha atitudes belicistas, falsas profecias, idolatria a seu favor e recurso a sortilégios. A cereja do bolo foi apontar como falta de respeito às festas religiosas a tentativa frustrada de Joana de entrar em Paris, dominada por borguinhões e ingleses, em 8 de setembro de 1429, festa da Natividade da Virgem. Tantos motivos levaram esse homem da Igreja a pedir a intervenção da universidade e do bispo de Paris – e do Tribunal da Inquisição também, habilitado a se pronunciar em todos os casos de heresia.





EM BUSCA DE CONFISSÕES Não surpreende que a universidade, cuja autoridade em matéria de teologia permanecia incontestada, e a Inquisição, agindo com ela, tenham pedido o julgamento de Joana, logo após sua prisão pelos borguinhões em Compiègne, em 23 de maio de 1430. É inútil conjecturar que esses dois órgãos tenham sido forçados pelo duque de Bedford, regente inglês na França, a tomar essa posição. A solicitação de investigação foi iniciativa dessas instituições.

Após meses de subterfúgios e negociações, a Donzela foi entregue, enfim, ao rei da França e da Inglaterra. Ela passou a ser sua prisioneira de guerra. Não seria possível julgá-la, condená-la à morte como rebelde, passível de crime de lesa-majestade?

Claro que sim. Mas o impacto de um processo semelhante seria, sem dúvida, negativo aos olhos de uma opinião pública sempre hesitante entre os borguinhões e Carlos VII. Decidiu-se então submeter o pedido das autoridades eclesiásticas para que fosse feito um processo “em matéria de fé”. Por sorte, o lugar preciso onde Joana foi presa se situava na diocese de Beauvais, cujo bispo, Pierre Cauchon, era também um dos pilares da dupla monarquia. Esse prelado, dublê de político, seria encarregado desse processo da Igreja, que ocorreria, por mais precaução, no castelo real de Rouen, que era ocupado muitas vezes pelo jovem rei inglês Henrique VI.

Pierre Cauchon não era um especialista nesse tipo de processo. Ademais, ele sabia quanto o assunto era polêmico. O bispo tomaria muitas precauções para cumprir a missão que lhe fora designada (desqualificar a acusada, neutralizá-la e mesmo eliminá-la) e fazer do processo uma obra comum dos bispos, abades mitrados, teólogos e canonistas, guarnecidos de títulos e diplomas. Era necessário que a condenação fosse, de certa forma, inatacável no campo do direito, já que, por certo, as acusações de falta de isenção se levantariam.

Ao lado de Cauchon estavam um inquisidor (Jean Le Maître), um promotor eclesiástico (Jean d’Estivet, chamado o Beneditino) e três escrivães públicos. Certamente, Joana, sozinha, contra esse poderoso tribunal, estava longe de ter chances reais de absolvição nesse processo. A isso se somavam o rigoroso encarceramento, a falta de um advogado de defesa, testemunhas de acusação não identifi cadas, nenhuma investigação de moralidade, e, sobretudo, privação de comunhão, o que para ela representava um intenso sofrimento espiritual. Mas essa era a prática da Inquisição, que se baseava na presunção de culpabilidade. Estar sob veementes acusações de ser herege (como era o seu caso) já era ser considerado culpado por heresia. Uma vez o tribunal instalado no castelo do rei, o processo começou (21 de fevereiro de 1431).

A reviravolta aconteceu quando Cauchon e seus assessores compreenderam que Joana se recusaria resolutamente a submeter as suas vozes e as suas revelações à apreciação da hierarquia da Igreja, sobretudo às pessoas hostis e parciais que estavam diante dela. À sua maneira, ela os declarava incompetentes. Parecia aceitar que seu caso fosse levado ao papa, em Roma, ou até mesmo ao concílio geral que deveria se reunir, em breve, em Basileia. Reivindicada de maneira explícita, essa insubmissão a fez, consequentemente, ser expulsa da Igreja. Ela não passava de um membro podre do corpo místico de Cristo; para a salvação do povo cristão, era necessário arrancá-lo. A sua personalidade polêmica, obstinada, ajudou aqueles inquisidores a transformá-la em herege.

Essa era a situação em 24 de maio de 1431, dia em que, em praça pública, perto da abadia de Saint-Ouen, extenuada, ela resolveu, enfim, após o desenrolar de uma cena patética, negar as suas vozes e se submeter à Igreja. Em seguida a essa aparente abjuração, ela escapou in extremis da fogueira e foi reconduzida à sua prisão para fazer penitência com pão e água.

VIGIADA POR SOLDADOS INGLESES O caso, na esfera civil, poderia ter terminado por aí. Mas, talvez, decepcionada por ainda se encontrar presa (a possibilidade de uma prisão sob o comando da Igreja, menos severa, onde ela seria vigiada por mulheres em vez de por soldados ingleses que nutriam ódio por ela, a animara a abjurar), ela afirmou que seguia ouvindo vozes e, como sinal da sua mudança, tornou a vestir roupas de homem, misteriosamente deixadas à sua disposição pelos carcereiros ingleses.

Esse acontecimento gerou um segundo processo, mais sumário: cometendo seu erro mais uma vez, ela foi classificada como relapsa. A partir daí, foi entregue ao braço secular, isto é, ao poder real, que a condenou à fogueira na praça Vieux-Marché, no dia 30 de maio de 1431. O poderoso cardeal Henri Beaufort, bispo de Winchester, tio-avô do rei Henrique, assistiu ao seu fim. Nos bastidores, ele acompanhou de muito perto o desenrolar do processo. Certamente, a dupla monarquia jamais considerou cabível a declaração de inocência da prisioneira, seguida por eventual liberação. Ela causara muitos danos aos ingleses, e o seu potencial de liderança subsistia.





Podia-se, por outro lado, questionar a posição de Cauchon: ele era apenas um executor desprovido de autonomia ou, como homem da Igreja, acreditava ser possível que a culpada fosse condenada a uma simples pena de prisão, com a condição de que reconhecesse ter deliberadamente enganado o povo, por ter sido enganada pelo diabo?

De início, o prelado não suspeitou da importância que ela atribuiu às vozes, ou seja, ele ignorava a natureza, senão a sua existência, e não entendia, portanto, a tranquila determinação de defender seu rei e assumir a sua missão. Ela podia ter negado imediatamente. A resistência surpreendeu. Após a abjuração, Cauchon se perguntou se ela continuaria a se arrepender, se esse ato não fora causado simplesmente pelo medo da fogueira. Com o benefício da dúvida, pode-se conjecturar que Cauchon chegou a ficar satisfeito com a abjuração de 24 de maio.

UM PERIGO PARA A FÉ E O PODER A questão para a dupla monarquia não era apenas condená-la à morte. Era também necessário convencer a opinião pública, na França e fora da França, da legitimidade dessa condenação. Cartas foram redigidas, algumas em latim, outras em francês, especialmente para o rei do Sacro Império Romano-Germânico, Sigismundo de Luxemburgo, o duque da Borgonha, o papa e os cardeais. O que essas cartas diziam?

Aquela mulher, devido à grande popularidade, representava um perigo para a fé, os poderes e a sociedade; ela era cruel e presunçosa, consentindo que seus seguidores a idolatrassem, por orgulho; estimava-se acima das autoridades eclesiásticas, mesmo as mais altas, dirigindo-se diretamente a Deus, de quem se julgava enviada.

Em um momento, diziam as missivas, arrependeu-se de seus erros, e a Igreja, na sua misericórdia, perdoou-a. Infelizmente, essa abjuração era apenas um logro, do qual ela voltou atrás. Então, a Igreja pronunciou sua sentença definitiva. É verdade que, antes de morrer, na última reviravolta do processo, ela confessou que as vozes a enganaram e se entregou à Igreja, a única capaz de julgar a natureza dessas vozes.

Nada mostra que essa propaganda tenha atingido o seu objetivo. O que pensava Carlos VII, que permaneceu sem reação durante todo o processo? Talvez, a seus olhos, Joana não pudesse mais ser controlada e se tornasse mais nociva do que útil, no caso de uma eventual aproximação com a Borgonha; talvez, seus conselheiros eclesiásticos tenham-no persuadido de que os fracassos sucessivos que ela sofreu desde o assalto frustrado em Paris, que ela, aliás, tinha previsto, mostravam que Deus não estava mais a seu lado.

Conhece-se o desenrolar do processo graças à redação, em latim, feita algumas semanas ou meses após sua conclusão, dos atos (um original mais cinco cópias autênticas, das quais três chegaram até nós). A autoria dessa redação é de Thomas de Courcelles, um jovem universitário com um futuro promissor, ajudado pelo consciencioso Guillaume Manchon, um dos três escrivães. Com esse documento em vários exemplares (um caso único), a dupla monarquia entendia dispor de um bom dossiê, em caso de contestação da parte de Carlos VII junto ao papa ou ao concílio de Basileia.

Certamente, os atos do processo de condenação são o resultado de uma classificação hábil: quase sempre redigidos no estilo indireto, as respostas de Joana não são transcritas literalmente – contudo, há que se admitir que, apesar da forma enviesada, eles refletem tanto o espírito do processo quanto o conteúdo dos diálogos entre Joana e seus juízes. Não se pode falar de falsidade.

UM PROCESSO POLÍTICO Processo religioso ou político conduzido por juízes ligados a um partido? Tomadas uma por uma, as acusações contra o tribunal podem parecer fundamentadas. A orgulhosa insubmissão de Joana à Igreja oficial, isto é, aos supostos detentores terrenos do poder espiritual, sempre vai pesar contra seus acusadores. A Igreja não se pronunciou a respeito das visões nascidas do cérebro dessa jovem inteligente, porém iletrada, que, talvez, as inventasse. É necessário, contudo, concluir que se tratou de um processo político: se Joana tivesse falado e agido a favor dos ingleses, não seria possível um processo em matéria de fé. Eles a deixariam agir, ainda que a vigiassem à distância. Inversamente, teria sido melhor para ela não ter caído nas mãos de um capitão de Carlos VII, porque a Inquisição também existia no “reino de Bourges”, baseando-se nos mesmos princípios dos da “França inglesa”.
Fonte: http://www2.uol.com.br/historiaviva/artigos/o_processo_de_joana_darc.html

Como surgiram os talheres?



Até o século XI, quase todo mundo comia com as mãos. Os mais educados eram aqueles que usavam apenas três dedos para levar o alimento à boca. Naquele século, Domenico Salvo, membro da corte de Veneza, casou-se com a princesa Teodora, de Bizâncio. Ela trouxe no enxoval um objeto pontudo, com dois dentes, que usava para espetar os alimentos. Esse primeiro garfo foi considerado uma heresia: o alimento, fornecido por Deus era sagrado e tinha de ser comido com as mãos. Mas, pouco a pouco, membros da nobreza e do clero foram adotando o talher. O hábito demorou para pegar entre a população: com mais dentes, o espeto só se tornou popular mesmo no século XIX. Já a faca é o mais antigo dos talheres: foi o Homo erectus, que surgiu na Terra há 1,5 milhão de anos, quem criou o primeiro objeto cortante, feito de pedra, para caça e defesa. Desde então, o homem sempre carregou uma faca.

Na Idade do Bronze, que começou por volta de 3000 a.C., ela passou a ser feita com esse metal e a mesma faca que servia para matar era usada também para descascar frutas. O primeiro a sugerir que cada homem deveria ter um talher para ser usado exclusivamente à mesa foi o cardeal francês Richelieu (1585-1642), um fervoroso defensor das boas maneiras, por volta de 1630. Ao contrário da faca, a colher já surgiu com o objetivo de ser usada à mesa. Há registros arqueológicos de artefatos parecidos com mais de 20 000 anos, feitos de madeira, pedra e marfim. Mas, no início, a colher era de uso coletivo e parecia uma concha. "Quando surgiu o pão, há 12 000 anos, já se usava uma colher para jogar o caldo sobre ele", afirma o sociólogo Gabriel Bollaffi, da Universidade de São Paulo (USP).

Fonte: http://mundoestranho.abril.com.br/materia/como-surgiram-os-talheres

O que foi o escândalo Watergate?

por Danilo Cezar Cabral



Foi a invasão aos escritórios do Partido Democrata americano em Washington, no conjunto de edifícios Watergate. O incidente aconteceu em 1972 e, após dois anos de investigação, culminou com a renúncia do presidente Richard Nixon. A invasão rolou durante a campanha eleitoral e, mesmo com evidências ligando o episódio ao comitê de Nixon, o presidente foi reeleito com larga margem de votos.
De denúncia em denúncia...

...Um assalto aparentemente comum levou à renúncia do presidente dos Estados Unidos

1. Cinco homens invadem escritórios dos democratas, no complexo de Watergate, e são presos. O objetivo era grampear telefones para usar informações confidenciais como chantagem política - o que só é descoberto após muita investigação. De um prédio vizinho, dois ex-funcionários da CIA e do FBI coordenam a invasão com walkie-talkies

2. No dia seguinte, o jornal The Washington Post publica uma pequena nota sobre a invasão. Intrigados com a notícia, dois repórteres do próprio jornal - Bob Woodward e Carl Bernstein - começam a investigar o ocorrido e descobrem que um dos invasores tinha o nome na folha de pagamentos do comitê de reeleição de Nixon

3. Seguindo a dica de um informante anônimo, Bernstein viaja para Miami e descobre que um cheque de 25 mil dólares, pertencente ao comitê de reeleição, tinha sido depositado na conta de um dos invasores. Surge a primeira evidência concreta ligando o fundo de campanha de Nixon com a invasão em Watergate

4. O informante é funcionário de alta patente no FBI - a polícia federal americana. Por ter acesso a relatórios confidenciais sobre a invasão, exige anonimato e ganha o apelido de Garganta Profunda. Em encontros secretos com Woodward, o Garganta confirma ou nega a autenticidade das fontes e dos dados colhidos pelos repórteres

5. A perseverança do Post, mesmo com a concorrência deixando o caso meio de lado, leva à descoberta de que assessores de Nixon conduziam um esquema de espionagem política para favorecer o chefe nas eleições. Com a pressão da imprensa e da população, é criada uma comissão no Senado para investigar o caso oficialmente

6. Em depoimento ao Senado, o advogado da Casa Branca assume que há um esquema de espionagem. Gravações de telefonemas que passavam pelo Salão Oval - escritório oficial do presidente - comprovam que Nixon comandava o esquema

7. Dois assessores e quatro integrantes da equipe presidencial são condenados. O impeachment é questão de tempo. Em 8 de agosto, Nixon renuncia num discurso dramático, via TV. Em uma rara admissão de erro, o presidente diz: "Lamento profundamente qualquer tipo de dano..."

8. O vice, Gerald Ford, toma posse e, um mês depois, concede perdão absoluto a Nixon por qualquer crime cometido como presidente. O escândalo termina com o povo desconfiado, a imprensa mais atenta e a política americana criando processos mais práticos para investigar e combater irregularidades do governo
Faces do crime

Eles escreveram a história do maior escândalo político dos States

BOB WOODWARD

Republicano, começou no Post em 1971 e é considerado um dos melhores repórteres investigativos da história

CARL BERNSTEIN

Democrata, Bernstein completava Woodward. Enquanto o parceiro era cauteloso e sistemático, Carl era a energia da dupla

BEN BRADLEE

Editor-chefe do Post durante o caso Watergate. Apoiou seus repórteres mesmo sob forte pressão política contra a investigação

MARK FELT

Identidade do informante Garganta Profunda, revelada em 2005, numa entrevista à revista americana Vanity Fair

H.R. HALDEMAN

Assessor direto de Nixon, condenado em 1974. Foi um dos arquitetos do assalto aos escritórios democratas em Watergate

JOHN DEAN

Testemunha-chave da promotoria, o advogado da Casa Branca revelou que Nixon sabia do esquema de espionagem política

RICHARD NIXON

Único presidente americano a renunciar. Divide com George W. Bush o status de governante mais impopular na história do país

Fonte: http://mundoestranho.abril.com.br/materia/o-que-foi-o-escandalo-watergate