Biblioteca Nacional, Paris
Por Vicent Mottez
Nada parecia predispor aquele jovem aristocrata de uma Itália que se transformava sem que sua família percebesse a se tornar um dos maiores exploradores do século XIX e um dos principais artesãos da colonização francesa na África. Ele nasceu a 26 de janeiro de 1852 em Castel Gandolfo, a pequena comuna próxima a Roma que há 400 anos abriga a residência papal de verão. Pietro Paolo Savorgnan di Brazzà foi o sétimo de 13 filhos de uma rica família de aristocratas de origem veneziana.
Imerso em uma atmosfera erudita e francófila, Pietro, ao entrar na adolescência, revelou uma atração por crônicas de viagens, especialmente as de longa duração, como as que contavam a aventura do seu quase conterrâneo Marco Polo. Isso alteraria o eixo da vida aristocrática a que ele parecia destinado. O rapaz sonhava com a marinha. Mas é preciso lembrar que a Itália ainda não existia, e ele era cidadão dos Estados Pontifícios, que não possuíam uma frota à altura das ambições do rapaz.
O inquieto Pietro Paolo obteve dos pais a autorização para estudar em Paris, ainda com 14 anos. Em 1866, ele ingressou no rigoroso colégio de Saint-Geneviève para se preparar para o concurso da Escola Naval de Brest, onde ingressaria dois anos depois. Saiu de Brest em 1870 como subtenente e embarcou para a Argélia, no navio Joana D’Arc. Esse primeiro contato com o continente africano o impressionou... e abriu os olhos para a violência colonial. Encontrou logo depois em guerra, no encouraçado La Revanche.
Nos quatro anos seguintes, esteve sempre em diferentes missões, especialmente no Gabão. Com a queda do Segundo Império, a Terceira República estava em busca de glória para afirmar sua legitimidade. Instigada pela impetuosidade de Jules Ferry, a esquerda parlamentar sonhava em levar as “luzes” da civilização mundo afora. A direita nacionalista se opunha violentamente, desejando apenas trazer a Alsácia e a Lorena para o seio francês, como cita Paul Déroulède: “Eu perdi duas irmãs e vocês me oferecem 20 serviçais”.
No coração das trevas
Em 1875, sua primeira expedição foi financiada pela República, que, no entanto, liberou apenas 200 mil francos – a contribuição de 1 milhão proveniente de rendas de sua família foi o que viabilizou a empreitada. A missão durou três anos e fracassou em seu principal objetivo – descobrir a nascente do rio Ogooué, no Gabão. Mas Brazza, que havia afrancesado seu nome, conseguiu tecer relações com os nativos. Seu estilo, inspirado no do britânico David Livingstone, se afirmou logo de início: pacifismo, aversão pela escravidão, franca prodigalidade para com os autóctones e um talento inato para o diálogo.
O inverso de seu rival J. R. Stanley – enviado pelo rei dos belgas, Leopoldo II –, chamado de Boula Matari (“destruidor de rochas”) pelos africanos, em razão de seu belicismo. Brazza pensava como explorador, e não como colonizador. A isso se acrescenta a sua aparência de peregrino aventureiro, caminhando descalço, barbudo e de olhar selvagem. Não lhe faltava um estranho e misterioso charme.
O governo autorizou uma segunda expedição em 1879. Dessa vez, o sucesso foi absoluto. Ultrapassando Stanley, Brazza chegou ao rio Congo e negociou uma aliança com Makoko, rei dos tekes, que passou a contar com a proteção da França. Os franceses se estabeleceram em 1880, em Nkuna, na margem norte do rio Congo – que seria rebatizada como Brazzaville quatro anos mais tarde.
Brazza, no entanto, fez ardorosos inimigos por sua oposição ao regime de concessão, que entregou o destino das populações às mãos das sociedades capitalistas. Idealista e aristocrata, filho de outro tempo, ele desprezava o dinheiro e os industriais burgueses. É claro que, após ser voto vencido e cada vez mais radicalizar suas posições, acabou afastado de suas funções de governador-geral do Congo em 1897.
Morreu, amargurado em Dakar, em 1905, ao voltar de uma expedição particularmente dura em que fora verificar, a mando da Assembleia Nacional francesa, denúncias contra seu sucessor. Não faltam suspeitas de que ele teria sido envenenado. Sua mulher, Thérèse, recusou a proposta da Assembleia Nacional de sepultá-lo no Panteão, o que foi considerado uma ofensa e ajudou a explicar o silêncio que recairia sobre o personagem nas décadas seguintes. Seu corpo, primeiramente enterrado no Père Lachaise, em Paris, foi transferido pela esposa para Argel.
Embora Véronique Ovaldé tenha lhe dedicado recentemente um conto (na coletânea La Malle, Gallimard, 2013) muito pouco – exceto o nome da capital do Congo –, nos faz lembrar desse homem, que foi o pioneiro da epopeia colonial francesa na África. Celebrado em vida, Brazza caiu no esquecimento, como se fosse preciso sacrificar sua posteridade nesses tempos de revisão das jornadas coloniais europeias – e isso apesar da consideração que ele teve pelo Congo e suas populações autóctones.
A honra, no que se refere a seu país de adoção, Brazza parece ter levado consigo para o túmulo, como indica seu epitáfio: “Sua memória é livre de sangue humano. Sucumbiu em 14 de setembro de 1905 durante uma última missão para salvaguardar os direitos dos nativos e a honra da nação”. No Congo, sua posteridade teve melhor sorte. Em 2005, seus restos mortais foram levados para um memorial construído em sua homenagem em Brazzaville – não sem protestos dos que viam como equívoco a homenagem a um colonizador.
Fonte: http://www2.uol.com.br/historiaviva/reportagens/brazza_explorador_frances_africa_colonizacao.html
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