17.1.14

Documentário de Hitchcock sobre Holocausto será restaurado

Como outros diretores, britânico foi encarregado de expor atrocidades alemãs na Segunda Guerra. Obra inacabada sobre a libertação de campos de extermínio será restaurada e exibida em breve.



Quando os Aliados se preparavam para aterrissar no continente europeu, nos últimos anos de Segunda Guerra Mundial, diversos cineastas de renome foram recrutados. Sua incumbência era tanto rodar filmes de propaganda política como documentar o fim do conflito – para os noticiários antes das sessões de cinema, para a programação normal e para exibição no front. Europeus famosos radicados nos Estados Unidos, como Billy Wilder, William Wyler e Frank Capra, colocaram-se a postos, assim como alguns diretores britânicos.


Alfred Hitchcock atuou em Hollywood nos anos 40

Alfred Hitchcock não foi exceção. Depois de ter iniciado sua carreira na Europa, há alguns anos ele trabalhava em Hollywood. Em 1944 rodou, para a Secretaria londrina da Informação, dois filmes de meia hora de duração voltados para o público francês. Bon voyage e Aventure malgache foram concebidos como incentivo à Resistência francesa, contra a ocupação do país pelas tropas alemãs.

Depois disso, Hitchcock recebeu um convite do produtor Sidney Bernstein, seu amigo, para trabalhar no projeto denominado "F3080", segunda parte de uma documentação filmada da libertação dos campos de concentração alemães. A primeira parte, sobre o campo de Bergen-Belsen, já estava concluída.

Apenas um fragmento


Montanhas de ossos das vítimas no campo de Majdanek

Até hoje se discute qual foi o grau de participação real de Hitchcock nesse projeto. A única certeza é a que ele examinou o material rodado e deu indicações quanto à montagem. Tratado por muitos especialistas cinematográficos como "o Hitchcock perdido", o filme permaneceu um fragmento, também em função da mudança na política dos Aliados em 1945.

Agora, a obra que ficou conhecida sob o títuloMemory of the camps (Memória dos campos) deverá ser restaurada e tornada acessível a um público maior. Nos anos de 1944 e 1945, norte-americanos e britânicos queriam expor ao mundo as atrocidades cometidas pelos nazistas, mostrando imagens autênticas dos horrores nos campos de extermínio. Da mesma forma que as tropas russas, eles prepararam diversas equipes de filmagem para estarem presentes à libertação dos campos.

Imagens dos horrores


Mestre do suspense exigia autenticidade absoluta em seu documentário

Em julho de 1944, equipes soviéticas filmaram o já parcialmente destruído campo de Majdanek, na Polônia. Os fotógrafos ligados ao Exército Vermelho fizeram também imagens da libertação de Auschwitz, em janeiro de 1945. Em abril, era libertado Bergen-Belsen, primeiro grande campo de concentração onde os nazistas não haviam conseguido destruir as provas de suas ações, antes de evacuá-lo.

Sidney Bernstein, responsável pelo departamento de cinema da anglo-americana Divisão de Guerra Psicológica (PWD, na sigla em inglês), coordenou as filmagens. "Os câmeras estavam encarregados de registrar qualquer tipo de material que ilustrasse a ligação da indústria alemã com os campos de concentração – dados dos fabricantes nos fornos de incineração, câmaras de gás e outras instalações, correspondência com fornecedores, etc.", eram as indicações de Bernstein.

O primeiro diretor chamado para realizar a segunda parte do projeto foi Billy Wilder, que recusou o convite. Não se tem registro oficial da contratação de Hitchcock para o filme, mas há testemunhas de que ele trabalhou no projeto.

Peter Tanner, montador de Memory of the camps, descreveu em 1983 o trabalho minucioso de Hitchcock. Para o cineasta britânico, o mais importante era a "credibilidade" das imagens, com uma separação rigorosa entre registros documentais e situações encenadas.

Impressões autênticas

O historiador do cinema Christoph Terhechte, diretor da seção Fórum do Festival Internacional de Cinema de Berlim (Berlinale), escreveu em seu livro sobre o diretor, de 1999: "Hitchcock cuidava minuciosamente de utilizar material que não pudesse ter sido encenado."

Toby Haggith, do Museu Imperial de Guerra londrino, que recentemente anunciou a restauração e exibição do filme, o descreve como "extremamente forte e tocante". Ele contém não apenas imagens de horror, mas também de esperança, como, por exemplo, a de um prisioneiro que pôde tomar banho depois de muito tempo. O filme documenta ainda os esforços dos aliados para evitar a disseminação de doenças, como o tifo.


Libertação de prisioneiros em Auschwitz-Birkenau

Memory of the camps não foi concluído na época, embora muitas imagens dos fotógrafos aliados tenham sido exibidas em noticiários e outros filmes de propaganda. Por fim, os norte-americanos se retiraram do projeto F3080.

"Às vésperas de um inverno rigoroso, no lugar de confrontar os alemães com sua culpa, preferiu-se combater com o caos e a desmoralização, inspirando confiança", observa Terhechte. Os Aliados reconheceram que, para a reconstrução alemã, não seria bom confrontar as pessoas excessivamente com o passado, acrescenta Haggith, do Museu de Guerra.

Provável exibição em 2014-2015

Segundo o diário britânico The Independent, em 1945 Hitchcock mostrou-se chocado com as imagens, passando dias sem ir ao estúdio. O filme desapareceu por longo tempo nos arquivos, até ser localizado por um pesquisador norte-americano, no início dos anos 1980.

Uma versão fragmentária de Memory of the camps foi mostrada na Berlinale em 1984. De acordo com o Museu Imperial da Guerra, entre fins de 2014 e início de 2015, a obra deverá ser exibida na televisão britânica ou em festivais.

Fonte: DW.DE

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