Nacionalista e colonialista, o sionismo garantiu a criação de Israel. A diplomacia brasileira também participou do plano
Por André Castanheira Gattaz
O Estado de Israel foi criado em maio de 1948, como resultado do movimento sionista, que surgiu no final do século XIX e exerceu grande influência junto a governos ocidentais na primeira metade do século XX. O sionismo traz características nacionalistas e colonialistas. É nacionalista ao defender a criação de um Estado Nacional para os judeus. É também colonialista, pois o local escolhido para a criação de tal Estado Nacional foi a Palestina. Mas esta região, origem da população judaica espalhada pelo mundo, estava ocupada secularmente por populações árabes, que praticavam pacificamente as três religiões surgidas ali: judaísmo, cristianismo e islamismo.
No final do século XIX, o movimento sionista começou a promover a imigração de judeus europeus para a Palestina. Esta corrente se intensificou após a Primeira Guerra Mundial, quando a região passou para o domínio britânico. Em meados do século XX, a proporção entre colonos e nativos havia sido completamente alterada, gerando conflitos cada vez mais violentos entre a população palestina e os grupos de judeus recém-chegados.
Percebendo a dificuldade em manter a paz, a Inglaterra abriu mão do mandato sobre a Palestina, delegando à recém-criada Organização das Nações Unidas a tarefa de decidir o destino da área. Foram criados comitês que analisaram e debateram o assunto durante sete meses, recomendando a partilha da terra para a constituição de dois Estados, um árabe e outro judeu. Em novembro de 1947, o assunto foi levado à votação na Assembleia Geral, à época presidida pelo chefe da delegação brasileira na ONU, Osvaldo Aranha – homem forte do governo de Getúlio Vargas entre os anos 1930 e 1944, e retornado ao governo de Eurico Dutra como diplomata.
Embora inicialmente houvesse oposição da maioria dos países ao plano, o governo estadunidense instruiu seus representantes na ONU para que conseguissem a partilha. Várias nações foram ameaçadas de retaliações financeiras se fossem contra a partilha, enquanto aquelas que fossem a favor eram premiadas com a concessão de empréstimos em condições especiais. Prevista para o dia 26 de novembro, a votação foi adiada por dois dias, dando mais tempo aos lobistas pró-sionistas para obter os votos que lhes faltavam. Segundo um dos principais historiadores israelenses, esses dois dias foram essenciais para conseguir o apoio de Libéria, Taiti e Filipinas. Reunida a Assembleia no dia 28, a decisão novamente foi adiada a pedido do representante francês, e no dia seguinte o plano de partilha foi enfim votado. Ao contrário do que se podia prever uma semana antes, o plano foi aprovado por 33 países a favor e 13 contra, com dez abstenções. Por seu papel fundamental nessas negociações, adiando a decisão até que a maioria fosse obtida, Osvaldo Aranha recebeu a gratidão de Israel, embora ele tenha sido favorável à política que restringia a entrada de judeus no Brasil no período em que foi Ministro das Relações Exteriores, durante o Estado Novo.
O plano de partilha desagradou os dois lados envolvidos no conflito, dando origem a uma guerra que se estendeu de 1947 a 1949, em que o recém-criado Estado judaico conquistou parte das terras atribuídas aos palestinos. Em 1967, em novo avanço militar israelense, as regiões de Gaza, Cisjordânia e Jerusalém Oriental foram também ocupadas, permanecendo sob controle israelense até os dias de hoje, embora diversas resoluções da Assembleia Geral e do Conselho de Segurança da ONU tenham condenado tal ocupação. Segundo a própria ONU e a maioria dos analistas, a solução do conflito passa pela desocupação israelense das terras conquistadas em 1967 e a construção efetiva de um Estado Palestino soberano, vivendo lado a lado e pacificamente com o Estado de Israel, como previa o plano apoiado por Osvaldo Aranha.
Fonte:http://www.revistadehistoria.com.br/secao/artigos-revista/um-estado-dividido
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