Heranças do confronto - objetos que devemos à Primeira Guerra
Fábio Marton
Mais que qualquer outra antes, a Primeira Guerra foi um confronto – e choque – de tecnologias. Os exércitos partiram na direção do inimigo portando aviões, metralhadoras e artilharia moderna, sem entender o real impacto que essas criações teriam sobre as táticas cuidadosamente decoradas de manuais escritos no século anterior. Ideias ultrapassadas levaram a um início desastroso no combate, no qual cavalaria armada de sabres avançava contra nichos de metralhadoras.
A solução foi reinventar desde o princípio toda a forma de luta. “A guerra foi transformada para além de qualquer reconhecimento e não era mais guerra no sentido tradicional”, afirmou o historiador israelense Martin van Creveld em Technology and War: From 2000 B.C. to the Present (sem tradução). Mas não foram apenas as armas e táticas que mudaram. A necessidade do Exército levou a diversas pequenas inovações que beneficiaram a vida civil. Do aço inoxidável à calça feminina, várias invenções que ainda hoje fazem parte do dia a dia nasceram no conflito mundial. Nas próximas páginas, conheça itens que foram inventados, estrearam ou só fizeram sucesso por causa da Grande Guerra.
MILITAR
Caças e bombardeiros
Quando a guerra começou, aviões pareciam pipas motorizadas, precariamente mantidas por cabos. Nos primeiros meses, eram usados apenas em funções de reconhecimento, decolando desarmados, ou lançando bombas com as mãos. Os pilotos confrontavam os inimigos com acenos e sorrisos – os mais agressivos jogavam granadas ou usavam pistolas, sem efeito. A era da inocência acabou em 5 de outubro de 1914, quando o francês Joseph Fantz adaptou uma metralhadora a seu biplano Voisin, derrubando um avião alemão. Ao fim do conflito, bombardeiros como o Handley Page V/1500 eram capazes de levar mais de 3 toneladas de bombas de Londres a Berlim, e o caça Airco DH.4 americano voava a 230 km/h, 100 a mais que no início da guerra e quase 50 a mais que os melhores aviões alemães. Divididos em caças e bombardeiros, aviões se tornariam parte central de qualquer guerra.
Máscaras de gás
A imagem da Primeira Guerra é indissociável das máscaras de gás, uma defesa desenvolvida pelos britânicos em 1916, e hoje fundamental em laboratórios e na indústria. Durante o confronto, ambos os lados usaram armas químicas, que causaram quase 90 mil mortes. Os franceses tomaram a iniciativa, usando bromoacetato de etila – um tipo de gás lacrimogêneo – logo no início, em agosto de 1914, ao que a Alemanha reagiu em outubro, também com um agente não letal. No ano seguinte, seriam usados agentes letais, como cloro e fosgênio. A partir da década de 1920, o gás lacrimogêneo passou a ser usado pela polícia para conter multidões – e a máscara, pelos rebeldes mais preparados.
Tanques
Estreando em 1916, com o Mark I britânico, os tanques foram feitos para desempatar a situação das trincheiras. Por anos, o front se manteve quase imóvel, com ofensivas gigantescas terminando em avanços pífios. Os tanques, imunes a metralhadoras e armas leves, podiam avançar e, com suas lagartas, cruzar as trincheiras inimigas e dar espaço para a infantaria. Foram um dos trunfos que permitiram a vitória aliada – a Alemanha praticamente ignorou a novidade, preferindo construir armas antitanque.
Sonar
Após o desastre do Titanic, em 1912, o canadense Reginald Fessenden tentou criar um detector de icebergs, que patenteou em 1914. Veio a tempo de salvar os aliados: seu oscilador era um hidrofone ligado a um emissor de ruídos, que podia detectar submarinos alemães. Em 1917, os ingleses testaram um protótipo do ASDIC, o primeiro modelo direcional. Hoje o sonar é usado também por pescadores, engenheiros e oceanógrafos para identificar objetos, profundidade e características do leito marinho.
Porta-aviões
Os primeiros “porta-aviões” não tinham pista. Guindastes baixavam hidroplanos à água, que decolavam por si e eram recolhidos na volta. Mas hidroplanos não são bons aviões de combate: os flutuadores não têm muita aerodinâmica, tornando- os alvos fáceis para armas no solo. Em 1918, os britânicos adaptaram uma pista ao cargueiro HMS Argus, tornando-o o primeiro porta-aviões propriamente dito, do qual aviões convencionais podiam decolar. Com alcance dezenas de vezes superior ao de um navio armado de canhões, eles se tornaram a parte mais fundamental de qualquer força naval.
CIVIL
Zíper
Fechos automáticos existiam desde o século 19, mas não colaram muito porque eram baseados em ganchos, que se enroscavam em tudo. Durante a guerra, a marinha americana estreou o fecho desenhado pelo sueco Gideon Sundback, que era liso e não se enganchava em nada – considerações cruciais para o uso militar. Era o zíper moderno, que foi adotado pelos civis na década seguinte.
Absorvente íntimo
Quando os Estados Unidos entraram na guerra, em 1917, uma novidade local passou a ser usada nos hospitais de campo: bandagens feitas de “celu-algodão”, um material novo que era cinco vezes mais absorvente que o algodão puro. As enfermeiras da Cruz Vermelha rapidamente descobriram um uso alternativo para as bandagens em certos dias do mês. Após a guerra, o fabricante, a Kimberly-Clark, criou uma nova embalagem para o mesmo produto, fazendo fortuna com o primeiro absorvente íntimo descartável.
Aço inox
Um pouco antes do confronto, o engenheiro britânico Harry Bradley tentava criar uma liga metálica mais resistente ao calor, para fazer armas melhores – metralhadoras e canhões entortam ou travam se superaquecidos, porque o calor torna o metal maleável. Ele tentou isso com uma liga de ferro e cromo, que tem um ponto de fusão mais alto. O material era caro demais e ligeiramente menos resistente que outras opções, e não resolveu o problema das armas. Mas quando Bradley fez testes químicos em sua liga, notou que era resistente a corrosão. O aço inoxidável substituiu a prata e o ferro na cozinha, e hoje é usado de bisturis a monumentos arquitetônicos.
Bronzeamento artificial
No início de 1918, último ano do confronto, a escassez fazia sentir seu impacto. Quase metade das crianças em Berlim sofria de raquitismo, doença que causa deformidades nos ossos, por falta da vitamina D – que pode vir de alimentos, mas é produzida naturalmente pelo organismo, por exposição ao sol. O pediatra Kurt Huldschinsky foi o primeiro a notar a relação entre raquitismo e falta de sol, ao ver que quase todos seus pacientes eram pálidos. Assim, para tratar a doença em pleno inverno, ele os expos à luz ultravioleta – criando não só um tratamento eficiente como o bronzeamento artificial, que opera pelo mesmo princípio.
Horário de verão
Foi também a necessidade que levou a Alemanha a decretar que os relógios deviam ser adiantados, em 30 de abril de 1916. A ideia era economizar carvão, usado tanto na rede elétrica quanto nas locomotivas que levavam armas ao front, assim como nas fábricas que as produziam. Uma hora a mais de sol significava gastar menos combustível. Os aliados copiaram a ideia. Quase todos os países do mundo experimentaram o horário de verão ao longo do século 20. Alguns, como a Rússia ou a Argentina, usam um fuso horário adiantado em relação à sua localização, vivendo permanentemente em horário de verão.
Calça feminina
As roupas femininas não eram nada práticas no começo da guerra, consistindo em vestidos longos com espartilhos. Calças eram exclusivas para homens, e havia até mesmo selas de cavalo femininas, que permitiam cavalgar de saia, sentada de lado. Quando as mulheres tiveram que trabalhar nas fábricas, a necessidade superou as preocupações com a elegância. Depois que o tabu foi quebrado, as calças se tornaram uma expressão da moda, a partir dos anos 20.
Fonte: http://guiadoestudante.abril.com.br/aventuras-historia/herancas-primeira-guerra-armas-objetos-dia-dia-surgiram-conflito-788057.shtml
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