
No início de maio de 1942, os japoneses podiam se orgulhar de haver alcançado todos os objetivos, estabelecidos em dezembro de 1941, para o leste da Ásia. Em seis agitados meses, conquistaram a Tailândia, Malaísia, Birmânia, Bornéu, Java, as Célebes e as Filipinas. Suas forças capturaram 340 mil soldados Aliados, afundaram seis encouraçados, um porta-aviões, sete cruzadores, muitos navios mercantes e anunciaram a destruição de 3.500 aviões — contra a perda de apenas 596. A máquina de guerra japonesa encontrava-se no máximo de sua eficiência.
Diante desse quadro amplamente favorável, o Daihonei (quartel-general imperial) decidiu ampliar a dominação japonesa para além dos limites fixados em dezembro, chegando até Midway e às ilhas Aleutas e, para o sul, à Austrália, através de uma cabeça-de-ponte em Port Moresby, Papua. Para ocupar Tulagi (ilhas Salomão) e Port Moresby, foi projetada a Mo-Sakusen (Operação Mo), comandada pelo vice-almirante Inouye, do 4º Kantai, sediado em Rabaul. Ele contro-lava importantes grupos de transportes, a Força Móvel (com o 5.° Kokusentai do contra-almirante T. Hara, que tinha o Zuikaku e o Shokaku), o Grupo de Apoio (o Kamikawa Maru, com hidroaviões mais os aviões Aichi E13A1 do Kiyokawa Maru), e o Grupo de Cobertura — que contava com o porta-aviões Shoho, de 11.300 t, levando doze A6M2 Zero e nove B5N2, e os cruzadores pesados Kako, Aoba, Kinugasa e Furutaka.
Encontro no mar de Coral
Os grupos de transporte, apoio e cobertura seguiriam para as ilhas Salomão, atravessando o arquipélago Louisiade pela passagem Jomard e avançando até Port Moresby. O Zuikaku e o Shokaku, com 125 aviões, deveriam conter os americanos e rumar para o leste, de Santa Isabel e San Cristobal, nas ilhas Salomão. A 25ª Flotilha Aérea de Yamada tinha 41 G4M1, dezoito Mitsubishi A6M2 e doze H6K4 e Nakajima A6M2-N, aguardando para 4 de maio a chegada a Rabaul de mais 45 caças Zero e 45 G4M1, que viriam de Truk.

Um grande avanço no sentido de decifrar o código japonês permitiu que os Aliados tivessem conhecimento da operação e se prevenissem. Em 1° de maio, em Nouméa, o contra-almirante Frank Fletcher assumiu o comando da 17ª Força-Tarefa, formada às pressas. Essa frota contava com os navios dos grupos-tarefa 17.2 e 17.3 (americanos e australianos) e os porta-aviões americanos Yorktown e Lexington, com 143 aviões Grumman F4F-3, TBD-1 e SBD-3.
O primeiro estágio da Operação Mo começou em 3 de maio, com desembarques em Tulagi. Às 11 horas, o contra-almirante Aritomo Goto determinou que o Shoho se unisse aos grupos que invadiriam Port Moresby. Na manhã do dia 4, Fletcher contra-atacou em Tulagi com o grupo aéreo do Yorktown, reunindo-se ao Lexington no dia seguinte.
A Batalha do Mar de Coral começou de verdade em 7 de maio de 1942, quando os japoneses realizaram um ataque aéreo a partir dos porta-aviões Zuikaku e Shokaku e afundaram o petroleiro Neosho e o Sims. Mas o primeiro round coube à força de Fletcher: os aviões do Yorktown atingiram o Shoho com bombas de 454 kg. E, com o costado aberto pelos torpedos lançados dos aparelhos do comandante Joe Taylor, o porta-aviões japonês afundou às 11 horas e 35 minutos. Em 8 de maio, o Yorktown e o Lexington lançaram ataques contra o Shokaku, forçando o vice-almirante Takeo Takagi a deixá-lo fora da ação e rumar de volta a Truk. Enquanto isso, os B5N2 e D3A1 dos porta-aviões japoneses atacaram o grupo de Fletcher atingindo, às 11 horas e 20 minutos, o Lexington com um torpedo. Ele ainda recolheu seus aviões, mas uma explosão interna espalhou o fogo, e a tripulação da embarcação teve de ser retirada ao anoitecer; os contratorpedeiros foram acionados para liquidar o porta-aviões. Os dois lados sofreram pesadas perdas no ar: oitenta aparelhos japoneses contra 66 dos Estados Unidos, na primeira grande batalha de porta-aviões no Pacífico.
Segredos do Zero
A estratégia da vitoriosa Marinha japonesa continuou voltada à proteção dos territórios recém-conquistados. A partir de maio, o alto-comando deu início às operações navais que estenderiam para mais longe o domínio nipônico no Pacífico: Aleutas, Midway, Port Moresby e daí para a Nova Caledônia, Samoa e Fiji. Idealizada pelo almirante Isoroku Yamamoto, comandante-em-chefe da Frota Combinada (Rengo Kantai), a Operação Midway seria a mais importante do verão, devendo atrair os navios americanos da Frota do Pacífico para uma batalha decisiva. A operação ganhou maior importância diante do fracasso japonês na tentativa de tomar Port Moresby, em decorrência do “empate” na Batalha do Mar de Coral.

A força setentrional (Aleutas), comandada pelo vice-almirante Hosogaya, consistia em mais de trinta navios de guerra, transporte e apoio, auxiliados pela 2ª Força de Ataque (4.° Kokusentai). O porta-aviões leve Ryujo levava dezesseis Mitsubishi A6M2 e 21 Nakajima B5N2, e o novo Junyo, de 27.500 t, transportava 24 Zero e 21 bombardeiros de mergulho Aichi D3A1. Mais distantes, como força de apoio, estavam o porta-aviões leve Zuiho (com 24 aviões), quatro encouraçados, três cruzadores leves e três contratorpedeiros.
A poderosa frota zarpou de Ominato entre 25 e 28 de maio. Ao amanhecer do dia 3 de junho, o Ryujo e o Junyo lançaram 36 aviões num ataque a Dutch Harbor que danificou os reservatórios e instalações de óleo e destruíram dois PBY-5. Um segundo ataque fracassou devido ao mau tempo. Nessa missão, um Zero foi atingido por uma bala perdida, que cortou um tubo de combustível. O piloto pousou na ilha Akutan, mas quebrou o pescoço quando o caça capotou ao tocar num terreno pantanoso. O avião ficou de barriga para cima, sendo encontrado semanas depois por soldados americanos. Levado para San Diego (Califórnia), o Zero foi literalmente dissecado, na tentativa de se descobrirem seus segredos, tornando-se assim o primeiro “troféu” da espionagem aérea na guerra do Pacífico.
A batalha decisiva
As forças japonesas lançadas contra Midway superavam qualquer outra já vista, em termos de efetivos e complexidade. Encouraçados e cruzadores formavam a vanguarda do ataque, juntamente com o 1° Koku-Kantai (a frota sob o comando do vice-almirante Nagumo). Sem contar com o Shokaku, recém danificado, o contingente aéreo de Nagumo era formado por 227 aeronaves, entre A6M, D3A1, B5N2 e Yokosuka D4Y1-C Suisei, embarcados nos porta-aviões Kaga, Akagi, Hiryu e Soryu. Seus pilotos eram ho-mens experientes, veteranos das batalhas de Pearl Harbor, Wake e Ceilão, todos eles ases de muitas vitórias. Até mesmo o velho porta-aviões leve Hosho foi incorporado à operação, levando oito B5N2. Mas os americanos não estavam inativos.

Em Midway, tal como havia acontecido na Batalha do Mar de Coral, os decifradores de códigos revelaram dados vitais que alertaram o almirante Chester Nimitz para os planos japoneses. Nas docas, num incrível esforço, as equipes de reparos de Pearl Harbor recuperaram o Yorktown (danificado no mar de Coral e que os japoneses contavam como destruído), a tempo de incluí-lo na batalha iminente. Na Força-Tarefa 17, do contra-almirante Fletcher, o grupo aéreo, que dispunha de aviões Douglas TBD-1, SBD-3 e dos novos Grumrnan F4F-4 Wildcat da 3ª Esquadrilha, era liderado pelo comandante Oscar Pederson. Os porta-aviões Enterprise e Hornet formavam a Força-Tarefa 16, sob as ordens de Raymond Spruance, que tinha os grupos aéreos sob a liderança dos comandantes C. W. McClusky e Stanhope Ring. No total, os porta-aviões americanos abrigavam 232 aeronaves. Além disso, as bases costeiras de Midway contavam com outros 119 aparelhos de vários tipos, entre eles os vitais PBY-5 Catalina de reconhecimento, seis novos Grumman TBF-1 Avenger, vinte Brewster F2A-3 Buffalo e sete F4F-3 do 22° Grupo Aéreo (dos Fuzileiros Navais) e mais onze Vought SB2U-3 Vindicator e dezesseis SBD-2. Também com base em Midway, a 7ª Força Aérea contribuiu com dezenove B-17E e quatro Martin B-26A Marauder.
As 9 horas do dia 3 de junho (hora de Midway), os PBY-5 localizaram a frota japonesa a cerca de 1.125 km a oeste da ilha. À tarde, os B-17E atacaram os navios, mas sem sucesso. O contato foi mantido durante toda a noite; antes das 6 horas, os Catalina de patrulha informaram a aproximação da primeira onda de ataque: 108 aviões, comandados pelo tenente Joichi Tomonaga, causaram danos graves às instalações de Sand e Midway. Os caças americanos levantaram voo para enfrentá-los, enquanto os B-17, B-26A, TBF-1 e os lentos Vindicator lançavam-se em busca dos porta-aviões japoneses.

Os primeiros combates favoreceram os atacantes. A força do major Floyd Parks foi dizimada, perdendo doze F2A-3 e três F4F em combate. Também caíram treze SBD-2 e SB2U-3 do major Lofton Henderson. No entanto, quando preparavam um segundo ataque, os japoneses foram informados da presença não-prevista da poderosa força-tarefa americana. A perda de tempo em retirar as bombas dos aviões destinados a Midway e rearmá-los com torpedos (para ataque aos porta-aviões) revelou-se fatal.
Às 9 horas e 25 minutos, os primeiros TBD-1 atacaram a frota japonesa com torpedos. Defrontando-se com vários Zero, que já haviam provocado muitas mortes pela manhã, dos 41 TBD-1 americanos 35 tombaram, o mesmo acontecendo aos três F4F-4 de escolta. Três esquadrilhas (3ª, 6ª e 8ª) praticamente desapareceram. Mas a retaliação viria logo.
Depois de muita busca, os bombardeiros de mergulho do Yorktown e do Enterprise localizaram a frota de Nagumo, ainda aguardando o retorno de seus A6M2 Zero, portanto sem proteção. Às 10 horas e 25 minutos, os SBD-3 mergulharam a 80° contra os navios, com suas bombas de 454 kg. O grupo do tenente R. H. Best escolheu o Akagi, os aviões do tenente McClusky caíram sobre o Kaga, e os do tenente Maxwell Leslie atacaram o Soryu. Em três minutos os navios japoneses ardiam em chamas. Mas o Hiryu ainda estava intacto e com aviões suficientes para atingir o Yorktown com torpedos. O porta-aviões americano adernou a 25° e teve de ser abandonado pela tripulação, afundando mais tarde. Em contrapartida, o Hiryu foi localizado e afundado pelos SBD-3 do Hornet e do Enterprise, às 17 horas. Era o último lance da grande batalha.

As perdas da Marinha japonesa foram catastróficas: quatro porta-aviões, o cruzador Mikuma e 332 aviões (em combate ou com os porta-aviões), além da morte de 216 pilotos de grande experiência, insubstituíveis. O prejuízo americano somou um porta-aviões, o destróier Hamman e 150 de seus 307 aviões.
Guerra nas Aleutas
Os japoneses ocuparam as ilhas de Kiska e Attu, nas Aleutas, em 6 e 7 de junho de 1942. Isso abriu uma nova frente de guerra, numa área caracterizada por um dos mais imprevisíveis climas do mundo. Para as operações aéreas, hidroaviões Aichi E13A2, Nakajima E8N2 e Mitsubishi F1M2 foram transportados pelos navios Chitose, Chiyoda e Kamikawa-Maru. Os americanos tinham a 11ª Força Aérea, do general William Butler, com três esquadrilhas de caças (Curtiss P-40F e Bell P-39D), uma de bombardeiros (Consolidated B-24D), duas de bombardeiros médios (North American B-25B e Martin B-26A) e uma de transporte. Desde o início, os B-24 partiram em freqüentes incursões de Unmak e Cold Bay até Kiska, enquanto os P-40, P-39 e Lockheed P-38 F-1LO Lightning patrulhavam sobre as bases americanas. Em 4 de agosto, os P-38 abateram dois hidroaviões Kawanishi H6K4, iniciando uma longa e morosa guerra entre as duas pequenas forças aéreas nas Aleutas.
De 3 de junho a 31 de outubro, a 11ª Força Aérea, reforçada por mais duas esquadrilhas de bombardeiros e várias unidades da Marinha dos Estados Unidos (com PBY-5 Catalina e Lockheed PV-1 Ventura), anunciou ter abatido 32 aviões japoneses em combate e outros treze no mar. Mas as próprias baixas americanas refletiam a dificuldade dos pilotos em operar naquele clima péssimo: dos 72 aviões destruídos, apenas nove foram derrubados pelos caças A6M2-N ou pelo fogo antiaéreo. Além de bombardear Attu e Kiska, a 11ª Força Aérea deu cobertura a numerosas operações destinadas a recuperar ilhas do arquipélago das Alentas. Adak foi tomada sem resistência em agosto e Amchitka em 12 de janeiro de 1943. A posse dessas ilhas deixou Kiska ao alcance dos P-40N e P-38. Como se previa, a oposição mais forte dos japoneses só começou em Attu, em 11 de maio, com a utilização de bombardeiros baseados em terra. Em 30 de maio, Attu caiu.

Ilhas Salomão
Em 1942 e parte de 1943, bem mais importante era a vasta área salpicada de ilhas englobando o arquipélago das Bismarck, as ilhas Salomão e a Nova Guiné. Sob o forte Sol tropical e castigado pelas chuvas de monções, o setor correspondia à área do Pacífico sob o comando do general Douglas McArthur. Em março de 1942, os japoneses já haviam estabelecido bases na costa norte de Papua, em Lae, Salamaua e Finschhafen. Com a cobertura dos Zero, bombardeiros G4M1 baseados em Rabaul faziam incursões diárias contra a principal base aliada de Port Moresby. Enquanto isso, uma força conjunta dos EUA e da Austrália defendia o porto, executava missões de interceptação contra bases japonesas de Papua e atacava comboios de suprimentos. Em certa ocasião, bombardeou os aeroportos de Vunakanau e Lakunai, em Rabaul.
O 9° Grupo da Força Aérea australiana tinha quatro esquadrilhas baseadas em Moresby, com aviões Lockheed Hudson Mk III, Douglas Boston Mk III e Bristol Beaufighter Mk IC e Beaufort TB.Mk II. Em julho de 1942, o brigadeiro George Kenney comandava a 5ª Força Aérea americana com os grupos de bombardeiros 3° (leve, com Douglas A-20B e A-24), 22° e 38° (médios, com B-26B e B-25C) e o 43° (pesado, com Boeing B-17F); havia ainda os Bell P-39D e Curtiss P-40 e P-40F do 8°, do 35° e do 49° Grupos de Caças.
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Em novembro, Kenney recebeu o 90° Grupo de Bombardeiros (B-24D Liberator) e o 35° foi equipado com os esperados caças bimotor Lockheed P-38F Lightning. Porém, a falta de motores e peças sobressalentes reduzia a força disponível a não mais que dez B-17, quarenta bombardeiros médios e 55 caças. No noroeste da Austrália, duas esquadrilhas defendiam Darwin (com Curtiss P-40E) e outras quatro realizavam missões ofensivas contra Timor e o mar de Arafura. Nesse setor, o principal objetivo Aliado estava em Kendari (ilhas Célebes): a 23ª Flotilha Aérea do Japão, que executava freqüentes ataques a Darwin.
FONTE: Guerra Nos Céus #40