15.6.20
Bandeirismo de Preação
A partir de 1619, os bandeirantes intensificaram os ataques contra as reduções jesuíticas, e os artesãos e agricultores guaranis foram escravizados em massa. No entanto, muito antes de surgirem os primeiros aldeamentos na bacia do Prata, os paulistas já percorriam o sertão, buscando na preação do indígena o meio para sua subsistência.
Essa “vocação interiorana” era alimentada por uma série de condições geográficas, econômicas e sociais. Separada do litoral pela muralha da serra do Mar, São Paulo voltava-se para o sertão, cuja penetração era facilitada pela presença do rio Tietê e de seus afluentes que comunicavam os paulistas com o distante interior. Além disso, apesar de afastada dos principais centros mercantis, sua população crescera muito. É que boa parte dos habitantes de São Vicente haviam migrado para lá quando os canaviais plantados no litoral por Martim Afonso de Sousa entraram em decadência, já na segunda metade do século XVI, arruinando muitos fazendeiros.
Ligados a uma cultura de subsistência baseada no trabalho escravo dos índios, os paulistas começaram suas expedições de apresamento (ou preação) em 1562, quando João Ramalho atacou as tribos do vale do rio Paraíba.
As reduções organizadas pelos jesuítas no interior do continente foram, para os paulistas, um presente dos céus: reuniam milhares de índios adestrados na agricultura e nos trabalhos manuais, bem mais valiosos que os ferozes tapuias, de “língua travada”. No século XVII, o controle holandês sobre os mercados africanos, no período da ocupação do Nordeste, interrompeu o tráfico negreiro. Os colonos voltaram-se então para o trabalho indígena. Esse aumento da procura provocou uma elevação nos preços do escravo índio, considerado como “negro da terra”, e que custava, em média, cinco vezes menos que os escravos africanos. O bandeirismo de preação tornou-se, assim, uma atividade altamente rendosa. Para os paulistas, atacar as reduções jesuíticas era a via mais fácil para o enriquecimento.
Diante dos ataques, os jesuítas começaram a recuar para o interior e exigiram armas ao governo espanhol. A resposta foi nova ofensiva, dessa vez desencadeada pelas autoridades de Assunção (Paraguai), que possuíam laços econômicos com os colonos do Brasil. Mesmo após o término da União Ibérica, em 1640, quando os guaranis finalmente receberam armas dos espanhóis os paulistas foram apoiados pelo bispo D. Bernardino de Cárdenas, inimigo dos jesuítas e governador do Paraguai. Os reinos ibéricos podiam lutar entre si na Europa; no entanto, as “repúblicas” comunitárias guaranis eram o inimigo comum de todos aqueles que estivessem interessados na exploração sem limites das terras americanas.
Cronologia do bandeirismo de preação
1557 – Os espanhóis edificam Ciudad Real, próximo à foz do Piquiri, no Paraná.
1562 – João Ramalho ataca as tribos do rio Paraíba, enquanto os jesuítas ajudam a dissolver a Confederação dos Tamoios.
1576 – Os espanhóis fundam Vila Rica, na mugem esquerda do rio Ivaí.
1579 – Jerônimo Leitão ataca as aldeias das margens do Anhembi (Tietê).
1594-1599 – Afonso Sardinha e João do Prado investem contra as tribos do Jeticaí.
1595 – Uma carta régia proíbe a escravização dos indígenas.
1597 – Martim Correia de Sá parte do Rio de Janeiro e chega ao rio Sapucaí ou Verde. 1602 – Nicolau Barreto percorre os sertões do Paraná, Paraguai e Bolívia, atingindo as nascentes do rio Pilcomayu.
1606 – Manuel Preto segue rumo ao sul, à frente de uma bandeira.
1607 – Outra expedição, dessa vez chefiada por Belchior Dias Carneiro, dirige-se para o sul do Brasil.
1610 – Jesuítas castelhanos fundam os povoados de Santo Inácio é Loreto, na margem esquerda do Paranapanema.
1619 . Manuel Preto ataca aldeias de Jesus, Maria e Santo Inácio (província do Guairá) 1620 – Os jesuítas iniciam o povoamento do atual Rio Grande do Sul, com duas administrações: a província do Tape, com seis “povos”, e a do Uruguai, com dez reduções. 1623-1630 – Onze aldeias compõem a província do Guairá, limitada pelos rios Paranapanema, Itararé, Iguaçu e Paraná (margem esquerda).
1626 – Surge a província do Paraná, com sete reduções, entre os rios Paraná e Uruguai.
16Z8 – Manuel Preto e Antônio Raposo Tavares destroem as reduções do Guairá, em várias campanhas que terminam em 1633.
1631 – Os jesuítas criam a província do Itatim a sudeste do atual Mato Grosso.
1633 – Antonio Raposo Tavares inicia a invasão do atual Rio Grande do Sul.
1639 – A Espanha concede permissão para que os índios se armem.
1640 – Os jesuítas são expulsos de São Paulo.
1648 – Uma expedição chefiada por Raposo Tavares percorre as regiões de Mato Grosso, Bolívia, Peru (chegando ao Pacífico) e Amazônia, retomando a São Paulo em 1652.
1661 – Fernão Dias Pais atravessa os sertões do sul até a serra de Apucarana.
1670 – Bartolomeu Bueno de Siqueira atinge Goiás.
1671-1674 – Estêvão Ribeiro Baião Parente e Brás Rodrigues de Arzão cruzam o sertão nordestino.
1671 – Domingos Jorge Velho chefia uma expedição ao Piauí.
1673 – Manuel Dias da Silva, o “Bixira”, atinge Santa Fé, nas missões paraguaias.
Manuel de Campos Bicudo percorre terras entre as bacias platina e amazônica. Em Goiás, encontra-se com Bartolomeu Bueno da Silva.
1675 – Francisco Pedroso Xavier destrói Vila Rica del Espíritu Santo (a sessenta léguas de Assunção).
1689 – Manuel Álvares de Moraes Navarro combate tribos do São Francisco e chega ao Ceará e ao Rio Grande do Norte. – Convocado pelo governo-geral, Matias Cardoso de Almeida enfrenta os “índios bravos” do Ceará e do Rio Grande do Norte em sucessivas campanhas que terminam em 1694.
Fonte: www.geocities.com