15.6.20
Brasil, Um País de Migrantes
A história do povo brasileiro é uma história de migrações, da busca contínua pela conquista da sobrevivência. As migrações não ocorreram ou ocorrem por causa de guerras, mas pela inconstância dos ciclos econômicos e de uma economia planejada independentemente das necessidades da população. A Igreja procurou peregrinar com o seu povo, mas nem sempre conseguiu, quer por falta de quadros, quer pelas limitações de visão pastoral.
O POVO É VÍTIMA
A economia brasileira teve como maior fundamento a surpresa e o não-planejamento. O povo correu atrás da economia e esta não o levou em conta, a não ser como mão-de-obra. O primeiro ciclo foi o do pau-brasil, e os índios acabaram escravos. Veio o ciclo da cana-de-açúcar e, além do índio, escravizou-se o negro africano. Seguiu o ciclo do ouro e das pedras preciosas, e milhares de brancos pobres, índios e negros padeceram nas jazidas. Com a chegada do ciclo do café, achou-se melhor mandar embora o negro e trazer para as fazendas mão-de-obra barata da Europa e do nordeste.
O ciclo da borracha atraiu para a Amazônia os nordestinos fugidos da seca e da miséria. Finalmente, o ciclo industrial fez com que os camponeses migrassem para a cidade.
Assistiu-se, dessa forma, à corrida dos trabalhadores para as regiões que prometiam fartura e sossego, mas encontraram somente a exploração barata e rigorosa de sua força.
UM POVO DESENRAIZADO
Segundo estudos de José O. Beozzo, em 1980, 40 milhões de brasileiros viviam num município diferente de onde tinham nascido.
E isso sem contar as transferências dentro de uma mesma municipalidade: da roça para a cidade e de uma roça para outra. Isso daria quase o dobro de migrantes.
Os números são frios e escondem uma realidade bem mais dura: o migrante é aquele que perde sua raiz, seu chão natal, o contato com os parentes, os amigos, sua igreja, suas festas…
ÍNDIOS E NEGROS
ndios
Negros
Os povos indígenas foram os primeiros brasileiros forçados à migração. Levados força para o trabalho agrícola, foram privados de seu chão. Os índios que não fugiram para o interior, foram escravizados para plantar na terra que há pouco era sua.
Os bandeirantes são o maior símbolo do extermínio e escravização desses povos. Os imigrantes europeus, que receberam no Sul terras supostamente vazias, pois índio não era considerado gente, também combateram os indígenas.
A migração indígena continua, tanto pela invasão dos garimpeiros, como pela expansão da agro-indústria. Hoje se fixam nas beiras de estradas ou vivem favelados em zonas urbanas. De 5 milhões no século 16, hoje são 325 mil.
Não menos dura foi a sorte dos negros trazidos escravos para as plantações de cana-de-açúcar, para a mineração e os trabalhos domésticos. O negro perdeu o país, a tradição, a família, a língua e a religião. Felizmente, muitos deles conseguiram preservar suas tradições humanas e religiosas.
Quando a mão-de-obra escrava encontrou a oposição internacional, encontrou-se um meio mais econômico para as grandes fazendas de café: o imigrante europeu.
Se o escravo negro precisava ser comprado, vestido, alimentado e ter moradia e amparo na velhice, o europeu era diarista: trabalhava por uma diária, o que era mais barato. Assim, após a Lei Áurea de 1888, muitos negros acabaram indo para as periferias urbanas.
Houve também negros que retornaram à África, uns 10 mil, onde constituíram bairros brasileiros e mantiveram o catolicismo. Os cerca de 5 milhões os negros trazidos da África aumentaram tanto ao ponto de hoje negros e mulatos constituírem 40% da população brasileira.
OS POBRES QUE VÊM DA EUROPA
Vieram primeiramente os portugueses: uns para enriquecer e outros para sobreviver ou cumprir pena. Permanecia para o governo português o problema da mão-de-obra e da ocu.
No início do século 19, evidenciou-se um problema racista: a supremacia das raças. Atribuiu-se a miséria e a violência à “raça” brasileira. O negro, mulato, índio, teriam características genéticas atrasadas, era necessário então embranquecer o Brasil. A importação de brancos, especialmente de alemães, era o melhor caminho para o progresso. Nem os chineses serviam. Depois de muita discussão e imigração, em 20 de junho de 1890 se aprova a lei de imigração, aceitando todos, “menos os indígenas da Ásia e da África”. Ainda em 1945, Getúlio aprova um decreto reforçando a necessidade da vinda de mais europeus. Um país de pobres selecionando pobres.
Entre 1871 e 1920, o Brasil recebeu 3,3 milhões de imigrantes, provenientes da Alemanha, Itália, Portugal, Ucrânia e Polônia. Na década de 30, houve imigração maciça de japoneses. Também vieram coreanos, chineses, libaneses e turcos. Normalmente os imigrantes faziam parte dos empobrecidos de suas pátrias, pela falta de terras e de empregos. Alemanha e Itália devem seu crescimento a seus filhos que foram embora.
Os imigrantes foram levados para trabalharem como braçais nas fazendas de café em São Paulo, Rio, Minas e Espírito Santo. Outros passaram a trabalhar nas indústrias. Os que vieram para os estados do sul se dedicaram à agricultura, indústria e fundaram muitas das cidades desses estados.
MIGRAÇÕES INTERNAS
Em nível interno, o nordestino é o migrante brasileiro por excelência. Vítima das secas ou da exploração latifundiária, foi para a Amazônia explorar a borracha.
Neste século foi o responsável pelo desenvolvimento da indústria e construção civil em São Paulo, Minas, Rio de Janeiro e Brasília.
Assim que pode, ele retorna ao seu nordeste: lá está sua raiz, seu chão natal. Lá é que sua vida tem sentido!
A partir da década de 30, promoveu-se a Marcha para o Oeste, com a ocupação do MT e GO. Em seguida, dos estados de RO, AC, RR, etc. Gaúchos, catarinenses, paranaenses, paulistas e outros fundaram e fundam novas comunidades, dedicando-se à agropecuária.
A grande migração do final do milênio é o êxodo rural, com o inchaço das cidades e o empobrecimento de tantas famílias que na roça tinham do que viver. Em três décadas, a população brasileira mudou de 80% no meio rural para 80% no meio urbano.
Causa disso: a sedução da cidade, melhores condições para a educação dos filhos, a falta de terra e a perda da propriedade pela hipoteca bancária… Não há uma política convincente para se fixar o homem na roça.
A IGREJA E OS MIGRANTES
Foi e é notável o esforço da Igreja – católica e protestante – em acompanhar seus filhos. Sacerdotes, religiosos e religiosas também se fazem migrantes com seu povo.
No século 18, foram os padres açorianos e, no século 19 e 20, portugueses, italianos, alemães e poloneses que atenderam religiosamente seus compatriotas. O mesmo se deve dizer dos pastores protestantes alemães e dos padres da Igreja Católica Ortodoxa.
A imigração colocou a Igreja brasileira diante de uma nova realidade religiosa, devida à presença de populações não católicas.
Inicialmente, católicos e protestantes gostavam de se atacar, mas depois chegou-se a uma vivência fraterna. Se a doutrina pode causar discórdia, a busca pela vida une.
José A. Besen
Fonte: www.pime.org.br
Brasil, um País de Migrantes
O Brasil é um país de migrantes. É bastante comum encontrar nas nossas comunidades eclesiais, no trabalho, entre os colegas de aula ou na parada de ônibus pessoas provenientes de outras cidades, outros estados e até mesmo de diferentes países. Às vezes, quem migrou foram os pais, os avós ou os bisavós. No fundo, se remontamos s origens históricas, somos todos migrantes ou descendentes de migrantes.
Essa realidade, que pode ser averiguada pela experiência do dia-a-dia, é o espelho de um país de grande mobilidade humana. Mulheres, homens, crianças, idosos, famílias, trabalhadores com e sem emprego perambulam no país em busca de melhores condições de vida, muitas vezes fugindo de situações insustentáveis, outras vezes perseguindo um sonho, uma terra prometida.
Uma terra de imigrantes
A história das migrações para o Brasil é, de certo modo, a história do próprio país. Acredita-se que os primeiros povoamentos da América foram realizados cerca de 48/60 mil anos atrás, por povos que vieram pelo norte da Ásia, através do estreito de Bering.
De acordo com recentes teorias, o território sul-americano teria sido atingido também por grupos que navegaram através do Oceano Pacífico vindos da Austrália, Malásia e Polinésia. No decorrer do tempo, o Brasil foi povoado por centenas de povos com línguas, tradições culturais e religiões diferentes. Alguns deles os tupi-guarani – migravam constantemente em busca da terra sem males.
Com a chegada dos europeus as causas das migrações mudaram: os deslocamentos transformaram-se em verdadeiras fugas da escravidão, do genocídio, das doenças, da negação das próprias culturas e religiões. Os sobreviventes dessas fugas perdiam o direito de ir e vir, condenados ao trabalho forçado que alimentava o sistema colonial.
No entanto, os europeus não conseguiram dobrar a resistência desses povos. Muitos deles foram extintos. Outros continuam presentes na sociedade brasileira lutando por seus direitos.
A mobilidade transformou-se em mobilização. Hoje os povos ressurgidos organizam-se para reivindicar os próprios direitos, a partir de utopias alimentadas pela memória da resistência. A luta pela demarcação e garantia das terras, a autodeterminação, a plena cidadania, a educação bilíngüe, o respeito pela diversidade cultural e religiosa são formas para reapropriar-se de sua história e de sua identidade.
No século XVI, os portugueses foram protagonistas do primeiro grande fluxo migratório europeu para o Brasil. Trouxeram as tradições culturais e religiosas da península ibérica e, ao mesmo tempo, introduziram o Brasil no sistema colonial. O hediondo tráfico negreiro foi uma das conseqüências dessa situação.
Comprados ou capturados na África, os escravos e as escravas eram tratados como simples mercadoria – estoques ou peças – e destinados a alimentar o comércio triangular entre Europa, África e Américas, comércio que enriqueceu apenas o primeiro dos três continentes. Estima-se que cerca de 4 milhões de escravos e escravas chegaram no Brasil, principalmente entre os séculos XVII e XIX.
A imigração dos escravos e das escravas no Brasil foi forçada, compulsória. As condições das viagens eram terríveis, sendo freqüentes as mortes antes da chegada no lugar de destinação. Assim como os índios, eles perdiam o direito de ir e vir, confinados entre a senzala e o trabalho.
A única mobilidade possível decorria da venda por parte dos amos, das perigosas fugas e das andanças dos negros libertos. Existem casos de escravos e escravas que, movidos pela profunda saudade da terra de origem, conseguiram voltar para África, onde ainda hoje conservam traços culturais adquiridos no Brasil.
Apesar da escravidão e das políticas de embranquecimento, os africanos bantos e nagôs conseguiram fincar raízes no território brasileiro, contribuindo de maneira determinante à formação da atual sociedade pluricultural e plurireligosa. A abolição do regime de escravatura e a forte influência cultural, contudo, não significaram o fim da discriminação. Assim como os índios, também os afro-brasileiros tiveram que transformar a recuperada mobilidade espacial em mobilização social, gerando grupos de resistência, conscientização e reivindicação do direito própria religião, história, cultura.
A partir do século XIX até os dias de hoje, outras populações aportaram no Brasil, com prevalência de italianos, espanhóis, alemães e poloneses. Mas não pode ser esquecida também a imigração de outros grupos que contribuem para a variedade cultural e religiosa do nosso país, como os turcos, holandeses, japoneses, chineses, sul-coreanos, sírio-libaneses, judeus, latino-americanos, entre outros. Não é fácil avaliar as motivações de tal imigração.
Em geral, foi determinante a combinação entre fatores de atração (especialmente a demanda de mão-de-obra barata para substituir o extinto sistema escravagista) e fatores de expulsão na terra de origem como, crises econômicas, conflitos internos, questões políticas e perseguições.
Chegando para substituir a mão-de-obra escrava, os imigrantes, não sem sofrimento e provações, conseguiram encontrar o próprio espaço geográfico, social, econômico e político no interior do país. Nas primeiras décadas costumavam priorizar a preservação das próprias tradições culturais, conseguindo, desta forma, evitar o risco de assimilação. Com o tempo ocorreu uma integração progressiva que favoreceu o intercâmbio com as demais tradições culturais presentes no país.
As intensas migrações internas das últimas décadas provocaram a difusão nacional de algumas das tradições culturais características desses grupos.
As imigrações dos séculos XIX e XX provocaram, também, importante diversificação religiosa no país. Após um período de monopólio católico, o Brasil começou a ser povoado por grupos pertencentes a denominações cristãs diferentes. Alguns deles preocuparam-se especialmente com o anúncio missionário, enquanto outros deram prioridade ao cuidado dos imigrantes pertencentes à própria denominação. Infelizmente, o encontro entre as diferentes denominações cristãs no Brasil não foi isento de conflitos e disputas, sobretudo após a extinção do regime de padroado, em 1890. Às vezes, travaram-se lutas em busca da preservação ou obtenção de privilégios junto ao Estado.
Não sempre se atribuiu a justa prioridade à caminhada ecumênica que já começara na Europa. Mesmo assim, as imigrações e os deslocamentos populacionais internos proporcionaram o encontro com os outros, alimentando um clima sempre mais tolerante e dialógico e dando origem a importantes experiências ecumênicas, principalmente no que se refere à defesa da dignidade do ser humano e à superação de todo tipo de violência e opressão.
Cabe lembrar que a imigração proporcionou também a difusão no país de outras tradições religiosas como o islamismo, o judaísmo, várias religiões orientais, entre outras, ampliando assim o já marcante pluralismo religioso do país.
Tendências recentes do fenômeno migratório
Nas últimas décadas, o fenômeno migratório no Brasil continuou intenso. O povo brasileiro parece viver num estado crônico de mobilidade que adquire características específicas dependendo dos períodos e dos lugares nos quais se processa.
A partir dos anos trinta, as migrações internas seguiram preferencialmente duas vertentes: os deslocamentos para as fronteiras agrícolas e para o sudeste. O êxodo rural assumiu progressivamente proporções sempre mais significativas.
Em 1920, apenas 10% da população brasileira vivia em áreas urbanas, sendo que, cinqüenta anos depois, em 1970, a porcentagem já chegava a 55,9%.
Atualmente, de acordo com os dados do Censo 2000, 137.669.439 brasileiros residem na zona urbana, o que corresponde a 81,22% da população. Estima-se que nos últimos 35 anos, 40 milhões de pessoas abandonaram as zonas rurais do país. O Brasil transformou-se, em algumas décadas, de um país predominantemente rural, num país majoritariamente urbano. Cabe lembrar que, na maioria dos casos, os deslocamentos para a cidade foram compulsórios, conseqüência de uma política agrária que fechou a fronteira agrícola, modernizou o trabalho do campo e concentrou a posse da terra.
Nos dias de hoje, o processo de urbanização apresenta características diferentes em relação às décadas anteriores. Embora Rio de Janeiro e São Paulo continuem sendo importantes pólos de atração, torna-se mais expressiva a migração polinucleada, com o crescimento de significativos núcleos urbanos também em regiões tradicionalmente rurais. Não é por acaso que o maior crescimento populacional deu-se entre as cidades com mais de 100 mil habitantes.
A diminuição relativa da migração para as metrópoles pode ser justificada pela degradação progressiva da vida nas grandes cidades, como comprovado pelo aumento da violência, a menor oferta de emprego, o trânsito caótico, as várias formas de poluição e o ritmo de vida sempre mais estressante.
Um exemplo pode ser significativo: na cidade de São Paulo, a quantidade de pessoas que vivem em favelas, ruas, cortiços ou “mocós” (domicílios improvisados) já alcança no mínimo 1,077 milhão de paulistanos, 1 em cada 10 moradores da capital!
Avaliações recentes da mobilidade humana no Brasil apontam para o crescimento das migrações de curta distância (intra-regionais) e dos fluxos urbano-urbano e intra-metropolitanos. Em outras palavras, aumenta o número de pessoas que migram de uma cidade para outra ou no interior das áreas metropolitanas em busca de trabalho e de melhores condições de vida.
O êxodo rural continua presente, mas adquirem dimensões sempre maiores os fluxos de retorno, principalmente para o nordeste: entre 1995 e 2000, 48,3% das saídas do Sudeste foram em direção ao Nordeste. Entre 1986 e 1991, a percentagem havia sido de 42,5%.
Esse refluxo migratório, contudo, não impede que os Estados com maior redução populacional sejam concentrados no nordeste – Paraíba, Piauí, Bahia e Pernambuco. Já o maior crescimento populacional verifica-se em Estados do Norte e do Sudeste.
Falando dos deslocamentos populacionais do país não podemos esquecer das migrações sazonais, protagonizadas por pequenos proprietários, posseiros ou arrendatários que vendem periodicamente a própria força de trabalho a fim de complementar a irrisória renda e evitar a migração definitiva para a cidade.
Habitualmente esses trabalhadores se deslocam em direção às safras agrícolas e são obrigados a passar vários meses longe das famílias, trabalhando em condições extremamente precárias. Entre eles não são raros os casos de trabalho escravo decorrente de dívidas que contraíram pelas despesas de viagem, o aluguel da moradia, a compra dos instrumentos de trabalho e da comida.
Há quem considera os deslocamentos sazonais não uma migração periódica, mas um estado constante de migração. De fato, o trabalhador sazonal sente-se estranho seja no lugar de trabalho, que troca com muita freqüência, seja no próprio lar, pelas longas ausências e as novas experiências. Os migrantes sazonais não têm pátria. Suas esposas são comumente chamadas de viúvas de maridos vivos, sendo obrigadas, na ausência dos maridos, a cuidar sozinhas da educação e do sustento dos filhos, dedicando-se ao roçado e ao artesanato.
A mobilidade feminina, às vezes, possui características específicas. Às causas estruturais da migração, acrescenta-se a violência e a opressão do machismo. Para estas mulheres, o deslocamento espacial constitui uma libertação dos maltratos domésticos, embora o alívio, muitas vezes, seja apenas temporário.
Foi doidice sair, mas doidice maior era ficar, contava uma mulher que fugiu, com três filhos, da violência do marido. Habitualmente, essas esposas e mães costumam sair do lar levando consigo os filhos e buscando refúgio junto a parentes ou amigos, tendo que assumir sozinhas o sustento e a educação da prole. Os dados do Censo 2000 revelaram um sensível aumento de domicílios sob responsabilidade de mulheres (24,9% do total contra 8,1% de 1991).
Finalmente, não podemos deixar de mencionar os brasileiros e brasileiras que migram para o exterior, colocando em risco, muitas vezes, a própria vida na tentativa de ingressar em países com maiores oportunidades de trabalho. São freqüentes também as migrações para países limítrofes. Muitos permanecem na terra estrangeira. Em muitos outros casos verifica-se um movimento de retorno ou um constante vaivém de pessoas nas zonas de fronteira. Os migrantes que vivem ou que voltam, após uma experiência no exterior, não raramente são objeto de diferentes formas de discriminação e exploração, terminando como forasteiros tanto na terra de chegada que na de origem.
Quanto a imigrantes, atualmente, em situação regular, no Brasil é importante referir que permanece inferior a 1% da população total brasileira. Dados do Departamento de Polícia Marítima, Aérea e de Fronteiras, de abril de 2000, afirmam que viviam no país, na ocasião, 947.765 estrangeiros, 80% deles residentes na região sudeste, a mais rica do país. Não existem, no entanto, dados sobre os que se encontram em situação irregular (ilegais, indocumentados, clandestinos).
Dentre esta população imigrante cabe destacar a presença de cerca de 3 mil refugiados. Apesar de não ser um número expressivo em relação ao número total de acordo com o ACNUR, no mundo existem 22 milhões de refugiados – a disponibilidade em acolhê-los é um importante testemunho de que o Brasil pode dar da própria pobreza.
Fonte: www.migrante.org.br
Brasil, um País de Migrantes
Fala Brasil
Quero ouvir tua voz apesar destas barras pelaí
Solta alegria, pois que ela é o sal que alumeia o meu dia
Vamos lá coração
Vem sangrar
Na força e beleza da festa que só você sabe agitar
Dá um banho de garra e brilho
Em quem quiser te segurar. (Gonzaguinha Fala Brasil)
A DIVERSIDADE DA CULTURA BRASILEIRA
A diversidade cultural engloba as diferenças culturais que existem entre as pessoas, como a linguagem, danças, vestimenta, tradições e heranças físicas e biológicas, bem como a forma como as sociedades organizam-se conforme a sua concepção de moral e de religião, a forma como eles interagem com o ambiente etc.
O termo diversidade diz respeito à variedade e convivência de idéias, características ou elementos diferentes entre si, em determinado assunto, situação ou ambiente. Cultura (do latim cultura, cultivar o solo, cuidar) é um termo com várias acepções, em diferentes níveis de profundidade e diferente especificidade. São práticas e ações sociais que seguem um padrão determinado no espaço/tempo. Refere-se a crenças, comportamentos, valores, instituições, regras morais que permeiam e “preenchem” a sociedade.
Explica e dá sentido a cosmologia social, é a identidade própria de um grupo humano em um território e num determinado período
Costumamos dizer e ouvir que somos o povo brasileiro! Que vivemos no país do futebol e do carnaval. Pelo menos é assim que nos vêem os outros povos, na maioria das vezes. Contudo, quando somos indagados e questionados sobre nossa identidade nacional, ou seja, que povo realmente somos e, qual o sentido da nossa formação enquanto nação, ficamos na maior crise de identidade.
Ora, como definir quem realmente somos em meio à diversidade cultural?
Como viemos, enquanto povo e nação ao longo da história, construindo nossa identidade nacional? Será que temos mesmo uma única e autêntica identidade nacional?
Quando falamos em identidade, logo pensamos em quem somos. Vêm à nossa mente os nossos dados pessoais, ou seja, a cidade onde nascemos, a data de nascimento, nossa filiação, que são os nomes de nossos pais, uma foto registrando nossa fisionomia, nossa impressão digital, uma assinatura feita por nós mesmos.
E que ainda contém um número de registro geral, que permite sermos identificados, não como pessoas, com suas devidas características, mas como um número em meio a tantos outros. E o mais interessante, está ali registrado para todo mundo ver, a nossa nacionalidade, a que nação e povo pertencemos.
O processo social de transmissão de cultura é a educação ou criação familiar. A cada geração vai se transmitindo, ou melhor, ensinando aos filhos e jovens certos conhecimentos e valores morais adquiridos pela geração mais velha.
Quando falamos em nação ou sociedade, não é diferente. Podemos descobrir como a nossa nação e nós, enquanto povo fomos constituídos. Saber, por exemplo, quais as características culturais que podemos encontrar na formação e depois no desenvolvimento da nossa sociedade brasileira. E mais, podemos conferir se a sociedade brasileira ainda está refletindo tradicionalmente as mesmas características culturais de quando foi formada!
Entender como tudo começou nos levará a compreender a grande diversidade cultural que caracteriza nosso país! Já que a cultura é um dos instrumentos de análise e compreensão do comportamento humano social. E eu, o que eu tenho com tudo isso? Será que a diversidade cultural do meu país me atinge diretamente ou somente de forma indireta?
A cultura faz parte da totalidade de uma determinada sociedade, nação ou povo. Essa totalidade é tudo o que configura o viver coletivo. São os costumes, os hábitos, a maneira de pensar, agir e sentir, as tradições, as técnicas utilizadas que levam ao desenvolvimento e a interação do homem com a natureza. Tudo que diz respeito a uma sociedade.
Herança social e legado cultural: são processos de transmissão cultural, que ocorrem ao longo da história, nos quais as gerações mais velhas transmitem às gerações mais jovens a cultura do grupo.
Muitos sociólogos e historiadores brasileiros, a partir do século XIX, buscaram explicar a formação do povo brasileiro, caracterizado pela diversidade cultural, enquanto uma nação. E o olhar de alguns desses autores foi exclusivamente dedicado ao aspecto cultural. O legado cultural que herdamos dos povos que se misturam deu origem aos brasileiros. Bom, todos nós sabemos, nem que seja um pouquinho, da história da colonização do nosso país.
O povo brasileiro foi formado, a princípio, a partir de uma miscigenação, que foi a mistura de basicamente três raças: o índio, o branco e o negro.
HISTÓRIA DA IMIGRAÇÃO NO BRASIL
Podemos considerar o início da imigração no Brasil a data de 1530, pois a partir deste momento os portugueses vieram para o nosso país para dar início ao plantio de cana-de-açúcar. Porém, a imigração intensificou-se a partir de 1818, com a chegada dos primeiros imigrantes não portugueses, que vieram para cá durante a regência de D. João VI. Devido ao enorme tamanho do território brasileiro e ao desenvolvimento das plantações de café, a imigração teve uma grande importância para o desenvolvimento do país, no século XIX.
Em busca de oportunidades na terra nova, para cá vieram os suíços, que chegaram em 1819 e se instalaram no Rio de Janeiro (Nova Friburgo), os alemães, que vieram logo depois, em 1824, e foram para o Rio Grande do Sul (Novo Hamburgo, São Leopoldo, Santa Catarina, Blumenau, Joinville e Brusque), os eslavos, originários da Ucrânia e Polônia, habitando o Paraná, os turcos e os árabes, que se concentraram na Amazônia, os italianos de Veneza, Gênova, Calábria, e Lombardia, que em sua maior parte vieram para São Paulo, os japoneses, entre outros. O maior número de imigrantes no Brasil são os portugueses, que vieram em grande número desde o período da Independência do Brasil.
Após a abolição da escravatura (1888), o governo brasileiro incentivou a entrada de imigrantes europeus em nosso território. Com a necessidade de mão-de-obra qualificada, para substituir os escravos, milhares de italianos e alemães chegaram para trabalhar nas fazendas de café do interior de São Paulo, nas indústrias e na zona rural do sul do país. No ano de 1908, começou a imigração japonesa com a chegada ao Brasil do navio Kasato Maru, trazendo do Japão 165 famílias de imigrantes japoneses.
Estes também buscavam os empregos nas fazendas de café do oeste paulista. Todos estes povos vieram e se fixaram no território brasileiro com os mais variados ramos de negócio, como por exemplo, o ramo cafeeiro, as atividades artesanais, a policultura, a atividade madeireira, a produção de borracha, a vinicultura, etc.
Atualmente, observamos um novo grupo imigrando para o Brasil: os coreanos. Estes não são diferentes dos anteriores, pois da mesma forma, vieram acreditando que poderão encontrar oportunidades aqui que não encontram em seu país de origem. Eles se destacam no comércio vendendo produtos dos mais variados tipos que vai desde alimentos, calçados, vestuário (roupas e acessórios) até artigos eletrônicos.
Embora a imigração tenha seu lado positivo, muitos países, como por exemplo, os Estados Unidos, procuram dificultá-la e, sempre que possível, até mesmo impedi-la, para, desta forma, tentar evitar um crescimento exagerado e desordenado de sua população. Cada vez mais medidas são adotadas com este propósito e uma delas é a dificuldade para se obter um visto americano no passaporte.
Conclusão
O processo imigratório foi de extrema importância para a formação da cultura brasileira. Esta foi, ao longo dos anos, incorporando características dos quatro cantos do mundo.
Basta pararmos para pensar nas influências trazidas pelos imigrantes, que teremos um leque enorme de resultados: o idioma português, a culinária italiana, as técnicas agrícolas alemãs, as batidas musicais africanas e muito mais. Graças a todos eles, temos um país de múltiplas cores e sabores. Um povo lindo com uma cultura diversificada e de grande valor histórico.
O ESTRANGEIRO DO PONTO DE VISTA SOCIOLÓGICO
Se alguém faz uma análise mais aprofundada sobre si próprio, perceberá que não é uma pessoa deslocada de seu tempo, assim como não é deslocada de suas origens. Para muitos, a origem de seus antepassados é totalmente brasileira, mas para outros, ela se dá através da mudança de familiares para cá como imigrantes.
No século XIX começaram a chegar muitos imigrantes, principalmente da Europa, para substituírem os escravos na lavouras, por causa do fim do tráfico negreiro.
Outros motivos foram: os donos de fazendas não queriam pagar salários para ex-escravos e havia uma política que buscava o clareamento da população. De italianos, ao contrário do que eu disse para algumas turmas, chegaram ao Brasil aproximadamente 1,5 milhão de italianos. Destes vários imigrantes onde se enquadram também os alemães, poloneses, ucranianos, japoneses, chineses, espanhóis, sírio-libaneses, armênios, coreanos alguns se espalharam co suas famílias e outros se organizaram em colônias ou vilas.
Os grupos que se mantiveram unidos até hoje conseguiram resguardar a cultura de seus antepassados, ao contrário de outros indivíduos que simplesmente se misturaram ao resto da população brasileira.
Assim, encontramos colônias japonesas espalhadas pelo Brasil, assim como bairros com grupos de descendentes de grupos de imigrantes predominantes ou até cidades fundadas por grupos de imigrantes, como por exemplo: as cidades de Americana e Holambra (de origem estadunidense e holandesa, respectivamente), e os bairros da Moóca, do Bexiga e da Liberdade, na cidade de São Paulo (sendo os dois primeiros de origem italiana e o outro de origem japonesa). Nestes lugares, a cultura pode ser vista nos estabelecimentos comerciais, no dialeto e nas festas tradicionais.
O que ainda é muito visível, independente de onde se esteja, é o caso do fenômeno dos dekasseguis com um grande aumento na quantidade de descendentes de japoneses que vão para o Japão trabalhar e, ainda sobre os nisseis e sanseis, o fato de muitos andarem em grupos formados por outros descendentes de japoneses.
Isto se dá pela força da cultura que faz com que os seus pais sejam muito rígidos na formação dos filhos, até mesmo sobre os seus relacionamentos.
O ESTRANGEIRO SOB A ÓTICA DE GEORG SIMMEL
Temos na teoria de Georg Simmel uma distinção entre o viajante e o estrangeiro. Mesmo usando corriqueiramente estrangeiro como todo e qualquer indivíduo que não seja do país do qual estamos olhando.
Neste caso, Simmel estabelece aqueles que viajam, mas não se estabelecem (viajantes), e os que viajam para se estabelecer no local de destino (estrangeiro).
Assim, não é necessário que essa pessoa tenha vindo de outro país, mas sim de qualquer lugar, longe ou perto do local de destino.
O estrangeiro se destaca dos outros integrantes do local de destino por suas particularidades: cultural, idioma, características físicas. Por estes mesmos motivos, ele nunca se insere totalmente no grupo, às vezes, nem os seus descendentes. A relação que se dá entre os estrangeiros e os habitantes locais sempre se configura na relação de amizade entre alguns membros deste grupo, mas de um distanciamento e desprezo, por ambas as partes, quando se olha a relação com o grupo por suas diferenças.
Daí surge à pergunta: Por que o indivíduo imigra? Uma primeira resposta é o da impossibilidade dos imigrantes, dando destaque para aqueles que vieram para o Brasil, de se manterem nas suas terras pelos custos de produção e de impostos; por não conseguirem pagar suas dívidas contraídas; não poderem sustentar suas famílias em suas terras e; por não conseguirem comprar uma porção de terra quando buscava constituir família.
O segundo movimento ocorre nas cidades: Aqueles que saem do campo aumentam vertiginosamente o quadro de mão-de-obra na indústria, que não consegue ser absorvido ou passa a ter que aceitar subempregos para poderem sobreviver.
O terceiro e último movimento é a sedução que muitos passaram a receber com propagandas sobre fazer a vida na América: Muitos acreditavam que na América teriam a possibilidade de terem terras, fazerem fortuna com pouco trabalho, ou ao menos fazerem fortuna.
Depois que o fenômeno imigratório cessou, os imigrantes tiveram inúmeros resultados para não voltarem, mesmo depois da estabilidade econômica na Europa e Japão, pós 1960.
Muitos não conseguiram enriquecer como as propagandas afirmavam. Mantinha-se a intenção de fazer a América;
Outros, ao contrário, enriqueceram ou se estabeleceram muito bem no país, não havendo motivos para voltarem para seus países de origem, correndo risco de ficarem pobres de novo;
Um outro grupo se estabeleceu no país, casando se aqui e constituindo família, além de perderem o contato com seus parentes de sua terra natal;
E havia o grupo de imigrantes que, ou achavam que o Brasil era um país melhor que o seu próprio; ou achavam que o seu país era muito ruim e, mesmo achando que o Brasil não era ótimo, ainda era melhor que a pátria mãe.
Migração
As migrações populacionais remontam aos tempos pré históricos. O homem parece estar constantemente à procura de novos horizontes. No passado, milhões e milhões de europeus e asiáticos migraram para todas as partes do mundo, conquistando e povoando continentes como a América, a Oceania e a África.
Ultimamente, temse verificado a migração espontânea de milhões de pessoas de quase todas as partes do mundo em direção à Europa e até mesmo à Ásia, entre as quais grandes números de descendentes aos países de origem dos seus antepassados. Milhares de brasileiros argentinos migraram nos últimos anos, em decorrência da crise econômica que seus países atravessam, sobretudo em direção à Europa e à América do Norte.
As razões que explicam as migrações são inúmeras (político ideológicas, étnico raciais, profissionais, econômicos,
catástrofes naturais etc.), embora razões econômicas sejam predominantes. A grande maioria das pessoas migra em busca de melhores condições de vida.
Todo ato migratório apresenta causas repulsivas (o indivíduo é forçado a migrar) e/ou atrativas (o indivíduo é atraído por
determinado lugar ou país).
Até antes da Segunda Guerra Mundial, as principais áreas de repulsão populacional eram a Europa e a Ásia (fome, guerra, epidemias, perseguições políticas e religiosas), e as principais de atração eram a América e a Oceania (colonização, crescimento econômico, possibilidade de enriquecimento etc.).
Entretanto, devido à enorme prosperidade do Japão e da Europa no período pós Guerra, essas áreas tornam se importantes focos de atração populacional, além, é claro, dos EUA, que sempre foram e continuam sendo um pólo atrativo.
Além das migrações externas que implicam a movimentação de milhões de pessoas anualmente, há também as não
menos importantes migrações internas, movimentos populacionais de variados tipos que se processam no interior dos diferentes países de todo o mundo.
Dentre as diversas migrações internas, temos:
Êxodo rural: Deslocamento de pessoas do meio rural para o meio urbano. Ocorre principalmente nos países subdesenvolvidos e, sobretudo naqueles que experimentam um processo rápido de industrialização.
Transumância: Migração periódica (sazonal) e reversível (ida e volta) determinada pelo clima.
Migração Interna: Deslocamento feito dentro de um mesmo país. O indivíduo que realiza este movimento é conhecido como migrante.
Migração Externa: Deslocamento feito entre os países. Ao sair o indivíduo é conhecido como emigrante, ao entrar ele será conhecido como imigrante.
Migrações diversas: Entre zonas rurais, entre áreas urbanas, migrações em direção às áreas de descobertas de minerais, migração de fim de semana e outras mais.
Movimentos Pendulares: o movimento pendular é um movimento realizado por trabalhadores diariamente. Eles residem em uma cidade e trabalham em outra próxima.
IMIGRAÇÃO E EMIGRAÇÃO
Imigração e emigração são palavras que descrevem o fluxo de indivíduos em um país. A imigração é o movimento de entrada de estrangeiros em um país de forma temporária ou permanente e a emigração é à saída de indivíduos do país.
A relação entre a imigração e a emigração resulta no saldo migratório, utilizado para ajudar na caracterização da população de um determinado território (país, continente, etc.). Se a imigração for maior que a emigração diz-se que o saldo migratório foi positivo (pois saíram mais indivíduos do país do que entraram), se ocorrer o contrário, o saldo migratório foi negativo. Ou ainda, o saldo migratório pode ser nulo, quando ambos os movimentos populacionais se igualam.
Os fenômenos de emigração e imigração estão sempre relacionados com as condições sociais dos locais nos quais se
inserem a apresentam especificidades de acordo com estas condições. O emigrante é geralmente levado a deixar seu país por falta de condições que o permitam ascender socialmente e acaba se tornando o imigrante de algum outro país no qual ele deposita suas esperanças de melhoria de vida.
Mas existem outras motivações que podem levar um cidadão a se tornar emigrante, em seu país, e imigrante, no país de
destino. Como os refugiados que abandonam seus países devido a conflitos civis, ou por causa de perseguições raciais/religiosas, ou ainda por causa de desastres naturais/ambientais.
De qualquer forma o imigrante enfrentará quase sempre as mesmas dificuldades de se estabelecer em um país de costumes diferentes dos seus e de língua desconhecida enfrentando, muitas vezes, a xenofobia, as restrições impostas aos estrangeiros pelas legislações, o trabalho escravo ou quando muito o subemprego.
Por outro lado, a mobilidade dos indivíduos sempre foi um fator importante e presente na história da civilização. Desde os tempos primitivos em que o nomadismo era prática comum até os tempos atuais em que a globalização tornou mais fácil (ou pelo menos, mais comum) os movimentos migratórios.
PRINCIPAIS GRUPOS ÉTNICOS
Portugueses
A etnia mais representativa entre os que imigraram para o Brasil são os portugueses que, desde 1500, com a chegada de Cabral em terras brasileiras até a década de 1950, quando esse movimento migratório diminuiu, espalharam-se por todo o País. As cidades que acolheram maior quantidade de imigrantes lusitanos foram São Paulo e Rio de Janeiro.
Africano
Surgiu assim o terceiro grupo importante que participaria da formação da população brasileira: o negro africano. É impossível precisar o número de escravos trazidos durante o período do tráfico negreiro, do século XVI ao XIX, mas admite-se que foram de cinco a seis milhões. O negro africano contribuiu para o desenvolvimento populacional e econômico do Brasil e tornou-se, pela mestiçagem, parte inseparável de seu povo.
Os africanos espalharam-se por todo o território brasileiro, em engenhos de açúcar, fazendas de criação, arraiais de mineração, sítios extrativos, plantações de algodão, fazendas de café e áreas urbanas. Sua presença projetou-se em toda a formação humana e cultural do Brasil com técnicas de trabalho, música e danças, práticas religiosas, alimentação e vestimentas.
Italianos
A segunda etnia mais numerosa de imigrantes para o Brasil começou a chegar a partir da década de 1870, período em que a Itália enfrentava graves dificuldades nas áreas rurais por conta da crescente industrialização do norte desse país. Os italianos se instalaram principalmente em São Paulo, Rio Grande do Sul e Minas Gerais, mas também foram recebidos em Santa Catarina, Paraná e Espírito Santo, onde existem importantes colônias de italianos e de seus descendentes.
Imigrante espanhol no comércio de ferro-velho em São Paulo, nos anos de 1950. Acervo Museu da Imigração-SP
ESPANHÓIS
Fugindo das dificuldades econômicas pelas quais a Espanha passava, os espanhóis começam a chegar em 1870, tendo intensificado o seu movimento migratório entre 1880 a 1890. Hoje figuram como a terceira etnia mais numerosa a migrar para o Brasil, tendo sua maior concentração no Estado de São Paulo.
Pintura retratando a chegada dos primeiros Imigrantes alemães ao Brasil, Rio Grande do Sul, 1824
ALEMÃES
As primeiras colônias de imigrantes alemães foram fundadas no Rio Grande do Sul. A primeira delas em 1824, onde hoje é a cidade de São Leopoldo. O objetivo era colonizar a região e desenvolver a agricultura.
A imigração alemã se realizou de forma contínua por mais de um século (1824-1937). Após terem massacrado os caboclos na guerra do Contestado, após terem tomado posse de suas terras no acordo de limites com o Paraná em 1918 e encerrada a Primeira Guerra Mundial, o governo imperial e os governos locais do Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul deram início ao processo de colonização do Contestado e arredores.
Tendo desterrado os caboclos brasileiros, ofereceram milhões de hectares a famílias de imigrantes europeus e os egressos de colônias mais antigas, a maioria era de origem alemã.
Poloneses
No final do século XVIII a Polônia sofreu diversas invasões da Rússia, Prússia e Áustria. Sua economia encontrava-se prejudicada pela concorrência dos cereais exportados pelos Estados Unidos e Canadá. Em razão desse cenário, mais de 3,6 milhões de poloneses migraram para outros países. Nesse período, o Brasil recebeu 100 mil poloneses que se estabeleceram, principalmente, no Paraná. Os poloneses que aqui vieram, o fizeram a convite do governo brasileiro que desejava ocupar as terras da região Sul do País, em especial aquelas que foram confiscadas dos caboclos brasileiros no acordo de limites, assinado em 1918, entre Santa Catarina e Paraná.
Ucranianos
Em 1891, chegaram ao Paraná os primeiros imigrantes ucranianos, atraídos pelas vantagens oferecidas pelo governo do Brasil e pelo desejo de escapar dos inúmeros conflitos que ocorriam em sua terra natal. Começaram se estabelecendo no Paraná e, em seguida, foram se fixando em terras catarinenses, gaúchas e paulistas. Esses imigrantes também foram beneficiados como a expulsão dos caboclos na região do Contestado.
Família imigrante de origem judaica em São Paulo, na década de 1920. Acervo Museu da Imigração-SP
JUDEUS
A constituição brasileira de 1891 permitiu o livre culto religioso no Brasil. Isso por si só já foi motivo para intensificar a imigração dessa etnia para o País. No entanto, após a ascensão do nazismo em 1933, os judeus procuraram se estabelecer nas Américas. Eles vieram de diversas partes do mundo, Marrocos, Polônia, Rússia, Turquia, Grécia e Alemanha e outros. No Brasil, habitaram as zonas urbanas e desenvolveram atividades ligadas a serviços comércio.
Sírios e Libaneses
As perseguições políticas ocasionadas pela dominação do Império Turco-Otomano, e as decorrentes dificuldades econômicas do final do século XIX, fizeram com que grandes grupos de sírios e libaneses fugissem de suas regiões de origem. No Brasil, ficaram conhecidos como turcos, denominação que não corresponde as suas origens, já que vieram da Síria e do Líbano.
Japoneses
Os primeiros imigrantes japoneses (ao todo, 781 pessoas) que desembarcaram no país chegaram ao Porto de Santos em 1908, trazidos pelo navio Kasato-Maru, dando início à grande imigração japonesa, que se prolongou até a década de 50 e transformou o Brasil na nação com a maior população japonesa fora do Japão. Grande parte dos imigrantes japoneses se instalou no estado de São Paulo, mas há outros importantes núcleos no Paraná, Pará e Mato Grosso do Sul.
Choque de Cultural
Aculturação
Quando duas culturas diferentes entram em contato, pode haver uma domínio sobre a outra, onde a cultura dominante tende a eliminar os traços culturais de outra. O termo aculturação significa a perda total da identidade cultural de um grupo, mas hoje sabemos que tal definição é equivocada, pois os indivíduos tendem a preservar alguns traços e tradições culturais.
Assimilação Cultural ou Empréstimo Cultural
CONTRIBUIÇÃO DO IMIGRANTE
No processo de urbanização, assinala-se a contribuição do imigrante, ora com a transformação de antigos núcleos em cidades (São Leopoldo, Novo Hamburgo, Caxias, Farroupilha, Itajaí, Brusque, Joinville, Santa Felicidade etc.), ora com sua presença em atividades urbanas de comércio ou de serviços, com a venda ambulante, nas ruas, como se deu em São Paulo e no Rio de Janeiro.
Outras colônias fundadas em vários pontos do Brasil ao longo do século XIX se transformaram em importantes centros urbanos. É o caso de Holambra SP, criada pelos holandeses; de Blumenau SC, estabelecida por imigrantes alemães liderados pelo médico Hermann Blumenau; e de Americana SP, originalmente formada por confederados emigrados do sul dos Estados Unidos em conseqüência da guerra de secessão. Imigrantes alemães se radicaram também em Minas Gerais, nos atuais municípios de Teófilo Otoni e Juiz de Fora, e no Espírito Santo, onde hoje é o município de Santa Teresa.
Em todas as colônias, ressalta igualmente o papel desempenhado pelo imigrante como introdutor de técnicas e atividades que se difundiram em torno das colônias. Ao imigrante devem-se ainda outras contribuições em diferentes setores da atividade brasileira.
Uma das mais significativas apresenta-se no processo de industrialização dos estados da região Sul do país, onde o artesanato rural nas colônias cresceu até transformar-se em pequena ou média indústria. Em São Paulo e no Rio de Janeiro, imigrantes enriquecidos contribuíram com a aplicação de capitais nos setores produtivos.
A contribuição dos portugueses merece destaque especial, pois sua presença constante assegurou a continuidade de valores que foram básicos na formação da cultura brasileira.
Os franceses influíram nas artes, literatura, educação e nos hábitos sociais, além dos jogos hoje incorporados à lúdica infantil. Especialmente em São Paulo, é grande a influência dos italianos na arquitetura. A eles também se deve uma pronunciada influência na culinária e nos costumes, estes traduzidos por uma herança na área religiosa, musical e recreativa.
Os alemães contribuíram na indústria com várias atividades e, na agricultura, trouxeram o cultivo do centeio e da alfafa. Os japoneses trouxeram a soja, bem como a cultura e o uso de legumes e verduras. Os libaneses e outros árabes divulgaram no Brasil sua rica culinária.
Fonte: www.ecmorroagudo.com.br