Almirante Tamandaré
Na sexta-feira, 13 de dezembro, será comemorado o Dia do Marinheiro, em homenagem à data natalícia de Joaquim Marques Lisboa, o almirante Tamandaré, patrono da Marinha brasileira, conforme dispõe o Aviso 3.322 de 4 de setembro de 1925, do então ministro da Marinha, almirante Alexandrino Faria de Alencar.
Joaquim Marques Lisboa nasceu na cidade de Rio Grande, então província do Rio Grande do Sul, em 13 de dezembro de 1807. Filho de português Francisco Marques Lisboa e da brasileira Eufrásia de Azevedo Lima. Seu pai foi segundo-tenente honorário da Marinha Real de Portugal, e exerceu na época a função de prático de navios no porto de Rio Grande.
Logo após a independência do Brasil, o governo brasileiro se viu obrigado a formar a sua própria Marinha de Guerra, e foi chamado para organizá-la, o almirante inglês Lorde Thomas Alexander Cochrane, que na ocasião prestava seus serviços ao governo do Chile. Dom Pedro I o nomeou primeiro-almirante da Armada brasileira. Com Cochrane vieram também vários oficiais britânicos, como William Parker, Thomas Sackville Crosbie, John Pascoe Grenfell, James Sheperd, John Taylor, Steven Clewley, e o irlandês Bartholomew Hayden.
Dom Pedro I
Almirante inglês Lorde Thomas Alexander Cochrane
Batismo de fogo
As tropas portuguesas que estavam sediadas na Bahia, sob o comando o Governador das Armas, general Inácio Luís Madeira de Mello, não aceitaram a independência brasileira, e resolveram reagir ao 7 de setembro de 1822. O governo imperial abriu o voluntariado para a nova Marinha, e muitos jovens se apresentaram. Entre eles estava um menino de apenas 15 anos de idade, Joaquim Marques Lisboa, que foi aceito como praticante a piloto em 4 de março de 1823.
No dia 30 de março de 1823, a esquadra imperial recebeu ordem para seguir para a Bahia, a fim de ajudar a sufocar a resistência, e expulsar as tropas portuguesas que se opunham a libertação do Brasil de Portugal. A 3 de abril, os navios levantaram âncora e partiram do Rio de Janeiro para Salvador. A fragata Niterói no qual o marques Lisboa foi designado só partiu em 29 de abril, depois de ter completado sua tripulação, sob o comando do capitão de fragata John Taylor. Este seria homenageado com uma rua, com seu nome no bairro do Ipiranga, na capital paulista.
Em 4 de maio, foi vista a esquadra portuguesa, que estava sob o comando do almirante João Felix Pereira de Campos, a bordo da nau capitânia D. João VI, que concebeu o plano de isolar a nau capitânia brasileira, a D. Pedro I, do resto da esquadra, deixando-a sozinha entre dois fogos, e assim destruí-la, antes que os demais navios pudessem intervir. Cochrane um uma audaciosa manobra em sua embarcação, diante da superioridade numérica dos portugueses, mandou abrir fogo, na tentativa de cortar a linha inimiga.
Alguns marujos portugueses que estavam a bordo do D. Pedro I, se recusaram em combater seus patrícios, e foram colocados em ferros, presos, por ordem do almirante Cochrane. A marinha lusitana aproveitando-se da escuridão evadiu-se. Foi o batismo de fogo de Joaquim Marques Lisboa. Em Salvador, seu irmão, Manoel Marques Lisboa, com as tropas imperiais brasileiras, sob o comando do militar francês, general Pierre Labatut, combatia as forças portuguesas em terra.
Pitanga
Manoel travou contato com a heroína do exército libertador, a alferes Maria Quitéria, que lhe sugeriu que juntasse ao seu nome o de uma fruta que muito o oficial saboreava: a pitanga. Quando as tropas de Madeira e a esquadra portuguesa abandonaram Salvador chegou ao fim à guerra pela independência, em 2 de julho de 1823, - hoje feriado estadual na Bahia -, o jovem Manoel Pitanga, entrou festivamente na capital baiana, a lado de Quitéria, com as forças brasileiras.
O comandante Taylor, não satisfeito com a fuga dos portugueses, resolveu perseguir o inimigo até as águas do Tejo na entrada de Lisboa, em Portugal, para espanto dos lusitanos. Somente em 16 de fevereiro de 1824, a Niterói retornou ao Rio de Janeiro, quase um ano após a partida. Marques Lisboa ao desembarcar, matriculou-se no primeiro ano da Academia Imperial da Marinha, então localizada no mosteiro de São Bento.
No dia 2 de julho de 1824, Manuel Carvalho Paes de Andrade proclamou a independência, de cunho republicano, da província de Pernambuco. Paes de Andrade convidou as demais províncias do então norte do Brasil (hoje nordeste) para que se unissem a Pernambuco e formassem a Confederação do Equador, mas nenhuma delas aderiu à revolta separatista, com a exceção de algumas vilas da Paraíba e do Ceará, sendo as vilas desse Estado, comandadas por Gonçalo Inácio de Loyola Albuquerque e Mello, mais conhecido por Padre Mororó.
O governo de D. Pedro I reagiu com o envio da esquadra brasileira. O almirante Cochrane se preocupava com a falta de oficiais subalternos nos quadros do pessoal que deveriam guarnecer os navios, e por sugestão de Taylor, resolveu levar para a sua capitânia, por sua competência, o jovem Marques Lisboa, então com 16 anos, e solicitou ao ministro da Marinha, Francisco Vilela Barbosa, o marquês de Paranaguá, sua liberação, mas este informou da impossibilidade de atendê-lo em face de um decreto que proibia o embarque de voluntário sem o curso da Academia Naval.
Nelson brasileiro
Cochrane lembrou ao ministro que ele e todos os seus oficiais deveriam ser também excluídos do quadro da Marinha brasileira, pois também não tinham o curso necessário. Não satisfeito com a resposta de Paranaguá, Cochrane foi pessoalmente a D. Pedro I para que ordenasse a embarque do jovem cadete em sua embarcação, e ainda disse ao imperador: "Aquele, senhor, há de ser o Nelson brasileiro. "Em alusão ao almirante inglês Horátio Nelson, herói da Batalha de Trafalgar contra as forças de Napoleão Bonaparte. Ele acabou permanecendo na Academia apenas 146 dias, e nunca mais retornaria aos bancos acadêmicos.
Em 2 de agosto de 1824, zarpava a nau capitânia D. Pedro I para o norte do Brasil, com Marques Lisboa a bordo, para sufocar a rebelião pernambucana. Seu irmão Manoel Pitanga, na patente de major estava em campo oposto, comandando os revoltosos na defesa do porto de Tamandaré, há um pouco mais de 100 km ao sul da cidade de Recife. Em um confronto com tropas legalistas, Manoel foi mortalmente ferido.
Joaquim Marques Lisboa ao regressar ao Rio de Janeiro foi efetivado em 22 de janeiro de 1826, no posto segundo-tenente, ao qual estava comissionado desde 2 de dezembro do ano anterior, durante a campanha em Pernambuco.
Primeiro comando
Logo após irrompeu a guerra entre o Brasil e as Províncias Unidas do Prata (hoje Argentina), esta ambicionava conquistar a província brasileira de Cisplatina (atualmente Uruguai). A bordo da barca-canhoneira Leal Paulistana, Marques Lisboa tomou parte no bloqueio ao inimigo no porto da capital argentina, e do sangrento combate de Corales, em 9 de fevereiro. No dia seguinte ao da vitória brasileira de Lara Quilmes, ocorrida em 30 de julho de 1826, o segundo-tenente Joaquim Marques Lisboa era nomeado comandante, com apenas 18 anos de idade, da escuna Constança, distinguindo-se durante os combates por sua calma, inteligência e bravura.
O jovem segundo-tenente logo seria convocado com outros comandantes da frota imperial, para conferenciar com o capitão-de-fragata James Sheperd, na corveta Duquesa de Goiás. Os platinos estavam acobertando navios piratas que atacavam a costa brasileira, e se refugiaram em Rio Negro, na Patagônia. Uma divisão naval do Brasil foi destacada para atacá-los. Chegando ao local não havia nenhuma embarcação inimiga, e foi resolvido ir a terra para caçar os corsários. No caminho os brasileiros foram surpreendidos por uma emboscada, sendo o primeiro morto o capitão Sheperd. De surpresa os inimigos desceram o rio e atacaram os navios brasileiros, matando seus poucos defensores, e tomando as embarcações. Naquele dia 7 de março de 1827, em terra, após feroz resistência, foram feitos prisioneiros os remanescentes da expedição, entre eles Marques Lisboa, sendo colocados a bordo do brigue Ana, a caminho de Rio Salado, em Santa Fé, ao norte de Buenos Aires, mas os brasileiros executaram um arrojado plano, e conseguiram tomar a embarcação, libertando os marujos, e partiram para Montevidéu, província de Cisplatina, aonde chegaram em 29 de agosto. Ele embarcaria novamente para a Patagônia a bordo da corveta Maceió, mas ela naufragaria antes de chegar ao seu destino. Foi promovido a 1º tenente por decreto de 12 de outubro de 1827.
Embarcou na fragata Príncipe Imperial em 19 de novembro de 1827. De retorno ao Brasil, passou a comandar a escuna Bela Maria em 29 de abril de 1828, subordinada à Divisão Naval, comandada pelo capitão-de-mar-e-guerra João Antônio de Oliveira Botas, o João das Botas, herói da guerra da Independência na Bahia. Destacado mais uma vez para ir ao Prata, um mês depois de assumir a escuna, em uma manhã, após dissipar a neblina, Marques Lisboa teve a sua atenção despertada por um brigue que se aproximava. Com uma luneta ele não teve dúvidas em divisar a bordo um dos mais celebres capitães argentinos, Tomas Domingos Espora. E partiu no encalço do inimigo, depois de esgotada a munição que trazia em seu barco, Espora se rendeu, entregando sua espada a Lisboa, na presença do comandante João das Botas. Ao ser libertado, tempos depois, Espora se comprometeu a não mais pegar em armas contra o Império brasileiro, e passou as mãos do jovem Lisboa, por seu espírito humanitário com o inimigo, a luneta do almirante William Brown, que o comandante argentino havia sido presenteado pelo famoso oficial, criador da Marinha de seu país, na batalha naval de Lara Quilmes, anos antes.
Em 27 de agosto de 1828, chegava ao fim o conflito na região do Rio da Prata, conquistando a província de Cisplatina sua independência, tornando-se a República Oriental do Uruguai. Marques Lisboa passou a servir a Divisão do capitão Jacinto Roque de Sena Pereira, como comandante da escuna Rio da Prata. A bordo dessa embarcação realizou o seu primeiro salvamento, auxiliando o brigue Brilhante, que navegava sob a bandeira das Duas Sicílias, sendo entregue os salvados a Alfandega de Buenos Aires, tendo recebido do governo do país vizinho os agradecimentos pelo seu ato.
As rebeliões
Do sul Marques Lisboa rumou para o norte do país, para combater a revolta militar ocorrida nas ruas de Recife, entre os dias 14 e 16 de setembro de 1831, quando soldados integrantes do batalhão 14, saquearam a cidade, fazendo fogo, pedindo a volta do ex-imperador D. Pedro I. Ao fim da rebelião o saldo foi de 500 mortos e a prisão de outros 800, sendo posteriormente transferidos para confinamento no arquipélago de Fernando de Noronha.
Meses depois, em 14 de abril de 1832, um novo movimento revoltoso irrompeu também em Pernambuco, e tinha o objetivo inicial à recondução de D. Pedro I ao trono brasileiro. A Abrilada como esse episódio ficou conhecido, surgiu entre os grandes comerciantes portugueses de Recife, e eram hostilizados pela população local após o 7 de setembro de 1822. Sob o comando do tenente-coronel Francisco José Martins e do major José Gabriel de Morais Meyer, foi iniciado um levante militar, que se estendeu por quase uma semana. O presidente da província Manoel de Carvalho Paes de Andrade, auxiliado por estudantes da Faculdade de Direito, conseguiu isolar os revoltosos em um bairro de Recife e no Forte de São João Batista do Brum. Os líderes do movimento conseguiram fugir e foram unir-se a seus aliados do interior.
Essas agitações do interior da província deram origem a Cabanada, uma revolta que agitou grande parte de Pernambuco e Alagoas entre 1832 e 1835. Embarcado na fragata Bahiana, Marques Lisboa em 26 de outubro de 1832 conseguiu confinar o líder revoltoso João Batista de Araújo em sua casa na praia de Barra Grande, e as tropas legalistas mataram em combate, outro líder dos insurretos, Antônio Timóteo de Andrade. Apesar da morte e da prisão dos principais lideres do movimento, a liderança da revolta passou para as forças populares, sendo o comandante geral Vicente de Paula, líder supremo dos Cabanos, que buscou apoio dos negros Papa-méis, que viviam evadidos nas matas. Uma das táticas eram os ataques aos engenhos de açúcar para libertar os escravos, e assim conseguir mais adesões à revolta. Apesar das forças legalistas sob o comando do coronel Joaquim José Luís de Souza, mesmo terem o número superior a seis mil homens, não conseguiram dominar os revoltosos pela força. A paz só foi assinada em novembro de 1835, após a mediação do bispo de Pernambuco D. João da Purificação Marques Perdigão, que se dirigiu ao interior da província, para se encontrar com Vicente de Paula, e assim colocar a termo a revolta nessa região.
Por aviso de 14 de fevereiro de 1834, Marques Lisboa passou a comandar o brigue Cacique, sendo obrigado a dar combate aos integrantes da Cabanada quando eclodiu no Pará essa revolta. O presidente da província, marechal Manoel Jorge Rodrigues, estava encurralado no palácio do governo, com oitenta voluntários e dezenas de refugiados. Coube a Lisboa realizar a evacuação de todos. Em 1836, Belém foi definitivamente ocupada pelas forças imperiais, refugiando os cabanos em Oeiras, sendo enviado o Cacique. Marques Lisboa resolveu comandar pessoalmente o ataque, colocando seus oficias no comando de pequenos barcos tripulados por voluntários. A reconquista de Oeiras foi o golpe de morte dado na Cabanada. Em 22 de outubro de 1836 foi promovido a capitão-tenente.
No ano de 1837 arrebentou na Bahia outra revolta, a Sabinada. Ele embarcou na corveta Regeneração para servir na Divisão Naval lá estacionada. Passou a comandar outra corveta, a Dezesseis de Março, na mesma data do nome da embarcação, no ano de 1838, e dela desembarcou pouco depois, em 18 de maio, ocasião de seu desarmamento. Quando se encontrava em Salvador, em companhia de seu colega o tenente Moreira Guerra, foi surpreendido com uma rebelião em terra, e ardilosamente conseguiram tomar uma canhoneira dos revoltosos, sem dar um único tiro, e foram ao encontro da esquadra imperial que se encontrava fundeada na Baia de Todos os Santos.
Seguiu viagem a bordo da escuna Legalidade para servir na esquadrilha do Rio Grande do Sul, por aviso de 22 de maio de 1838. No dia 10 de junho assumiu como comandante da canhoneira nº 13, da qual desembarcou doente em 12 de julho, e a bordo de um navio mercante foi para o Rio de Janeiro.
Casou em 19 de fevereiro de 1839, na Igreja de Nossa Senhora da Glória, com sua sobrinha Maria Eufrásia. Dessa união nasceram cinco filhos: três meninas e dois rapazes, estes mais tarde oficiais da Armada brasileira.
Passou a comandar o brigue Vinte e Nove de Agosto, em 1º de março de 1839, e estava patrulhando a costa do Rio Grande do Sul para impedir que a chamada República dos Farrapos fosse abastecida pelo mar, quando foi chamado para o Rio de Janeiro, de onde o mandaram com as forças navais, para norte do Brasil, para reprimir mais um movimento sedicioso, a Revolta dos Cabanos, agora surgido no Maranhão. Por decreto de 15 de maio de 1840, foi promovido a capitão-de-fragata, contando antiguidade de 2 de dezembro de 1839. Por sua atuação em contra a cabanagem foi lhe concedida, em 1841, por D. Pedro II, a Ordem do Imperial do Cruzeiro, no grau de Oficial.
Como comandante do brigue Três de Maio, seguiu mais uma vez para o norte do país, para dar combate à Balaiada, os sediciosos mais cruéis que registrou a história do Brasil. Tinha a chefia de Raimundo Gomes, a quem se juntou o célebre bandoleiro apelidado de Balaio.
O capitão-de-fragata Marques Lisboa, entrou em ação, levando a canhoneira nº 6 e a lancha Paraíba para defender Rosário, que Raimundo Gomes sitiava com seus homens. Sob o fogo cerrado dos canhões dos barcos, os insurretos debandaram com pesadas baixas. Esse movimento anárquico foi dominado pela pericia e coragem do coronel Luís Alves de Lima e Silva, futuro Duque de Caxias, auxiliado pela Marinha sob o comando de Joaquim Marques Lisboa.
Apresentou-se, vindo Maranhão, em 11 de junho de 1841, sendo nomeado comandante da corveta Dois de Julho em 17 de novembro do mesmo ano e para comandar as forças navais no Rio da Prata, em 18 de dezembro seguinte. Partindo do Rio de Janeiro na Dois de Julho e assumiu aquele comando em 10 de janeiro de 1842, deixando-o em 1º de outubro do mesmo ano. Passou a comandar o patacho Patagônia, e retornou à Corte, onde desembarcou por mostra de desarmamento em 22 de outubro do mesmo ano. Por um aviso dessa mesma data, embarcou na fragata Constituição, mas por motivo de doença desembarcou em 16 de janeiro de 1843.
Cruzador Barroso
Foi nomeado para comandar a corveta Bertioga em 21 de outubro de 1843, da região do Rio da Prata, de novo foi comandante da corveta Dois de Julho, em Montevidéu no dia 20 de setembro de 1844, de onde partiu, chegando ao Rio de Janeiro em 5 de novembro. Vinte dias depois assumiu o comando da Divisão Naval do Centro, embarcando na corveta D. Januária, da qual passou para a corveta D. Francisca, na Bahia, em 17 de janeiro de 1846. Foi exonerado em 2 de outubro, por haver sido abolida essa unidade militar. Durante sua permanência nessa província, fez um mapa hidrográfico da baía de Todos os Santos, trabalho que foi elogiado por seus superiores pelo Aviso de 10 de outubro. Desembarcou da corveta D. Francisca, no Rio de Janeiro, em 1º de dezembro de 1846. Pouco antes, em 14 de novembro, o imperador Pedro II havia lhe concedido à comenda de Oficial da Ordem da Rosa.
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