10.7.20
Cangaço
O Cangaço foi um movimento camponês que ocorreu no nordeste brasileiro no final do século XIX. Naquela época, mais do que hoje, o nordeste sofria muito com a pobreza e com a seca.
O sertão nordestino era comandado por fazendeiros e coronéis da época, onde acabavam cometendo vários abusos e ultrapassavam os limites do bom senso com a população, e com isso alguns indivíduos mais corajosos se revoltaram contra esses senhores.
Com a Proclamação da República, a região não sentiu diferenças significativas no setores econômicos, políticos e sociais, tanto para a população que morava na cidade, e muito menos para a população do campo. Além disso, os trabalhadores camponeses eram explorados de forma muito agressiva pelos grandes fazendeiros.
Dessa forma foram surgindo os cangaceiros – homens pobres, armados e sem oportunidades – que realizavam ataques às grandes fazendas, roubando e sequestrando as pessoas com grande poder aquisitivo, a fim de conseguissem algum dinheiro para a sua sobrevivência e da família.
Esse movimento foi uma forma encontrada pelos cangaceiros para conseguirem se livrar ou pelo menos diminuir a relação de abuso que os grandes fazendeiros praticavam com os mais pobres. Isso foi um grande avanço para que os povos sertanejos que eram vítimas dessa relação de poder.
Como todo movimento ou causa social composta por muitas pessoas, é fato que haviam homens cangaceiros que utilizavam essa prática para se vingarem de forma pessoal de algumas pessoas, matando e praticando atos violentos com o intuito apenas de vingança. O cangaceiro mais conhecido do Brasil é o Lampião.
Portal São Francisco
Cangaço
Cangaço – Lampião
O cangaço foi um fenômeno ocorrido no nordeste brasileiro de meados do século XIX ao início do século XX.
Os cangaceiros eram grupos de bandidos que viviam do crime: assaltavam fazendas, seqüestravam coronéis (grandes fazendeiros) e saqueavam comboios e armazéns.
Não tinham moradia fixa: viviam perambulando pelo sertão, praticando tais crimes, fugindo e se escondendo.
Os cangaceiros conheciam a caatinga e o território nordestino como ninguém, e por isso, era tão difícil serem capturados pelas autoridades.
Estavam sempre preparados para enfrentar todo o tipo de situação.
Conheciam as plantas medicinais, as fontes de água, locais com alimento, rotas de fuga e lugares de difícil acesso.
O primeiro bando de cangaceiros que se tem conhecimento foi o de Jesuíno Alves de Melo Calado, “Jesuíno Brilhante”, que agiu po volta de 1870.
E o último foi de “Corisco” (Christino Gomes da Silva Cleto), que morreu em 1940.
Mas o cangaceiro mais famoso foi com certeza, Virgulino Ferreira da Silva, o “Lampião”, que atuou durante as décadas de 20 e 30 em praticamente todos os estados do Nordeste brasileiro.
O Cangaço
O Cangaço foi um movimento social do interior do Nordeste brasileiro, entre o final do século XIX e a primeira metade do século XX. Caracteriza-se pela ação violenta de grupos armados de sertanejos – os cangaceiros – e pelos confrontos com o poder dos coronéis, da polícia, dos governos estadual e federal.
Lampião, o rei do cangaço
Os cangaceiros percorrem os sertões do Nordeste, assaltam viajantes nas estradas, invadem propriedades, pilham os vilarejos e aterrorizam os povoados. Em grande parte derivam de antigos bandos de jagunços – tropas particulares de grandes proprietários – que passaram a atuar por conta própria.
Desenvolvem táticas de ataque e despistamento, criam lideranças e até uma nova imagem, marcada pelo colorido vivo das roupas, pelos adereços de couro e por atos de coragem e bravura nos constantes embates com as volantes – pelotões da polícia enviados para sua perseguição.
Cangaceiros
Consta que o primeiro cangaceiro teria sido o Cabeleira (José Gomes), líder sertanejo que atuou em Pernambuco no final do século XVIII. Mas é um século mais tarde que o cangaço ganha força e prestígio, principalmente com Antônio Silvino, Lampião e Corisco. Antônio Silvino (Manuel Batista de Morais) começa a atuar em Pernambuco em 1896, passando depois ao Rio Grande do Norte, onde é preso e condenado em 1918.
Lampião (Virgulino Ferreira da Silva), filho de um pequeno fazendeiro de Vila Bela, atual Serra Talhada, em Pernambuco, envolve-se em disputas de terras da família e, no início dos anos 20, embrenha-se no sertão à frente de um grupo de cangaceiros.
Do Ceará até a Bahia, o bando de Lampião enfrenta os coronéis e as polícias estaduais; às vezes, também é chamado para combater os adversários do governo. Valente, de hábitos refinados e, desde 1930, acompanhado de Maria Bonita, Lampião – ou Capitão Virgulino – torna-se uma figura conhecida no país e até no exterior.
Implacavelmente caçado, é encurralado e morto em seu refúgio de Angicos, uma fazenda na região do Raso da Catarina, na divisa entre Sergipe e Bahia, em 1938. Um de seus amigos mais íntimos, Corisco (Cristiano Gomes da Silva), o Diabo Louro, prossegue na luta contra as forças policiais da Bahia para vingar a morte do Rei do cangaço, morrendo em tiroteio com uma volante em 1940. O cangaço chega ao fim.
Lenda popular
Apesar do banditismo espalhado pelo sertão afora e do temor levado às pessoas mais pobres dos vilarejos, o cangaço vira lenda no Nordeste e em todo o país.
Nele, ao lado da atividade criminosa, manifesta-se forte reação social aos poderosos, coronéis e autoridades em geral, responsáveis pela pobreza e pelo abandono das comunidades sertanejas.
Fonte: EncBrasil
Cangaço
O cangaço no Nordeste
Ao lado de Canudos e Contestado, outro fenômeno característico da época foi o banditismo social. Em sua forma característica, ele surgiu no nordeste brasileiro e ficou conhecido como cangaço. Suas primeiras manifestações ocorreram por volta de 1870 e perduraram até 1940.
O banditismo social não foi um fenômeno exclusivamente brasileiro. Ele apareceu em muitas regiões do mundo que tinham características semelhante às do nordeste brasileiro, como na Sicília (Itália), Ucrânia e na América Espanhola. Em grande parte, o banditismo social foi, como Canudos e o Contestado, uma reação do tradicionalismo rural ao avanço do capitalismo.
O bandido social diferia do bandido comum por sua origem. Em geral, tornava-se um “fora-da-lei” como resposta às injustiças e perseguição pela comunidade, que, não raro, engrandecia seus feitos de coragem e valentia. Apesar disso, diferentemente do revolucionário, o bandido social não era necessariamente contra os dominantes, nem era portador de projetos de transformação social. O seu prestígio vinha do fato de apresentar-se como porta-voz de resistência de um mundo em dissolução
Origem do cangaço
Desde o século XVIII, com o deslocamento do centro dinâmico da economia para o sul do Brasil, as desigualdades sociais do nordeste se agravaram.
Entretanto, no sertão, onde predominava a pecuária, consolidou-se uma forma peculiar de relação entre grandes proprietários e seus vaqueiros. Entre eles, estabeleceram-se laços de compadrio (tornavam-se compadres), cuja base era a relação de fidelidade do vaqueiro ao fazendeiro, com este dando proteção em troca da disponibilidade daquele em defender, de armas nas mãos, os interesses do seu patrão.
Os conflitos eram constantes, devido à imprecisão dos limites geográficos entre as fazendas e às rivalidades políticas, transformadas em verdadeiras guerra entre poderosas famílias. Cada uma destas fazia-se cercar de jagunços (capangas do senhor) e de cabras (trabalhadores que ajudavam na defesa ), formando verdadeiros exércitos particulares.
Nos últimos anos do Império, depois da grande seca de 1877-1879, com o agravamento da miséria e da violência, começaram a surgir os primeiros bandos armados independentes do controle dos grandes fazendeiros. Por essa época ficaram famosos os bandos de Inocêncio Vermelho e de João Calangro.
Contudo, somente na República o cangaço ganhou a forma conhecida, com Virgulino Ferreira da Silva, o Lampião. Que aterrorizou o nordeste de 1920 a 1938.
Havia uma razão para esse fato. Com a proclamação da República em 1889, implanta-se no Brasil o regime federalista, que concedeu uma ampla autonomia às províncias, fortalecendo as oligarquias regionais. O poder dessas oligarquias regionais de coronéis se fortaleceu ainda mais com a política dos governadores iniciada por Campos Sales (1899-1902). O poder de cada coronel era medido pelo número de aliados que tinha e pelo tamanho de seu exército particular de jagunços.
Esse fenômeno era comum a todo o Brasil, mas nos estados mais pobres, como Ceará, Paraíba e Rio Grande do Norte, os coronéis não eram suficientemente ricos e poderosos para impedir a formação de bandos armados independentes. Foi nesse ambiente que nasceu e prosperou o bando de Lampião, por volta de 1920, coincidindo o seu surgimento com a crise da República Velha. Depois da morte de Lampião, em 1938, nenhum outro bando veio ocupar o seu lugar. Com o fim da República Velha em 1930, encerrava-se também a era do cangaço.
Lampião
Cangaceiro pernambucano (1900-1938). Virgulino Ferreira da Silva nasce em Vila Bela, atual Serra Talhada. Começa a agir em 1916, depois que a perseguição de sua família por um coronel da região resulta na morte de seus pais. Foge para o sertão e junta-se a um grupo de cangaceiros. Seu bando obtém fama pela crueldade e violência de suas ações. Virgulino ganha o apelido de Lampião por se gabar dos clarões – “tal qual um lampião” – provocados por sua espingarda nos enfrentamentos com a polícia. Conhecido também como Rei do cangaço, atua principalmente no sertão de Sergipe e da Bahia.
Na época da Coluna Prestes é convidado pelo Padre Cícero para ajudar o governo no combate aos revoltosos . Aceita o convite e aproveita a oportunidade para melhor armar seu bando. Em 1929 conhece Maria Bonita , que se integra ao grupo e lhe dá uma filha, Maria Expedita. Em julho de 1938, seu bando é surpreendido.
Lampião é o número 1, por uma tropa volante no sertão de Sergipe.
Morrem 11 cangaceiros, entre eles Lampião e Maria Bonita. Suas cabeças são cortadas e, por quase 30 anos, conservadas no Museu da Faculdade de Medicina da Bahia.
Fonte: members.tripod.com
Cangaço
Há milhares de anos o Nordeste do Brasil viveu momentos difíceis, atemorizado por grupo de homens que espalhava o terror por onde andava.
Eram os cangaceiros, bandidos que abraçaram a vida nômade e irregular de malfeitores por motivos diversos. Alguns deles foram impelidos pelo despotismo de homens poderosos.
Os cangaceiros – História do cangaço
Este foi o caso do mais conhecido dos cangaceiros, o “Lampião”, que cometeu o seu primeiro assassinato para vingar a morte do pai, vitima de um crime político.
Os cangaceiros conseguiram dominar o sertão durante muito tempo, porque eram protegidos de “coronéis”, que os utilizavam para conseguir seus torpes objetivos pessoais.
Lampião, o cangaço e os cangaceiros
A vida do cangaço encontra-se focalizada em várias obras de nossa literatura, como “O Cabeleira”, romance de Franklin Távora, e “Lampião”, drama de Raquel de Queirós.
O cinema nacional também se valeu, várias vezes, do sugestivo tema, sendo ” O Cangaceiro” o filme que maior sucesso alcançou no exterior.
Virgulino Ferreira, o ” Lampião” – o mais famoso dos cangaceiros.
Bando de cangaceiros
Fonte: paginas.terra.com.br
Cangaço
Madrugada de 28 de julho de 1938. O sol ainda não tinha nascido quando os estampidos ecoaram na Grota do Angico, na margem sergipana do Rio São Francisco.
Depois de uma longa noite de tocaia, 48 soldados da polícia de Alagoas avançaram contra um bando de 35 cangaceiros.
Apanhados de surpresa – muitos ainda dormiam -, os bandidos não tiveram chance. Combateram por apenas 15 minutos.
Entre os onze mortos, o mais temido personagem que já cruzou os sertões do Nordeste: Virgulino Ferreira da Silva, mais conhecido como Lampião.
Era o fim da incrível história de um menino que nasceu no sertão pernambucano e se transformou no mais forte símbolo do cangaço.
Alto – 1,79 metros -, pele queimada pelo inclemente sol sertanejo, cabelos crespos na altura dos ombros e braços fortes, Lampião era praticamente cego do olho direito e andava manquejando, por conta de um tiro que levou no pé direito. Destemido, comandava invasões a sítios, fazendas e até cidades.
Confronto Final Depois de vencer várias batalhas contra a polícia e escapar de outras tantas, Lampião e seu bando (acima) foram vencidos pela tropa do tenente João Bezerra. Era o fim do reinado de Virgolino Ferreira no sertão.
Dinheiro, prataria, animais, jóias e quaisquer objetos de valor eram levados pelo bando. “Eles ficavam com o suficiente para manter o grupo por alguns dias e dividiam o restante com as famílias pobres do lugar”, diz o historiador Anildomá Souza. Essa atitude, no entanto, não era puramente assistencialismo. Dessa forma, Lampião conquistava a simpatia e o apoio das comunidades e ainda conseguia aliados.
Os ataques do rei do cangaço – como Lampião ficou conhecido – às fazendas de cana-de-açúcar levaram produtores e governos estaduais a investir em grupos militares e paramilitares.
A situação chegou a tal ponto que, em agosto de 1930, o Governo da Bahia espalhou um cartaz oferecendo uma recompensa de 50 contos de réis para quem entregasse, “de qualquer modo, o famigerado bandido”. “Seria algo como 200 mil reais hoje em dia”, estima o historiador Frederico Pernambucano de Mello.
Foam necessários oito anos de perseguições e confrontos pela caatinga até que Lampião e seu bando fossem mortos. Mas as histórias e curiosidades sobre essa fascinante figura continuam vivas.
Uma delas faz referência ao respeito e zelo que Lampião tinha pelos mais velhos e pelos pobres. Conta-se que, certa noite, os cangaceiros nômades pararam para jantar e pernoitar num pequeno sítio – como geralmente faziam. Um dos homens do bando queria comer carne e a dona da casa, uma senhora de mais de 80 anos, tinha preparado um ensopado de galinha.
O sujeito saiu e voltou com uma cabra morta nos braços. “Tá aqui. Matei essa cabra. Agora, a senhora pode cozinhar pra mim”, disse. A velhinha, chorando, contou que só tinha aquela cabra e que era dela que tirava o leite dos três netos. Sem tirar os olhos do prato, Lampião ordenou um de seu bando: “Pague a cabra da mulher”.
O outro, contrariado, jogou algumas moedas na mesa: “Isso pra mim é esmola”.
Ao que Lampião retrucou: “Agora pague a cabra, sujeito”. “Mas, Lampião, eu já paguei”. “Não. Aquilo, como você disse, era uma esmola. Agora, pague.”
Exposição Funesta Para intimidar outros cangaceiros, a polícia decapitou o bando de Lampião e expôs suas cabeças na escadaria da Prefeitura de Piranhas, em Alagoas (acima). No primeiro degrau, a cabeça de Lampião e, no de cima, a de Maria Bonita, sua mulher.
Maria Bonita
Criado com mais sete irmãos – três mulheres e quatro homens -, Lampião sabia ler e escrever, tocava sanfona, fazia poesias, usava perfume francês, costurava e era habilidoso com o couro. “Era ele quem fazia os próprios chapéus e alpercatas”, conta Anildomá Souza. Enfeitar roupas, chapéus e até armas com espelhos, moedas de ouro, estrelas e medalhas foi invenção de Lampião. O uso de anéis, luvas e perneiras também. Armas, cantis e acessórios eram transpassados pelo pescoço. Daí o nome cangaço , que vem de canga, peça de madeira utilizada para prender o boi ao carro.
NASCE UM BANDIDO
Apesar de ser o maior ícone do cangaço , Lampião não foi o criador do movimento. Os relatos mais antigos de cangaceiros remontam a meados do século 18, quando José Gomes, conhecido como Cabeleira, aterrorizava os povoados do sertão. Lampião só nasceria quase 130 anos mais tarde, em 1898, no sítio Passagem das Pedras, em Serra Talhada, Pernambuco. Após o assassinato do pai, em 1920, ele e mais dois irmãos resolveram entrar para o bando do cangaceiro Sinhô Pereira.
Duramente perseguido pela polícia, Pereira decidiu sair do Nordeste e deixou o jovem Virgulino Ferreira, então com 24 anos, no comando do grupo. Era o início do lendário Lampião.
Os dezoito anos no cangaço forjaram um homem de personalidade forte e temido entre todos, mas também trouxeram riqueza a Lampião. No momento da sua morte, levava consigo 5 quilos de ouro e uma quantia em dinheiro equivalente a 600 mil reais. “Apenas no chapéu, ele ostentava 70 peças de ouro puro”, ressalta Frederico de Mello.
Foi também graças ao cangaço que conheceu seu grande amor: Maria Bonita.
Em 1927, após uma malograda tentativa de invadir a cidade de Mossoró, no Rio Grande do Norte, Lampião e seu bando fugiram para a região que fica entre os estados de Sergipe, Alagoas, Pernambuco e Bahia. O objetivo era usar, a favor do grupo, a legislação da época, que proibia a polícia de um estado de agir além de suas fronteiras. Assim, Lampião circulava pelos quatro estados, de acordo com a aproximação das forças policiais.
Numa dessas fugas, foi para o Raso da Catarina, na Bahia, região onde a caatinga é uma das mais secas e inóspitas do Brasil. Em suas andanças, chegou ao povoado de Santa Brígida, onde vivia Maria Bonita, a primeira mulher a fazer parte de um grupo de cangaceiros. A novidade abriu espaço para que outras mulheres fossem aceitas no bando e outros casais surgiram, como Corisco e Dadá e Zé Sereno e Sila. Mas nenhum tornou-se tão célebre quanto Lampião e Maria Bonita. Dessa união nasceu Expedita Ferreira, filha única do lendário casal.
Logo que nasceu, foi entregue pelo pai a um casal que já tinha onze filhos. Durante os cinco anos e nove meses que viveu até a morte dos pais, só foi visitada por Lampião e Maria Bonita três vezes. “Eu tinha muito medo das roupas e das armas”, conta. “Mas meu pai era carinhoso e sempre me colocava sentada no colo pra conversar comigo”, lembra dona Expedita, hoje com 70 anos e vivendo em Aracaju, capital de Sergipe, Estado onde seus pais foram mortos.
CABEÇAS NA ESCADA
Em julho de 1938, após meses perambulando pelo Raso da Catarina, fugindo da polícia, Lampião refugiou-se na Grota do Angico, perto da cidade de Poço Redondo. Ali, no meio da caatinga fechada, entre grandes rochas e cactos, o governador do sertão – como gostava de ser chamado – viveu as últimas horas dos seus 40 anos de vida. Na tentativa de intimidar outros bandos e humilhar o rei do cangaço, Lampião, Maria Bonita e os outros nove integrantes do grupo mortos naquela madrugada foram decapitados e tiveram as cabeças expostas na escadaria da Prefeitura de Piranhas, em Alagoas. Os que conseguiram escapar se renderam mais tarde ou se juntaram a Corisco, o Diabo Loiro, numa tentativa insana de vingança que durou mais dois anos, até a morte deste em Brotas de Macaúbas, na Bahia. Estava decretado o fim do cangaço.
Não são poucas as lendas que nasceram com a morte de Lampião. Uma fala de um tesouro que ele teria deixado enterrado no meio do sertão. Outra conta que Lampião não morreu e vive, com mais de 100 anos, no interior de Pernambuco. Mas a verdade é que, mesmo 65 anos depois da sua morte, Virgolino Ferreira da Silva, aquele menino do sertão nordestino que se transformou no temido Lampião, ainda não foi esquecido. E sua extraordinária história leva a crer que nunca o será.
Fonte: www2.uol.com.br
Cangaço
Todos os personagens foram muito importantes na história do cangaço e, direta ou indiretamente, participantes da formação e da vida de Lampião. No entanto as principais figuras da saga do cangaço eram os próprios cangaceiros, inúmeros e de personalidades distintas entre si.
Os grupos e subgrupos formados pelos cangaceiros existiam em grande quantidade. Era habitual que depois de participar de um agrupamento durante algum tempo o indivíduo se sentisse apto a ter seu próprio bando.
No momento em que achava que estava preparado para ter sua própria organização ele se dirigia a seu líder e expunha seus planos. Geralmente não havia nenhum problema. O mais comum era encontrar respaldo em seu chefe que, por sua vez, sabia que, no futuro, se necessário, poderia contar com a ajuda desse seu ex-subalterno.
Dessa forma os grupos iam se subdividindo ou se reagrupando, num contínuo e alternado processo de divisão e crescimento. Assim surgiam os numerosos líderes de bandos, tantos que a maioria teve seus nomes esquecidos pela história. Muitos, entretanto, tornaram-se conhecidos, e seus nomes serão lembrados sempre que se falar em cangaço .
Cabeleira
Era o nome pelo qual José Gomes tornou-se conhecido. Nasceu em 1751, em Glória do Goitá, Pernambuco.
Lucas da Feira
Assim era conhecido Lucas Evangelista, por haver nascido em Feira de Santana, Bahia. Lucas da Feira nasceu em 18 de outubro de 1807.
Jesuíno Brilhante
A data de nascimento deste cangaceiro é objeto de muitas controvérsias. Dizem uns que ele nasceu em 02 de janeiro de 1844, outros que foi em março de 1844. Seu nome de batismo era Jesuíno Alves de Melo Calado.
Adolfo Meia Noite
Sabe-se que nasceu em Afogados da Ingazeira, sertão do Pajeú de Flores, em Pernambuco, em data indeterminada.
Antonio Silvino
Nascido na Serra da Colônia, em Pernambuco, no dia 02 de novembro de 1875, foi batizado como Manoel Batista de Moraes.
Sinhô Pereira
Sebastião Pereira da Silva, conhecido como Sinhô Pereira, nasceu em 20 de janeiro de 1896, em Pernambuco. Sinhô Pereira foi o único chefe de Lampião antes deste ter o seu próprio grupo.
Lampião
Vários cangaceiros tiveram seus nomes gravados pela história, mas nenhum deles destacou-se tanto quanto Lampião.
Seu nome de batismo era Virgolino Ferreira da Silva.
Lampião, ao contrário do que muita gente pensa, não foi o primeiro cangaceiro, mas foi, praticamente, o último. Sem dúvida nenhuma foi o mais importante e o mais famoso de todos. Seu nome e seus feitos chegaram a todos os recantos de nosso país e até ao exterior, sendo objeto de reportagens da imprensa internacional.
Até o advento de Lampião, como passou a ser conhecido a partir de certo momento de sua vida, o cangaço era apenas um fenômeno regional, limitado ao nordeste do Brasil. O restante do país não se incomodava com o que não lhe dizia respeito. Mas a presença de Lampião, sua ousadia e seu destemor, fizeram do cangaceiro uma figura de destaque nos noticiários diários do país inteiro, exigindo atenção cada vez maior por parte das autoridades, que se sentiram publicamente desafiadas a liquidá-lo.
Passou a ser uma questão de honra acabar com Lampião e, por via de conseqüência, com o cangaço .
CANGAÇO
Lampião
Lampião
Aqui se conta a história de Lampião, o famoso capitão Virgolino Ferreira, também conhecido como o “Rei do cangaço “. Não toda ela, pois não é fácil abranger de forma completa a saga de um brasileiro que pode ser equiparado, em fama e feitos, aos famosos personagens do velho oeste americano. Para facilitar o entendimento, ainda que parcial, é necessário situar a história e seu personagem principal no meio físico em que nasceu, viveu e morreu.
Descrever o nordeste, por onde andou Lampião, sem entrar na costumeira lista de nomes de vegetais, tipos de solo e outros detalhes semelhantes, é uma tarefa ingrata. Resultaria desnecessária para quem já conhece a região e incompleta para quem nunca esteve lá.
Embora aparentemente agreste o nordeste é de natureza rica e variada. Ou talvez seja melhor dizer que é um misto de riqueza e pobreza, com imensa quantidade de espécies em sua fauna e flora, embora de clima seco durante a maior parte do ano. Chove muito pouco, o chão é seco e poeirento.
A vegetação é rasa e, na maior parte do ano, de cor cinza. De vez em quando surgem árvores cheias de galhos, também secos, frequentemente cobertos de espinhos que, se tocarem a pele, ferem. Raramente se encontra um local onde haja água, mas onde ela se apresenta a vegetação é muito mais verde, apesar de não radicalmente diferente de no restante da região. Saindo da planície e subindo para as partes mais altas, atingindo as serras e os serrotes, o ar tornar-se mais frio e as pedras desenham a paisagem.
Não há estradas, só caminhos, abertos e mantidos como trilhas identificáveis pela passagem dos que por ali circulam, geralmente a pé.
Em breves palavras, esse era o ambiente em que Virgolino Ferreira passou toda sua vida. Pode-se dizer que muito pouco mudou desde então.
LAMPIÃO E SUA HISTÓRIA
O século passado estava dando sinais de cansaço, José e Maria presos por matrimonial laço em breve seriam pais do grande rei do cangaço . No dia quatro de junho de noventa e oito, a pino estava o Sol, e Maria dava à luz um menino que receberia o nome singular de Virgulino.
A família
Virgolino Ferreira da Silva era o terceiro dos muitos filhos de José Ferreira da Silva e de Maria Lopes. Nasceu em 1898, como consta em sua certidão de batismo, e não em 1897, como citado de várias obras.
A família Ferreira formou-se na seguinte sequência, por datas de nascimento:
1895 – Antonio Ferreira dos Santos
1896 – Livino Ferreira da Silva
1898 – Virgolino Ferreira da Silva – Virtuosa Ferreira
1902 – João Ferreira dos Santos – Angélica Ferreira
1908 – Ezequiel Ferreira
1910 – Maria Ferreira (conhecida como Mocinha)
1912 – Anália Ferreira
Todos os filhos do casal nasceram no sítio Passagem das Pedras, pedaço de terras desmembrado da fazenda Ingazeira, às margens do Riacho São Domingos, no município de Vila Bela, atualmente Serra Talhada, no Estado de Pernambuco.
Esse sítio ficava a uns 200 metros da casa de dona Jacosa Vieira do Nascimento e Manoel Pedro Lopes, avós maternos de Virgolino. Por causa dessa proximidade Virgolino residiu com eles durante grande parte de sua infância. Seus avós paternos eram Antonio Ferreira dos Santos Barros e Maria Francisca da Chaga, que residiam no sítio Baixa Verde, na região de Triunfo, em Pernambuco.
A infância de Virgolino transcorreu normalmente, em nada diferente das outras crianças que com ele conviviam. Todas as informações disponíveis levam a crer que as brincadeiras de Virgolino com seus irmãos e amigos de infância eram nadar no Riacho São Domingos e atirar com o bodoque, um arco para bolas de barro. Também brincavam de cangaceiros e volantes, como todos os outros meninos da época, imitando, na fantasia, a realidade do que viam à sua volta, “enfrentando-se” na caatinga. Em outras palavras, brincavam de “mocinho e bandido”, como faziam as crianças nas outras regiões mais desenvolvidas do país.
Foi alfabetizado por Domingos Soriano e Justino de Nenéu, juntamente com outros meninos. Freqüentou as aulas por apenas três meses, tempo suficiente para que aprendesse as primeiras letras e pudesse, pelo menos, escrever e responder cartas, o que já era mais instrução do que muitos conseguiam durante toda sua vida, naquelas circunstâncias.
O sustento da família vinha do criatório e da roça em que trabalhavam seu pai e os irmãos mais velhos, e da almocrevaria. O trabalho de almocreve estava mais a cargo de Livino e de Virgolino, e consistia em transportar mercadorias de terceiros no lombo de uma tropa de burros de propriedade da família.
Os trajetos variavam bastante, mas de forma geral iniciavam-se no ponto final da Great Western, estrada de ferro que ligava Recife a Rio Branco, hoje chamada Arcoverde, em Pernambuco. Ali recolhiam as mercadorias a serem distribuídas pelos locais designados por seus contratantes, em diversas vilas e lugarejos do sertão. Esse conhecimento precoce dos caminhos do sertão foi, sem dúvida, muito valioso para o cangaceiro Lampião, alguns anos mais tarde.
Por duas vezes Virgolino acompanhou a tropa até o sertão da Bahia, mais exatamente até as cidades de Uauá e Monte Santo. Nesta última havia um depósito de peles de caprinos que eram, de tempos em tempos, enviadas pelo responsável, Salustiano de Andrade, para a Pedra de Delmiro, em Alagoas, para processamento e exportação para a Europa.
Esta informação nos foi prestada por dona Maria Corrêa, residente em Monte Santo, Bahia. Dona Maria Corrêa, mais conhecida como Maria do Lúcio, exercia a profissão de parteira e declarou-nos que, quando jovem, conheceu Virgolino Ferreira durante uma de suas visitas ao depósito de peles.
Como curiosidade e melhor identificação, dona Maria Corrêa é a parteira que foi condecorada pelo então presidente Juscelino Kubitschek de Oliveira ao completar mil partos realizados com sucesso.
É bom frisar que as peles caprinas não eram compradas pelos Ferreira, apenas transportadas por eles, num serviço semelhante ao do frete rodoviário dos dias atuais.
Em quase todas suas viagens os irmãos tinham a companhia de Zé Dandão, indivíduo que conviveu durante muito tempo com a família Ferreira.
Nossas pesquisas na região comprovaram, através de diversos depoimentos pessoais, que José Ferreira, o patriarca da família, era pessoa pacata, trabalhadora, ordeira e de ótima índole, do tipo que evita ao máximo qualquer desentendimento.
Esses depoimentos positivos merecem especial atenção e ainda maior credibilidade por terem sido prestados por pessoas inimigas da família. Apesar da inimizade preferiram contar a verdade a denegrir gratuitamente o nome de José Ferreira.
A mãe de Virgolino já era um pouco diferente, mais realista em relação ao ambiente em que viviam.
De maneira geral todos os entrevistados declararam que José Ferreira desarmava os filhos na porta da frente e dona Maria os armava na porta de trás dizendo:
Filho meu não é para ser guardado no caritó. Não criei filho para ser desmoralizado.
O sertão do nordeste brasileiro tem sofrido poucas alterações ao longo do tempo, tanto no aspecto climático quanto no social. Desde a segunda metade do século passado até o começo deste, a contestação à pobreza e às péssimas condições de vida tem rendido movimentos populares e muitas dores de cabeça para os donos do poder local e para a administração oficial, em especial para o governo federal, geralmente omisso e fazendo seu jogo político.
Várias rebeliões aconteceram, causadas pela exploração da mão-de-obra do sertanejo desalojado de suas terras pela seca e pelos grandes latifundiários, além de submetido a regimes de trabalho praticamente escravo. Essas rebeliões disseminaram-se pelo agreste, alimentadas pelo número cada vez maior de flagelados.
Movimentos populares como Canudos, Contestado, Caldeirão e tantos outros surgiram com maior foco de resistência e vigor no próprio nordeste. Foram símbolos da resistência ao poder centralizador dos donos de terras que, numa análise realista, eram e são verdadeiros senhores feudais.
Sem outras alternativas e sabendo que esse estado de coisas continuaria os grupos de rebeldes procuraram em si mesmos os meios para tentar mudanças, instigados pelo analfabetismo, pela fome, pela falta de futuro melhor, pelos anos sucessivos de seca, pelo descaso das autoridades e pela participação, muitas vezes infeliz, da Igreja Católica.
O sertão é, por natureza, adverso ao homem que ali tenta viver. O sertanejo nordestino e sua terra eram e continuam sendo um só todo. Tirar a terra do sertanejo é matá-lo. Tirar o sertanejo da terra é condená-lo a uma existência tão diferente do que lhe é próprio e natural que chega a ser irreal.
Existem meios técnicos e científicos para modificar o ambiente hostil em que vive o nordestino, para propiciar-lhe melhores meios de subsistência. Mas, aplicados esses métodos e mudadas as circunstâncias, provavelmente diminuiria ou acabaria a miséria, facilitando o ajustamento do homem à região de maneira mais confortável, o que parece não interessar aos que tiram proveito da situação vigente.
O flagelo das secas e a cegueira dos homens que dominam o poder continuam, ainda hoje, a provocar a alma do homem nordestino, deixando-o absurda e vergonhosamente entregue à própria sorte, vagando de canto a canto do sertão até ser despejado nos centros urbanos mais prósperos, tornando-se um marginal na verdadeira acepção do termo. Seres humanos que poderiam ser bem mais produtivos em seu próprio meio natural, além de participantes mais ativos da sociedade, são colocados à sua margem.
O fenômeno das secas continua o mesmo há quatrocentos anos. O tratamento recebido pelo homem nordestino não se diferencia hoje, em quase nada, daquele existente por ocasião dos movimentos populares de rebelião contra os senhores feudais. Suas chances de sobrevivência não dependem apenas dele, mas também, e principalmente, do que lhe dão e do que lhe permitem ter.
Quando a morte passa a ser sua companhia diária o homem reage. Alguns se entregam ao desespero, à passividade e ao desalento. Outros, de índole mais agressiva, revoltam-se e pegam em armas. Os que não têm nada querem alguma coisa; os que têm pouco querem mais, muito mais, pois o coronel está séculos à sua frente.
A índole do nordestino é, normalmente, humilde, pacífica e cordata. É um sujeito bonachão, alegre e divertido, embora duro e rude em suas maneiras. Mas quando resolve dizer não, o nordestino vira leão e grita sua revolta na cara da minoria opressora.
As causas do surgimento do cangaço foram de natureza variada. A pobreza, a falta de esperanças e a revolta não foram as únicas. Isso é mais que certo. Mas foram estas circunstâncias as mais importantes para que começassem a surgir os cangaceiros. Muitos, como dissemos, eram pequenos proprietários, mas mesmo assim tinham que se sujeitar aos coronéis. Do meio do povo sertanejo rude e maltratado surgiram os cangaceiros mais convictos de que lutavam pela sobrevivência.
Se não me dão os meios de conseguir, eu tomo. – pareciam dizer.
Virgolino Ferreira era um trabalhador. Do tratamento duro e injusto que o trabalhador Virgolino Ferreira e sua família receberam surgiu Lampião, o “Rei do cangaço “.
Lampião nunca foi um líder de rebeliões ou um ídolo que servisse para a formação de camponeses revoltados. Política nunca foi parte de sua vida. Mas as populações humilhadas e ofendidas viam em Lampião um exemplo, naquele meio termo entre temer o que ele era e querer ser igual a ele, quase a justificar sua existência de bandoleiro errante.
Lampião subverteu a ordem imposta, mesmo que não fosse esse seu objetivo. Latifúndios que, durante décadas e até mesmo séculos imaginavam-se intocáveis, sentiram o peso de sua presença e o terror das consequências do não atendimento de suas exigências.
O caminho que Lampião traçou nas sendas da Bahia, Sergipe, Pernambuco, Alagoas, Paraíba, Ceará e Rio Grande do Norte, hoje claramente observado nos mapas e na memória viva da história do cangaç ;o, praticamente não foi alterado nos últimos 60 anos. E pouco, talvez nada, será alterado durante os próximos 60 anos ou mais.
Onde lutou Lampião ainda estão, nos dias de hoje, as sobras da subserviência, a presença maciça da ignorância, a exploração dos pequenos e dos humildes. E, de forma geral, também a indiferença nacional continua a mesma.
A economia brasileira progrediu, mas esse progresso deixou de lado a estrutura caótica e ultrapassada das distâncias sertanejas.
Existem dois países neste nosso Brasil: um mantém a mesma ordem, a mesma estrutura e os mesmos vícios do passado; o outro caminha para o progresso, modificando-se e modernizando-se, seguindo os modelos apresentados por outras nações.
No norte-nordeste até a imagem física das localidades permanece quase a mesma do século passado. Quase nada mudou desde os tempos em que Lampião decidiu que não seria mais o trabalhador Virgolino Ferreira, já que não valia a pena. E o pouco de paciência que tivera se acabara por causa dos abusos.
Se quase nada mudou, se as circunstâncias continuam as mesmas, podemos concluir que o terreno que gerou Lampião ainda está lá, esperando novas sementes. Se existe alguma germinando, neste exato momento, é difícil saber.
Talvez alguns prefiram não pensar a respeito.
O cangaço surgiu e desenvolveu-se na região semi-árida do nordeste brasileiro, no império da caatinga, nome que significa “mata branca”. Não é uma área pequena, cobrindo cerca de 700 mil quilômetros quadrados.
Na caatinga existe um único rio perene, o São Francisco, o velho Chico, tão conhecido por todos. Os outros rios secam e desaparecem durante a época da estiagem, quando os únicos a não sofrer são os coronéis, muitos deles transformados, atualmente, em políticos. Se mudaram a roupagem, não mudaram os hábitos, e continuam, de maneira geral, procurando tirar o máximo proveito possível da situação.
Nos leitos dos rios secos, durante o período de nossa história, que vai de 1900 a 1940, os sertanejos cavavam cacimbas, procurando o pouco de água que ainda restava. Ainda hoje, em muito lugares, essa é uma das poucas formas de se conseguir alguma água, mesmo de má qualidade. Outra maneira era cavar à procura da raiz de uma árvore chamada umbu, extraí-la da terra e espremê-la até obter um pouco de líquido com as mesmas qualidades da água. Os cangaceiros utilizavam-se muito desta última forma de conseguir “água”.
Os sertões de Alagoas, Bahia, Ceará, Paraíba, Pernambuco, Rio Grande do Norte e Sergipe serviram de palco para o drama que envolveu milhares de nordestinos, apesar de existirem, em meio à aridez da região, verdadeiros oásis. Em Pernambuco, por exemplo, está Triunfo, a 1180 metros acima do nível do mar, onde existe uma cachoeira de 60 metros de altura. A temperatura chega a cair, durante a noite, a 5 graus, e existem árvores frutíferas em abundância. No sertão do Cariri, no Ceará, há uma região coberta de mata, formando uma floresta tropical com árvores de até 40 metros de altura. Outros exemplos de locais de clima ameno são Garanhuns e a região de Serra Negra, no município de Floresta, ambos em Pernambuco.
Já de aspecto completamente oposto, o Raso da Catarina e a região de Canudos são pontos em que a natureza aprimorou-se em deixar a terra nua e sáfara, totalmente árida.
A fauna nordestina varia dependendo do tipo de clima.
Quando Lampião andava por aqueles sertões, ali existiam onças pintadas, suçuaranas, onças pretas, veados e tipos variados de serpentes, como jararacas, jibóias, cascavéis, etc.
O gavião carcará é um dos mais conhecidos habitantes dos sertões, assim como diversas espécies de lagartos. Papagaios, periquitos, canários, juritis, azulões, pássaros pretos e emas eram também numerosos naquela época. À beira do Rio São Francisco encontrávamos jacarés guaçú, pipira, tinga, o de papo amarelo, etc.
Hoje é uma outra história, pois o homem teima em destruir a natureza.
Fonte: www.infonet.com.br
Cangaço
CURIOSIDADES DO CANGAÇO
Antonio da “Pissara”, fazendeiro que durante 15 meses foi coiteiro de Lampião.
Região por onde Lampião andava. Não bastasse a vida de combates e sobressaltos, Lampião e seu bando enfrentavam a agressividade da caatinga.
Salvo conduto fornecido por Lampião a pessoas amigas: “Recebendo carta com a minha firma, não sendo este cartãozinho, é falsa. Não é minha assinatura”.
Cruzes em Angico indicam o local da morte de Lampião e seus companheiros.
Cine Capela, onde Lampião assistiu ao filme Anjo das Ruas, com a atriz Janet Gaynor.
1. Pente de bala de fuzil. 2. Pente de Corisco e Dadá.
3. Pequena caixa levada à cintura na qual Lampião carregava fumo desfiado, papel de cigarro e fósforo.
4. Torno, usado na parede das casas para pendurar objetos como rede, bolsas, etc.
5. Bala de rifle 44
Notícias da imprensa da época
Jornal do Commercio – 2 de dezembro de 1926
PARAHYBA – Comentando recente encontro da polícia pernambucana com o grupo de Lampião, os jornaes destacam a nova e decidida orientação do atual governo desse estado, em face do angustioso problema do banditismo que assola largos trechos da região sertaneja. A União de hoje dá conta das providências tomadas pela nossa polícia, reforçando a fronteira a fim de resistir em qualquer emergência.
Jornal do Commercio 19 de dezembro de 1926
Realizar-se-á no próximo dia 28, reunião com os chefes de polícia da Bahia, Alagoas, Pernambuco, Parahyba, Rio Grande do Norte e Ceará, por iniciativa do governador do estado, Estácio Coimbra.
Visa o chefe do executivo combinar meios efficientes e seguros de ação em confronto, no combate ao banditismo.
Os chefes são: Madureira de Pinho – Bahia, Julio Lyra – Parahyba, Ernandi Basto – Alagoas, Eurico Souza Leão – Pernambuco, Benício Filho – R/G. Norte, José Pires de Carvalho – Ceará
Fonte: www.reidocangaco.cjb.net
Cangaço
O banditismo parece ser um fenômeno universal.
É difícil encontrar um povo no mundo que não teve (ou tenha) bandidos: indivíduos frios, calculistas, insensíveis à violência e à morte. Sem entrar no mérito das atrocidades cometidas pelos colonizadores portugueses, que escravizaram os negros africanos e quase exterminaram os índios nativos do país, a região Nordeste do Brasil vivenciou um período de quase meio século de violência, especialmente no final da década de 1870, após a grande seca de 1877.
O monopólio da terra e o trabalho servil, heranças das capitanias hereditárias, sempre mantiveram o empobrecimento da população e impediram o desenvolvimento do Nordeste, apesar do empenho de Joaquim Nabuco e da abolição da escravatura. As pessoas continuam sendo relegadas à condição de objetos, cujo maior dever é servir aos donos de terras.
Enquanto o capitalismo avançava nos grandes centros urbanos, no meio rural persistia o atraso da grande propriedade: a presença do latifúndio semifeudal, elemento dominador que, da monarquia à república, se mantém intocável em seus privilégios.
Os problemas das famílias abastadas são resolvidos entre si, sem a intervenção do poder do Estado, mas com a substantiva ajuda de seus fiéis subordinados: policiais, delegados, juízes e políticos.
No final do século XIX, os engenhos são tragados pelas usinas, porém as relações pré-capitalistas de produção se conservam: os trabalhadores rurais se tornam meros semi-servos. E o dono da terra – o chamado “coronel” – representa o legítimo árbitro social, mandando em todos (do padre à força policial), com o apoio integral da máquina do Estado. Contrariar o coronel, portanto, é algo a que ninguém se atreve.
É importante registrar também a presença dos jagunços, ou capangas dos “coronéis”, aqueles assalariados que trabalham como vaqueiros, agricultores ou mesmo assassinos, defendendo com unhas e dentes os interesses do patrão, de sua família e de sua propriedade.
Diante das relações semifeudais de produção, da fragilidade das instituições responsáveis pela ordem, lei e justiça, e da ocorrência de grandes injustiças – homicídios de familiares, violências sexuais, roubo de gado e de terras, além de secas periódicas que vêm agravar a fome, o analfabetismo e a pobreza extrema, os sertanejos buscaram fazer justiça com as próprias mãos, gerando, como forma de defesa, um fenômeno social que propagava vinganças e mais violências: o cangaço.
Fora o cangaço, dois outros elementos que surgem nos sertões nordestinos são o fanatismo religioso e o messianismo, a exemplo de Canudos (na Bahia) com Antonio Conselheiro; de Caldeirão (na chapada do Araripe, município do Crato, no Ceará) com o Beato Lourenço; e dos seus remanescentes em Pau de Colher, na Bahia.
O cangaço, o fanatismo religioso e o messianismo são episódios marcantes da guerra civil nordestina: representam alternativas através das quais a população regional pode retaliar os danos sofridos, garantir um lugar no céu, alimentar o seu espírito de aventura e/ou conseguir um dinheiro fácil.
A expressão cangaço está relacionada à palavra canga ou cangalho: uma junta de madeira que une os bois para o trabalho. Assim como os bois carregam as cangas para otimizar o labor, os homens que levam os rifles nas costas são chamados de cangaceiros.
O cangaço advém do século XVIII, tempo em que o sertão ainda não havia sido desbravado. Já naquela época, o cangaceiro Jesuíno Brilhante (vulgo Cabeleira) ataca o Recife, e é preso e enforcado em 1786. De Ribeira do Navio, estado de Pernambuco, surgem também os cangaceiros Cassemiro Honório e Márcula. O cangaço passa a se tornar, então, uma profissão lucrativa, surgindo vários grupos que roubam e matam nas caatingas.
São eles: Zé Pereira, os irmãos Porcino, Sebastião Pereira e Antônio Quelé. No começo da história, contudo, eles representam grupos de homens armados a serviço de coronéis.
Em 1897, surge o primeiro cangaceiro importante: Antônio Silvino. Com fama de bandido cavalheiresco, que respeita e ajuda muitos, ele atua, durante 17 anos, nos sertões de Alagoas, Pernambuco e Paraíba. É preso pela polícia pernambucana em 1914. Um outro cangaceiro famoso é Sebastião Pereira (chamado de Sinhô Pereira), que forma o seu bando em 1916. No começo do século XX, frente ao poder dos coronéis e à ausência de justiça e do cumprimento da lei, tais indivíduos entram no cangaço com o propósito de vingar a honra de suas famílias.
Para combater esse novo fenômeno social, o Poder Público cria as “volantes”. Nestas forças policiais, os seus integrantes se disfarçavam de cangaceiros, tentando descobrir os seus esconderijos. Logo, ficava bem difícil saber ao certo quem era quem. Do ponto de vista dos cangaceiros, eles eram, simplesmente, os “macacos”. E tais “macacos” atuavam com mais ferocidade do que os próprios cangaceiros, criando um clima de grande violência em todo o sertão nordestino.
Por outro lado, a polícia chama de coiteiros todas as pessoas que, de alguma forma, ajudam os cangaceiros. Os residentes no interior do sertão – moradores, vaqueiros e criadores, por exemplo – se inserem, também, dentro dessa categoria.
Sob ordens superiores, as volantes passam a atuar como verdadeiros “esquadrões da morte”, surrando, torturando, sangrando e/ou matando coiteiros e bandidos.
Se os cangaceiros, portanto, ao empregar a violência, agem completamente fora da lei, as volantes o fazem com o apoio total da lei.
Nesse contexto, surge a figura do Padre Cícero Romão Batista, apelidado pelos fanáticos de Santo de Juazeiro, que nele vêem o poder de realizar milagres e, sobretudo, uma figura divina. Endeusado nas zonas rurais nordestinas, o Padre Cícero concilia interesses antagônicos e amortece os conflitos entre as classes sociais. Em meio a crendices e superstições, os milagres – muitas vezes, resumidos a simples conselhos de higiene ou procedimentos diante da subnutrição – atraem grandes romarias para Juazeiro, ainda mais porque os seus conselhos são gratuitos. O Santo de Juazeiro, contudo, a despeito de ser um bom conciliador e uma figura querida entre os cangaceiros, utiliza a sua influência religiosa para agir em favor dos “coronéis”, desculpando-os pelas violências e injustiças cometidas.
Em meio a essa turbulência, surge o mais importante de todos os cangaceiros e quem mais tempo resiste (cerca de vinte anos) ao cerco policial: Virgulino Ferreira da Silva, o Lampião, também chamado rei do cangaço e governador do sertão. Os membros do seu bando usam cabelos compridos, lenço em volta do pescoço, grande quantidade de jóias e um perfume exagerado.
Seus nomes e alcunhas são os seguintes: Antônio Pereira, Antônio Marinheiro, Ananias, Alagoano, Andorinha, Amoredo, Ângelo Roque, Beleza, Beija-Flor, Bom de Veras, Cícero da Costa, Cajueiro, Cigano, Cravo Roxo, Cavanhaque, Chumbinho, Cambaio, Criança, Corisco, Delicadeza, Damião, Ezequiel Português, Fogueira Jararaca, Juriti, Luís Pedro, Linguarudo, Lagartixa, Moreno, Moita Braba, Mormaço, Ponto Fino, Porqueira, Pintado, Sete Léguas, Sabino, Trovão, Zé Baiano, Zé Venâncio, entre outros.
A partir de 1930, a mulher é inserida no cangaço. Tudo começa com Maria Bonita, companheira de Lampião, e depois vêm outras. Muito embora não entrassem diretamente nos combates, as mulheres são preciosas colaboradoras, participando de forma indireta das brigadas e/ou empreitadas mais perigosas, cuidando dos feridos, cozinhando, lavando, e, principalmente, dando amor aos cangaceiros. Elas sempre portam armas de cano curto (do tipo Mauser) e, em caso de defesa pessoal, estão prontas para atirar.
Seja representando um porto seguro, ou funcionando como um ponto de apoio importante para se implorar clemência, as representantes do sexo feminino contribuem muito para acalmar e humanizar os cangaceiros, além de aumentar-lhes o nível de cautela e limitar os excessos de desmandos.
As cangaceiras mais famosas do bando de Lampião, juntamente com os seus companheiros, são: Dadá (Corisco), Inacinha (Galo), Sebastiana (Moita Brava), Cila (José Sereno), Maria (Labareda), Lídia, (José Baiano) e Neném (Luís Pedro).
Como as demais sertanejas nordestinas, as mulheres recebem a proteção paternalista dos seus companheiros, mas o seu cotidiano é mesmo bem difícil. Levar a termo as gestações, por exemplo, no desconforto da caatinga, significa muito sofrimento para elas. Às vezes, precisavam andar várias léguas, logo após o parto, para fugir das volantes. E caso não possuíssem uma resistência física incomum, não conseguiriam sobreviver.
Em decorrência da instabilidade e dos inúmeros problemas da vida no cangaço, os homens não permitem a presença de crianças no bando. Assim que seus filhos nascem, são entregues a parentes não engajados no cangaço, ou deixados com as famílias de padres, coronéis, juízes, militares, fazendeiros.
Vale ressaltar que um fator decisivo para o extermínio do bando de Lampião é o uso da metralhadora, que os cangaceiros tentam comprar, mas não obtêm sucesso. No dia 28 de abril de 1938, Lampião é atacado de surpresa na grota de Angico, local que sempre julgou como o mais seguro de todos. O rei do cangaço, Maria Bonita, e alguns cangaceiros são mortos rapidamente. O resto do bando consegue fugir para a caatinga. Com Lampião, morre também o personagem histórico mais famoso da cultura popular brasileira.
Em Angicos, os mortos são decapitados pela volante e as cabeças são exibidas em vários estados do Nordeste e sul do país. Posteriormente, ficam expostas no Museu Nina Rodrigues, em Salvador, por cerca de 30 anos. Apesar de muitos protestos, no sentido de enterrar os restos mortais mumificados, o diretor do Museu – Estácio de Lima – é contra o sepultamento.
Após a morte de Lampião, Corisco tenta assumir durante dois anos o lugar de chefe dos cangaceiros. A sua inteligência e competência, porém, estão longe de se comparar àquelas de Virgulino.
No dia 23 de março de 1940, a volante Zé Rufino combate o bando. Dadá é gravemente ferida no pé direito; Corisco leva um tiro nas costas, que lhe atinge a barriga, deixando os intestinos à mostra. O casal é transportado, então, para o hospital de Ventura. Devido à gangrena, Dadá (Sérgia Maria da Conceição) sofre uma amputação alta da perna direita, mas Corisco (Cristino Gomes da Silva Cleto) não resiste aos ferimentos, vindo a falecer no mesmo dia.
O fiel amigo de Lampião é enterrado no dia 23 de março de 1940, no cemitério da cidade Miguel Calmon, na Bahia.
Dez dias após o sepultamento, o seu cadáver foi exumado: decepam-lhe a cabeça e o braço direito e expõem essas partes, também, no Museu Nina Rodrigues.
Naquela época, o cangaço já se encontra em plena decadência e, com Lampião, morre também a última liderança desse fenômeno social. Os cangaceiros que vão presos e cumprem pena conseguem se reintegrar no meio social.
Alguns deles são: José Alves de Matos (Vinte e Cinco), Ângelo Roque da Silva (Labareda), Vítor Rodrigues (Criança), Isaías Vieira (Zabelê), Antônio dos Santos (Volta Seca), João Marques Correia (Barreiras), Antônio Luís Tavares (Asa Branca), Manuel Dantas (Candeeiro), Antenor José de Lima (Beija-Flor), e outros.
Após décadas de protestos, por parte das famílias de Lampião, Maria Bonita e Corisco, no dia 6 de fevereiro de 1969, por ordem do governador Luís Viana Filho, e obedecendo ao código penal brasileiro que impõe o devido respeito aos mortos, as cabeças de Lampião e Maria Bonita são sepultadas no cemitério da Quinta dos Lázaros, em Salvador. Em 13 de fevereiro, do mesmo ano, o governador autoriza, ainda, o sepultamento da cabeça e do braço de Corisco, e das cabeças de Canjica, Zabelê, Azulão e Marinheiro.
Por fim, registram-se informações sobre alguns ex-cangaceiros que retornam ao convívio social.
Tendo fugido para São Paulo, depois do combate na grota de Angico, Criança adquire casa própria e mercearia naquela cidade, casa-se com Ana Caetana de Lima e tem três filhos: Adenilse, Adenilson e Vicentina.
Zabelê volta para o roçado, assim como Beija-Flor. Eles continuam pobres, analfabetos e desassistidos. Candeeiro segue o mesmo rumo, mas consegue se alfabetizar.
Vinte e Cinco vai trabalhar como funcionário do Tribunal Eleitoral de Maceió, casa com a enfermeira Maria de Silva Matos e tem três filhas: Dalma, Dilma e Débora.
Volta Seca passa muito tempo preso na penitenciária da Feira de Curtume, na Bahia. É condenado, inicialmente, a uma pena de 145 anos, depois comutada para 30 anos. Através do indulto do presidente Getúlio Vargas, porém, em 1954, ele cumpre uma pena de 20 anos. Volta Seca se casa, tem sete filhos e é admitido como guarda-freios na Estrada de Ferro Leopoldina.
Conhecido também como Anjo Roque, Labareda consegue se empregar no Conselho Penitenciário de Salvador, casa e tem nove filhos.
E, intrigante como possa parecer, o ex-cangaceiro Saracura torna-se funcionário de dois museus, o Nina Rodrigues e o de Antropologia Criminal, os mesmos que expuseram as cabeças mumificadas dos velhos companheiros de lutas.
Fonte: www.fundaj.gov.br
Cangaço
A violência aplicada na colonização para tomar posse das terras indígenas, ainda pairava no ar seco do sertão.
Nos brejos perenes e em períodos de chuva, o interior nordestino tornava-se promissor e produzia muito, mas entre as fazendas havia muitos bandidos que ameaçavam esse progresso.
Os coronéis, que exploravam e oprimiam o povo, não admitiam as ações desses bandidos em seus territórios, tendo nos jagunços e na volante da polícia a segurança local.
Essa contradição de segurança despertou em homens bravios, o sentimento de injustiça, e o abuso de autoridade por parte dos coronéis gerou rixas, que fizeram surgir o cangaço no contexto histórico nordestino.
O cangaço tomou força no começo do século XX e os grupos atuavam em todo o sertão, foi um acontecimento social que produziu uma cultura ímpar, com indumentária, música, versos, dança e um jeito de ser bem característicos.
Luiz Gonzaga tomou emprestadas essas características e absorveu essa cultura para se lançar no cenário da música brasileira.
Cangaceiros
Os cangaceiros eram homens valentes que começaram a agir por conta própria, através das armas, desafiando grandes fazendeiros e cometendo agressões.
Geralmente, os cangaceiros saíam da lida com o gado.
Eram vaqueiros habilidosos, que faziam as próprias roupas, caçavam e cozinhavam, tocavam o pé-de-bode (sanfona de oito baixos) em dias de festa, trabalhavam com couro, amansavam animais, desenvolvendo um estilo de vida miliciano e, apesar da vida criminosa, eram muito religiosos.
A astúcia e a ousadia nos ataques às fazendas e cidades era outra característica desses guerreiros, que quase sempre saíam vitoriosos das investidas, mas às vezes levavam desvantagem, por isso tinham uma vida cigana, de estado em estado, de fronteira em fronteira.
Vestiam-se com roupas de tecido grosso, ou até com gibão, calçavam alpercata, usavam chapéus de couro com abas largas e viradas para cima, gostavam de lenços no pescoço, de punhais compridos na cintura, cartucheiras atravessadas ao peito disputando espaço com as cangas, que eram as bolsas, cabaças e outros suportes, utilizados para transportar os objetos pessoais.
Pelo Nordeste havia vários grupos de cangaço, porém o mais famoso foi o de Virgulino Ferreira da Silva, o Lampião, um pernambucano que desafiou todos os poderes políticos. Ficou conhecido pela bravura, a qual Luiz Gonzaga venerava e cantava.
Fonte: www.recife.pe.gov.br
Cangaço
Pequeno ABC do Cangaço
Acampamento
Em tempos de calmaria, os cangaceiros jogavam cartas, bebiam, promoviam lutas de homens e de cachorros, faziam versos, cantavam, tocavam e organizavam bailes. Para essas ocasiões se perfumavam muito. Lampião tinha preferência pela fragância francesa Fleur d’Amour.
Almocreves
Transportavam bagagens, alimentos e bens materiais pelos sertões, no lombo de burros. Na sua adolescência, Lampião havia exercido este ofício, o que contribuiu para que conhecesse bem a região onde depois palmilhou como líder dos cangaceiros.
Armas
Os cangaceiros mantinham seus rifles ensebados em ocos de pau, para evitar o “bicho próprio da madeira”. O Winchester (modelo 1873, calibre 44, cano octagonal), conhecido com rifle papo-amarelo, foi a arma usada até 1926. O fuzil Mauser (modelo 1908, calibre 7×57) passou a ser a arma do bando de Lampião após a ida a Juazeiro do Norte. Os punhais tinham lâminas que mediam aproximadamente 67cm e o cabo, 15cm.
Coronel
Chefe político local, dono de grandes extensões de terra. Suas relações com os cangaceiros dependiam do interesse do momento.
Coiteiro
Indivíduo que fornecia proteção aos cangaceiros. Arrumava alimentos, fornecia abrigo e informações. O nome vem de coito, que significa abrigo. Religiosos, políticos e até interventores ajudaram Lampião.
Dinheiro
Em 1930, o governo baiano chegou a oferecer 50 contos de réis pela captura de Lampião. Era dinheiro suficiente para se comprar, na época, seis carros de luxo.
Equipamento
Em 1929, na cidade de Capela, Sergipe, Lampião pesou sua carga. Sem as armas e com os depósitos de água vazios, chegou a 29 quilos.
Ferimentos
Lampião levou sete tiros e perdeu o olho direito, mas acreditava que tinha o corpo fechado. Em 1921, foi ferido à bala no ombro e na virilha, no município de Conceição do Piancó-PB. Em 1922, atingido na cabeça. Em 1924, baleado no dorso do pé direito, em Serra do Catolé (Belmonte-PE). Em 1926, ferimento leve à bala, na omoplata, em Itacuruba, em Floresta-PE. Em 1930, atingido levemente no quadril, em Pinhão, município deItabaiana-SE.
Gravidez
As crianças não eram amamentadas pelas mães naturais, mas deixadas com amigos de confiança em coitos seguros. Para o nascimento, o bando reforçava a segurança do bando em um lugar fora da rota das volantes, mas próximo a uma parteira de confiança.
Maldade
Lampião tornou-se um “expert” em “sangrar” pessoas, enfiando-lhes longo punhal corpo adentro entre a clavícula e o pescoço. Consentiu que homens como José Baiano marcassem rostos de mulheres com ferro quente. Arrancou olhos, cortou orelhas e línguas. Castrou um homem dizendo que ele precisava engordar.
A assepsia, nesses casos, era a mesma aplicada aos animais: cinza, sal e pimenta.
Medicina 1
No ferimento à bala, aguardente, água oxigenada e pimenta malagueta seca eram introduzidas através do orifício de entrada. A farinha, além de alimento indispensável, era utilizada como emplastro, no tratamento dos abcessos. O fumo em pó era utilizado sobre feridas abertas, com objetivo de evitar infecções secundárias e ovoposição de moscas varejeiras. Lampião levava em um de seus bornais uma botica improvisada com tintura de iodo, pó de Joannes, água forte, pomada de São Lázaro, linha e agulha, algodão, um estojo de perfumes com brilhantina, óleo extratos e essências baratas.
Medicina 2
O juá e a arnica eram elementos fundamentais para tratamento de feridas por tiros. O emprego das cascas de jenipapo nas luxações, fraturas e contusões era uma prática comum. Em traumatismo ocasionado por coice de burro usavam um emplasto de mastruço, carvão moído e esterco de animal. O chá de quixabeira também era recomendado para cicatrização.
Modernidade
Preocupado com falsificação de correspondência, Lampião mandou fazer cartões de visita com sua foto. Ele também mandava cartas em papéis que tinham seu nome datilografado. E usava garrafa térmica e capa de chuva, presentes dos coronéis que lhe apoiavam.
Misticismo
Meizinhas, amuletos e rezas eram utilizados para “fechar o corpo” contra os inimigos ou para espantar cobras e animais peçonhentos. Mulher menstruada era impedida de entrar nos quartos dos feridos de guerra, “para não arruinar a ferida”. Em lesões graves, o doente devia evitar “pisar em rastro de corno”.
Mulheres
Até 1930 não existiam mulheres no cangaço. Lampião passou a integrá-las em seus bandos depois de conhecer e se apaixonar por Maria Bonita. Elas não cozinhavam e nem faziam outras tarefas rotineiras nos acampamentos, atribuições para homens. Também não participavam efetivamente dos combates, com exceção de Dadá, esposa de Corisco.
Religiosidade
Supersticioso, Lampião andava com amuletos, livros de orações e fotos do Padre Cícero na roupa. Nos acampamentos, ele era encarregado da leitura do “ofício”, espécie de missa. Em várias das cidades que invadiu chegou a ir à igreja, onde deixava donativos fartos, exceto para São Benedito. “Onde já se viu negro ser santo?”, dizia, não escondendo o seu racismo.
Volantes
As forças policiais oficiais, que também agregavam civis contratados pelo governo para perseguir os cangaceiros.
Fonte: www.pernambuco.com