A Primeira Guerra Mundial foi um conflito internacional que durou de Julho de 1914 a Novembro de 1918 no qual se envolveram países de todos os continentes.
De um lado, os países da Entente, os Aliados. Do outro, os impérios centrais. A Primeira Guerra Mundial, um conflito de proporções nunca antes vistas, apesar de toda a tragédia humana, representou também um grande avanço tecnológico e teve uma intensa atividade de inteligência - a criptologia teve um papel decisivo nas tomadas de decisão e mudou o rumo da História... mas isto é uma outra história.
Entre os complexos fatores que contribuíram para atear a primeira grande conflagração mundial figura o nacionalismo, o imperialismo econômico, a política de alianças secretas e a corrida armamentista.
O nacionalismo
O nacionalismo, que se manifestava sob diferentes formas nos diversos povos, provocou choques de aspirações e ambições. Foi desta forma que a estabilidade do Império Austro-Húngaro foi ameaçada pelo desejo de independência das suas minorias eslavas estimuladas pelo pan-eslavismo do Império Russo. Este, por sua vez, alimentou a ambição de tirar da Turquia o domínio dos estreitos que ligam o Mar Negro ao Mediterrâneo, o que vinha de encontro a uma das diretrizes do movimento pan-germanista: a expansão para o Leste. A Alemanha, recém-unificada e em fase de extraordinário desenvolvimento econômico, ambicionava a ampliação do seu império colonial, bem como uma posição de hegemonia na Europa, alarmando justificadamente as outras potências. Na França, o nacionalismo era marcado pelo desejo de "revanche" pela derrota de 1871 e da recuperação da Alsácia-Lorena, desejo este exacerbado pela rudeza da intervenção diplomática alemã nas crises internacionais.
O imperialismo econômico
O imperialismo econômico, marcado pelas lutas pela conquista de mercados, de fontes de matéria-prima e de campos de inversão de capitais, ocasionou múltiplos atritos entre as nações, especialmente depois que a Alemanha e a Itália, tendo conquistado a unidade nacional, entraram na competição. A expansão colonial, econômica e naval alemã provocou uma rivalidade com a Inglaterra que temia pela sua supremacia marítima.
Alianças secretas
A política de alianças secretas já havia dividido as maiores potências européias em dois grupos hostis. Em 1882, Bismarck havia formado a Tríplice Aliança entre a Alemanha, o império Austro-Húngaro e a Itália. A França respondeu com a Aliança Franco-Russa de 1893 e a Entente Cordiale franco-inglesa de 1904. Estas foram complementadas pelos entendimentos anglo-russos em 1907, formando-se assim a Tríplice Entente.
A necessidade de fortalecer essas alianças induzia cada um dos seus membros a apoiar os outros, mesmo nas questões em que não estivessem diretamente interessados.
Corrida armamentista
A desconfiança mútua dos grupos aliados, insuflada pelos fabricantes de munições e outros "mercadores de guerras", resultou na corrida armamentista, outra fonte de temor e ódio entre as nações. Por outro lado, a formação de grandes exércitos acabou criando a poderosa classe dos chefes militares, cuja influência nas crises internacionais era sempre a de ordenar mobilizações gerais como medida de precaução. Isto tornava ainda mais difícil chegar às soluções pacíficas das pendências.
Os países em conflito
Apesar dos esforços de outras potências, especialmente da Grã-Bretanha, em 28 de Julho a Áustria declarou guerra à Sérvia. No dia seguinte a Rússia, que se considerava protetora dos eslavos balcânicos, iniciou a mobilização de suas forças. Em 31 de Julho a Alemanha proclamou estado de guerra e enviou um ultimato à Rússia.
Numa rápida sucessão de eventos, em 01 de Agosto houve a declaração de guerra alemã à Rússia e a mobilização geral da Alemanha e da França; em 02 de Agosto a Alemanha ocupou Luxemburgo e fez um pedido de passagem de tropas alemãs pela Bélgica; em 03 de Agosto a Alemanha declarou guerra à França e invadiu a Bélgica; em 04 de Agosto a Alemanha declarou guerra à Bélgica e a Inglaterra enviou um ultimato à Alemanha, em protesto contra a violação da neutralidade belga, declarando guerra à Alemanha; em 06 de Agosto a Áustria declarou guerra à Rússia; em 08 de Agosto Montenegro declarou guerra à Áustria; em 09 de Agosto a Sérvia declarou guerra à Alemanha e em 10 de Agosto a França declarou guerra à Áustria. Delineados os primeiros envolvidos, em 12 de Agosto a Grã-Bretanha declarou guerra à Áustria; em 23 de Agosto o Japão declarou guerra à Alemanha, em 25 de Agosto a Áustria declarou guerra ao Japão e, em 28 de Agosto, à Bélgica.
Em Outubro do mesmo ano, a Turquia uniu-se às potências centrais. Em 1915, a Itália entrou na guerra contra a Áustria em Maio e contra a Turquia em Agosto. Em Outubro, a Bulgária se colocou ao lado dos impérios centro-europeus.
Em 1916 mais países entraram na arena. Entraram na guerra contra as potências centrais, Portugal em Março e Romênia em Agosto. Também em Agosto de 1916, a Itália declarou guerra à Alemanha.
Longe das coisas se acalmarem, 1917 foi um ano de novas adesões, todas contra as potências centrais: em Abril, EUA, Cuba e Panamá; em Julho, Grécia e Sião; em Agosto, Libéria e China e, em Outubro, o Brasil.
No que seria o último ano desta guerra, entraram contra as potências centrais: em Abril, a Guatemala; em Maio, a Nicarágua e a Costa Rica; em Julho, o Haiti e Honduras.
Depois que a Alemanha impôs a derrota à França na Guerra Franco-Prussiana de 1870-71, a maioria das nações européias começou a se ocupar com planos para uma próxima guerra, fato tido como inevitável devido às ambições beligerantes dos principais líderes. No caso da França, os planos incluíam a reconquista da Alsácia e da Lorena, ambas perdidas para os alemães na Guerra Franco-Prussiana.
Em geral dá-se grande importância ao Plano Schlieffen da Alemanha e, em menor extensão, ao Plano XVII da França. Porém, é preciso não esquecer o Plano B do Império Austro-Húngaro e o Plano 19 da Rússia.
O Plano XVII da França
O objetivo principal do Plano XVII, elaborado por Ferdinand Foch no rastro da humilhação da Guerra Franco-Prussiana e aperfeiçoado pelo Comandante em Chefe francês Joseph Joffre em 1913, era recapturar o território da Alsácia-Lorena.
De natureza inteiramente ofensiva, o Plano XVII baseava-se principalmente na crença mística do "elan vital" - um espírito de luta cujo poder seria capaz de vencer qualquer inimigo - que se imaginava instilar em cada combatente francês. Acreditava-se que todo soldado francês seria superior a qualquer soldado alemão. Esta presunção foi levada tão a sério que muitos oficiais franceses foram demitidos do exército durante o início da guerra devido à falta de espírito de luta, inclusive o general Lanzerac, depois da derrota do exército francês em Charleroi.
Tecnicamente falando, o Plano XVII previa o avanço de quatro exércitos franceses na Alsácia-Lorena pelos dois lados da fortaleza de Metz-Thionville, ocupada pelos alemães desde 1871. A asa sul das forças de invasão capturariam primeiramente a Alsácia e a Lorena (nesta ordem), enquanto que a asa norte - dependendo dos movimentos dos alemães - avançaria para a Alemanha através das florestas de Ardennes, no sul, ou então se moveria a noroeste, na direção de Luxemburgo e da Bélgica.
Os arquitetos do Plano XVII, incluindo Joseph Joffre, não deram muita importância a uma possível invasão da França com os alemães atravessando a Bélgica um pouco antes da declaração de guerra. Também não modificaram o plano para incluir o deslocamento de tropas nesta eventualidade, falha que se tornou mais aparente em Agosto de 1914.
Antes de estourar a guerra, Joffre e seus conselheiros estavam convencidos de que a ameaça de um envolvimento britânico impediria a invasão da Alemanha através da Bélgica (com a qual os britânicos mantinham um tratado que garantia sua neutralidade).
Apesar dos franceses terem estimado corretamente a força do exército alemão no início da guerra, eles praticamente desconsideraram o uso extensivo das tropas de reserva alemãs e pouco confiavam nas próprias tropas. Este sério erro de cálculo, associado ao Plano Schlieffen subestimado, fez com que a França fosse praticamente anulada no primeiro mês da guerra.
Nas primeiras semanas da guerra, o ataque francês na Alsácia e Lorena foi um desastre, repelido facilmente pela defesa alemã. Com o avanço inevitável do Plano Schlieffen, os franceses foram forçados a ficar na defensiva.
O Plano Schlieffen da Alemanha
O Plano Schlieffen da Alemanha, que recebeu o nome do seu idealizador, conde Alfred von Schlieffen, tinha uma natureza tanto ofensiva quanto defensiva.
Schlieffen e os homens que posteriormente melhoraram e modificaram sua estratégia, incluindo Helmuth von Moltke, Chefe do Estado-Maior da Alemanha em 1914, considerou inicialmente uma guerra em duas frentes de batalha: contra a França no oeste e contra a Rússia no leste. A natureza do sistema de alianças garantia que a Rússia fosse aliada da França (e, mais tarde, da Grã-Bretanha), contrapondo-se à aliança da Alemanha com o Império Austro-Húngaro e a Itália.
Não menosprezando o enorme exército russo, com seu interminável suprimento de homens, Schlieffen partiu do pressuposto - absolutamente correto, como provado posteriormente - que os russos levariam seis semanas ou mais para mobilizar efetivamente suas forças, pobremente conduzidas e equipadas como eram.
Apoiado nesta hipótese, Schlieffen elaborou uma estratégia para tirar a França da guerra nestas seis semanas. Para atingir este objetivo, ele deslocaria a maior parte das forças germânicas para o oeste num ataque avassalador tendo Paris como objetivo e, na Prússia Oriental, deixaria apenas forças suficientes para conter os russos depois do processo de mobilização. Depois de neutralizar a França, os exércitos do oeste seriam deslocados para o leste afim de enfrentar a ameaça russa.
Para atacar a França, von Schlieffen determinou a invasão através da Bélgica. Devido a razões táticas, como também políticas, uma invasão através da Holanda foi descartada (a Alemanha desejava manter a neutralidade holandesa o máximo possível). Além disso, a Suiça, ao sul, era geograficamente à prova de invasão. A passagem pelas planícies de Flandres seria a rota mais rápida para a França e para a vitória.
Trabalhando com um prazo muito curto, cinco exércitos alemães avançariam através da Bélgica e da França num grande movimento circular, voltando-se através das planícies de Flandres para o nordeste da França. As forças alemãs se moveriam da Alsácia-Lorena a oeste através da França, em direção a Paris.
Flanqueando os exércitos franceses, von Schlieffen tinha como objetivo atacar pela retaguarda, onde os franceses seriam provavelmente mais vulneráveis. Uma pequena força alemã guardaria a divisa franco-germânica, incitando os franceses a avançar, depois do que poderiam ser atacados na retaguarda pelo grosso do exército alemão, garantindo o cerco e a destruição.
Além disso, o Plano Schlieffen previa que o grosso da resistência francesa estivesse na própria França, e não na Alemanha. Mesmo ao recuar - o que não fazia absolutamente parte do plano - os alemães poderiam (e o fizeram) entrincheirar-se bem dentro do território francês.
Enquanto os franceses, com o objetivo de expulsar os invasores do seu país, construíram trincheiras leves, imaginando que não seriam usadas por muito tempo, os alemães cavavam trincheiras profundas e sofisticadas, visando ficar onde estavam e preparando um avanço posterior.
O ponto fraco do Plano Schlieffen não se deveu à rigidez do prazo - mesmo porque o exército germânico esteve muito perto de capturar Paris no tempo previsto - mas por ter subestimado as dificuldades de suprimento e de comunicação com forças muito distantes do comando e das linhas de suprimento.
Em última análise, foram estes problemas, particularmente o da comunicação da estratégia a partir de Berlim, que arruinaram o Plano Schlieffen. As forças aliadas, usando ferrovias, conseguiam transportar tropas para a linha de frente mais rápido do que os alemães conseguiam novos suprimentos e tropas de reserva.
Mais crítico foi o isolamento de Moltke da linha de frente próxima a Paris. Isto levou a uma série de decisões inadequadas e ao enfraquecimento crucial das suas forças ao norte. Um contra-ataque francês, articulado a tempo e explorando uma lacuna nas linhas germânicas - a Primeira Batalha do Marne - desencadeou a assim chamada "corrida para o mar" e o início da guerra das trincheiras. Terminava assim a guerra dos movimentos rápidos.
Os Planos B e R do Império Austro-Húngaro
Os planos austro-húngaros são muito menos discutidos do que os da França e da Alemanha por uma boa razão. É que, ao arquitetar inicialmente o Plano B, e depois o Plano R, a Austro-Hungria imaginou que a guerra que se aproximava ficaria limitada à Sérvia.
O Plano B, para os Balcãs, detalhava a necessidade de seis exércitos austro-húngaros: três para invadir a Sérvia e outros três para guardar a fronteira com a Rússia e evitar um ataque vindo deste lado.
O Plano R, para a Rússia, revisava essencialmente o Plano B. Previa um volume maior de tropas para evitar a ajuda dos russos aos sérvios ao sul, enquanto esperava a atividade da Alemanha ao norte. Isto fez com que fossem deslocados quatro exércitos para a fronteira russa e dois contra a Sérvia. Apesar do plano ter sido escolhido em Agosto de 1914, esta estratégia nunca chegou a ser usada porque, ao aplicar o Plano Schlieffen, a Alemanha colocou a maior parte das suas forças a oeste antes de desviar sua atenção para o leste.
Os Planos G, A e 19 da Rússia
A Rússia elaborou dois planos totalmente diferentes. O Plano G assumia que a Alemanha iria começar a guerra com um ataque maciço contra a Rússia - exatamente o contrário do que havia transpirado. Estranhamente, o Plano G contentava-se em permitir que os alemães ultrapassassem as fronteiras russas, com a consequente perda de território e de homens em larga escala, dependendo da mobilização do exército russo se completar.
Em resumo, os militares russos imaginavam que o país poderia absorver uma série de derrotas no início da guerra, tal era a reserva de homens disponível. Uma vez efetivamente mobilizados, acreditavam que o exército russo expulsaria os alemães do seu território. Napoleão havia falhado em conquistar a vastidão da Rússia e acreditava-se que a Alemanha falharia da mesma maneira.
O Plano 19, também conhecido como Plano A, era menos drástico no sacrifício inicial de seus homens. Os franceses pressionaram os militares russos para que elaborassem uma estratégia de guerra mais ofensiva.
O Plano 19, elaborado pelo general Danilov em 1910 e substancialmente modificado em 1912, assumia corretamente que a Alemanha iniciaria a guerra com um ataque contra a França, e não contra a Rússia.
Sendo este o caso, dois exércitos russos avançariam até a Prússia Oriental e a Silésia, em direção ao centro da Alemanha. Ao mesmo tempo, a Rússia usaria uma defesa de praças fortes contra as forças invasoras.
Neste evento, o avanço dos russos na Prússia Oriental foi rechaçado quase que imediatamente no início da guerra, com o exército russo sofrendo uma derrota particularmente esmagadora em Tannenberg, seguida por reveses menores na Primeira e na Segunda Batalha dos Lagos Masúricos.
A Grã-Bretanha
Os britânicos não elaboraram uma estratégia de guerra geral no mesmo sentido que a França, a Alemanha, a Austro-Hungria e a Rússia. Contrariamente a essas potências, a Grã-Bretanha não mostrava grande desejo na deflagração e não tinha planos de expansão, apesar de se preocupar em proteger seus interesses, particularmente os elos comerciais com os pontos distantes do seu império.
Entretanto, quando a guerra estourou, a Grã-Bretanha, governada pela administração de Asquith, depois de um estremecimento inicial confuso, estava determinada a ajudar a 'brava pequena Bélgica' (como a Bélgica era representada na propaganda da campanha britânica de recrutamento) e a França.
Na ausência de um exército recrutado, a Força Expedicionária Britânica (ou BEF) foi transportada para o continente e, por ferrovia, até a Bélgica e o flanco esquerdo francês. Foi estimado que levaria três semanas completas, 21 dias, para se mobilizar a BEF. A Alemanha e a França precisaram apenas de 15 dias.
A Bélgica
A Bélgica, devido à sua neutralidade, não podia planejar abertamente. Ao invés disto, com a declaração da guerra (ou, no caso da Alemanha, com a invasão), todas as forças armadas da Bélgica, com cerca de 117.000 homens, foram concentradas a oeste do rio Meuse para a defesa (que não teve sucesso) de Antuérpia.
Adicionalmente, cerca de 67.000 homens foram responsáveis pela defesa dos fortes de Liege, Namur e Antuérpia.
A Sérvia
O plano sérvio para a guerra era simples: após a declaração de guerra, o exército seria dobrado, de cinco para dez divisões, e colocado em prontidão para atacar a Austro-Hungria assim que as intenções táticas da mesma ficassem evidentes.
A neutralidade dos EUA
Os Estados Unidos da América do Norte estavam determinados a adotar uma postura de rígida neutralidade no início da guerra e o presidente Wilson anunciou esta postura, que refletia a opinião pública, em 19 de Agosto de 1914. Consequentemente, os EUA não tinham planos para a guerra e não atuaram no início do conflito.
Apesar da neutralidade oficial, uma queda muito grande da exportação para os aliados levou a um franco interesse na vitória dos aliados, pelo menos nos estados do leste. A exportação para a Alemanha e seus aliados diminuiu rapidamente, paralelamente a um aumento significante de embarques para a Inglaterra e a França.
A opinião popular em favor dos aliados começou a se formar quando se espalharam as notícias das táticas agressivas da Alemanha, onde se dizia que incluíam uma campanha de terror contra a 'pequena Bélgica'.
De forma semelhante, a política alemã da guerra submarina irrestrita causou muito mal-estar nos EUA. A submersão do Lusitania em Maio de 1915 e do Sussex em Abril de 1916 quase levaram os EUA para a guerra. Foi a persistente política submarina da Alemanha que, em última análise, levou Wilson a levar a declaração de guerra para o congresso em 2 de Abril de 1917. Outros fatores, como a suspeita do envolvimento dos alemães com o México (através do Telegrama de Zimmermann), solidificaram o antagonismo da população contra a Alemanha.
Fontes de Referência
Dicionário Enciclopédico Brasileiro ilustrado - Editora Globo - 6a. Ed. 1958