Por Emerson Santiago |
O cerne do conflito está na gradual expansão britânica pelo sul do continente africano, em territórios previamente ocupados por descendentes de antigos colonos holandeses. Ao contrário da maioria dos outros entrepostos da Companhia das Índias Orientais Holandesa, colonos estabeleceram-se naquela parte do globo (holandeses em maioria, mas não a totalidade do grupo, que incluía ainda franceses, alemães e outros grupos étnicos). Tais colonos tinham como objetivo real ocupar e habitar as áreas em que residiam, diferentemente de muitos outros pontos do império holandês, e mesmo da colônia do Cabo, que eram praticamente meros entrepostos onde os indivíduos passavam determinado tempo antes de migrarem para outro ponto e continuar a atividade mercantil. Tanto é assim que a palavra “boer” significa “fazendeiro”, “cultivador”, e não era aplicado a todos os colonos do Cabo, somente àqueles que estavam no interior, na fronteira leste da colônia.
Com o passar do tempo, e a gradual ocupação britânica da colônia do Cabo, os bôeres optam por não se submeter à autoridade britânica e migram mais e mais para dentro do continente. Esses migrantes receberão o nome de “afrikaners” (africanos) ou “voortrekers” (migrantes, andarilhos). Desalojando muitas vezes as populações locais, os voortrekkers fundam várias repúblicas independentes na região nordeste da atual República da África do Sul, sendo as mais importantes as já mencionadas Transvaal e Orange.
Na segunda metade do século XIX, porém, com a corrida colonialista entre as potências europeias a pleno vapor, os planos de colonização do interior do continente africano são postos em prática pelos britânicos, culminando na anexação, em 1877, da República da África do Sul (Transvaal). Há ainda a guerra Anglo-Zulu em 1879, onde, após a vitória dos britânicos, o poderio inglês é ampliado às outras repúblicas. Com tal situação, os bôeres protestam, e em dezembro de 1880 estoura a guerra com a declaração formal de independência do Transvaal. Neste primeiro confronto os bôeres foram vitoriosos e conseguiram o reconhecimento do Transvaal como estado independente em março de 1881.
Em 1887 é descoberta a maior jazida de ouro do mundo próximo a Pretória, então capital do Transvaal. Assim, milhares de colonos britânicos passam a fronteira para buscar a riqueza em território boer. Os líderes britânicos sentem-se cada vez mais propensos a tentar a anexação das repúblicas bôeres. Tal ideia torna-se cada vez mais forte com a política bôer de taxar pesadamente a indústria do ouro.
Em setembro de 1899 o primeiro ministro britânico Chamberlain envia um ultimato às repúblicas exigindo direitosiguais aos cidadãos britânicos nos ganhos da prospecção de ouro. O presidente do Transvaal, Paul Kruger, na certeza de que a guerra era inevitável, lança em contrapartida seu próprio ultimato, para que os britânicos retirem em 48 horas suas tropas da fronteira do Transvaal, caso contrário, este entraria em guerra com os britânicos aliado ao Estado Livre de Orange. Assim, em 12 de outubro de 1899, estoura a segunda guerra entre Grâ-Bretanha e as Repúblicas Bôeres. Desta vez os britânicos são vencvedores, e o destino daqueles que tiveram propriedades e posses arrasadas são os campos de concentração criados pelas autoridades coloniais. Os bôeres rendem-se por meio do tratado de Vereeniging, onde era dado a eles 3 milhões de libras esterlinas em compensação e a promessa de um eventual governo, o estabelecimento da União da África do Sul em 1910. O tratado extinguiu as repúblicas bôeres e colocou seus cidadãos sob a autoridade do Império Britânico.
Bibliografia:
http://seculoxx.freewebpages.org/guerraboer.htm