Em junho completou-se o centenário do nascimento do capitão Jacques-Yves Cousteau. Reconhecido por ser um pioneiro na exploração dos oceanos, e também um visionário que instigou a imaginação de todos nós, Cousteau - e sua vida de aventuras em busca do maravilhoso - enriqueceu nossa percepção e apreciação do mundo submarino.
Foto de Thomas J. Abercrombie
Cousteau indica com um gesto o disco mergulhador, um submersível manobrável cuja propulsão é similar à de uma lula - a água entra pela frente e é expelida sob pressão na parte traseira. O veículo é considerado o primeiro submersível de pesquisa moderno.
"O mar é tudo. Ele cobre sete décimos do globo terrestre. É um imenso deserto, onde o homem jamais está sozinho, pois sente a vida fervilhando por todos os lados. O mar é apenas a face material de algo sobrenatural e maravilhoso. Ele é o lugar em que eu me sinto livre!"
Era isso o que movia esse capitão naval, explorador, inventor, engenheiro, naturalista, poeta e visionário nascido na França. O contato inicial de Jacques-Yves Cousteau com a National Geographic Society se deu em 1950, época em que era conhecido apenas como cineasta e inventor do aqualung, o equipamento de ar comprimido que revolucionou o mergulho. Sua intenção era a de que a NGS participasse de uma expedição de volta ao mundo que ele estava organizando. Cousteau já contava com o apoio de várias instituições francesas e tinha um barco que batizou de Calypso (em homenagem à ninfa da Odisseia homérica), um ex-caça-minas da Segunda Guerra Mundial que ele transformara em uma embarcação de pesquisa oceanográfica.
Havia, de fato, algo de fascinante nesse francês incrivelmente esguio, de sorriso largo e olhos tão imensos e cativantes. "Il faut aller voir", costumava dizer. "É preciso ir lá para ver."
Foi assim que a National Geographic Society embarcou no que devia então parecer uma aventura incerta. Cousteau, porém, nunca duvidou do resultado. "Não tenho a menor dúvida", afirmou com convicção gaulesa, "de que o nosso trabalho, com o apoio da NGS, vai ser muito produtivo." E ele estava certo: os anos de 1952 a 1967 acabaram sendo a época de ouro da fabulosa carreira de Jacques Cousteau.
Foi indo e vendo o que havia sob as ondas, sem depender de rede ou guincho para trazer à tona as criaturas mais inusitadas, que ele realizou suas primeiras façanhas. Na revista, inúmeras reportagens foram ilustradas com as fotos feitas por Cousteau e, em 1955, a NGS patrocinou a hoje lendária expedição do Calypso até os deslumbrantes e intactos recifes do mar Vermelho e do oceano Índico. O filme da viagem, lançado no ano seguinte com o título O Mundo Silencioso, dirigido por ele e Louis Malle, é possivelmente o documentário submarino mais influente já feito, tendo recebido prêmios, como o Oscar e o Prix d'Or do Festival de Cannes.
Em seguida, a NGS promoveu o encontro de Cousteau com Harold Edgerton, o inventor da fotografia com luz estroboscópica, e logo o professor e o explorador passaram a ser vistos no convés do Calypso, aperfeiçoando juntos câmeras para ser usadas nas profundezas do mar e o sonar eletrônico. Também conceberam um dispositivo que, arrastado muito abaixo do casco doCalypso, permitia que se fizessem fotos e filmes coloridos em profundidades de até 8 mil metros nos abismos oceânicos.
Por volta de 1960, Cousteau já era um famoso documentarista, e seu rosto, com o brilho visionário nos olhos, acabou estampado na capa da revista Time - a face de uma época igualmente entusiasmada com a exploração dos oceanos e do espaço sideral. E, assim como os primeiros astronautas desbravaram o "espaço exterior", os oceanautas de Cousteau mergulharam fundo no "espaço interior", usando um peculiar "disco voador" - uma nave de mergulho com capacidade para dois tripulantes, dez escotilhas de observação e um conjunto de equipamentos de sonar e câmeras de fotografia e cinema. Esse primeiro submersível de pesquisa manobrável foi concebido para explorar as plataformas continentais do planeta, que, na visão de Cousteau sobre uma era iminente do Homo aquaticus, logo estariam ocupadas por habitações humanas e cidades subaquáticas. Em seguida, ele conceberia edificações submarinas experimentais em profundidades que iam de 10 a 100 metros.
No entanto, coube à NGS proporcionar a ele a plataforma com repercussão mais ampla - a televisão. Maravilhado com os milhões de espectadores que assistiram a O Mundo de Jacques-Yves Cousteau, um programa especial da NGS transmitido pela CBS em 1966, Cousteau reconheceu ali outra fronteira a ser explorada. As filmagens haviam fascinado o explorador francês, que então concentrou todas as energias em O Mundo Submarino de Jacques Cousteau, a série que se manteve no ar por tanto tempo e tornou-se um ícone dos programas desse gênero, ainda hoje.
Aos poucos, Cousteau edificou um mito em torno de si. O sonho que o levou a fundar a Cousteau Society, em 1973, era, segundo ele mesmo, "encabeçar uma 'cruzada popular' - com o objetivo de interromper a destruição irresponsável de nossos sistemas vitais". Para ele, o "futuro da civilização depende da água". Assim tornou-se, nas palavras de um jornalista, "o defensor itinerante dos primórdios da consciência ambiental". Sua mensagem nunca foi tão atual: Cousteau lançou-se no périplo de sua vida ao sair em busca de aventura, e o encerrou inspirando gente de todas as partes a cuidar do planeta.
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