A Questão Irlandesa acabou abrindo espaço para a formação de grupos terroristas, como o IRA.
Nas últimas décadas, os irlandeses vivem uma conflituosa relação junto às leis que determinam a submissão do país ao domínio britânico. Sob a alegação das diferenças religiosas e culturais, um grupo irlandês terrorista chamado IRA (sigla em inglês para “Exército Republicano Irlandês”) vem atuando por meio de sequestros, assassinatos e outros atos de vandalismo que consolidaram uma tensa relação entre as autoridades britânicas e o país em questão.
Historicamente, a dominação britânica sob o território irlandês aconteceu durante o governo de Henrique II, no século XII. Nesse período, o processo de formação das monarquias nacionais e o problema da falta de terras motivaram esse processo de dominação que se concluiu com a assinatura do Tratado de Windsor. Por esse documento, ficava garantido o direito da Inglaterra em estabelecer as suas leis em território irlandês.
Chegando ao século XVI, momento em que as religiões protestantes afloravam, o estabelecimento da Igreja Anglicana na Inglaterra promoveu uma séria transformação nas relações junto à Irlanda. A maioria católica do território irlandês resistiu ao processo de conversão religiosa ao anglicanismo, imposto como meio de reafirmação da autoridade monárquica em seus territórios.
No século seguinte, essa rivalidade se ampliou quando o rei Jaime I implantou um projeto de colonização da região de Ulster, do qual os irlandeses foram claramente ignorados. A situação excludente acabou alimentando a realização de várias rebeliões entre as décadas de 1640 e 1650, quando as autoridades britânicas impuseram uma violenta repressão contra os revoltosos e repassou parte do território irlandês para produtores ingleses.
Atingindo o século XIX, os movimentos em favor da autonomia irlandesa ganharam significativa força com a disseminação das ideias liberais. No ano de 1829, um movimento de feição nacionalista conseguiu a conquista de alguns direitos civis, entre os quais se incluíam a ocupação de cargos públicos. Na metade do século XIX, essa mesma população sofreu com doenças e a fome, que juntas, mataram 800.000 irlandeses em um curto espaço de tempo.
No começo do século XX, o Sinn Fein (nós sozinhos) formou um novo movimento nacionalista, responsável pela eleição de vários representantes irlandeses no Parlamento Britânico. Impulsionados por esse desempenho, os integrantes do novo partido resolveram proclamar a independência unilateral da Irlanda, já em 1919. Em pouco tempo, os colonizadores da região de Ulster e a própria Coroa Britânica reagiram contra o pedido de autonomia política.
Após dois anos de confronto, os britânicos assinaram um tratado onde reconheciam a independência irlandesa no ano de 1921. No ano de 1937, a independência irlandesa foi reafirmada com a organização de sua primeira cara constitucional. Em 1949, os britânicos reconheceram a autonomia irlandesa e permitiram que a região do Ulster também se tornasse independente com a criação da Irlanda do Norte. No entanto, os conflitos estavam longe de acabar.
No início da década de 1920, o IRA aparece com suas ações terroristas que reivindicavam o completo fim da interferência britânica e a unificação completa de seu território. Por outro lado, os protestantes de origem britânica que ocupavam a região Norte repudiavam tal intento, já que temiam a represália dos católicos que dominavam o Sul. Dessa forma, a questão irlandesa passou a se desdobrar em um conflito político, contra os ingleses, e religioso, voltado contra os irlandeses do Norte.
Ao longo de todo o século XX, observamos que o confronto entre a Inglaterra e o IRA sugeria a extensão de um problema praticamente irresoluto. No entanto, a partir da década de 1990, o processo de integração das economias europeias, com o desenvolvimento da União Europeia, contribuiu significativamente para que essa guerra chegasse ao final.
Mesmo com as tentativas de aproximação e o próprio enfraquecimento dos movimentos radicais, a questão irlandesa ainda sobrevive na ação isolada de pequenos grupos que se utilizam do discurso de violência e autonomia que se desenvolveu ao longo do tempo. Apesar de uma ou outra manifestação, várias indicativas hoje, contribuem para que a questão irlandesa atinja o seu fim.
Por Rainer Sousa
Graduado em História
Equipe Brasil Escola
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