Podem chegar a dois mil os corpos dos japoneses encontrados na ilha do Pacífico, o maior achado da batalha da Segunda Guerra
João Loes
PARADEIRO
12 mil dos 21.570 japoneses mortos em
combate estão desaparecidos
Para as famílias de 12 mil soldados japoneses que lutaram e morreram na batalha pela ilha de Iwo Jima, palco de uma das mais sangrentas disputas entre Japão e Estados Unidos durante a Segunda Guerra Mundial, o conflito ainda não acabou. Sem os corpos de filhos, irmãos e pais, considerados desaparecidos depois da batalha, poucos conseguiram dar por encerrado o doloroso episódio. A luta no front durou 36 dias e se desenrolou entre fevereiro e março de 1945, ceifou as vidas de 21.570 japoneses e 6.821 americanos e foi retratada no cinema por Clint Eastwood em “Cartas de Iwo Jima” e “A Conquista da Honra”. Mas um novo desdobramento pode finalmente trazer conforto para as famílias japonesas que perderam entes queridos e assim colocar um ponto final numa guerra que para muitos já dura 65 anos.
Com base em um lote de documentos americanos que vieram a público recentemente, autoridades japonesas anunciaram a localização de duas valas coletivas usadas pelo exército aliado para depositar os corpos de soldados japoneses mortos durante a batalha. Um levantamento inicial feito pelo Ministério da Saúde japonês nos locais indicados, que ficam próximos a uma pista de pouso desativada, aponta que só nesses dois lugares, de onde foram desencavadas 51 ossadas, pode haver até dois mil dos 12 mil corpos perdidos. É o maior achado em Iwo Jima até hoje. “Sabemos que muitos cometeram o suicídio honroso para não ter de se entregar aos americanos”, diz Antônio Pedro Tota, professor de história da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Com a localização e o estudo das ossadas, quantificar esses casos pode ficar mais fácil.
É curioso perceber que, embora passados 65 anos do fim da Segunda Guerra Mundial, ainda há mistérios envolvendo o conflito em quase todas as suas frentes. Na Europa, por exemplo, a descoberta de valas coletivas com novas vítimas dos nazistas e da expansão soviética é comum. “Ainda vamos encontrar túmulos e ossadas por pelo menos mais meio século”, acredita o historiador César Campiani Maximiano, também da PUC-SP e autor do livro “Barbudos, Sujos e Fatigados”, que trata da participação brasileira na Segunda Guerra Mundial. Cético, ele acredita que boa parte dos achados não deve trazer grandes novidades e revisões da história, mas reconhece o valor do que se encontra. “Esses achados confirmam muitos dos relatos feitos por quem participou do conflito, além de comprovar políticas oficiais detalhadas em documentos já investigados pelos historiadores”, explica.
NO LOCAL
Vencedores da batalha, os americanos enterraram
seus mortos em um cemitério na ilha
Para as famílias, porém, receber os restos mortais de um ente querido não tem preço. Embora boa parte dos aparentados já tenha participado das homenagens em datas comemorativas da batalha de Iwo Jima – tanto os 21.570 japoneses mortos quanto os 430 sobreviventes são celebrados anualmente como heróis nacionais pelo país –, nada substitui a certeza do destino de um familiar. Como a ilha permanece fechada ao público desde 1945 por ser zona militar, o trabalho de rescaldo ainda não foi feito com tempo, dedicação e interesse necessários. Nunca é tarde, porém, para fazê-lo.
Fonte: