Patty Hearst: a incrível história da milionária que ingressou na guerrilha urbana.
Patty Hearst era uma jovem de família rica que, na década de 1970, desfrutava da imensa fortuna acumulada pelo seu avô William Randolph Hearst, milionário que inspirou o lendário Cidadão Kane. Em um belo e inesperado dia a jovem abastada teve seu apartamento em Berkeley invadido por integrantes do Exército Simbionês de Libertação (ESL), movimento de contracultura que dizia defender os oprimidos. Na ação, Patty acabou sendo seqüestrada.
O interesse no seqüestro atendia interesses imediatos do grupo ativista. Em um primeiro momento, os seqüestradores exigiam a libertação de dois integrantes da ação. Tendo o seu pedido negado, exigiram que a família de Patty distribuísse dois milhões de dólares para as famílias pobres da Califórnia. Depois de terem sua reivindicação atendida, os terroristas repetiram a dose exigindo o dobro do valor. No entanto, o seqüestro já havia perdido todo o seu sentido.
A guinada dessa história aconteceu quando Patty Hearst declarou publicamente que chegou a ser libertada pelos seqüestradores, mas preferiu integrar as fileiras do ESL. A declaração foi publicada junto de uma foto onde a garota de família milionária aparecia empunhando uma metralhadora, tendo o símbolo da ESL ao fundo. Em homenagem a uma namorada de Che Guevara, a nova integrante do grupo mudou seu nome para Tania Hearst.
Suas atividades tiveram início no dia 14 de abril de 1974, quando a ex-patricinha apareceu nas manchetes do mundo inteiro participando de um assalto a banco. A repentina mudança de atitude chegou a ser vista como uma espécie de distúrbio afetivo, conhecido como Síndrome de Estocolmo, onde vítimas de seqüestro acabam se apegando aos seus agressores. No entanto, Patty continuou a lutar por sua causa realizando outros assaltos à mão armada.
Nesse meio tempo, as autoridades norte-americanas trataram de perseguir os guerrilheiros em uma impetuosa caçada. No dia 16 de maio de 1974, um abrigo da ESL foi descoberto pelas autoridades e cercado por policiais. Depois de um extenso tiroteio, a casa dos guerrilheiros pegou fogo. Três terroristas foram mortos pela polícia, dois deles foram asfixiados pela fumaça do incêndio e o último cometeu suicídio. Patty Hearst estava foragida e acompanhou a derrocada de seus comparsas pela TV.
Depois disso, Patty e outros remanescentes do ESL continuaram a praticar assaltos e fugir das autoridades norte-americanas. Em abril de 1975, o grupo realizou um assalto onde uma mulher acabou sendo morta. De acordo com depoimento da própria guerrilheira, ela não teve participação direta neste assalto. Enquanto a terrorista não era capturada, diversos boatos davam conta de seu paradeiro. Certa vez, cogitou-se que Patty estaria reorganizando as atividades de seu grupo no Brasil.
No dia 18 de setembro daquele mesmo ano, Patty e seus comparsas, Steven Soliah e Wendy Yoshimura, foram presos na cidade de São Francisco. A partir de então, um badalado processo judicial incorreu contra a guerrilheira urbana que abandonou sua vida confortável. Ao longo do processo, defesa e acusação colocavam suas teses à prova. Afinal, Patty tinha sido coagida pelos terroristas ou simplesmente optou por uma aventura distante de sua vida previsível?
No final do julgamento, Patty Herast foi condenada a uma amarga pena de trinta e cinco anos de prisão. No entanto, a jovem milionária cumpriu somente dois anos de sua sentença. Através da intervenção direta do presidente dos Estados Unidos, Jimmy Carter, Patty teve sua pena aliviada por “razões humanitárias”. A surreal história de uma “rebelde com causa” chegava ao seu fim.
Por Rainer Sousa
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