Por Emerson Santiago |
O comércio de escravos existe praticamente desde o momento em que o homem deixou de ser nômade para se instalar e praticar a agricultura. Tal estilo de vida provou-se vantajoso, pois a sociedade evoluiria a partir deste conceito. Mas, desde sempre, a atividade agrícola exigiu trabalho rigoroso e dedicado, e quanto mais a comunidade crescia, mais se tornava necessário o emprego de braços para a lavoura, e era nos conflitos que se aprisionava a mão de obra tão necessitada por aquele povo. Com o passar do tempo, os hábitos se refinam, as coletividades vão desenvolvendo novos serviços, e as guerras também aumentam de proporção, aumentando o número, a utilidade e uso comercial do escravo. No Império Romano, por exemplo, eles se disseminavam entre a população, mesmo entre os mais humildes, e faziam todos os tipos de serviço para o próprio dono ou eram alugados. Além da escravidão pela guerra, desenvolveu-se entre gregos e romanos a escravidão por dívidas não pagas. Como muitas outras práticas e conceitos da cultura helenística, os árabes iriam adotar também a prática de negociar a vida humana. Portugal independente, influenciada pelos seus antigos senhores árabes irá herdar a prática e desenvolvê-la como nunca na história após o início de seu empreendimento de descobertas marítimas.
Os portugueses então, em meio às suas descobertas, vão percebendo a lucratividade em potencial de se apresar os povos “incultos” e “bárbaros” do continente africano. Acredita-se que o primeiro lote de escravos foi trazido em 1432 a Portugal pelo navegador Gil Eanes.
Mais uma vez, como haviam feito gregos, romanos e árabes, os europeus ocidentais iriam se utilizar da prática da escravidão como um investimento, que podia ser utilizado diretamente, emprestado, ou servir como mera moeda de troca, entrando até mesmo em testamentos.
Para transportar esta carga preciosa, navios com porões largos foram desenvolvidos, e neles eram literalmente despejados um enorme contingente, que viajaria durante meses em um ambiente fétido, escuro e sem espaço algum para se movimentar. Os navios eram entulhados de gente exatamente pelo fato de, durante a viagem, as condições nulas de higiene e saúde matarem cerca de 20 a 40% da carga humana. Um navio cheio ajudava a repor tal perda.
A trajetória destas embarcações se iniciava em algum porto africano, onde seus comandantes aguardavam pelo embarque da “mercadoria”, que era trazida pelos sócios africanos dos comerciantes de escravos; eram estes africanos que tratavam de buscar no interior do continente e aprisionar os povos que iriam encher os porões do barco. Eram separados propositalmente de suas famílias e membros de seus grupos, para evitar possíveis rebeliões. Iam amontoados e acorrentados, além de terem de fazer suas necessidades próximo onde passavam os dias. O alimento era despejado de cima da embarcação, sendo que a tripulação do navio não se importava se todos recebiam ou não a sua cota, que além disso, era a sobra do que os tripulantes do navio haviam consumido, incluindo até mesmo alimentos deteriorados ou então algo que não fora bem aceito.
Africanos de todas as idades, sexo e origens estavam presentes nestes escuros porôes, e em caso de morte, eram jogados ao mar, quase sempre depois de um tempo considerável, contribuindo para aumentar as terríveis condições de higiene presentes nestes porões.
Assim, os navios negreiros faziam o transporte de seres humanos cativos, que seriam comercializados em outras áreas, em especial no continente americano e na Ásia, fazendo parte de um comércio global.
É no fim do século XVIII e início do século XIX, que conceitos provenientes da fé religiosa, do humanismo (e mais tarde do iluminismo), e mesmo da lógica mercantil foram sendo reunidos como prova da inviabilidade da manutenção de tal comércio, que beneficiava poucos, e impedia muitos de serem iniciados na moderna sociedade que nascia. É então, que percebendo que a eliminação do comércio escravo seria mais lucrativo para a sua indústria nascente que a Grã-Bretanha promove o fim (muitas vezes pela força) do comércio escravo e de seu veículo nefasto, o navio negreiro.
Alguns comerciantes resistiriam ainda por um certo tempo, negando-se a abandonar tão lucrativa empreitada, mas, o tempo encarregou-se de mostrar que o negócio com a vida humana só atraso o avanço e progresso do homem.
Bibliografia:
MACHADO, João Luís de Almeida . Travessia Infernal. Disponível em: http://www.planetaeducacao.com.br/portal/artigo.asp?artigo=190 Acesso em: 09 jul. 2011.
SANTOS, Fabrício José dos; LANDIM, Thiago Marques . O tráfico nos Navios Negreiros. Disponível em: http://www.zbi.vilabol.uol.com.br/otrafico.html Acesso em: 09 jul. 2011.
JUNIOR, Antonio Gasparetto . Navios Negreiros. Disponível em: http://www.historiabrasileira.com/escravidao-no-brasil/navios-negreiros/ Acesso em: 09 jul. 2011.
Fonte: