Uma assinatura o tornou o homem mais odiado no Reich alemão. No dia 11 de novembro de 1918, como chefe da delegação alemã na França, ele havia assinado o acordo de paz que encerrou a Primeira Guerra Mundial. Três anos mais tarde, foi morto a tiros por um grupo extremista.
Num atentado anterior, em janeiro de 1920, Erzberger – então ministro das Finanças – ficara apenas ferido. No dia 26 de agosto de 1921, quando fazia uma caminhada durante as férias na Floresta Negra, foi morto por dois ex-oficiais da Marinha, integrantes da Organisation Consul, que logo fugiram para o exterior.
Retornaram mais tarde, beneficiados com uma anistia assinada pelos nazistas, que perdoava os "crimes cometidos em nome do interesse nacional". Já durante a República de Weimar, muitos consideraram o assassinato um "ato heróico".
O jornal luterano Christliche Welt chegou a observar: "É terrível a satisfação com que pessoas que se dizem cristãs aplaudiram a notícia da morte. Tranquilamente, celebram nas estradas, nos trens e em casa!"
"Traidor do povo"
O jurista Erzberger, principal inimigo da direita alemã na época, era deputado no Reichstag pelo Partido de Centro, de orientação católica. As inimizades iniciaram-se quando aceitou participar da comissão de negociação de paz. Em 1914, no início da guerra, ainda acreditava no potencial da Alemanha, mas, já em 1917, começou a defender a capitulação.
A gota d'água foi seu discurso de rejeição do pedido de crédito para financiar a máquina de guerra, em julho de 1917. A direita ficou em polvorosa quando ele sugeriu que seria mais barato construir hospícios para os "loucos" da direita alemã do que continuar financiando a guerra.
O vice-chanceler Karl Helfferich jamais o perdoou por isso. Ainda mais que o "traidor do povo" havia permitido que a dívida nacional aumentasse de 5 bilhões para 153 bilhões de Reichsmark. Foi iniciada uma campanha de debilitação moral, em que o acusaram de perjúrio e sonegação de impostos, enquanto ocupava o Ministério das Finanças. O processo não resultou em nada, mas sua imagem política sofreu um grande desgaste.
Erzberger estava desacreditado diante da opinião pública e renunciou ao Ministério. Em junho de 1920, foi reeleito deputado federal, mas foi morto antes de assumir o cargo, no ano seguinte. Seus assassinos foram condenados somente depois de 1945, a 12 e 15 anos de prisão.
Fonte:DW