O cavalo de Troia é certamente a imagem mais conhecida da guerra entre gregos e troianos.
Durante a guerra entre esses povos, o herói grego Odisseu, também conhecido como Ulisses, bolou um plano para os soldados gregos conseguirem entrar na cidade de Troia: a construção de um gigantesco cavalo oco de madeira que foi abandonado a poucos metros dos portões de Troia.
Os troianos encontraram o cavalo, que seria uma suposta oferenda a Posêidon, o deus dos mares, e pensaram que os gregos haviam desistido de invadir a cidade e ido embora. Assim, levaram o cavalo para dentro da cidade e comemoraram a suposta vitória até altas horas. O que eles não sabiam é que os soldados gregos estavam escondidos dentro do cavalo de madeira.
Durante a madrugada, enquanto os troianos dormiam, os soldados gregos saíram de dentro do cavalo e abriram os portões para o resto do exército grego que estava do lado de fora. O plano de Odisseu foi um sucesso: os gregos conseguiram entrar em Troia e venceram a guerra.
Presente de grego
Daí nasceu a expressão "presente de grego", que é usada para se referir a um presente dado com más intenções ou que, ao invés de nos deixar felizes, causa frustração. Nos dias de hoje, "cavalo de Troia" (ou trojan,, em inglês) também é o nome de certos vírus de computador que, escondidos em e-mails e sites acessados pelos internautas, conseguem invadir o computador, causando prejuízos.
O episódio do cavalo de Troia foi reproduzido em diversos livros e filmes, dentre os quais, "Troia", a superprodução de Hollywood estrelada por Brad Pitt, no papel do guerreiro grego Aquiles, e Eric Bana, no papel do herói troiano Heitor. No entanto, do ponto de vista dos historiadores, esse episódio é também um dos mais duvidosos. Em primeiro lugar, porque a guerra de Troia é um tema polêmico entre os historiadores, pois alguns até duvidam que essa guerra tenha mesmo acontecido, não passando, na visão deles, de pura lenda.
Evidências da guerra de Troia?
Se a guerra de Troia aconteceu mesmo, o tal cavalo de madeira não teria deixado vestígios, pois teria sido destruído pelo fogo quando os gregos atacaram a cidade. Por último, mas não menos importante: ao contrário do que muita gente pensa, o episódio do cavalo de Troia não é narrado no texto original de a "Ilíada", o famoso poema atribuído a Homero.
O nome do poema veio de Ílion, como Troia era chamada pelos gregos. A "Ilíada" é o texto mais antigo que fala da guerra de Troia, mas não é o único. Entre as outras obras produzidas na Antigüidade que também falam da guerra, podemos destacar "As Troianas", peça escrita pelo grego Eurípides (480-406 a.C.); a "Odisseia", também atribuída a Homero, e a "Eneida", poema do poeta romano Virgílio (70-19 a.C.) que conta a história do herói troiano Enéias e mostra os troianos como fundadores de Roma. Nestes dois últimos textos é que o famoso cavalo é citado.
A imaginação dos poetas
Se apenas a veracidade do episódio do cavalo de madeira fosse duvidosa, as polêmicas em relação ao conflito entre gregos e troianos não passariam desse ponto. Na verdade, a guerra de Troia é um dos assuntos que mais gera discussões entre os estudiosos e a maioria delas envolve questões muito mais complexas.
Talvez, a maior delas seja saber se a guerra de Troia aconteceu mesmo ou se tudo não passa de produto da imaginação de poetas gregos.
Isso mesmo: "poetas", no plural. Embora a autoria de a "Ilíada" tenha sido atribuída a Homero, a maioria dos estudiosos acredita que, pela própria extensão da obra, o mais provável é que ela seja a compilação de narrativas orais que foram contadas de geração para geração séculos antes de o poema ser escrito.
Além disso, a própria existência de Homero é contestada. O poema seria obra de um poeta anônimo, que, por sua vez, inspirou-se nas narrativas orais de poetas anteriores. Seja como for, nada disso tira a importância que a obra tem para a história da literatura no Ocidente.
Heinrich Schliemann
Durante séculos, a história da guerra de Troia foi considerada apenas uma lenda. Isso mudou quando o arqueólogo alemão Heinrich Schliemann (1822-1890), um rico ex-comerciante de tecidos, que decidiu dedicar os últimos 20 anos de sua vida à busca pelas ruínas da lendária cidade de Troia. Ele acabou encontrando as ruínas de uma antiga cidade em Hissarlik, localidade da atual Turquia, próxima ao mar Egeu.
Heinrich Schliemann
As escavações acabaram revelando que o local foi ocupado em diferentes períodos, em cada um desses períodos uma cidade foi construída e destruída, no período seguinte, uma nova cidade era construída. Daí a cidade mais antiga ser chamada pelos arqueólogos de Troia 1, a segunda de Troia 2 e assim sucessivamente.
As Oito Troias
Ao todo, foram encontradas as ruínas de oito períodos diferentes: os primeiros cinco períodos são da Idade do Bronze (por volta de 3000 a 2000 a.C.), sendo que a chamada Troia 5 foi destruída, ao que tudo indica, por um terremoto. Troia 6 teve uma curta existência, tendo sido destruída por um incêndio. Há indícios de que esse incêndio não tenha sido acidental, mas causado intencionalmente por invasores. A data de sua destruição foi por volta de 1000 a.C., o que sugere que seja a Troia descrita em a "Ilíada".
Hoje os estudiosos dividem-se em dois grupos: de um lado aqueles que acreditam que as ruínas encontradas na Turquia sejam mesmo de Tróia, do outro, aqueles que a consideram uma lenda e que, portanto, deveria ser banida dos livros de História. Seja como for, os gregos antigos acreditavam que a guerra de Troia tinha acontecido mesmo e tal como narrada em a "Ilíada".
O valor histórico das lendas
Por isso, mesmo que a história dessa guerra não passe de lenda, o poema ainda possui valor para os historiadores, pois, saber em que determinado povo acreditava também é importante quando estudamos o passado. Exemplo disso são os deuses que aparecem no poema e tomam partido na guerra. Afinal, os deuses são criados à imagem e semelhança dos povos que os veneram.
Também ficamos sabendo por meio dos herois que aparecem no poema, quais eram os valores mais admirados pelos gregos. Podemos concluir, por exemplo, que os gregos valorizavam a astúcia no combate e o elemento surpresa como estratégia de batalha. Vale notar que em a "Ilíada", a guerra não é mostrada como uma luta entre o bem e o mal.
Cada um dos lados da guerra tem seus próprios heróis, embora apenas um deles saia vitorioso: Heitor, o herói troiano é morto durante um duelo com Aquiles, o guerreiro grego. Talvez, essa seja uma das razões de porque a narrativa encanta gerações: virtudes e defeitos podem ser encontrados em todas os personagens, o que os torna mais humanos, e a derrota ou a vitória é muito mais questão de sorte ou de habilidade do que de virtude.
Fonte: www.matematicaporedvarton.com.br