Uma das mais duradouras heranças da Revolução Francesa foi uma confiança ilimitada no poder da vontade humana: acreditava-se que, para resolver qualquer problema, bastaria que o indivíduo tivesse uma fé cega no próprio taco. Napoleão e seus bisnetos Mussolini e Hitler foram grandes exemplos de personagens históricos que acreditaram, acima de tudo, em si mesmos.
NAPOLEÃO BONAPARTE
Nasceu em Ajaccio, na ilha mediterrânea da Córsega, em 1769, ano em que a ilha foi conquistada pela França. Muitos inimigos seus na França diriam mais tarde que ele era um estrangeiro, acusando-o de ter nascido em 1768, quando a Córsega ainda não era francesa. Seu pai, Carlo Buonaparte, aliou-se aos franceses e ocupou altos postos na administração local. Graças à ajuda do governador francês da Córsega, Napoleão pôde cursar a escola real de Brienne e, mais tarde, a Escola Militar Real de Paris. Lá, sua habilidade com a matemática ficou conhecida, e ele juntou-se ao corpo de artilharia, uma espécie de elite intelectual do exército, cujo nível educacional era melhor, e o sangue menos azul, do que o da alta nobreza que dominava o exército francês. Quando veio a Revolução Francesa, Napoleão a recebeu com entusiasmo.
Sua família estava totalmente envolvida com a política local na Córsega, e era esperta o suficiente para fazer parte da ala favorável à França. Em 1793, a Inglaterra ocupou a Córsega, e sua família foi exilada para o porto francês de Toulon. Essa cidade rendeu-se a uma esquadra inglesa logo em seguida, e Napoleão teve a sorte de ter seu plano de contra-ataque aprovado pelo governo francês da época, a Convenção. Toulon foi reconquistada, e Napoleão tornou-se conhecido como um general de artilharia que tinha grande mérito. Em 1794 Napoleão foi preso, por causa de suas conexões políticas, mas logo foi solto quando o governo da Convenção caiu e o Diretório, muito menos radical, entrou no seu lugar. Quando houve uma rebelião contra o novo governo em Paris, o general comandante das forças leais ao Diretório, Barras, chamou Napoleão para comandar a artilharia do governo. A rebelião foi derrotada e Napoleão foi promovido a major-general, como prêmio pelos seus serviços.
Em março de 1796, Napoleão recebeu o primeiro comando realmente importante de sua carreira: o Diretório, confiante em suas habilidades, nomeou-o para liderar o exército francês que lutava na Itália. Houve quem dissesse de Napoleão que, como ele naquela época havia se casado com a célebre Josefina, que tinha sido amante do general Barras, esse deu o comando na Itália a Napoleão como presente de casamento. Mas isso é uma fofoca histórica.
Na Itália, Napoleão venceu uma série de batalhas, mas foi só depois da vitória contra a Áustria, em Lodi, que ele passou a considerar-se, segundo suas próprias palavras, um homem superior, destinado a realizar grandes coisas. Já nesta época Napoleão tinha tanto prestígio, e suas vitórias davam tanto dinheiro à França, graças aos saques, que ele sentia-se poderoso o suficiente para desafiar o governo do Diretório, quando ambos discordavam sobre algum assunto.
Depois da Itália, Napoleão foi para o Egito, aonde fez o famoso discurso para seus homens ao lado das pirâmides. Os franceses sofreram uma dura derrota na batalha do Nilo, e Napoleão acabou voltando para a França, quando soube que a Itália havia sido perdida. O governo do Diretório pensou em prendê-lo, por ter abandonado seu exército; mas Napoleão já era tão popular, que nada foi feito contra ele. Os franceses estavam cansados de governos revolucionários, queriam estabilidade; Napoleão parecia-lhes ser o homem certo para botar ordem na casa. O Diretório acabou sendo derrubado, e Napoleão tornou-se ditador da França, com o título de Cônsul, copiado dos romanos.
Napoleão travou novas batalhas na Itália, e suas vitórias em 1796 e 1797 tornaram-no famoso em toda a Europa; seu estilo de guerra era uma novidade completa: Napoleão fazia o possível para que seus soldados andassem muito mais rápido do que os do inimigo; mobilidade era sua grande característica.
Para Napoleão, lutar bem significava andar muito; um bom soldado tinha que ser alguém capaz de agüentar longas marchas. Além disso, seus exércitos eram compostos de cidadãos, e não apenas de soldados profissionais, como os dos adversários; os franceses não eram tão bem treinados quanto o inimigo, nem tinham tanta disciplina; em compensação, tinham muito mais iniciativa.
A França foi o primeiro país da Europa aonde o exército deixou de ser uma casta militar vivendo à margem da sociedade; todo francês podia ser convocado para o exército; um dos lemas herdados da Revolução Francesa foi: todo cidadão é um soldado. Por isso a França, o país mais populoso da Europa na época, com mais ou menos o mesmo número de habitantes que a Rússia, podia colocar em armas quase tanta gente quanto todos os seus adversários juntos somados. O próprio Napoleão chegaria a se gabar, mais tarde, que poderia dar-se ao luxo de perder 30 mil homens por mês, uma quantidade absurda de baixas, na época...
Na Itália, Napoleão teve uma de suas primeiras vitórias consideradas imortais, na Batalha de Marengo. Uma série de batalhas e campanhas seguiu-se até que, em 1804, Napoleão sagrou-se Imperador dos franceses. Uma ano depois, em Austerlitz, Napoleão venceu um exército maior do que o seu, composto por soldados austríacos e russos; foi a mais "clássica" das batalhas napoleônicas.
Como escreveu Peter Paret sobre a Batalha de Austerlitz: Nada parecido com esses eventos havia acontecido em anos anteriores. O tamanho dos exércitos dos dois lados era apenas incomum; mas a velocidade e a energia das operações francesas foi única, bem como a habilidade do Imperador no uso da diplomacia e da força para destruir, em poucos meses, o equilíbrio de poder tradicional na Europa. O choque sentido pelos soldados e governos foi profundo; seus efeitos ainda poderiam ser sentidos na confusão e falta de ímpeto no ano seguinte [1806], que contribuíram para a destruição do exército prussiano nas batalhas de Jena e Auerstadt, ajudando a carregar o poderio francês até as portas da Rússia.
A maneira como Napoleão comandava seus exército tinha outras características que vinham de sua personalidade: ele próprio era responsável por todas as decisões mais importantes, o que assegurava completa unidade de comando.
Napoleão era um mestre em atiçar a vaidade de seus soldados, como ele mesmo disse: Todos os homens que valorizam sua vida mais do que a glória da nação não devem fazer parte do exército francês.
A 32a. Brigada de infantaria seria capaz de morrer por mim porque, depois da Batalha de Lonato, eu falei: "a 32a. estava lá, por isso eu estava tranqüilo". O poder que as palavras têm sobre os homens é espantoso.
A força moral, mais do que os números, é a verdadeira responsável pela vitória. Além disso, Napoleão não seria apenas comandante do exército francês; ele seria Imperador dos franceses; desta forma, ele não só podia comandar os soldados, como também tomar todas as decisões políticas importantes, decidindo quando e com quem a França faria a guerra, e por quais motivos. Na história francesa, ele não só foi influentíssimo por causa de seus feitos militares, mas também por causa do que fez na administração civil, incluindo-se aí as leis que estão no Código Napoleônico. Napoleão interessava-se tanto pela política e literatura quanto pela guerra, e considerava-se tão bom governante quanto general. Quanto à literatura, Napoleão era um escritor de segunda categoria, na melhor das hipóteses; até seu admirador Stendhal, esse sim um grande escritor, considerava as Memórias de Napoleão um saco, de tão chatas.
Como disse A.J.P. Taylor de Napoleão: "a lenda napoleônica nunca teria existido, se ela dependesse apenas do que ele escreveu".
Entre 1803 e 1805, Napoleão preparou o melhor exército de toda sua vida, o "Exército da Inglaterra", destinado à invasão daquele país. Se a Inglaterra não tivesse a sorte de ser uma ilha, provavelmente teria sido feita em pedaços; mas a grande derrota naval francesa em Trafalgar, em 1805, pôs por terra o sonho de uma invasão da Inglaterra, coisa parecida com o que aconteceria com Hitler quase 150 anos mais tarde. As vitórias contra os austríacos e russos em 1805, e contra os prussianos em 1806, deixaram Napoleão sem rivais em solo europeu. Mas do outro lado do Canal da Mancha estava o eterno inimigo que não podia ser alcançado.
Napoleão tinha o hábito de pensar antecipadamente como seriam suas guerras e batalhas, e só entrava em combate depois de haver feito um planejamento bastante preciso do que deveria ser feito, o que incluía possíveis modificações em seus planos iniciais, em resposta às ações do inimigo. Ele fazia bastante uso de espiões e patrulhas de cavalaria, procurando sempre descobrir com antecedência o que o inimigo estava fazendo e, se possível, os planos adversários. Napoleão gostava de atacar sempre, e nunca deixava o inimigo derrotado recuar em ordem, mandando seus soldados perseguir o inimigo para que ele não pudesse recuperar-se. Depois de uma batalha ele sempre dava aos seus soldados os parabéns pela vitória, mas nunca os deixava descansar; ao contrário, mandava que eles perseguissem o inimigo, para que este se desorganizasse, ficando sem poder receber reforços ou novos suprimentos e reiniciar a luta.
Se essa foi uma época de rápidas mudanças nas táticas e na maneira como os exércitos eram comandados, por outro lado os armamentos pouco mudaram. Napoleão, no início um general da artilharia, chegou a pensar em pedir que os canhões franceses, que já eram bons, fossem modernizados. Mas essa mudança não ocorreu. Há quem diga que as épocas de rápida mudança tecnológica não são um ambiente apropriado para o aparecimento de gênios...
Em toda a sua carreira, Napoleão nunca lutou uma batalha apenas se defendendo; ele amava atacar. Ele, como Montgomery, sempre deu bastante importância à concentração máxima de forças no lugar mais importante do teatro de operações, e desprezava os generais medrosos que dispersavam seus soldados por muitos lugares, na tentativa inútil de querer defender "tudo".
Seja como for, os especialistas enxergam pelo menos três sérios defeitos no jeito que Napoleão comandava seus exércitos:
a) Como ele decidia tudo, os outros não mandavam nada; sem Napoleão, seus exército ficavam impotentes; praticamente nenhum outro general francês teve a chance de desenvolver por completo suas habilidades militares, já que Napoleão não deixava nada de importante para eles. Com o passar dos anos, os inimigos da França foram aumentando, e seus exércitos tornaram-se maiores e melhores. As operações militares ficaram cada vez mais complexas, e nem Napoleão seria capaz de planejá-las sozinho. Nessa hora passou a fazer cada vez mais falta um grupo de oficiais experientes que pudessem planejar as batalhas antecipadamente (o que os exércitos chamam de Estado-Maior). O exército francês, como o de todas as potências, também tinha o seu Estado-Maior, mas esse nunca apitou nada.
b) O grande erro político de Napoleão foi com relação à Inglaterra, seu inimigo número um. A Inglaterra foi o primeiro país do mundo a industrializar-se, e precisava do mercado europeu para vender seus produtos, principalmente tecidos. Como Napoleão queria que a indústria francesa, mais nova e mais fraca, se desenvolvesse, ele fez o possível para fechar a Europa aos produtos ingleses, o que foi chamado de Sistema Continental.
A família real portuguesa, por exemplo, veio para o Brasil porque os exércitos de Napoleão invadiram Portugal como castigo pelo fato dos portugueses ainda estarem negociando com a Inglaterra. Mas esse tipo de ação transformou a guerra de Napoleão contra a Inglaterra, numa guerra de Napoleão contra toda a Europa. Tão logo Napoleão tinha uma vitória, os ingleses conseguiam juntar um novo grupo de países, em coligações, para enfrentá-lo de novo. Napoleão, com o passar dos anos, passou a ser considerado o Tirano, cuja derrota seria indispensável para que os povos da Europa tivessem paz novamente.
c) Napoleão era um ditador. Um ditador, mesmo que não seja dos mais desumanos, tem tanto poder em suas mãos, é responsável por tantas decisões e atos mais ou menos arbitrários, que acaba quase sempre tornando-se um símbolo vivo de tudo o que há de pior no mundo. Um inimigo do governo é inimigo do ditador, e vice-versa; um inimigo da França tornava-se um inimigo de Napoleão, e um soldado francês que estuprava uma mulher de um outro país era um filhote de Napoleão fazendo propaganda negativa de seu Império. Se Napoleão mandava assassinar um inimigo político, ou quebrava um acordo de paz, ou enviava seus soldados para saquear e oprimir um país inimigo, todas essas coisas acabavam juntando-se e formando uma multidão de inimigos que tudo fariam para derrotá-lo.
No início da era napoleônica, as tropas francesas até chegaram a ser recebidas em alguns lugares, inclusive na Itália, como libertadores. Beethoven e Goethe, os maiores artistas da época, ambos alemães, eram admiradores do Imperador francês.
Porém, com o passar dos anos, Napoleão foi adquirindo, aos olhos dos povos inimigos, a imagem de ser o pior de todos os monarcas, e de nada lhe adiantaria casar-se, pela segunda vez, com uma princesa da família dos Habsburgo, da mais tradicional nobreza européia. Somando todos os prós e contras, o historiador holandês Pieter Geiyl escreveu:
Ele era um conquistador com quem era impossível viver. Ele sempre acabava transformando um aliado num servo, ou pelo menos achava que o relacionamento com seus aliados deveria funcionar acima de tudo a seu favor. Napoleão gostava de disfarçar seu anseio por conquistas com uma cortina cheia de frases bonitinhas sobre Progresso e Civilização. Foi ele quem, em nome de toda uma Europa que pensou achar nele uma chance de ter paz e tranqüilidade, fingiu que era a Inglaterra quem perturbava a todos e era inimiga de todos.
Como o próprio Napoleão disse de si mesmo: No exterior e na França eu só consigo governar graças ao medo que inspiro.
Uma grande novidade que Napoleão trouxe ao exército francês foi quando ele criou a Guarda Imperial, em 1810. Essa seria a elite do seu exército, planejada para ter cem batalhões (cerca de 80 mil homens).
A Guarda tinha todas as armas do exército em si: cavalaria, infantaria e artilharia. Sua moral e companheirismo sempre foram elevados. Mas os melhores homens da Guarda foram perdidos na desastrosa retirada da Rússia, em 1812, morrendo na neve.
A campanha contra a Rússia foi o grande desastre que mudou tudo: como os russos achassem que não seria mais de seu interesse continuar vivendo sem poder negociar com a Inglaterra, Napoleão organizou mais uma de suas expedições militares, desta vez para puni-los. Para isso foi organizado o Grande Exército, 600 mil homens dos melhores, que deveriam acabar com a raça dos russos.
Os russos enfrentaram Napoleão usando o sistema tradicional deles: apesar de não conseguirem vencê-lo na Batalha de Borodino, e mesmo tendo Napoleão conseguido ocupar a cidade de Moscou, os russos não fizeram as pazes com ele, porque sabiam que o tempo, e o General Inverno, estavam a favor deles. O exército francês não poderia vencer um adversário que recusava-se a se reconhecer derrotado; como a Rússia sempre foi muito longe da França, "longe de tudo", o exército francês foi ficando sem abastecimentos, e teve que recuar.
A volta dos franceses, no inverno, foi uma catástrofe: no total os exércitos napoleônicos tiveram mais de 400 mil baixas, e nunca mais seriam tão fortes.
Napoleão ainda lutaria grandes batalhas em 1813 e 1814, mas seus inimigos acabaram conseguindo invadir a França, forçando-o a renunciar ao trono de Imperador em abril de 1814, e a ser exilado na ilha de Elba. No ano seguinte, enquanto a Europa decidia seu futuro político no Congresso de Viena, Napoleão fugiu de Elba, chegando de volta a França em março de 1815.
Desta vez a resposta de seus inimigos foi rápida: Napoleão mal teve tempo de preparar um novo exército, às pressas, e já teve de enfrentar seus inimigos em novas batalhas, sendo derrotado na célebre Batalha de Waterloo, em 18 de junho de 1815. Ele novamente foi forçado a renunciar ao trono, mas dessa vez foi preso na ilha de Santa Helena, a milhares de quilômetros da Europa.
A família Bonaparte era bastante numerosa, e muitos dos irmãos ganharam reinos inteiros do Imperador. José Bonaparte recebeu a Espanha de presente, e seu irmão Luís, o reino da Holanda. Nenhum deles deu-se bem como monarca. Até mesmo os generais de Napoleão herdaram sua "mania de reinar"; um deles, Murat, morreu tentando conservar seu Reino de Nápoles. A capacidade de Napoleão para trabalhar era lendária; se seus homens não morressem nas guerras, o mais provável é que teriam todos morrido de cansaço; só no seu período como Cônsul, Napoleão escreveu mais de 80 mil cartas.
E a maior parte de seus homens o amavam: Napoleão tornou-se tão popular entre os marinheiros e oficiais do navio inglês que o levou para o exílio em Santa Helena, que o comandante do navio ficou com medo que fizessem um motim para libertá-lo!
Napoleão, como a maior parte das grandes figuras históricas, era um homem complexo e difícil de julgar; dentro de si, ele possuía, em quantidades extraordinários, a maior parte das qualidades e defeitos do gênero humano: ele podia ser cruel e sangüinário, mas também competente e trabalhador; o duque de Wellington, que venceu Napoleão em Waterloo, dizia que a presença do Imperador no campo de batalha valia por um exército de 40 mil homens; uma das heranças mais revolucionárias deste período foi o novo nacionalismo que tomou conta da Europa: a Prússia, derrotada de forma humilhante pelos franceses em 1806, acabaria passando por uma espécie de ressurreição, até transformar-se no poderoso Império Alemão de 1871, que seria o futuro pesadelo dos franceses.
Depois de tudo somado, e como disse Pieter Geyil em seu livro sobre o que os historiadores franceses disseram de Napoleão: "a discussão ainda continua".
Existem mais de cem biografias de Napoleão; a de Jean Tulard, Napoléon ou le Mythe du Sauveur (Paris, Fayard, nouvelle édition, 1987) é uma boa biografia moderna, crítica e bastante ponderada. Dos biógrafos de Napoleão, talvez o mais famoso tenha sido Georges Lefebvre, cujo livro Napoléon teve sua primeira edição em 1935, em Paris, e foi reeditado pelo eminente historiador francês Albert Soboul em 1953, e republicado numerosas vezes.
O historiador holandês Pieter Geyil escreveu um livro excepcional sobre o que os historiadores franceses disseram de Napoleão, traduzido para o inglês como Napoleon: For and Against (Harmondsworth, Middlesex: Penguin Books, 1989 repr.).
Na época de Napoleão não havia cinema ou TV; foi através de quadros e gravuras que sua imagem difundiu-se pelo mundo da época; dos pintores que retrataram Napoleão, nenhum o fez com tanto sucesso quanto Jacques-Louis David, cujos melhores quadros podem ser vistos em David, número especial da coleção Connaissance des Arts (Paris: Societé Française de Promotion Artistique, 1989).
Felix Markham escreveu o excelente artigo "The Napoleonic Adventure", capítulo XI do volume IX da New Cambridge Modern History (Cambridge: Cambridge University Press, 1980 repr.), um resumo com tudo de mais importante sobre a vida de Napoleão, e sua influência na Europa e no mundo. A citação sobre a Batalha de Austerlitz que aparece acima, foi retirada do artigo "Napoleon and the Revolution in War", de Peter Paret, que aparece na excepcional coletânea Makers of Modern Strategy (Princeton: Princeton University Press, 1986), editada pelo próprio Paret.
Existe toda uma literatura sobre a "revolução na arte da guerra", que ocorreu entre 1790 e 1805, nascida da Revolução Francesa, da qual Napoleão foi o herdeiro. O livro de J.F.C. Fuller, The Conduct of War: a Study of the Impact of the French, Industrial and Russian Revolutions on War and its Conduct (London: Methuen, 1979 repr.) é um dos mais populares sobre o assunto. Michael Howard escreveu uma introdução concisa e abrangente sobre a história da guerra na Europa, a excelente War in European History (Oxford: Oxford University Press, 1976).
O incansável A.J.P. Taylor reuniu sua crítica à edição das Memórias de Napoleão no livro Europe: Grandeur and Decline (Harmondsworth, Middlesex: Penguin Books, 1967), junto com seu artigo sobre o livro de Pieter Geyil, Napoleon: For and Against, citado acima.
Eric Hobsbawn, com certeza o mais eminente historiador "marxista" vivo, escreveu um livro que é um panorama abrangente da era em que Napoleão viveu: The Age of Revolution 1789-1848 (New York: Mentor Books, 1962); traduzido no Brasil como A Era das Revoluções (Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1979).
Para a Revolução Francesa, o livro Cidadãos: Uma crônica da Revolução Francesa (São Paulo: Companhia das Letras, 1989) de Simon Schama, é o que há de melhor.
O próprio Napoleão disse de si mesmo: "que romance é a minha vida"; talvez ninguém tenha descrito Napoleão de maneira tão bem-feita como o grande escritor russo Leão Tolstói. Napoleão aparece no romance Guerra e Paz logo no começo da segunda parte do livro; Tolstói usa seu gênio literário para mostrar um Napoleão imensamente vaidoso e convencido de si mesmo; é inesquecível a cena aonde Napoleão mente que os poloneses irão fornecer-lhe cerca de duzentos mil soldados para o ajudarem a esmagar a Rússia, "lutando como leões".
O próprio Tolstói, para escrever as cenas da Batalha de Borodino que aparecem em Guerra e Paz, inspirou-se no livro do escritor francês Stendhal, A Cartuxa de Parma, aonde o herói "participa" da Batalha de Waterloo, que lhe parece só uma imensa bagunça, aonde ele acaba sendo roubado e jogado de seu cavalo por gente que ele não entende se são soldados ou ladrões. O próprio Stendhal escreveu uma Vie de Napoléon. A Batalha de Waterloo também faz pano de fundo para o famoso livro Vanity Fair, do escritor inglês W.M. Thackeray.
Por ter-se tornado um dos personagens mais conhecidos da história universal, Napoleão teve uma "carreira" no cinema mais longa e bem-sucedida que a de John Wayne; o primeiro filme sobre ele apareceu já no terceiro ano (1897) de vida do cinema:Entrevue de Napoléon et du Pape, dos próprios irmãos Lumière, os inventores da "sétima arte".
Marlene Dietrich estreiou no cinema em Der kleine Napoléon, filme alemão de 1923. Em 1927 apareceu o grande clássico Napoléon, de Abel Gance, com Albert Dieudonné no papel. John Ford fez o filme Napoleon's Barber em 1928. Houve vários filmes sobre a Batalha de Waterloo, e sobre o personagem o Conde de Monte Cristo, do livro de Alexandre Dumas, em que Napoleão "faz uma ponta". Ele também está nos filmes Désirée (1954), Guerra e Paz (1955, versão americana e francesa), Guerra e Paz (1967, versão russa), Love and Death, de Woody Allen (1974), Bandits, de Terry Gilliam (1982), entre dezenas, talvez centenas, de filmes.
Fonte: www.escolavesper.com.br