23.5.12

Guerra Fria, bipolarização e os Estados Unidos no Irã



Por Cristiano Pereira dos Santos

Com o fim da segunda guerra o Oriente médio se tornou um dos centros de confrontos da chamada guerra Fria, a União Soviética aumentou sua presença na região, pois temia uma frente de resistência formada por Irã, Turquia e Afeganistão que em 1937 firmaram um acordo que ficou conhecido como Pacto de Sadabad acordo sob forte influência alemã, mesmo assim não impediu a ocupação e a divisão da região pela Grã-Bretanha e a União Soviética.



Com os Britânicos saqueando o país e produzindo desigualdades sociais, a classe trabalhadora ganhando centavos, sem direitos a férias, água encanadas, vivendo em condição sub-humana, cresceu um nacionalismo e revolta uma busca por mudanças no setor prolífero queriam que os Britânicos partilha-se 50% dos lucros com pois os iranianos tinham apenas 16%, outra reivindicação era que os cargos mais altos fossem ocupados por Iranianos, utilizando como exemplo o acordo entre EUA e a Arábia Saudita.


Mossadegh era então chefe da Frente Nacional, organização política fundada em 1949 que militava pela nacionalização da indústria petrolífera, na época sob dominação britânica, bem como pela democratização do sistema político. Essas duas questões empolgavam a população e a Frente Nacional tornou-se rapidamente o principal ator da cena política iraniana. Gasiorowski, Mark O golpe da CIA contra o Irã artigo publicado no le monde em 11 de Setembro de 2007.

Por conta das pressões internas, uma política de desenvolvimento fracassada e a saída das tropas estrangeiras do país, uma onda de descontentamento popular foi gerada e culminou na ascensão de Mohammed Mossadegh ao cargo de primeiro ministro em 1951. Mossadegh era um político aristocrata que encabeçava uma campanha pela nacionalização do petróleo iraniano. Integrante de uma coalizão de partidos políticos conhecida como Frente Nacional, transformou-se em um severo crítico à parceria do Irã com o Ocidente nas questões referentes à principal riqueza do país, o petróleo.

Sob o governo de Mohammed Mossadegh o petróleo é nacionalizado e em 1951 descobriu-se um golpe contra ele por parte dos Britânicos que acabou rompendo relações diplomáticas, expulsando todos os seus representantes e nesse momento o EUA entra para assumir uma maior relevância e presença no Irã e na região.

Com o presidente americano Harry Truman que em nome da auto-determinação dos povos buscou-se fazer com que os ingleses aceitassem esse processo, pois essa era a principal arma americana para substituir a Grã Bretanha na região.

Nesse período o presidente americano já advertia o Xá para uma necessidade de melhora na condição de vida do povo iraniano, mas, o Xá estava somente preocupado em tornar o Irã a maior potencia militar da região. Apesar de mobilização popular em prol de liberdades democráticas e reformas, o movimento popular nacionalista começa sua queda um ambiente perfeito para que houvesse ações da Grã-Bretanha e Estados Unidos.

Americanos e Ingleses aumentaram suas investidas na intenção de derrubar do primeiro ministro que era o principal entrave nos negócios entre o Xá e as potencias estrangeiras, houve a contratação pessoas para ações de vandalismos, controle da opinião publica boicotes a importação do petróleo iraniano sob alegação de que o ministro estaria inclinado a atacar os interesses ocidentais, os embargos ao Irã foram provocando uma queda significativa nos rendimentos, prejudicando séria mente a economia do país armas usadas para preparar um golpe ao ministro nacionalista.

Com essas ações provocou-se no país uma series de protestos que desestimularam os apoiadores do primeiro ministro o levando a fugir, desde o inicio das manifestações o Xá havia fugido do país retornou com o caminho aberto para governar de forma ditatorial.


Unidades militares anti-Mossadegh começaram imediata-mente a tomar posse de Teerã, apoderando-se de estações de rádio e outros pontos sensíveis. Travaram-se intensos combates, mas as forças favoráveis ao primeiro-ministro finalmente foram vencidas. Gasiorowski, Mark O golpe da CIA contra o Irã artigo publicado no le monde em 11 de Setembro de 2007.

O Iraque vizinho ao Irã rompeu relações com a União Soviética e fez acordos com Grã-Bretanha, Irã e Turquia e Paquistão, para o desenvolvimento de bases militares para garantia da exploração de petróleo em toda a Região.

Na década de 60 o Xá seguiu sua política de modernização com uma policia política forte a temida Savak que foi criada com o apoio dos Estados Unidos e Israel, no Irã, o Xá implantou um programa de reforma agrária que beneficiava os donos de terras com enormes compensações e incentivo a investirem no país, muitos tiveram suas pequenas propriedades tomadas levando milhões ao êxodo para as cidades grandes e os transformando em mão de obra barata para o projeto de industria-lização do país.


Nossa Revolução branca tem suas raízes em uma revolução semelhante, sem sangue realizado por Ciro, há 2500 anos. Ele construiu seu império e, em uma única geração o consolidou como uma entidade socioeconômica e cultural que estabeleceu um novo padrão moral, com valores e vida civilizados. Reza Xá Pahlevi apud GORDON, Mathew. Os Grandes Líderes: Khomeini. RJ: Nova Cultural, 1987. Pg.42

Na década de 60 o Xá promoveu aquilo que ficou conhecido como Revolução branca, que visava uma limitada reforma agrária, eleições para conselhos locais e o permissão de voto às mulheres sem nenhuma abertura política.


Não quero dizer que meros erros e fracassos tenham conde-nado as formas recentes que o xá queria dar a modernização. É verdade que todos os grandes esforços levados a cabo pelo regime desde 1963 estão sendo rejeitado, por todas as classes. Foucault p. 322 apud Afary, Janet. Foucault e a revolução Iraniana: as revoluções de gênero e a sedução do islamismo. p. 140- 141

Para Foucault a política do Xá foi desastrosa não só os grandes proprietários estavam descontentes, mas os pequenos agricultores também, pois este tomava empréstimos para desenvolver a terra recebida e depois eram forçados a migrar para os grandes centros.

Suas ações políticas acabavam sempre beneficiando uma elite urbana e esquecendo os que viviam afastados nas zonas rurais que não possuíam luz elétrica ou água encanada, em lugar de investir em políticas sociais o Xá investia em tecnologia militar de ponta em pouco tempo tornou-se o maior comprador de material bélico dos Estados Unidos ao ponto do presidente americano Richard Nixon dizer que o Xá era um estadista de primeira linha (Gordon1987) e acreditar que o Irã seria uma espécie de policial do golfo pérsico. A presença americana cresceu muito ao ponto de controlar mais de 40% da companhia de petróleo Iraniana e no governo de Nixon através de seu assessor para assuntos estrangeiros Henri Kissinger que considerava o Irã como um elo decisivo do sistema de aliança dos Estados Unidos com o Oriente Médio e policia da região do golfo pérsico.

O Xá lançou um projeto de lei para os conselhos das províncias proibindo o uso de véus, promoveu censuras ao clero e invasões a escolas religiosas, outra lei que gerou revolta foi a que não era necessário ser do Islã para ser eleito no país.
Nesse período também houve uma articulação entre os principais países produtores de petróleo na criação da Organização dos países exportadores de petróleo – OPEP, que buscavam impedir o rebaixamento dos preços do petróleo por parte do cartel das grandes empresas ocidentais. A OPEP também teve um papel importante no evento em que ficou conhecida como a guerra dos seis dias que ocorreu na região.

Vários eventos ocorreram nesse período que provocaram mudanças signifi-cativas na região do golfo pérsico e um aumento no preço do petróleo mundialmente e o Irã se beneficiou de tudo isso o que chovia dólares sobre as classes dominantes em especial, sobre os governantes.


Em 71 o Xá deu um banquete em comemoração aos 2.500 anos de formação do Império Pérsia fundado por Ciro a festa foi realizada na antiga capital Persépolis capital essa fundada por Ciro enquanto reis, princesas, atores atrizes, cantores e os mais importantes do cenário político internacional festejavam o povo e princi-palmente os religiosos estavam indignados com os acontecimentos foram às manifestações muitas delas terminavam com repressão violenta.

Na década de 70 mais de 300 mil pessoas migravam para as cidades e isso impactava a produção agrícola e criando uma carência de infraestrutura, serviços médicos e escolas sem contar o desemprego.
Com mais da metade do orçamento destinados a armamentos e crescimento urbano gerou-se inflação aumento das favelas e um duro golpe na classe traba-lhadora que não conseguia pagar aluguel, comprar comida e que em sua maioria deveriam ser importada, pois o Irã perdera com essa migração das populações para os grandes centros sua a autonomia agrícola.
Com declínio das condições sociais, classe média, trabalhadores, camponeses e religiosos se transformaram em movimentos de massas revolucionários.

Por: Cristiano P. Santos - Bacharel em Relações Internacionais

Bibliografia:
COGGIOLA, Osvaldo, 1950 A revolução iraniana - SP UNESP, 2008
GARASIOROWSKI, Mark O golpe da CIA contra o Irã artigo publicado no le monde em 11 de Setembro de 2007.
GORDON, Mathew. Os Grandes Líderes: Khomeini. RJ: Nova Cultural, 1987. Pg.42
Foucault p. 322 apud Afary, Janet. Foucault e a revolução Iraniana: as revoluções de gênero e a sedução do islamismo. p. 140- 141




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