No dia 18 de junho de 1952, após um grupo de oficiais nacionalistas do Exército derrubar o rei Faruk por meio de um golpe de Estado, o general Mohammed Nagib proclama a República do Egito.
A última página da história da monarquia egípcia foi virada um ano antes da proclamação da república. Com um golpe militar pacífico, os chamados “oficiais livres” tomaram o poder no dia 23 de julho de 1952, destituindo o rei Faruk. Contudo, após uma série de acalorados debates, os golpistas decidiram não condenar o monarca à morte, mas sim envia-lo ao exílio na Itália.
O antigo rei não poderia jamais retornar ao país, embora a monarquia continuasse existindo oficialmente. Uma junta foi então designada para substituir o monarca, apesar de a coroa ter se esvaziado de todos os poderes. O governo ficou sob o comando dos “oficiais livres” que há tantos anos lutavam pela libertação do Egito da tutela britânica e do domínio aristocrático.
Membros de várias correntes políticas formavam a Sociedade dos Oficiais Livres: socialistas, nacionalistas e até participantes da organização islâmica Irmandade Muçulmana. A liderança era exercida por Gamal Abdel Nasser, filho de um funcionário público, que, após sua formação na Academia Militar começou a recrutar forças revolucionárias entre seus correligionários. A exemplo de Nasser, esses oficiais provinham de famílias simples e construíram na Academia Militar, fundada por ingleses, a nova elite do país.
O pano de fundo da insurreição foi, por um lado, a rejeição aos ingleses e, por outro, a intenção de proclamar a “verdadeira independência egípcia”. Essas mesmas razões haviam levado parte dos militares a simpatizar, durante a Segunda Guerra Mundial, com a Alemanha nazista.
O grande desafio para os novos detentores do poder foi a fundação de Israel em 1948. O Estado Judeu foi encarado como uma provocação dos países colonizadores e entendido como manobra para garantir influência no Oriente Médio.
A derrota na primeira guerra contra Israel (1948-1949) não foi exatamente considerada uma vergonha, mas foi creditada à má vontade e à incapacidade do rei em enfrentar o conflito. O regime corrupto de Faruk teria sido responsável pela aquisição de armamentos ineficazes, o que teria contribuído para a derrota do Egito. A luta contra a corrupção foi uma das principais tarefas empreendidas pelos oficiais e um dos motivos que levaram à revolução em 1952.
O general Muhamed Nagib, que, após o golpe, tornou-se o número um do Conselho do Comando Revolucionário, afastou Nasser do centro de decisões. Nagib, então com 51 anos, era o mais velho e gozava de boa reputação entre os oficiais mais novos, principalmente por ter sido um crítico feroz no período pré-revolucionário.
Os oficiais tentaram iniciar os trabalhos em conjunto com os políticos do país. Pouco tempo depois, Nagib alertava para o perigo de uma nova ditadura, uma vez que muitos dos responsáveis pela corrupção do governo anterior continuavam em seus postos. Sete “comitês de limpeza” demitiram 800 civis e cem militares até agosto de 1953.
Entretanto, logo surgiram divisões entre os militares, que os levaram à disputa acirrada pelo poder. Nagib, contrário à ideia de que os militares assumissem todos os negócios do governo, afastando por completo o papel dos civis, prezava por sua imagem e influência como figura emblemática da revolução. Em fevereiro de 1954, eclodiu o enfrentamento entre Nagib e Nasser. Este saiu vitorioso, tirou o poder das mãos de Nagib e assumiu o controle total do Estado.
A tentativa de resistência de Nagib fracassou. Seu prestígio entre a opinião pública serviu, quando muito, para salvá-lo do pior, uma vez que foi condenado à prisão domiciliar para o resto de sua vida.
A política nacionalista de Nasser o levou a construir a grande represa de Assuã. No plano externo, nacionalizou o Canal de Suez em 1956 e provocou uma grave crise internacional. Com isso, se afirmaria como um dos líderes dos países do Terceiro Mundo. Perdeu a Guerra dos Seis Dias para Israel em 1967. Em setembro de 1970 faleceu e foi sucedido por Anwar el Sadat.
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