Competidores, familiares, técnicos... todos deveriam prestar juramento perante imagens de deuses gregos
Foto: Aris Messinis/AFP
Apesar de assinalarmos 776 a.C. como o ano dos primeiros jogos (equivalia ao ano zero no antigo calendário grego) em Olímpia, na Grécia Peloponésica, ninguém sabe o ano exato dos seus começos. As pistas literárias e arqueológicas que dispomos indicam que eles derivaram dos jogos fúnebres que os guerreiros gregos organizavam entre si em homenagem a um heroico companheiro morto em combate. Logo, suas raízes são remotíssimas e datam de século absolutamente incerto.
A trégua olímpica
"A verdadeira meta da luta é, sem dúvida, a vitória em si, e ela, sobretudo se alcançada em Olímpia, era considerada como a mais sublime da terra, já que garantia ao vencedor aquilo que no fundo era a ambição de todo o grego: ser, segundo a expressão de Eliano, admirado em vida e celebrado na morte."
Jacob Burckhardt - História da Cultura Grega, vol. IV.
Conta a tradição grega que a cada aproximação dos jogos olímpicos, um dos quatro jogos esportivos que ocorriam na Grécia (outros eram disputados em Delfos, Nemene e Corinto, ditos jogos ístmicos), um emissário, chamado de spondorophoroi, percorria as regiões da Hélade e anunciava nas cidades a trégua, a ekcheiria (que significava "aperto de mãos"), momento sagrado em que todos, mesmo os que em guerra estivessem, deveriam baixar e guardar as armas para competirem pacificamente nos embates esportivos que se davam em Olímpia, na região da Elida, situada no noroeste do Peloponeso.
E assim obedeciam porque os jogos eram dedicados a Zeus, o deus-pai de todos os gregos, e não de uma divindade local qualquer. Acreditavam que o mensageiro peregrino, um arauto com um grande bastão que andava de cidade em cidade, era um porta-voz da deidade e que suas palavras clamando pela paz necessária eram-lhes sopradas pelo próprio todo-poderoso Senhor do Olimpo.
Em pouco tempo, gregos vindo da Ática (Atenas), da Eubéia, da Beócia, da Fócida, do istmo de Corinto, da Grécia Jônica, de Creta, da Lacedemônia (Esparta), de Argos, da Arcádia, de Lócris, da Messênia, da Élida, de todas as ilhas do Egeu, e até do exterior, chegados da Sicília e do sul da Itália, apresentavam-se na pequena vila de Olímpia, para o grande agón - a luta, a disputa. Aqueles atletas todos, vindos de 300 lugares diferentes, lá estavam na esperança de poder subir no pódio como vencedores. Ocasião em que ostentavam frente ao público, que por vezes chegava à 40 mil espectadores, a coroa feita com ramos de oliveira que os juízes colocavam sobre sua testa ao término de uma prova em que se consagravam.
O juramento a Zeus
Nas vésperas das disputas, os parentes dos competidores, seus treinadores, os aurigas e, depois, eles próprios, apresentavam-se na Sala do Conselho para prestar um juramento coletivo. Ali se comprometiam a manter a mais completa lisura durante o procedimento esportivo. Nada de falsidades ou de subornos, nada de tentar maldosamente afastar ou eliminar um concorrente perigoso.
Juramento este que era obrigatoriamente estendido aos fiscais e aos 10 juízes que formavam os quadros olímpicos. Para reforçar as penalidades advindas de uma possível delinquência, o interior da sala do juramento sagrado estava repleta com estátuas de Zeus. Em todas elas ele empunhava um ameaçador raio com que, acreditavam eles, o soberano dos céus, fulminaria o infrator.
Para se garantir ainda mais da sinceridade das coisas, era leitura obrigatória da parte dos concorrentes alguns versos elegíacos intimidadores que estavam afixados numa placa de bronze aos pés do Deus do Juramento. Talvez o seu conteúdo, do juramento e da ameaça, não fosse muito diferente daquele registrado por Homero (A Ilíada, Canto XVIII), quando Agamêmnon diz "(...) que os deuses me castiguem, enviando-me os tormentos com que castigam o que peca contra eles jurando em falso".
Feito isso, dava-se o sinal para que os antagonistas se apresentassem no cenário das provas.
Entrada do estádio de Olímpia usado para os jogos na antiguidade
Foto: Getty Images
Evidentemente não há nenhuma precisão quanto ao início das práticas que levaram aos Jogos Olímpicos, mas é inquestionável a importância que eles adquiriram na cultura grega desde que se efetivaram no século VIII a.C.. Tanto é que o registro do primeiro deles, quando Coribos venceu a primeira rupestre, que pelo nosso calendário teria ocorrido no ano de 776 a.C., passou a ser o marco inicial do calendário grego.
As lendas que envolveram seus começos são muitas. Numa delas, Zeus, ainda bem jovem, hospedado por Cronos-pai (o tempo), resolveu disputar-lhe o poder. Vencido o rei do tempo, a jovem divindade que o sucedeu teria organizado os jogos para que os mortais registrassem sua coroação, escolhendo como local da celebração exatamente aquela região da Élida. Noutra, a iniciativa teria partido de Hércules (Héracles), o gigante grego, um forçudo, que para estimular seus cinco irmãos, chamados de Curetes, à guerra, teria organizado as primeiras provas.
Tendo a competição tido início, possivelmente, com o diaulos, uma corrida a curta distância, depois as provas se diversificaram, aumentando os desafios. A iniciativa de coroar o vencedor com um ramo de oliveira colocado na cabeça do bem-sucedido seria sugestão de Hércules.
Por outro lado, a construção original do templo de Olímpia fora erguida em homenagem a Cronos, não a Zeus, visto que este teria usurpado o edifício para si. Provavelmente os jogos olímpicos resultaram de uma evolução natural, sendo costume antiquíssimo organizar essas disputas nos momentos fúnebres, quando um grande herói era cremado e depois sepultado.
Não se pode deixar de destacar que nenhum outro povo da antiguidade deu tanta ênfase às práticas do esporte e ao culto da exuberância e perfeição física como fizeram os gregos, sendo os primeiros que edificarem um local específico para competirem entre si, ao tempo que Olímpia passou a ser um monumento vivo para celebrar a beleza anatômica dos atletas, o seu desempenho, e sua capacidade fenomenal de superar-se nas provas.
Não foi sem razão que a partir do século VI a.C. (acredita-se que em 558 a.C.) os vencedores passaram a ser objeto de atenção dos escultores. Deste modo, eles foram elevados à categoria dos mitos, dos heróis imortais e por que não, de deuses.
Os jogos homéricos
Um dos melhores e mais sucintos relatos desses jogos fúnebres existentes na literatura grega foi deixado pelo próprio Homero (Ilíada, Canto XXIII), cultivado pelos tempos a fora por sua veracidade e emoção narrativa. Tendo incinerado Pátroclo, depois de um funeral bárbaro cheio de vítimas, humanas e animais, imoladas em sua honra, Aquiles, o maior herói grego, tratou de promover as competições em homenagem ao seu escudeiro morto em combate.
Mandou então que trouxessem dos seus barcos as caldeiras, os trípodes sagrados, touros, bois, mulas, armas, ferro, baixelas de prata, belas e prendadas escravas e alguns talentos de ouro. Seriam os prêmios dados aos vencedores da competição que se faria ao longo da área onde estava o acampamento dos gregos. Não tardou para que cinco guerreiros, empunhando as rédeas dos seus fogosos corcéis, dessem a partida para uma sensacional corrida equestre pela planície de Tróia. Em meio às areias e as nuvens de pó que as rodas das bigas levantavam os demais guerreiros à sombra, numa arquibancada improvisada, faziam a algazarra das torcidas enquanto alguns apostavam, até que despontou ao longe a testa de lua branca do cavalo avermelhado de Diomedes, o vencedor da prova e do prêmio.
Corridas, lutas e provas
No relato feito pelo imortal poeta constam praticamente todos os elementos que acompanhavam um desafio daquele tipo, desde a descrição dos animais e a decoração de alguns carros, até os conselhos que um pai, atuando como treinador, dá ao seu filho. Em seguida, Aquiles, presidindo os jogos e distribuindo prêmios, estimula a que se faça prontamente a luta de murros, a qual foi vencida por Epeio; a luta livre (hoje chamada de luta greco-romana) terminou empatada entre Ulisses e Ajax; uma corrida de velocidade foi ganha por Ulisses, com o auxílio da invocação da deusa Palas Atenéia; uma luta de gládio, que opôs Ajax ao feroz Diomedes; o lançamento de peso, ganho folgadamente por Polipetes, enquanto uma precisa flechada num pombo deu um dos prêmios a Meriones. A prova derradeira daquela jornada, o lançamento de dardo, Aquiles achou por bem cancelá-la, distribuindo os regalos finais a Agamemnon e a Meriones.
Naquelas páginas de Homero estão presente todos os jogos que se travavam então: a corrida de bigas, a luta de murros, a luta-livre, a corrida de velocidade, o choque do gládio, o lançamento de peso, de dardo e o arco e flecha. Com o passar do tempo outras variações vão sendo acrescentadas (corrida à longa distância, competições com carros puxados só por potros, só com éguas, com cavalos e mulas, etc) nos diversos jogos disputados depois na Grécia, mas, basicamente, as modalidades eram sempre as mesmas.
Atenas
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Durante 1.170 anos, os gregos e, bem mais tarde, os romanos, reuniram-se no vilarejo de Olímpia para desafiarem-se uns aos outros em todos os tipos de modalidades. A época dos jogos olímpicos era considerada sagrada, jurando todos obedecerem a uma trégua. Era o momento em que as armas descansavam, mas as pernas, mãos e músculos, se mexiam. O poeta Píndaro, morto provavelmente no ano de 438 a.C., foi um dos mais celebrados cantores dos feitos daquela época.
Um soberano do verso
"O homem é o sonho de uma sombra / Mas quando é atingido pela luminosidade de Zeus acerca-se dos homens um brilhante resplendor / e doce como mel torna-se a sua vida."
Píndaro - Píticas, VIII, 95-7, século V a.C.
O poeta era um assombro. Andava pelas cortes de reis e de tiranos gregos como se fosse um deles. De fato, Píndaro sentia-se também um soberano, era um dos grandes, um perito dos versos. Foi uma raridade, um homem de letras financeiramente bem sucedido. Dizem que tuteava os monarcas da Sicília ou da Grécia a quem, por vezes, dizia coisas que ninguém ousaria sequer pronunciar.
Nascido em Tebas, provavelmente em 522 a.C., arrastava sua lira para todos os lugares da Hélade. Ainda que, num momento de derrotismo, chegou a pregar a rendição para os persas (quando, em 480 a.C. as força de Xerxes invadiram a Hélade), ele não deixou de ser bem acolhido. Píndaro, um ultraconservador, um aristocrata, talvez imaginasse que o domínio estrangeiro de um imperador asiático pusesse fim ao domínio que as plebeias democracias exerciam sobre as cidades-estados da sua época.
As três graças de um homem
Mas não eram os tronos, nem as cortes, muito menos a política o que mais o fascinava. Acima de tudo, Píndaro amava era o agón, a luta, a competição, ir assistir os jogos esportivos. Caminhando pelas palestras onde os atletas se preparavam para as provas, e misturando-se a eles nos ginásios onde os exercícios se davam - escutando ao fundo os relinchos nervosos dos cavalos de corrida -, é que ele sentia-se em casa.
Para ele, um homem, em sua vida, podia ser atingido por uma das três graças: ser poeta, ser bonito ou vencer uma corrida. Ver aquelas máquinas musculares em ação, besuntadas em óleos e em essências, competindo, se distendendo, dando o máximo de si, era, para ele, um abençoado pela lira de Orfeu, testemunhar um dos momentos mais sublimes da existência humana.
A vitória olímpica é a melhor
Quando Agláia, a graça da glória, fazia com que um dos atletas vencesse, nada mais importava para ele no restante da sua vida. Ali, ainda arfando, suando, erguendo no pódio a testa ornada com a coroa dos ramos da oliveira, o homem chegava ao seu êxtase máximo. Alcançava os céus. Sentiam-se como os deuses deviam sentir-se no Olimpo. Ele mesmo transformava-se num deus!
Que interessavam afinal as guerras? Se valor nelas houvesse, porque tantos gritos, tanto sangue, tanto pavor nos olhos dos combatentes, e tão lúgubre o manto da morte que cobria os caídos.
Não! A vitória em Olímpia (ou nos outros jogos disputados em Delfos, em Nemea e Corinto, também chamados de ístmicos) ofuscava tudo o mais. Era no momento de bem-aventurança do atleta que Píndaro era atingido pelo "transe anímico", provocado por Eufrósina, a graça da sabedoria poética. A musa enviava-lhe sinais, palavras soltas aqui e ali como gotas, imagens que apareciam e sumiam no mesmo instante, por vezes ao dia, outras, na calada da noite. Repentinamente aquele turbilhão começava a tomar forma. Intuía o próprio som da harpa que sempre o acompanhava e que estranhamente inundava o ambiente com sua presença mágica. O transe então amansava, o encanto se fora - o poema estava pronto. Um deles dizia:
"A água é o melhor de tudo / e o ouro que brilha como durante a noite no resplandecente fogo / constitui a fama de riqueza de um grande senhor / mas, coração, se queres falar de prêmios não busque seu brilho num astro qualquer dos mais quentes dos desertos do céu."
As exigências de Zeus
Recomposto, Píndaro marchava para outro jogo, para outra parte da Grécia, para novos campos do agón, atrás do soberbo combate travado pelos homens, entre si e contra si mesmo, para imortalizá-los nas suas Odes. O herói dele era o imenso Hércules que, segundo dizia uma das tantas lendas, organizara a primeira diaulos, a corrida a curta distância que fizera disputar entres seus cinco irmãos, nos arredores de Olímpia, na Elida peloponésica. Não tardou para que Zeus, vaidoso, exigisse que aqueles super-homens, que tentavam imitá-lo duelando entre si nas provas pedestres ou equestres, erguessem um templo para celebrá-lo. E assim foi feito.
Com o passar dos anos, provavelmente desde que fora registrada a primeira disputa, em 776 a.C., um complexo fantásticos de construções religiosas, palácios e alojamentos, foram erguidos em Olímpia. Para erigir a estátua do supremo todo-poderoso contratou-se ninguém menos do que o divino Fídias. Aprontado o colosso em ouro e marfim, o próprio escultor, embevecido, pediu ao tronitoante que lhe enviasse de imediato um sinal. Lá dos altos, dos mais elevados cimos, contava a lenda, partiu então um raio que esburacou o chão do templo. Até Zeus maravilhou-se com sua própria estátua!
Ser homem é superar-se
Em Olímpia, por doze séculos seguidos, até a supressão dos jogos ordenada em 393 pelo imperador cristão Teodósio (*), os homens rivalizaram-se, exibiram-se, vangloriaram-se, arremedando os deuses na sua interminável busca de glória num festival cósmico, onde o sobrenatural e sobre-humano se congraçaram. Os atletas, na verdade, eram os filhos de Sísifo condenados para sempre a terem que se superar, a fracassarem, a novamente se levantar, e, altivos, tentarem alcançar de algum modo a linha da chegada com decência e honra. Por isso entende-se Nietzsche ter dito pela boca do profeta Zaratustra ser o homem uma ponte e uma corda. Sempre uma ponte a ter que atravessar, a ter que se superar, sempre uma corda a esticar e a romper.
(*) Durante muitos séculos, imperadores romanos fizeram questão de, por vezes, assistirem os jogos olímpicos do Peloponeso, desde 146 a.C., transformada na província romana da Acáia. Nero, por exemplo, dado a ter dons artísticos, em 67-68, fez questão de inscrever-se nas competições de canto, arrebatando vários prêmios frente a adversários arranjados. O motivo dos sacerdotes cristãos pressionarem para o fim dos jogos devia-se não só a eles lembraram o passado pagão, mas também a um problema ideológico mais amplo. A Olimpíada celebrava o corpo e não o espírito, os jogos enalteciam o orgulho do vitorioso e não a humildade e a resignação dos vencidos. É significativo que os jogos só fossem restabelecidos no Ocidente pelas mãos do barão Pierre de Coubertin na época do apogeu do positivismo (1880-1914), no ano de 1896, doutrina cientificista que se opunha ao cristianismo.
Termos olímpicos:
Agon, agonia: Luta, combate, disputa, visão competitiva que a nobreza tinha da existência. Também se entendia como a assembleia do povo que vigiava a lisura dos jogos olímpicos.
Akon, ankyle: dardo, medindo 1,80 m., utilizado para lançamento à distância.
Apene: um carro de corridas puxado por duas mulas.
Apobates, anabates: o condutor que vai armado conduzido a biga e que dela salta para ir correr, por vezes leva junto um companheiro.
Diaulos: uma corrida a pé que obrigava ao atleta dar duas voltas no estádio.
Diskos: o disco lançado à distância pelo discóbolo.
Dolichos: corrida a longa distância.
Embolon: a divisão feita com pedra ou madeira que separava uma pista da outra nas corridas de carruagens.
Ekcheiria: a trégua obrigatória durante a duração dos jogos olímpicos.
Gymnasium: local onde os atletas nus (gymna) faziam os exercícios.
Halter: O halteres, na forma de uma pequena bola, um peso a ser arremessado.
Heraia: corrida feminina realizada em Olímpia em homenagem a deusa Hera.
Herakles (Hércules): herói grego com força extraordinária, encarregado dos doze trabalhos.
Himantes: tira de couro de boi usada para esmurrar.
Himation: um manto.
Hippios: corrida de curta distância.
Hippodrome: local para corridas de cavalos.
Palaestra: local onde os atletas preparavam-se para a competição.
Pankration: luta livre, hoje chamada luta greco-romana.
Pentathlon: competição que envolve cinco modalidades (corrida, salto, dardo, disco e luta), inventada pelo lendário Jasão, o argonauta.
Spondoroforoi: mensageiro que anunciava a trégua e a data dos jogos olímpicos por toda a Grécia.
Stadion: inicialmente uma unidade de medida equivalente a 600 pés (1.800 m) que terminou dando nome ao local das corridas.
Strigil: instrumento para raspar a pele depois do banho, para remover os vestígios da competição na terra e na areia.
Synoris: equivalente a uma biga, carruagem com dois cavalos atrelados.
Tetrippon: carruagem de corridas puxadas por quatro cavalos ou potros.
Theokoleon: residência sacerdotal.
Bibliografia:
Burckhardt, Jacob. Historia de la cultura griega, Barcelona Editorial Ibéria, 1947, 4 vols.
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Swaddling, Judith. Ancient Olympic Games. Londres: British Museum Press, 2004.
Young, David C. BRIEF HISTORY OF THE OLYMPIC GAMES. Londres : John Wiley Trade, 2004.
A origem da Olimpíada: Grécia, virtude e beleza
Gregas interpretam tradicional dança com os arcos que simbolizam a Olimpíada
Foto: Getty Images
Ao que se saiba, nenhum outro povo do passado ou mesmo do presente valorizou a aliança entre a virtude e o vigor físico como o fizeram os gregos antigos. Criaram inclusive uma palavra composta - Kalokagathia - para resumir o ideal humano que tinham em mente. Kálos significa 'belo', Ka, é 'bom', e, por fim, Agathos, está ligada à virtude e à coragem. E esta concepção ideal do ser humano materializou-se tanto nas esculturas e pinturas como no estímulo às guerras e aos Jogos Olímpicos e outras competições que eram praticadas por todo mundo helênico.
O conceito de virtude
Ensina Werner Jaeger (em Paidéia) que foi a gradativa distinção entre as classes sociais, aceleradas depois dos Tempos Homéricos, e o aumento da escravidão entre os gregos, que fez por inflar a obsessão da casta aristocrática (sentindo-se herdeira dos guerreiros e dos heróis imortais) por se distinguir cada vez mais dos outros.
Ainda que ocorresse a eventual substituição na cidade-estado da camada dirigente, a que sucedia, a 'nova classe', por igual herdava os valores da sua antecessora. Mesmo que mais tarde, a partir do século V-IV a.C., houvesse adesão à democracia, Atenas sempre se orientou pelos valores maiores dos aristói ('dos melhores'). Nunca uma ética 'burguesa' predominou entre eles durante o regime popular (para tanto basta consultar os autores trágicos que sempre trataram em suas peças das famílias reais e nunca das comuns).
Não havia dúvida que a nobreza era a 'fonte espiritual pela qual nasce e se desenvolve a cultura de uma nação'. Foram nos Tempos Homéricos (1200 - 800 a.C.) que encontramos as primeiras raízes da celebração do 'homem superior', do 'homem perfeito' que passou ser o modelo do escol da raça na cultura ocidental.
Evidentemente que a procedência disto - a matriz literária de tudo - encontra-se nos dois grandes poemas de Homero: a Odisseia e a Ilíada.
O soberbo vate narrou uma quantidade excepcional de situações (são mais de 27 mil versos) nas quais a virtude do guerreiro aflorava e se destaca em meio à massa dos combatentes anônimos. Não faltavam exemplos; além de Aquiles, Pátroclo, Diomedes, Ajax, Ulisses, o troiano Heitor, e tantos outros mais, eram a prova da existência do 'homem excepcional', do 'fora do comum', devido à valentia, ao destemor pessoal e à absoluta indiferença deles frente à morte.
Cunharam a expressão Aretê, não somente para definir tal excepcionalidade como também para utilizá-la para classificar a superioridade de seres não humanos (como no caso dos deuses). Nenhum escravo ou theta(trabalhador braçal) poderia ser dotado de Aretê. Se por acaso alguém das castas inferiores emergisse para uma posição de destaque na cidade-estado, deus retirava-lhe metade da Aretê, fazendo com que ele deixasse de ser quem era antes.
Isto em razão da virtude, tanto a do corpo como a do espírito, ser um atributo próprio dos aristói, da nobreza governante. Somente ela apresentava a força, capacidade, saúde, vigor e percepção intelectual, além de ser admirada na comunidade em geral pelo respeito que impunha, pelo prestigio que gozava e do bom senso que a orientava. E, certamente, a habilidade física e guerreira que a fazia comandar as operações militares da cidade-estado.
O elmo, o escudo, a espada e a lança de bronze, faziam parte do seu equipamento para dedicar-se ao polemós(a guerra) e ao tempo que imperava a paz vestia-se com trajes civis para dedicar-se à administração das coisas (tanto óicos, a sua propriedade doméstica, como dos assuntos coletivos da pólis).
A Aretê não era percebida como um bem ou uma virtude moral. Ela estava ligada à bravura militar, à valentia, à virilidade, à excelência e à destreza em combate aberto. Designava, como ressaltou W. Jaeger, "o homem nobre que tanto na vida privada ou militar se rege por condutas alheias aos demais homens comuns".
A origem da Olimpíada: o espírito do cavalheiro
Num processo natural de evolução de pertencer a uma casta à parte, chegaram a obedecer a um código da nobreza cavalheiresca (que mais tarde, ao longo da história, repetiu-se entre os équites romanos e os cavaleiros feudais da Idade Média cristã). Cultivam acima de tudo o 'aidós', 'o sentido do dever'.
E é entre esta casta, e somente entre ela, que se trava a luta pelo Aretê, por meio da aristeia, combates singulares dos famosos heróis épicos que eram reproduzidos em todas as partes da Grécia (que séculos depois serão travadas pelas 'justas' do Medievo).
Com o passar dos séculos, do período arcaico ao clássico, notou-se outro entendimento do significado da Aretê. Ampliou-se lhe. Não apenas percebida como a busca da honra (ethos da nobreza), mas da ambição (ethos do politikós, o cidadão da cidade-estado). Para os filósofos Platão e Aristóteles, identificando-a com 'altivez e magnanimidade', ela só é possível de encontrar entre as almas de escol.
A honra é o troféu da Aretê: é o 'tributo pago à destreza'. É o conceito básico em que se funda o caráter aristocrático do ideal de educação entre os gregos.
O núcleo desta ética voltada aos valores maiores implicava em ter um profundo amor-próprio. Os que a seguiam tinham como meta 'fazer a sua beleza', o que certamente os levava a praticar 'ações do mais alto juízo moral, como ser infatigável na defesa dos amigos e companheiros, sacrificar-se pela pátria, mostrar-se indiferente ao dinheiro, bens e outras honrarias', desde que conseguisse alcançar sua nobre intenção.
A preocupação primeira dos combatentes era realizar um grande feito no campo de guerra o que permitiria que eles escapassem do anonimato, da obscuridade em meio tantos outros valentes, conferindo-lhes a gloria da imoralidade pela qual tanto aspiravam. A beleza do guerreiro em ação, a exibição do seu destemor passava a ser o 'critério absoluto' da sua existência (ver Jean-Pierre Vernant - L'individu, la mort, l'amour). Era para tanto que ele, desde bem jovem, era preparado pelos seus, para no após-morte poder conviver entre os heróis celebrados na ilha da Bem-aventurança (o paraíso dos valentes gregos).
A eles era vedado tirar qualquer proveito numa troca com outro guerreiro. Quando, após a batalha, recolhido o espólio de guerra, se reuniam para a permuta, os valores dos objetos deviam ser sempre considerados equivalentes. Manchava a honra quem por acaso tirasse algum benefício ou fizesse alarde disto. (ver M. I. Finley - O mundo de Ulisses, p. 100-101).
O código heroico
'Ser sempre o primeiro e adiante dos demais nas suas aspirações'
Peleu, pai de Aquiles, antes do embarque do filho para Tróia
Os dois pilares do código heroico grego - herdados de Homero - são a Glória Pessoal e a Honra (hoje entenderíamos por status). Ambos formam a única coisa realmente importante para o aristocrata, sendo que o homem heroico deve valer-se por si mesmo. O prejuízo que ele possa ter no seu âmbito, qualquer tipo de ameaça à honra, exige que ele obtenha uma reparação por meio do próprio esforço. De nada lhe servia apelar aos deuses. Tinha que resolver a questão por seus próprios meios. Todos os feitos, as paixões, chegam aos limites máximos, sendo que o seu ideal é manter um semblante belo e vivo. Não lhe importa as questões de dignidade ou perfeição moral, muito menos a nobreza de sentimentos.
Na verdade, é a representação pura de um egoísmo ingênuo e indômito, portador de uma ferocidade primitiva que jamais demonstra arrependimento pelos seus atos. É grandioso e benévolo, seus atos brutais ou de astúcia, desde que bem sucedidos, jamais eram submetidos à censura. Prova disto é a passagem que relata a invasão de Tróia quando Héracles chega a erguer a espada para abater um companheiro seu, Telamón, que desejava antes dele penetrar na cidade por uma brecha recém-aberta na muralha.
Para efeitos simbólicos, com o fim de afastar um possível sentimento de culpa por algum homicídio, o herói apelava para a cerimônia da catarse, que nada mais era senão do que a busca de uma absolvição pública (ver J. Burckhardt, vol. I págs. 48-49).
Manter a time (a honra) é a única regra que governa a ação dos heróis, sendo assim uma incorporação individual do guerreiro da maior preocupação de Zeus, soberano dos céus, que passa a maior parte do tempo zelando por sua integridade pessoal.
Bibliografia
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Mondolfo, Rodolfo. O Homem na cultura antiga. São Paulo: Editora Mestre Jou, 1968.
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Guthrie, W. K. C. Os sofistas. São Paulo: Editora Paulus, 1997.
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Platão. Diálogos. Porto Alegre: Editora Globo, 1962, 2 v.
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Robin, Leon. A moral antiga. Porto: Edições Despertar, 1972.
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Vernant, Jean Pierre. O Homem Grego. Lisboa: Editorial Presença, 1994.
Vernant, Jean Pierre. L'individu, la mort, l'amour: soi-même et l'autre en Grèce ancienne. Paris: Gallimard, 1989.
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Fonte: VOLTAIRE SCHILLING
O conceito de virtude
Ensina Werner Jaeger (em Paidéia) que foi a gradativa distinção entre as classes sociais, aceleradas depois dos Tempos Homéricos, e o aumento da escravidão entre os gregos, que fez por inflar a obsessão da casta aristocrática (sentindo-se herdeira dos guerreiros e dos heróis imortais) por se distinguir cada vez mais dos outros.
Ainda que ocorresse a eventual substituição na cidade-estado da camada dirigente, a que sucedia, a 'nova classe', por igual herdava os valores da sua antecessora. Mesmo que mais tarde, a partir do século V-IV a.C., houvesse adesão à democracia, Atenas sempre se orientou pelos valores maiores dos aristói ('dos melhores'). Nunca uma ética 'burguesa' predominou entre eles durante o regime popular (para tanto basta consultar os autores trágicos que sempre trataram em suas peças das famílias reais e nunca das comuns).
Não havia dúvida que a nobreza era a 'fonte espiritual pela qual nasce e se desenvolve a cultura de uma nação'. Foram nos Tempos Homéricos (1200 - 800 a.C.) que encontramos as primeiras raízes da celebração do 'homem superior', do 'homem perfeito' que passou ser o modelo do escol da raça na cultura ocidental.
Evidentemente que a procedência disto - a matriz literária de tudo - encontra-se nos dois grandes poemas de Homero: a Odisseia e a Ilíada.
O soberbo vate narrou uma quantidade excepcional de situações (são mais de 27 mil versos) nas quais a virtude do guerreiro aflorava e se destaca em meio à massa dos combatentes anônimos. Não faltavam exemplos; além de Aquiles, Pátroclo, Diomedes, Ajax, Ulisses, o troiano Heitor, e tantos outros mais, eram a prova da existência do 'homem excepcional', do 'fora do comum', devido à valentia, ao destemor pessoal e à absoluta indiferença deles frente à morte.
Cunharam a expressão Aretê, não somente para definir tal excepcionalidade como também para utilizá-la para classificar a superioridade de seres não humanos (como no caso dos deuses). Nenhum escravo ou theta(trabalhador braçal) poderia ser dotado de Aretê. Se por acaso alguém das castas inferiores emergisse para uma posição de destaque na cidade-estado, deus retirava-lhe metade da Aretê, fazendo com que ele deixasse de ser quem era antes.
Isto em razão da virtude, tanto a do corpo como a do espírito, ser um atributo próprio dos aristói, da nobreza governante. Somente ela apresentava a força, capacidade, saúde, vigor e percepção intelectual, além de ser admirada na comunidade em geral pelo respeito que impunha, pelo prestigio que gozava e do bom senso que a orientava. E, certamente, a habilidade física e guerreira que a fazia comandar as operações militares da cidade-estado.
O elmo, o escudo, a espada e a lança de bronze, faziam parte do seu equipamento para dedicar-se ao polemós(a guerra) e ao tempo que imperava a paz vestia-se com trajes civis para dedicar-se à administração das coisas (tanto óicos, a sua propriedade doméstica, como dos assuntos coletivos da pólis).
A Aretê não era percebida como um bem ou uma virtude moral. Ela estava ligada à bravura militar, à valentia, à virilidade, à excelência e à destreza em combate aberto. Designava, como ressaltou W. Jaeger, "o homem nobre que tanto na vida privada ou militar se rege por condutas alheias aos demais homens comuns".
A origem da Olimpíada: o espírito do cavalheiro
Num processo natural de evolução de pertencer a uma casta à parte, chegaram a obedecer a um código da nobreza cavalheiresca (que mais tarde, ao longo da história, repetiu-se entre os équites romanos e os cavaleiros feudais da Idade Média cristã). Cultivam acima de tudo o 'aidós', 'o sentido do dever'.
E é entre esta casta, e somente entre ela, que se trava a luta pelo Aretê, por meio da aristeia, combates singulares dos famosos heróis épicos que eram reproduzidos em todas as partes da Grécia (que séculos depois serão travadas pelas 'justas' do Medievo).
Com o passar dos séculos, do período arcaico ao clássico, notou-se outro entendimento do significado da Aretê. Ampliou-se lhe. Não apenas percebida como a busca da honra (ethos da nobreza), mas da ambição (ethos do politikós, o cidadão da cidade-estado). Para os filósofos Platão e Aristóteles, identificando-a com 'altivez e magnanimidade', ela só é possível de encontrar entre as almas de escol.
A honra é o troféu da Aretê: é o 'tributo pago à destreza'. É o conceito básico em que se funda o caráter aristocrático do ideal de educação entre os gregos.
O núcleo desta ética voltada aos valores maiores implicava em ter um profundo amor-próprio. Os que a seguiam tinham como meta 'fazer a sua beleza', o que certamente os levava a praticar 'ações do mais alto juízo moral, como ser infatigável na defesa dos amigos e companheiros, sacrificar-se pela pátria, mostrar-se indiferente ao dinheiro, bens e outras honrarias', desde que conseguisse alcançar sua nobre intenção.
A preocupação primeira dos combatentes era realizar um grande feito no campo de guerra o que permitiria que eles escapassem do anonimato, da obscuridade em meio tantos outros valentes, conferindo-lhes a gloria da imoralidade pela qual tanto aspiravam. A beleza do guerreiro em ação, a exibição do seu destemor passava a ser o 'critério absoluto' da sua existência (ver Jean-Pierre Vernant - L'individu, la mort, l'amour). Era para tanto que ele, desde bem jovem, era preparado pelos seus, para no após-morte poder conviver entre os heróis celebrados na ilha da Bem-aventurança (o paraíso dos valentes gregos).
A eles era vedado tirar qualquer proveito numa troca com outro guerreiro. Quando, após a batalha, recolhido o espólio de guerra, se reuniam para a permuta, os valores dos objetos deviam ser sempre considerados equivalentes. Manchava a honra quem por acaso tirasse algum benefício ou fizesse alarde disto. (ver M. I. Finley - O mundo de Ulisses, p. 100-101).
O código heroico
'Ser sempre o primeiro e adiante dos demais nas suas aspirações'
Peleu, pai de Aquiles, antes do embarque do filho para Tróia
Os dois pilares do código heroico grego - herdados de Homero - são a Glória Pessoal e a Honra (hoje entenderíamos por status). Ambos formam a única coisa realmente importante para o aristocrata, sendo que o homem heroico deve valer-se por si mesmo. O prejuízo que ele possa ter no seu âmbito, qualquer tipo de ameaça à honra, exige que ele obtenha uma reparação por meio do próprio esforço. De nada lhe servia apelar aos deuses. Tinha que resolver a questão por seus próprios meios. Todos os feitos, as paixões, chegam aos limites máximos, sendo que o seu ideal é manter um semblante belo e vivo. Não lhe importa as questões de dignidade ou perfeição moral, muito menos a nobreza de sentimentos.
Na verdade, é a representação pura de um egoísmo ingênuo e indômito, portador de uma ferocidade primitiva que jamais demonstra arrependimento pelos seus atos. É grandioso e benévolo, seus atos brutais ou de astúcia, desde que bem sucedidos, jamais eram submetidos à censura. Prova disto é a passagem que relata a invasão de Tróia quando Héracles chega a erguer a espada para abater um companheiro seu, Telamón, que desejava antes dele penetrar na cidade por uma brecha recém-aberta na muralha.
Para efeitos simbólicos, com o fim de afastar um possível sentimento de culpa por algum homicídio, o herói apelava para a cerimônia da catarse, que nada mais era senão do que a busca de uma absolvição pública (ver J. Burckhardt, vol. I págs. 48-49).
Manter a time (a honra) é a única regra que governa a ação dos heróis, sendo assim uma incorporação individual do guerreiro da maior preocupação de Zeus, soberano dos céus, que passa a maior parte do tempo zelando por sua integridade pessoal.
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Fonte: VOLTAIRE SCHILLING