© Elisabeth da Baviera em vestido de gala, 1865 (Wikicommons, Franz Xaver Winterhalter).
Elisabeth da Baviera, nascida Elisabeth Amalie Eugenie von Wittelsbach, na véspera de Natal de 1837, em Munique, pertencia à nobre casa de Wittelsbach. Elisabeth era filha do Duque Maximiliano José da Baviera e de sua esposa Ludovica; sua mãe era a oitava filha de Maximiliano I, o primeiro rei da Baviera.
A jovem princesa cresceu ao lado dos seus sete irmãos no modesto Castelo de Possenhofen, localizado na costa oeste do belo Lago Starnberger. Este seria o seu refúgio predileto por toda a vida. O apelido "Sissi" lhe foi dado pelos amigos e familiares desde tenra idade. Sua infância foi feliz. Apesar do sangue real e da posição elevada que ocupavam, Sissi e seus irmãos cresceram num ambiente sem muitas formalidades nem rigidez.
O casamento de Sissi com o imperador austríaco Francisco José I aconteceu quase que por acaso. A mãe dele, a Arquiduquesa Sofia, era irmã da mãe de Sissi, e havia convencido a irmã Ludovica a ir visitá-la em companhia da filha mais velha, Helena. O encontro ocorreu numa estância de verão em Bad Ischl, Áustria. O plano de Sofia era casar o seu herdeiro com a prima Helena, de 18 anos, Sissi acompanhou a irmã e a mãe na viagem e a arquiduquesa não imaginara que o filho fosse se apaixonar por ela. Francisco José se encantou imediatamente com uma Sissi no auge dos seus 15 anos, enquanto ele já contava quase 24. O jovem imperador, então, desafiou a dominadora Sofia, dizendo que não proporia casamento a Helena, e que se não pudesse ter Elisabeth, não iria se casar com nenhuma outra.
O casamento foi feito oito meses depois, em 24 de abril de 1854, na Igreja dos Capuchinhos, em Viena. Os cronistas da época relataram que a cerimônia foi de um luxo insuperável, unindo a pompa e a ostentação imperiais; foram realizados festejos de uma semana no Palácio Imperial de Viena, e compareceu grande parte da realeza europeia.
O casamento gerou quatro filhos: Sofia Frederica (que morreu ainda criança), Gisela (1856 - 1932), Rudolfo (1858 - 1889) e Maria Valéria (1868 - 1924).
© Elisabeth da Baviera em Bayern, 1854 (Wikicommons, Franz Hanfstaeng).
As dificuldades da vida na corte
Sissi não demorou a perceber que a vida na corte de Viena não seria um mar de rosas. Para começar, ela não tinha um bom relacionamento com a arquiduquesa Sofia, uma mulher dominadora e possessiva, que definitivamente não era a sogra que ela havia pedido a Deus. Sissi também não conseguia se relacionar com a nobreza austríaca, que via com desdém a sua informalidade e a esnobava. A verdade é que ela nunca se adaptou à rígida etiqueta da corte dos Habsburgo. Quando nasceu sua primeira filha, foi a arquiduquesa Sofia que escolheu o nome da criança - Sofia Frederica - sem consultá-la; além disso, a sogra impedia a mãe de ver a filha, que morreu aos dois anos de idade numa viagem a Budapeste. Os filhos mais velhos de Sissi foram criados pela avó, que impedia que ela exercesse influência sobre a educação das crianças. Sofia se referia a Sissi como "vossa tola mãe". Sissi só conseguiu construir uma relação mais estreita com a filha caçula, Maria Valéria.
Sissi não tinha grandes aspirações políticas, e detestava os compromissos oficiais. Por mais apaixonado que fosse Francisco José, o imperador vivia ocupado com a política do império, o que acabava distanciando o casal e contribuindo para a solidão de Sissi e o seu isolamento na corte. Certa vez, a imperatriz confessou em seu diário: "Perambulo solitária sobre a Terra há tempo, alienada da vida e do prazer; não tenho e nunca tive alma que me entendesse."
A obsessão com o peso
Angustiada, em 1860 imperatriz foi acometida por uma doença nos pulmões, que, presume-se, era psicossomática. Consequentemente, decidiu deixar Viena e passar o inverno na Ilha da Madeira e só regressou à Áustria depois de visitar as Ilhas Jônicas. Tempos depois, ficou doente novamente, e foi descansar em Corfu. Sissi adorava viajar, era a sua válvula de escape dos problemas que enfrentava na corte de Viena, e então, passou a viajar cada vez com mais frequência. Sissi era apaixonada por moda, equitação, exercícios físicos e - supõe-se - teve uma série de amantes de renome.
A imperatriz era extremamente vaidosa e obsessiva com o seu peso. Numa época em que a magreza estava longe de ser um padrão de beleza, Sissi pesava 45 quilos, distribuídos por 1,73 m (hoje em dia poderíamos dizer que seu índice de massa corporal estava abaixo do considerado saudável pela Organização Mundial da Saúde). Era um quadro clássico de anorexia. Ela se pesava três vezes ao dia e, por mais magra que estivesse, nunca estava satisfeita com a própria figura. Sissi era adepta de dietas malucas - durante um período só se alimentava com meia dúzia de laranjas por dia, em outro passava dias à base de sopa. Em certa época, se recusava a comer alimentos sólidos e mandava espremer bifes crus, para então beber o caldo. Esses espremedores, entre outros pertences dela, estão expostos atualmente no Museu Sissi, localizado no Palácio de Hofburg, antiga residência de inverno da família imperial, em Viena.
© Elisabeth da Baviera, 1867 (Wikicommons, Emil Rabending).
A obsessão da imperatriz era de tal forma, que ela acreditava que choques térmicos podiam ajudá-la a perder peso: tinha o costume de tomar banhos de vapor e em seguida mergulhar numa banheira com água a 7 graus. Por volta de 1895, foi diagnosticada com desnutrição e problemas pulmonares. Em uma carta, o imperador Francisco José lhe escreveu: "Receio que tu não sigas o conselho do médico e continues a minar a tua saúde, até quando for tarde demais e não houver mais remédio. Nada mais posso fazer que rogar-te sobretudo que te alimentes".
Rituais de beleza
Sissi também era muito narcisista e realmente obsessiva com a beleza. Vaidosa, ela tinha o costume de colecionar fotografias de outras mulheres bonitas só para servir de comparação. Apesar de aparentar ter menos idade do que tinha de fato, depois de completar 32 anos não se deixou mais retratar nem ser fotografada, para perpetuar sua imagem bela e jovial para sempre. Sissi dedicava cerca de três horas do seu dia penteando os longos cabelos, que alcançavam os seus pés. Para a pele, mandava preparar máscaras faciais à base de morangos prensados, e dormia com bifes sobre o rosto.
Sissi costumava enfeitar os cabelos com estrelas de ouro branco cravejadas de diamante (imortalizada no seu famoso retrato feito pelo pintor alemão Franz Xaver Winterhalter, em 1865); das cerca de dez estrelas, restam apenas três. Desenhadas pela própria imperatriz, que presenteava suas damas de companhia com jóias deste tipo, as estrelas foram largamente copiadas por outras mulheres da realeza europeia. Com o passar dos anos e o envelhecimento, ela passou a cobrir o rosto quase permanentemente com véus escuros, para que não se notassem as marcas da idade.
© Elisabeth da Baviera, 1864 (Wikicommons, Franz Xaver Winterhalter).
Sissi, rainha da Hungria
Sua única aspiração política se realizou em 8 de junho de 1867, quando ela e o marido foram coroados reis da Hungria, na sequência da assinatura do compromisso austro-húngaro, que estabeleceu a monarquia dual da Áustria-Hungria. A imperatriz era apaixonada pela cultura húngara e, como presente daquela nação, ganhou o Palácio de Gödöllõ, uma de suas residências preferidas, localizada a 20 milhas de Budapeste. Dez meses depois de ser coroada rainha da Hungria, Sissi deu à luz em Budapeste a sua filha caçula, a arquiduquesa Maria Valéria, em 1868, que foi chamada de a "criança húngara". Ela estava determinada a criá-la à sua própria maneira, e assim o fez - a menina cresceu imersa na cultura húngara, como desejou a imperatriz. Sua sogra, a arquiduquesa Sofia, foi perdendo consideravelmente a influência sobre os filhos de Sissi, e morreu em 1872.
© Elisabeth da Baviera no dia da coroação como Rainha da Hungria, 1867 (Wikicommons, Emil Rabending).A morte de Rodolfo
Em 1889, o filho único da imperatriz e herdeiro do trono - Rodolfo, de 30 anos - foi encontrado morto ao lado da amante, a baronesa Maria Vetsera, de dezessete anos. As investigações concluíram que se tratava de um caso de assassinato seguido de suicídio. O suicídio do filho contribuiu para mergulhar Sissi numa depressão profunda, da qual ela nunca conseguiu se recuperar. O episódio, que ficou conhecido por Incidente Mayerling, serviu para aumentar ainda mais o interesse do público pela imperatriz, que já era um ícone, assediada onde quer que fosse. Sissi vestiu luto pelo resto de seus dias. Nesta altura da vida, o seu relacionamento com o imperador Francisco José já tinha se tornado muito mais fraternal do que uma relação amorosa entre marido e mulher.
Em 10 de setembro de 1889, a imperatriz foi assassinada por um anarquista italiano, Luigi Lucheni, em Genebra. Ela tinha 60 anos de idade. Seu corpo está sepultado na Cripta Real dos Habsburgos, na Igreja dos Capuchinhos, em Viena.
Sissi era uma mulher depressiva e infeliz, mas que também tinha uma faceta solidária, caridosa e intelectual - se engajou em causas humanitárias e chegou a visitar hospitais e asilos durante uma epidemia de cólera. A imperatriz também escrevia poemas; muitas de suas poesias referem-se às suas viagens, à Grécia antiga e temas românticos. Sissi também lia numerosos livros gregos, e nesses anos também se interessou pela história da Grécia e da língua grega.
Fonte: http://obviousmag.org/archives/2013/09/sissi_uma_imperatriz_e_seus_demonios_1.html