3.12.16
Antigos Equipamentos do Exército Brasileiro
A região de Campinas, interior do Estado de São Paulo, abriga hoje a sede da 11ª Brigada de Infantaria Leve, que ocupa juntamente com o 2º Batalhão de Logística Leve as magníficas dependências da muito bem cuidada sede da antiga Fazenda Chapadão. A caminho dessa sede de Comando, existe um pequeno museu “a céu aberto”, à beira da estrada, onde se expõe em caráter permanente algumas peças interessantes de equipamento bélico, que outrora foram utilizados pelas unidades de infantaria e artilharia que ali eram sediadas, a partir das décadas de 40 e 50; eram elas o 1º Batalhão de Carros de Combate Leves (1º B.C.C.L.) e o 5º Grupo de Canhões 90mm Anti-Aéreos (5º GCan 90 AAé).
Uma rápida visita pelo local nos remete ao passado não muito distante, quando aquelas duas unidades militares eram orgulho para a cidade e onde milhares de campineiros tiveram a honra de servir nas suas fileiras. Vamos então conhecer um pouco dessa história, perpetuada através desses poucos equipamentos lá expostos.
Carro de Combate Leve M3A1 “Stuart”
Este talvez seja um dos tanques leves mais famosos e um dos mais produzidos na história dos carros de combate. Recebeu seu nome pelos inglêses, em homenagem à um dos maiores generais de cavalaria do Exército dos Estados Unidos, James Ewell Brown “JEB” Stuart. Esse carro foi padronizado nos U.S.A. em 1940 e iniciou-se a sua produção em 1941, suprindo grande parte dos exércitos aliados, principalmente o britânico, que o usou maciçamente na campanha da Líbia. Era propulsado por um motor Continental de 7 cilindros, radial, modelo W670-9A, a gasolina, ou opcionalmente o Guiberson diesel de 9 cilindros, radial, mod. T-1020-4. A transmissão era de 5 velocidades à frente e uma marcha à ré.
Detalhe do motor Guiberson de 9 cilindros, diesel, de 16.700 cc de cilindrada, 245 HP a 2.200 r.p.m.
Acima, o motor Continental radial de 7 cilindros, modelo W670-9A, de 10.900 cc de cilindrada, 262 HP a 2.400 r.p.m.
O motor, alojado na traseira do carro com acesso por duas portas traseiras, ocupava quase 1/3 do espaço interno do veículo. A partida desses motores, bem similar ao de seu uso aeronáutico, era feita pela explosão de um cartucho similar ao de espingardas calibre 12, porém bem maior, e carregado com cordite em sua totalidade. Da culatra dessa pistola saía um tubo de aço, como se fosse o seu cano, que era enviado ao motor.
O sistema de partida tipo Coffman e Breeze eram os mais usados. Os gases resultantes da detonação dessa pólvora atingiam pressão de 1.000psi e eram enviados, ou à uma turbina solidária ao virabrequim ou diretamente à câmara de um dos cilindros, o que a fazia girar o motor. Essa espécie de pistola, utilizada para detonar o cartucho, era colocada no painel do carro, ao lado do motorista. Apesar de parecer algo pouco prático, tinha suas vantagens, tanto em aviões como em tanques, à partida com motor elétrico. Uma delas é que se evitava a necessidade de ter a bordo pesadas baterias, que se porventura descarregassem, seriam inúteis para dar a partida. Uma das desvantagens era o estoque de cartuchos, que tinha que ser mantido e controlado.
Foto comparativa de um cartucho calibre 12, à esquerda, com o cartucho para partida do motor nos carros M3
O armamento básico era composto de um canhão M5 ou M6, calibre 37mm e uma metralhadora Browning cal. 30-06, montados lado a lado na mesma torre giratória. Opcionalmente havia a possibilidade de instalar mais uma metralhadora Browning .30-06 na torre, do lado externo. A tripulação era de 4 homens, dois alojados na parte inferior e dois na torre. Seu peso em marcha era de 12.400Kg, velocidade máxima de 60 km/hora em terreno plano. Podia transportar cerca de 100 cartuchos 37 mm e 8.000 cartuchos para as metralhadoras, além de uma sub-metralhadora Ina calibre .45, com 500 cartuchos e 12 granadas de mão.
Tanque Leve “Stuart” M3A1, utilizado por várias décadas pelo 1º BCCL de Campinas.
Visão interna do tanque leve M3A3, modelo ligeiramente melhorado em relação ao M3A1 – nota-se aqui que o eixo de transmissão (cardã) atravessava pelo interior da cabine para atingir a caixa de câmbio; a tração das lagartas era feita por roda dentada dianteira.
Fotografia da década de 70, um dos tanques M3 do 1º BCCL em desfile, no centro de Campinas, SP; repare a metralhadora Browning M1919 montada na torre. Os cartuchos utilizados para esses eventos eram inertes.
A munição 37mm M1 (37X223R)
Cartucho 37X223R, M63, montado, com projétil em aço tipo HE (High Explosive)
Esse cartucho 37mm possuía diversas versões, entre elas a de treinamento (sem carga explosiva), a A.P.C. (Armor-Piercing Capped), também sem carga explosiva e a H.E. M63, com carga explosiva. A H.E. M63, que é a ilustrada aqui, possuía um projétil feito em aço, oco em seu interior, com o fundo rosqueado para a montagem do dispositivo detonador. A parte oca do projétil era preenchida com 38,5 gramas de TNT, detonadas pela espoleta de impacto M58. A carga propelente era de 222 gramas de pólvora FNH. O peso total do cartucho H.E. era de 1,419 Kg. Seu alcance máximo era de 9.500 metros com uma velocidade inicial do projétil de 2.600 pés/seg, ou 790 m/seg. A penetração em blindagem de aço chegava a cerca de 6,0 cm a 500 metros.
Acima, o cartucho 37X223R e seu projétil tipo M63 H.E. (High Explosive) produção de 1942
Acima, vemos os componentes do dispositivo de detonação, (Fuse BD M58). O tubo de montagem do conjunto (6) era rosqueado (rosca-esquerda) na parte traseira do projétil (8), com uso da arruela (7). Depois, temos a capa da espoleta (1) com o detonador M38A1 em seu interior (2) com o orifício de passagem da agulha do percussor, a mola do percussor (3), o percussor (4) e seu anel de resistência (aqui visto montado no percussor) e a bucha-guia (plunger) do percussor (5).
FUNCIONAMENTO:
Os componentes do dispositivo: 6- corpo, 1- tampa do detonador, 2- capa do detonador, 5- plunger (bucha do percussor), 3- mola do percussor, 4- percussor e 7- anel de resistência
Aqui temos em desenho esquemático do interior do conjunto do FUSE B.D. M58, o mesmo que temos na foto mais acima, desmontado. O funcionamento é bem simples, uma vez que não se trata de espoleta de tempo e sim, somente de impacto. Todo o “segredo” consiste no anel de resitência (resistance ring) e na força inercial. O mecanismo está sempre em posição desarmada.
Acima, o percussor com seus dois ressaltos, onde se posiciona o anel de resistência, ao lado. A seta preta indica a posição do anel quando o dispositivo está desarmado. A seta vermelha indica a posição para onde o plunger (5) empurra o anel após o disparo do cartucho.
Na posição mostrada no desenho esquemático, mesmo que o projétil seja derrubado ao chão, é impossível a sua detonação. O anel de resistência (7), alojado no ombro do percussor (seta preta) não permite que o percussor (4) se mova em direção ao detonador (2), pois o anel também está encaixado ao plunger (5).Portanto, a segurança é total por que ele não se desloca com a simples queda do projétil ao chão, mesmo de uma altura razoável. O percussor em si é uma peça muito leve para que haja uma força inercial suficiente para movê-lo em uma queda.
Porém, reparamos em dois detalhes importantes: o anel de resistência (7) é um elo semi-aberto, portanto, sofre de uma certa elasticidade. Outra coisa que se nota é que ele fica inicialmente repousado numa área liza do percussor (seta preta). Porém, o percussor também possui um rebaixo perto da sua base. O que ocorre no momento do disparo do projétil é o seguinte: a enorme força inercial (que ocorre com o movimento repentino do projétil através do cano, atingindo em frações de segundo quase 800 metros por segundo de velocidade) faz com que o plunger (5), também auxiliado por uma mola espiral (3), consiga vencer a resistência do anel, fazendo-o abrir um pouco, passar por cima do ressalto do percussor e se alojar na ranhura existente na base do percussor (seta vermelha). Neste instante, o projétil já está em vôo e assim, o detonador foi armado.
Com o anel agora alojado na ranhura da base do percussor (4), seta vermelha, este se torna solidário ao plunger (5) e agora, essas duas peças juntas e mais pesadas, por inércia, podem se mover em direção ao detonador vencendo a pouca ação da mola espiral, mas só no momento do impacto do projétil em um obstáculo, ou seja, uma impressionante desaceleração repentina de cerca de 800 m/s a zero, instantaneamente. Desta forma, a agulha do percussor atinge o detonador (2) que aciona a espoleta (booster pellet) dentro de sua capa (1). Com a explosão da espoleta, a carga de TNT dentro do projétil, que está em contato direto com essa espoleta, entra em combustão.
Carro de Combate Leve M41
Este carro está presente no museu, porém, pelo que o autor pôde levantar, não chegou a ser equipamento de uso do 1º Batalhão de Carros de Combate Leve. Pode ter sido posteriormente agregado quando a unidade se reformulou, com a denominação de 28º BIB. Sabe-se que o Brasil recebeu por volta de 340 desses tanques, por conta do programa de ajuda militar dos Estados Unidos, no ano de 1960. Foi padronizado no Exército dos Estados Unidos em 1947 em substituição ao M24 Chaffee, com o apelido de Walker Bulldog.
Interior do M41
Seu peso em ordem de marcha era de 17.550 Kg, com tripulação de 4 homens. Era impulsionado por motor Continental AOS-895 de 6 cilindros. A transmissão era do tipo “hydra-matic“, automática com conversor de torque, 8 marchas à frente e 4 à ré. Atingia a velocidade máxima de 56 km/hora em terreno plano. A torre possuía um dispositivo giro-estabilizador para facilitar os disparos em marcha.
O armamento padrão consistia em um canhão de 76 mm, tipo M6, duas metralhadoras Browning cal. 30-06, sendo uma delas montada na torre junto ao canhão; uma metralhadora Browning cal. 50 para defesa anti-aérea, montada em suporte externo, 4 sub-metralhadoras cal. 45ACP e uma carabina cal. .30M1. Opcionalmente possuía um morteiro M3 de 2″ montado na torre. Levava 50 cartuchos cal. 76mm, 440 cartuchos .50BMG, 4.000 cartuchos .30-06 e 720 cartuchos .45ACP, além de 14 granadas de mão.
Acima, o belo Tanque Leve M41 com sua característica torre alongada
A partir de 1978, para nacionalizar componentes, o Centro Tecnológico do Exército e a empresa Bernardini iniciaram um plano de modernização desses tanques. Uma das primeiras providências foi a troca dos motores Continental pelo motor Scania DS-14, movido à diesel. Essa modificação alterou a nomenclatura do veículo para M41B, e infelizmente trouxe ao projeto vários problemas, na transmissão e motor. O fato é que a transmissão original do M41 foi desenhada para um propulsor à gasolina, com bem menos vibração que o motor diesel.
Um M41B no Museu Conde de Linhares, no Rio de Janeiro
O alongamento efetuado na traseira do tanque para alojar o motor Scania alterou o equilíbrio do veículo e seu centro de gravidade, ocasionando desgastes irregulares das lagartas. Posteriormente foram feitas outras modificações, agora com a nomenclatura M41C e o codinome de Caxias. Sobre o projeto do M41C, a empresa Bernardini desenvolveu o blindado Tamoyo, a partir de 1979, produzido posteriormente em 3 versões, com canhões de 90 mm e de 105 mm. Infelizmente, o que era um excelente projeto de carro de combate desenvolvido aqui no Brasil, não teve aceitação pelo governo junto ao Exército Brasileiro e a Bernardini encerrou as atividades em 2001.
Carro de Combate Leve Cascavel
O Cascavel, denominação oficial EE-9, é um veículo nacional, blindado, de reconhecimento, possuindo capacidade de tripulação para 3 pessoas (comandante, atirador e motorista). Com uma tração de 6 x 6 e utilizando pneus 9,00X20 ao invés de lagartas, o Cascavel foi criado e produzido aqui no Brasil em São José dos Campos, SP, pela Engesa. O fato de utilizar o maior número possível de peças que são comercializadas no mercado comum de auto-peças permite que o veículo tenha manutenção mais fácil e mais barata. Algumas versões possuem motor da Mercedes Benz, diesel, de 212 C.V. com autonomia de 880 quilômetros, podendo chegar à velocidade de 100 Km/h. Outra versão foi fornecida com motor da Detroit Diesel, de 6 cilindros. Apesar do veículo ter sido desenvolvido aqui, é inevitável a influência que ele recebeu do veículo M-8 norte-americano.
Cascavel com canhão de 37mm
Diversos países se interessaram a adquirir esse veículo, sendo então fornecido para Bolívia, Chile, Colômbia, Equador, Iraque e diversos países da África. Com alta velocidade e boa direção em estradas pavimentadas, esse carro foi muito requisitado na Guerra do Golfo. O Exército Brasileiro está desenvolvendo um programa de revitalização destes veículos, de modo a estender sua vida útil.
Paralelamente ao emprego militar do Cascavel, a empresa Novatração, a partir de 1969, desenvolve os pneus à prova de bala, os chamados P.P.B., testados para suportarem disparos de fuzís de calibre 7,62mm sem murcharem. Em 2001 a empresa vendeu a patente para a Hutchinson, hoje, a única empresa autorizada a produzir esses pneus.
Originalmente o EE-9 (versão I) foi fornecido com torre giratória dotada do canhão de 37mm, oriundo dos carros M3 Stuart; posteriormente a versão MK-II passou a ser equipada com canhão de 90mm CM-90 MK III, mesmo modelo que equipa os AML da Panhard francesa. Posteriormente o canhão de 90mm passou a ser produzido aqui no Brasil. O Cascavel pesa cerca de 11 toneladas, com blindagem máxima de 16mm e mínima de 10mm. Além do canhão, o veículo conta com uma metralhadora MAG de calibre 7,62mmX51.
Canhão Anti-Aéreo 76mm M3
Esse canhão é conhecido como 3 Inch Anti-aircraft Gun M3 nos Estados Unidos. Foi um antecessor do canhão 90mm M1. Era montado um uma plataforma desmontável para ser facilmente transportado, e podia girar 360º sobre essa base. Da mesma forma que seu sucessor 90mm, podia usar um preditor M7, dispositivo de observação aérea do alvo que calcula todos os parâmetros necessários ao tiro anti-aéreo, como altitude do alvo, velocidade, azimute e ângulo de inclinação, possibilitando à guarnição o ajuste de mira. Seu peso total era de 9,122Kg.
O canhão norte americano de 76mm, uso anti-aéreo, em sua base M2A2
Acima, a culatra do canhão 76mm M3
Podia ser utilizado de forma manual ou semi-automática, sendo que nesta última, após o disparo e recuo, o cartucho era extraído, o canhão retornava à posição de bateria já com a culatra aberta. Com a introdução de um novo cartucho a culatra se fechava automaticamente. O canhão era disparado por um cordão fixo à alavanca do gatilho, para permitir uma distância segura do atirador.
A munição utilizada era a M42A1, e a versão mais comumente utilizada era a H.E. (High Explosive), com 2,47 Kg. de carga propelente de pólvora NH, 430 gramas de explosivo TNT; velocidade inicial era de 850 m/s e alcance máximo de 14.000 metros. O detonador era o M43A5 ou o M48A2, com espoleta de tempo regulável de 0,2 a 30 segundos. Detalhes de funcionamento e vista interna do detonador M43A5 podem ser vistos a seguir, quando o descrevermos no capítulo referente à munição 90mm. Os detonadores M48A2, por sua vez, podiam ser ajustados para detonação imediatamente com o impacto no alvo, ou com atraso de 0,15 segundos. Esse detonador possuía um dispositivo que permitia que o percussor só fosse armado após a saída do projétil do cano.
Canhão Anti-Aéreo 90mm M1A3
O canhão anti-aéreo de 90mm sucedeu o de 76mm, e foi uma espécie de resposta norte-americana ao famoso canhão alemão de 88mm. Entrou em serviço em 1940 e foi utilizado extensivamente até meados de 1950, durante a Guerra da Coréia. Era capaz de uma cadência de tiro de aproximadamente 20 disparo por minuto, com uma guarnição de 4 homens. Apesar de poder ser manejado manualmente por essa guarnição, o canhão tinha todo o seu funcionamento automatizado, com exceção do municiamento. O canhão era acoplado a um radar, um gerador de energia e a um dispositivo preditor. Com isso, operadores do preditor seguiam o alvo pelos dispositivos óticos, com ajuda do radar. O preditor então calculava a distância, velocidade do vento, velocidade do alvo, ângulo do azimute e inclinação, levando em conta a balística do projétil. Com a obtenção do tempo necessário para que o projétil chegasse o mais próximo possível do alvo, gerava as informações sobre a regulagem das espoletas de tempo, que eram fornecidas à guarnição, que fazia os ajustes necessários usando um Fuse Setter.
O canhão era municiado e o preditor automaticamente posicionava os ângulos de elevação e rotação, através de comandos hidráulicos e elétricos. O disparo podia ser feito manual ou automaticamente. Os ajustes de ângulo de inclinação e de rotação, efetuados automaticamente, eram executados de forma bem rápida e precisa. Nesse caso, depois de municiado, a guarnição tinha que tomar cuidado para não correr o risco de alguém ser atingido pelo canhão em movimento. Após o disparo, e através de um longo recuo do cano, o cartucho era ejetado para o piso da plataforma; o cano então retornava à posição de tiro com a culatra aberta, aguardando um novo municiamento.
O preditor (gun director) mais utilizado neste canhão foi o Kerrison M7 ou M9 e inicialmente, os radares eram os SCR-268, lançados em 1941. Em tiros noturnos, um holofote era acoplado ao radar. A partir de 1944 introduziu-se o radar de micro-ondas SCR-584, cuja precisão era de somente 0.06 graus e permitia ao canhão fazer o rastreamento do alvo continuamente. Um computador Bell Labs M3 e o preditor M9 completavam o aparato. Tudo o que restava a ser feito pela guarnição era municiar. Com o SCR-584 o canhão 90mm tornou-se a melhor arma anti-aérea em uso na II Guerra.
O Preditor M7 da Kerrison
Na foto acima pode-se ver, embora esteja parcialmente desmontado e sem os mostradores, o dispositivo de ajuste manual de rotação do canhão com suas dois volantes de ajuste. O ajuste de altura ficava do lado oposto, visto na fotografia abaixo. O canhão 90mm M1 era uma peça de extrema mobilidade. Todo o conjunto é montado sobre uma plataforma que possui um trem de rodagem acoplado. Para o transporte, a plataforma e outros componentes eram de certa forma dobrados, para compor uma peça de tamanho reduzido. A tração era feita normalmente por um trator de esteira M4.
Na foto acima, o canhão 90mm M1A3 em posição de transporte, um engenhoso sistema que podia colocar o canhão em uso em poucos minutos.
Como dissemos, o reboque desse conjunto era feito pelo trator M4, que também podia rebocar o radar. O trator M4 era um veículo de 18 toneladas, dotado de tração de esteiras, que além do motorista transportava toda a guarnição do canhão. Era armado com uma metralhadora Browning de calibre .50BMG montada em reparo giratório. Além disso, transportava acessórios e 54 cartuchos de munição para o canhão, além de 500 cartuchos .50BMG.
O trator M4
O trator M4 possuía tres divisões internas; na frente iam o motorista mais dois homens, no compartimento central iam 8 homens e atrás do compartimento do motor alojavam-se as munições e diversos apetrechos. Possuia uma força de tração de 15.000Kg, impulsionado por um motor a gasolina Walkesha 145GZ de 6 cilindros em linha, atingindo cerca de 50Km/hora. O trator era produzido pela Allis-Chalmers Manufacturing Co.
Acima, um 90mm M1 em estado de excelente de conservação, com a plataforma aberta, em posição de tiro
Munição 90mm
As munições mais utilizadas nesse canhão eram a H.E. M71 e a A.P.C. M82. O cartucho M19 era o mesmo para os dois tipos de projéteis. A espoleta de detonação M28A2, traseira, possuía um longo tubo perfurado, que penetrava quase até a metade interna da carga propelente, para que a queima fosse mais uniforme. O projétil H.E. M71 possuía uma carga de TNT de cerca de 1,05 Kg. A carga propelente do cartucho M19 era de 3,96 Kg. de pólvora NH. A velocidade inicial do projétil era de 820 m/s, com alcance máximo em posição vertical de 13.000 metros e horizontal de 19.000 metros.
Acima, o conjunto detonador do projétil H.E. M71, o M43A5, um intrincado mecanismo de relojoaria.
A munição H.E. utilizava um booster de detonação e uma espoleta de tempo tipo M43A5. Essa espoleta era regulada para um certo retardo, com os dados obtidos pelo preditor, de acordo com a distância do alvo aéreo, para que detonasse o mais próximo possível do alvo, atingindo-o com os estilhaços do projétil. O M43A5 é um intrincado mecanismo de relojoaria, como pode ser visto na figura acima. O dispositivo regulador desse mecanismo, o Fuse Setter M13, ficava instalado junto ao canhão e era manipulado por dois membros da guarnição. O cartucho era posicionado no dispositivo com o projétil inserido numa cavidade ali existente. Um mecanismo de ajuste externo era acertado com os dados fornecidos pelo radar, que girava a capa externa (upper-cap) até o ponto necessário, e com esse giro se ajustava o mecanismo interno do retardo de tempo.
Acima, um fuze-setter M13
O retardo podia ser ajustado de 0,8 a 30 segundos, em incrementos de 0,2 segundos. Todo esse dispositivo era provido de travas de segurança que não permitiam ser movidos acidentalmente. Ao contrário de um relógio, que utiliza ação de mola para acionar o jogo de engrenagens, o M43A5 utilizava a força centrifuga para movimentar seu mecanismo, obtida através do giro do projétil quando em vôo. Portanto, era impossível esse mecanismo ser acionado com a simples manipulação da munição em terra.
A munição APC utilizava um projétil com um detonador tipo B.D. M68 (acima) e não possuía espoleta com regulador de tempo, uma vez que era para uso anti-carro ou anti-pessoal, detonando apenas com o impacto no alvo. O projétil tipo APC (uso terrestre) possuía uma carga explosiva de 0,150 Kg de pólvora do tipo “D” e a carga propelente era igual do H.E., com 3,96 Kg. de pólvora NH. A velocidade inicial era de 820 m/s, alcance máximo de 13.ooo metros. O poder de penetração nas blindagens em aço, a 500 metros, era de 10 cm e a 1000 metros de cerca de 9,5 cm.
O detonador M68 era bem simples. Com o impacto do projétil no alvo, e por inércia, o percussor (firing-pin), originalmente com seu movimento contido por uma arruela (safety-washer) vencia a pressão da mesma e atingia a espoleta (primer). Através de um sistema de atraso utilizando pólvora negra, a carga de detonação (detonator-charges) explodia e causava a ignição do detonador auxiliar (booster-charge). Era a detonação desse booster que finalmente explodia a carga principal. Além disso, o M68 possuía um artefato traçante em sua base para auxiliar em disparos noturnos.
Neste link do Youtube http://youtu.be/pjD7DAGR3Do podemos ver cenas interessantes de montagem, desmontagem e utilização do Canhão 90mm M1.
Canhão Anti-Carro 37mm M3A1
O canhão anti-tanque 37mm M3 e M3A1 de fabricação norte-americana (Watervliet Arsenal) iniciou sua operação em combate por volta de 1940, principalmente pela infantaria britânica e posteriormente pela norte-americana, como um canhão anti-carro padrão. Seu moderado peso por volta de 400Kg permitia que fosse rebocado até por jipes. Sua guarnição era de quatro homens. A partir de 1942, com os maiores e mais bem blindados tanques alemães, o M3 se tornou ineficiente e começou a ser substituído pelos canhões de 57mm.
A munição utilizada nesse canhão era a mesma empregada nos canhões dos tanques Stuart, o cartucho 37mmX223R, do qual já falamos no capítulo referente aos tanques. O recuo era relativamente curto utilizando um pistão amortecedor hidráulico e com mola espiral. A variação de elevação ia de -10º a +15º, com cadência de fogo de até 25 disparos por minuto. Podia ser equipado com mira telescópica do tipo M6.
Acima, detalhe da culatra do canhão 37mm M3A1
Acima, o canhão 37mmM3A1, montado no transportador tipo M4
Veículo de Socorro VBE M-74
O VBE-M74, denominado nos Estados Unidos de ARV M74 (Armory Recovery Vehicle) foi baseado no chassis e trem de rodagem utilizado nos tanques médios Sherman M4A3 e foi utilizado pelo Exército Norte-Americano por volta de 1950. Sua capacidade de tração era de 45 toneladas, o que permitia rebocar um tanque médio como o Sherman. Sua capacidade de elevação era de 29 toneladas, através de seis dois braços articulados. O veículo pesava 47 toneladas e era equipado com uma metralhadora Browning cal. 50 BMG. Sua propulsão era feita por um motor Ford GAA V8, com 450 HP de potência e podia atingir até 40 km/hora. Sua fabricação era norte-americana, produzido pela Bowen-McLaughlin-York.
Acima, o VBE-M74, um veículo de resgate de blindados baseado no tanque médio M4 Sherman
Canhão 152,4mm (Vickers BL-6″)
Não há muita literatura nem muitos dados a respeito desse canhão. Conhecido pela nomenclatura britânica original, BL 6 inch Mk XIX, foi introduzido para uso da Armada Britânica em 1916, como uma opção mais leve e de maior alcance que seu antecessor, o Mk VII. Foi produzido principalmente pela Vickers, enorme conglomerado britânico produtor de equipamentos bélicos de diversas modalidades. Foi desenhado com o intuito de se utilizar no campo, apesar de que seus ancestrais serviram como canhões navais. Utilizava moderno sistema de transporte sobre pneumáticos, o que lhe dava grande mobilidade.
Apesar de ter sido utilizado pelos britânicos durante a I Guerra, também o foi na II Guerra, em direção à costa francesa do Canal da Mancha, com a intenção de proteger e defender a Inglaterra. Foi substituído posteriormente pelos obuses de 155mm. Além de serem utilizados pelos Estados Unidos, diversos exemplares de fabricação entre 1917 e 1918 foram utilizados pelo Brasil para defesa de sua costa, em 1940. Um desses exemplares ainda se encontra no Museu do Forte de Copacabana.
Vista frontal do Vickers de 152,4mm
A culatra e mecanismo de elevação do Vickers 152,4mm
No Brasil foi catalogado como Canhão Britânico Vickers de 152,4 mm. Com uma equipe bem treinada, disparava cerca de 3 tiros por minuto. Sua ogiva tinha alcance máximo de 18.400 metros e seu peso total era de 11.500 Kg. Como é praxe na grande maioria dos canhões de grande calibre, não se utilizam cartuchos de metal. As ogivas são inseridas no cano, e assim que posicionadas, introduzia-se a carga de propelente, acondicionada em forma de tubo, envolta em material que se auto-consome durante a detonação. Portanto, não há cápsulas a serem ejetadas.
Fonte:https://armasonline.org/armas-on-line/antigos-equipamentos-do-exercito-brasileiro/