Um tufo de cabelo doado por um aborígene australiano em 1923 pode mudar definitivamente as teorias migratórias existentes. Hoje, de acordo com os estudos arqueológicos, acredita-se que o homem deixou a África para “povoar” o resto do mundo cerca de 24 mil anos atrás. Só que o DNA deste doador prova que a Austrália foi povoada entre 60 e 50 mil anos atrás.
O resultado do mapeamento genético, fruto do trabalho de uma equipe internacional de pesquisadores, foi publicado na revista Science e confirma a datação atribuída a objetos encontrados anteriormente em escavações na Austrália.
Segundo os arqueólogos australianos, os objetos e ossadas encontradas em diversos sítios arqueológicos indicavam que os primeiros assentamentos humanos na Oceania tiveram início há 50 mil anos atrás. E estes achados, claro, tinham sempre sua datação questionada, pois as teorias apontavam que o homem havia deixado a África há “apenas” 24 mil anos atrás, e não 50 mil anos. Houve também uma primeira onda migratória para a Ásia, iniciada há cerca de 70 mil anos, mas esta migração teria estagnado no continente e não espalhou-se para outras partes do mundo.
Esta pesquisa vem provar o contrário, que esta primeira onda migratória não ficou restrita à Ásia.
Aqui cabe um parênteses, pois não é a primeira vez que a teoria migratória mais aceita é contestada por arqueólogos de outras partes do mundo. Aqui na América, por exemplo, acredita-se que o homem iniciou o povoamento do continente entre 15 e 12 mil anos atrás. Mas o trabalho da arqueóloga brasileira Niède Guidon, que é co-gestora do Parque Nacional Serra da Capivara, no Piauí – onde também fica o Museu do Homem Americano – prova que o homem chegou no continente há cerca de 45 mil anos atrás.
E a arqueóloga brasileira também tem seus achados contestados. Não seria a hora de fazer um mapeamento mais detalhado do genoma humano e compará-lo com o de outros povos também aqui na América, com os nativos brasileiros, por exemplo?
É esta a vontade dos pesquisadores que trabalharam no DNA do doador aborígene de 1923. Eles já estão pensando em fazer o mapeamento em amostras de DNA dos povos da América. Para esta pesquisa, foram comparados os DNAs do aborígene, de um chinês, de um europeu e de um africano. Faltou o material genético do nativo americano!
Preparem-se, pois como eu já escrevi aqui em alguns textos, quando se trata de arqueologia, o que hoje é verdade amanhã já pode ser, ou estar ultrapassado…
Fontes:
- A notícia no Último Segundo, do portal IG. Também encontrei informações no site da BBC Brasil.