Desde a Antiguidade, distintas religiões e civilizações aguardam, temem ou desejam o apocalipse. De onde vem esse fascínio?
José Francisco Botelho | 01/01/2011 12h09
No interior de uma caverna na ilha rochosa de Patmos (na atual Turquia), por volta do ano 95, um idoso eremita reza compenetrado. Subitamente, escuta uma voz às suas costas. As palavras retumbam como o toque de uma trombeta: "Vê e escreve". O homem chamado João enxerga Jesus Cristo com o rosto resplandecente e sete estrelas na mão direita. O velho tomba no solo, num êxtase místico, e contempla, com pavorosos detalhes, o fim de todas as coisas. Quatro cavaleiros prenunciam as desgraças: o céu fica negro, a lua, "vermelha como sangue", e as estrelas caem sobre a terra "como os frutos de uma figueira soprada pela ventania", uma montanha de fogo despenca sobre os mares e legiões de monstros emergem do solo... "Pois é chegado o grande dia da ira divina", alguém grita no meio da hecatombe, "e quem poderá subsistir?"
As cenas descritas há pouco são uma minúscula amostra da destruição narrada no Livro das Revelações - em grego, apokalypsis. O capítulo mais tenebroso da Bíblia é também uma das profecias mais detalhadas sobre o fim da História. Exerceu profunda influência sobre o pensamento ocidental, mas não foi a única nem a primeira especulação sobre o destino derradeiro da humanidade. Desde a Antiguidade, diversas culturas partilharam um fascínio pela ideia do Fim (maiúsculo mesmo). Um dos motivos dessa obsessão está em uma sutil equação: o contraste entre a finitude da vida e a eternidade do tempo. "Para a nossa mente, é muito difícil conceber a ideia da infinitude de espaço ou de tempo", diz o historiador Fernando Ferrari, da UFRGS. "Sabemos que nossa vida terá fim. Mas, quando pensamos no que virá depois dela, somos perturbados pela ideia do tempo infinito." Eis o pano de fundo para tantos mitos de criação e dissolução do Universo em diferentes religiões e culturas. Assim como há um fecho inevitável para a existência individual, os povos buscam um epílogo grandioso e de significado transcendente para o resto. É da natureza do cérebro humano buscar padrões, atribuir ordem ao caos... Das várias formas que se reconhecem nas nuvens em minutos mirando o céu aos heróis espelhados nas constelações.
A moral de uma história geralmente está no fim, como se sabe. Por isso, a maioria dos apocalipses traz a promessa de recompensa às agruras humanas. "A ideia do Fim é ambígua: pode aterrorizar, provocando o anseio de constante protelação, ou fascinar, a ponto de ser desejada", diz o teólogo Leomar Antonio Brustolin, da PUC-RS. Ou seja, o Fim do Mundo nem sempre é um fim do mundo.
Ilustração: Denis Freitas
Hinduísmo, séculos 18 a.C. a 10 d.C.
A roda do tempo
Kalki destruirá os ímpios com a espada de cometa
Há mais de 3 mil anos, os hindus já tinham complicadas profecias em livros sagrados como os Vedas e os Puranas. "As religiões ocidentais têm uma concepção linear do tempo. Já para a hindu, que influenciou o budismo, o tempo é cíclico, com o Universo alternando fases de atividade e de repouso", diz Swami Nirmalatmananda, presidente da Ordem Ramakrishna no Brasil. Segundo o hinduísmo clássico, o Cosmo foi criado pelo deus Brahma. Cada dia na vida dele equivale a 4 bilhões de anos humanos - período que representa um ciclo na história do Universo, ou kalpa. Esse, por sua vez, se divide em mahayugas, períodos de 4 milhões de anos. Mas cabe ao deus Vishnu (não a Brahma) exercer a justiça cósmica. O fim de cada mahayuga é marcado pela decadência moral da humanidade. É quando Vishnu tem de pôr ordem na casa. Dizem os Puranas que a sua próxima encarnação, chamada Kalki, virá armada com uma espada brilhante como um cometa e "irá destruir os ímpios e os ladrões e todas as mentes devotadas à iniquidade". A Terra será incinerada e ressurgirá das cinzas. Após cada kalpa, seu dia divino, Brahma irá dormir e, ao fechar os olhos, o Universo desaparecerá nas trevas - para reaparecer bilhões de anos depois, quando ele acordar. Assim, o ciclo de destruição e ressurgimento jamais acaba.
A crença no tempo circular era a concepção mais comum entre os povos da Antiguidade. O estoicismo, linha filosófica surgida na Grécia no século 3 a.C., apregoava a ocorrência da ekpyrosis, a destruição de tudo em uma explosão de fogo purificador a cada 15 mil anos. Os celtas acreditavam que o céu caía periodicamente sobre a Terra - curiosamente, há um mito semelhante entre os brasileiríssimos jurunas.
Mazdaísmo, séculos 5 a.C. a 9 d.C.
Começo, meio e...
Oceano de lava cobre a terra
Mas quem, então, esticou o tempo em uma linha reta? O criador dessa visão de Juízo Final foi o persa Zaratrusta (ou Zoroastro). Ele teria nascido entre os séculos 10 e 5 a.C. no atual Irã. Filho de um agricultor pobre, partiu aos 30 anos para viver sozinho no deserto. Saiu de lá com os princípios de uma nova religião, o mazdaísmo, que logo se espalhou por toda a Pérsia. Ela cultuava um só deus e admitia a existência de sua antítese maligna. O demoníaco Arimã guerreava constantemente contra o benfazejo Ahura Mazda pelo controle do Universo. Essa batalha era um grande drama cósmico com um desfecho definitivo, narrado no Zend Avesta e no Bundashin (escritos entre os séculos 5 a.C. e 9 d.C.). Num futuro indeterminado, Ahura enviará à Terra seu último profeta: Shaosyant, que ressuscitará os cadáveres de sua tumba. Depois, um Anjo de Fogo derreterá as montanhas. O mundo será coberto por um oceano de lava e metal - os vivos e os mortos terão de atravessá-lo descalços. "Para os justos, o rio de fogo será suave como leite fresco, mas os ímpios e os pecadores arderão nas chamas, até serem purificados", diz o Bundashin. O mundo será reconstruído, Arimã será destruído e o mal deixará de existir.
Judaísmo, século 2 a.C.
O Livro de Daniel
Messias punirá os pecadores e recompensará os justos
As concepções introduzidas pelo mazdaísmo foram aos poucos transmitidas a outros povos do Oriente Médio, como os hebreus, que incorporaram o monoteísmo. Os judeus não tiveram um único profeta, mas vários, e foram dominados sucessivamente por diversas etnias. Nesses séculos de controle estrangeiro, sonhavam com uma futura e definitiva vitória sobre os seus inimigos - e assim surgiu a crença de que, um dia, Jeová colocaria um fim às agruras de seu povo escolhido. No início, os judeus esperavam apenas que Ele lhes desse uma vitória decisiva. Mas, com o tempo, passaram a acreditar que, além de recompensar os bons, puniria os maus. Essas esperanças apocalípticas estão narradas, principalmente, no Livro de Daniel, escrito no século 2 a.C. Nessa época, os hebreus padeciam sob o domínio do macedônio Antíoco IV Epífanes e protagonizaram a chamada Revolta dos Macabeus. Nesse caldo político, o livro, de autor desconhecido, visava levantar o moral do povo e descreve a saga do profeta Daniel, que teria vivido no século 5 a.C. Ele previu a vinda do Messias, destinado a libertar os judeus, punir os maus e dar início a uma era de paz interminável. Alguns historiadores acreditam que o Messias do texto seja uma referência a Judas Macabeu, líder da revolta contra os macedônios. Ele realmente saiu vitorioso e fundou uma dinastia. Mas seus descendentes só reinaram até 63 a.C., quando os judeus foram conquistados pelos romanos. Por isso, persistiu a crença de que o verdadeiro Messias ainda não chegou. Os ortodoxos têm até uma data para sua vinda, o ano 6000 do calendário judaico - aproximadamente 2240 no cristão. "Deus criou o mundo em seis dias e descansou no sétimo. A humanidade passará 6 mil anos de trabalhos e sofrimentos. Com o início do sétimo milênio, chegará a hora do repouso e da recompensa", diz o rabino Mendel Liberow. Dois séculos após a composição do Livro de Daniel, a crença no fim da História chegou a uma seita dissidente, surgida na Terra Santa sob o domínio dos romanos - o cristianismo.
Cristianismo, século 1
As revelações de João
Chuva de meteoros, pragas e outras desgraças, como Os Quatro Cavaleiros do Apocalipse
Quando o Livro das Revelações foi escrito, os cristãos eram ferozmente perseguidos pelo Império Romano. Entre os séculos 1 e 3, milhares foram executados. A matança teria levado João a se exilar em Patmos. Segundo as tradições da Igreja, ele foi um dos apóstolos e também o redator de um dos Evangelhos - alguns historiadores, contudo, acreditam que se trata de pessoas diferentes. O que ninguém nega é a intenção política da obra, influenciada pelo Livro de Daniel. O Apocalipse de João, como também é conhecido, visava fortalecer a fé dos perseguidos, prometendo castigos horríveis aos opressores (e infiéis). Há terremotos, chuvas de meteoros, pragas, pestilências... e, claro, quatro infames cavaleiros que descem dos céus para atormentar a humanidade. O último "se chamava Morte, e o Inferno o seguia" - uma procissão de figuras como gafanhotos gigantes integram a comitiva. É chegada a hora, então, do grande combate entre Deus e o Diabo. Ele enviará à Terra um Anticristo, à frente de um exército gigantesco. Jesus irá derrotá-lo, mas depois de um milênio acorrentado, Satã retorna para a batalha final, prevista para ocorrer em um lugar chamado Armagedom - que alguns identificam como Megiddo, na Palestina. Jesus, mais uma vez, destruirá a legião do Mal. E segue-se o Juízo Final: os pecadores serão lançados ao inferno e os justos viverão para sempre no paraíso. Até hoje, há quem interprete ao pé da letra o Livro das Revelações. É o caso dos dispensionalistas, uma seita evangélica americana. A obra, contudo, foi majoritariamente entendida como uma promessa de paz. "Os cristãos antigos e medievais não viam as imagens apocalípticas como algo negativo", diz Fernando Ferrari. "Terremotos, pragas e até demônios seriam instrumentos de Deus e cumpriam uma função positiva. Foi com a Reforma Protestante que a ênfase passou da esperança para a angústia. O medo do fim do mundo, nesse sentido, é uma invenção moderna".
Islamismo, século 7
O falso profeta
Mahdi e Jesus derrotam o Masih-Al-Dajjal. o Julgamento Final dura milhares de anos
O conceito do Fim do Mundo como algo essencialmente positivo também influenciou o islamismo, surgido no século 7 com a pregação do profeta Maomé - que absorveu muitas crenças de seus antecessores monoteístas. O Juízo Final descrito no Alcorão e nos Hadith (uma coleção de ditos do Profeta) tem muitas semelhanças com o Livro das Revelações. Na tradição muçulmana, o Anticristo é Masih-Al-Dajjal, "o falso profeta", que tentará dominar o mundo. Ele será derrotado pelo Mahdi, espécie de Messias islâmico, que será ajudado em sua tarefa por ninguém menos que "Issa, filho de Miriam", ou Jesus. Após a batalha final, o anjo Israfil tocará sua trombeta e começará o grande Julgamento, que durará entre mil e 50 mil anos. Até as plantas e os animais serão ressuscitados e virão depor contra a humanidade. Por fim, os humanos terão de atravessar uma ponte fina como um fio de cabelo e afiada como uma espada - os bons chegarão ao paraíso para a vida eterna e os maus cairão no inferno. O momento decisivo da humanidade é chamado "A Hora" para os muçulmanos. Como o cristianismo, o islã não tem data marcada para o fim dos tempos: só Alá sabe. Daí um dos ditos mais famosos de Maomé: "Vive como se tua vida fosse infinita, mas faz o bem como se fosses morrer amanhã".
Ilustração: Denis Freitas
Vikings, por volta do século 13
Crepúsculo dos deuses
Uma batalha catastrófica envolvendo deuses e monstros
Os vikings, que habitavam a Escandinávia na Idade Média, foram um dos últimos povos europeus a se converterem ao cristianismo. E previram um apocalipse pagão e amoral. É a lenda do Ragnarok, ou A Morte dos Deuses, contada nos Eddas, escritos por volta do século 13. Os vikings já eram cristãos e conheciam o Armagedom da Bíblia, mas as histórias falam de seus deuses antigos, que habitavam o mítico país de Asgard, sob o governo de Odin. O papel de vilão cabia a Loki, expulso de Asgard por causa de suas tramoias contra os parentes divinos. Os vikings acreditavam também na existência de elfos, anões, gigantes e monstros. E quase todas essas espécies sairão na pancada durante o apocalipse mais heavy metal da História. Tudo começará com o Fimbulvert, um inverno sobrenatural que durará três anos. Loki, então, comandará um exército contra Asgard. Suas tropas incluirão gigantes e monstros, como Fenrir, o lobo demoníaco, e Jormungad, uma serpente saída dos confins do oceano. Heimdall, o arauto dos deuses, soprará sua trombeta - e aí, sim, o tempo vai fechar. Até o manda-chuva Odin morrerá, devorado pelo lobo. Asgard virará um cemitério. E os humanos serão exterminados por tabela. "A mitologia nórdica pode ser vista como uma mistura das concepções linear e circular do tempo", diz o historiador Johnni Langer, da UFMA. "Por um lado, o céu e a terra renascerão, como nos mitos hindus. Mas não há previsão de outras destruições." Não haverá paraíso nem inferno, até porque os vikings não tinham os conceitos de pecado e julgamento cristãos nas lendas originais que inspiraram os Eddas. "Haverá um novo Universo semelhante ao anterior", afirma Langer.
Maias, século 3
A verdade sobre 2012
A Nova Era não significa o fim de tudo o que existe
Muita gente já tentou antecipar a data do Fim - evidentemente, ninguém acertou. Isso não diminuiu a atração por ele (e as especulações sobre quando virá). A data em voga é 21 de dezembro de 2012, alimentada por livros, sites e até por uma megaprodução hollywoodiana, todos baseados numa suposta lenda da antiga cultura maia. Nas últimas décadas, várias teorias catastróficas surgiram em torno dessa data, de terremotos dantescos a mortíferas tempestades solares. Mas o que os maias realmente previram? É fato que dominavam a astronomia e desenvolveram complexos métodos para contar o tempo. Eles adotavam quatro calendários diferentes - entre eles, o Tzolkin e a Conta Longa, destinada a medir grandes períodos. O primeiro registro maia de seu uso é do século 3. Composta de uma combinação de cinco algarismos, ela era gravada em templos para comemorar grandes eventos. Os algarismos aumentam da direita para a esquerda, começando em 0.0.0.0.0. Após 1 milhão e 872 mil dias (5125,37 anos), a marcação volta a zerar. Para os maias, o período entre as duas "datas zero" equivalia a um Grande Ciclo ou Era - a cada rodada de zeros, o Universo seria renovado pelos deuses. No século 20, foi descoberta a sincronia entre a Conta Longa e o calendário gregoriano. Assim, a "data zero" inicial seria 11 de agosto de 3114 a.C. Para os maias, essa era uma referência sagrada, o início do ciclo que terminaria na próxima "data zero": 21/12/2012. Mas estudiosos já contestam esse cálculo e, sobretudo, os maias jamais previram o fim do mundo! Acreditavam num tempo cíclico, mas sem as repetidas destruições da religião hindu, que, aliás, tinha similaridades com a mitologia dos astecas, segundo os quais o mundo já fora arrasado quatro vezes. No século 16, quando os espanhóis invadiram o México, os astecas viviam na Era do 5o Sol. "Os antigos maias viam a mudança de ciclos como períodos de transformação e renovação. O ano de 2012 seria simplesmente o momento de retomar antigos ensinamentos espirituais por meio de cerimônias e celebrações", diz o pesquisador John Major Jenkins.
Epílogo
No século 20, a ciência demonstra várias hipóteses para a extinção da vida na terra
Da hindu à cristã ou muçulmana, todas as tradicionais visões do Fim têm pelo menos uma coisa em comum: o "vazio" não se sobrepõe, o desfecho da História não é absoluto e traz consigo um significado ético ou filosófico.
Até mesmo a mitologia viking pagã contém a promessa de um mundo novo. O deus Balder (filho de Odin), cuja morte maquinada por Loki é um dos fatores que desencadeiam o Ragnarok, retorna à vida. Lif e Lifthrasir, únicos sobreviventes do armagedon nórdico, são incumbidos, então, de repovoar a Terra.
No século 20, porém, destaca-se uma visão materialista e a coisa muda de figura. A ideia do apocalipse se torna, ao mesmo tempo, mais limitada e radical: a ciência demonstra a "insignificância" da Humanidade perante o Universo (o fim dela, ou da vida na Terra, não implica necessariamente na extinção de tudo o que existe) e apresenta, em vez de fenômenos sobrenaturais, um cardápio de desfechos assustadoramente plausíveis.
Após a Segunda Guerra e a proliferação das armas nucleares (especialmente no auge da Guerra Fria), o potencial de autodestruição se sobrepõe. É esse, talvez, o grande marco dessa nova perspectiva do apocalipse. Nesse contexto, por exemplo, somado às transformações da sociedade nos anos 1960, diz Jonathan Kirsch em A History of the End of the World (Uma História do Fim do Mundo, ainda sem edição no Brasil), o Livro das Revelações "deixou o gueto cristão e entrou no coração da política americana e da cultura popular".
Ao temor da bomba atômica, junta-se o do aquecimento global, da exaustão e do colapso dos recursos naturais básicos, das epidemias de superbactérias e o do choque de meteoros gigantes contra o planeta, como o que aniquilou os dinossauros - só para citar alguns, além da inescapável extinção do sistema solar (já demonstrada pelos cientistas) por volta de 1 bilhão d.C.
E talvez até por isso tanta gente insista, com estranha e mórbida esperança, em vasculhar previsões antigas como as dos maias. Teimoso como ele só, o cérebro humano continua buscando um sentido que encadeie o destino humano à história do Universo. Porque sem um significado transcendente que nos justifique, somos assombrados pelo medo de não encontrar moral alguma no fim da História. É o temor do absurdo - muito bem expresso por T. S. Eliott, em 1925, no poema Os Homens Ocos:
Assim acaba o mundo:
Não com uma explosão, mas com um gemido de cansaço.
Datas furadas
Alguns dos falsos apocalipses previstos ao longo da história
Século 1
Interpretando uma fala de Jesus no Evangelho de Mateus, muitos dos primeiros cristãos achavam que o mundo acabaria ainda na sua geração.
1000
A volta de Jesus já foi calculada para mil anos após a sua morte. Às vésperas da data, centenas de fieis doaram seus bens à Igreja para garantir um lugar no céu.
1205
Segundo o italiano Joaquim de Fiore, o Anticristo já andava pela Europa e o Armageddon ocorreria nesse ano.
Século 14
A peste negra foi vista por muitos como o prenúncio do fim. Seitas apocalípticas pipocaram pela Europa.
1669
Na Rússia, cristãos ortodoxos se convenceram de que o Anticristo estava à solta. Cerca de 20 mil pessoas se suicidaram por medo de enfrentá-lo.
22/10/1844
Depois de errar três vezes antes, William Miller, pai do movimento adventista, previu que Jesus retornaria nessa data. Milhares de pessoas abandonaram tudo para aguardar esse momento.
Será que vai?
Segundo Nostradamus, 3797 é o ano fatídico
Nascido em 1593, na França, Michel de Nostradamus é considerado por muitos o maior vidente da Europa. Ele deixou dez volumes de enigmáticas profecias, As Centúrias. Em uma carta ao filho, disse que suas profecias cobrem a história humana até 3797 - mas não explica se o mundo acabará nesse ano. Contudo, ele deixou versos que sugerem uma conflagração universal no futuro: "Quando os do Norte tiverem se unido, haverá grande receio no Leste. A Nova Terra terá atingido o auge do seu poder... Dos céus virá o grande rei do terror". Alguns interpretam isso como um conflito entre os EUA (a "Nova Terra") e algum país do Oriente Médio. Nostradamus também anunciou a vinda de três Anticristos. Os dois primeiros seriam Napoleão e Hitler. O terceiro ainda estaria por vir.
Saiba mais
LIVROS
2012 - A História, John Major Jenkins, Larousse, 2010.
O autor reconstitui a criação dos calendários maias e desfaz uma série de mitos sobre a civilização que viveu seu auge entre os séculos 3 e 10.
O Fim da Terra e do Céu: O Apocalipse na Religião e na Ciência, Marcelo Gleiser, Companhia das Letras, 2001.
O físico faz um apanhado das visões sobre o apocalipse em linguagem acessível e mostra como o mundo pode acabar por razões naturais.
O Mito do Eterno Retorno, Mircea Eliade, Edições 70, 2000.
Vários de seus livros ajudam a entender a concepção do fim do mundo. Além desse, vale citar o Tratado de História das Religiões.
A Bíblia - Uma Biografia. Karen Armstrong, Jorge Zahar, 2007.
A autora refaz a história das escrituras judaico-cristãs e explica, entre outras coisas, o contexto em que foi escrito o Livro das Revelações.
FILME
2012, direção de Roland Emmerich, 2009.
Exemplo das especulações sobre 2012 sem base histórica.
Post-Scriptum
Newton, a Bíblia e o Apocalipse
Segundo cientista, profecias bíblicas preveem o Armagedom para 2060
Isaac Newton é reconhecidamente um dos pais da ciência moderna. Em 1687, deu à Humanidade as leis do movimento e da gravidade. Depois revelou que a luz branca é heterogênea e explicou as cores do arco-íris. Ainda desenvolveu o cálculo e o telescópio refletor. O que pouco se sabe sobre sua carreira é que ele dedicou mais tempo ao estudo da Bíblia (e de suas profecias) do que à ciência.
Em que acreditava Newton sobre o Apocalipse - o último livro da Bíblia? Ele não via a si mesmo como um profeta, mas apenas como um intérprete das profecias. Nunca achou ter recebido revelações de Deus. Ao contrário, abordou os textos de modo acadêmico, discernindo os significados de símbolos proféticos por meio da cuidadosa comparação entre as escrituras e o estudo da História. Os resultados de seu meio século de trabalho sobre as profecias são impressionantes e surpreendem tanto aqueles que erroneamente acreditam que Newton era um pensador secular (visão gerada pela ideia de que ciência e religião não têm nada a ver e pela noção de que ele inventou um "universo mecânico") quanto aqueles que não imaginam que o cientista fosse, secretamente, um herege.
Há pelo menos quatro pontos-chave para entender seus estudos: 1) Ele tinha uma visão literal das profecias; 2) Era um milenarista; 3) Para ele, o Livro das Revelações previu 2 mil anos de história da Igreja contados desde a ascensão de Cristo até o seu retorno à terra, incluindo a corrupção da maioria da cristandade e a preservação dos verdadeiros cristãos. Newton concluiu que a Grande Prostituta citada no Apocalipse: 17 era ninguém menos que a Igreja papal; 4) Ele acreditava que as profecias bíblicas revelariam que Deus existe. Mas elas se tornariam totalmente claras só quando acontecessem. "A forma (como ocorrerá) eu não sei. Deixemos o tempo ser o intérprete", escreveu.
Ao estudar o Velho Testamento, concluiu que os judeus um dia retornariam a Israel, o que serviria como evidência de que a Bíblia é verdadeiramente inspirada por Deus, e o Templo de Jerusalém seria reconstruído. O evento essencial da hora do fim seria a Segunda Vinda de Cristo, que subjugaria os maus e estabeleceria o Reino de Deus na Terra - esse millenium de paz estaria descrito em Isaías:2. Mas a vitória seria precedida pelo Armagedom, o grande conflito mencionado no Apocalipse: 16.
Quando os judeus voltariam a Israel? Quando o templo seria reconstruído e quando ocorreriam o Armageddon e o retorno de Cristo? Newton considerava várias cronologias baseadas no estudo dos períodos de tempo citados no Livro de Daniel e no Apocalipse. A chave são os 1260 dias mencionados em Daniel: 7. Assim como outros intérpretes protestantes do século 17, ele acreditava que esses dias representavam anos e o período de corrupção mais profunda da Igreja Católica Apostólica Romana. Os eventos da hora do fim ocorreriam perto da conclusão desses 1260 anos. Para descobrir quando seria esse momento, Newton dedicou-se, primeiro, a verificar quando teria começado esse período. Em décadas de estudos, considerou mais de uma possível data inicial, inclusive a queda do imperador romano do leste, Phocas, em 607, que transformou o papa em bispo universal. Isso colocaria o Armagedom por volta de 1870. Depois, Newton identificou o ano 800 como o ponto de partida - ano em que Carlos Magno foi coroado à frente do Sacro Império Romano. Assim, o período de 1260 anos de maior apostasia e corrupção da Igreja terminaria em 2060, ou por aí.
O ano de 2060 não traria o fim do mundo, mas o fim da corrupção, da Santíssima Trindade Cristã (para Newton, sobretudo o catolicismo romano, o qual chamava de "babilônio"). Haveria pragas, guerras e grande calamidade até o millenium, mas tudo isso seria o prelúdio para o Reino de paz, quando os homens transformariam espadas em arados e lanças em foices. Portanto, para Newton, o Armagedom e a queda do cristianismo corrupto seria apenas a tempestade antes da calmaria, quando Cristo traria uma era de paz, prosperidade e pureza espiritual.
Fonte: Aventuras na História