24.10.20
A Companhia de Fuzileiros na campanha da Itália
General Mark Clark passa em revista fuzileiros brasileiros na Itália.
Pelo General Everaldo José da Silva, Revista do Exército Brasileiro Nº 121 (1): 60-82, janeiro-março de 1984.
I – Introdução
Na qualidade de comandante de uma companhia de fuzileiros da Força Expedicionária Brasileira (FEB) não poderia me furtar a transmitir impressões sobre como vi o emprego da companhia durante a guerra, na Itália.
Assim, atendendo a convite da Revista do Exército Brasileiro, após decorridos quase 40 anos, eis-me voltando aos tempos de capitão, à frente de uma subunidade – a 1ª Companhia do Regimento “Sampaio” – a unidade de infantaria com que o então Distrito Federal contribuiu para organizar a FEB.
Não foi muito fácil, confesso, reorganizar muitas idéias e rever aquela pequena coluna de combatentes nas diferentes ações de que tomou parte.
6º RI de volta a São Paulo, 1945.
Às vezes, chegou-me a fugir da memória o que tanto me preocupara na época para o cumprimento da missão determinada – o que fazer, como fazer e quando fazer – e como foi feito, na realidade.
Ouvindo melhor o subconsciente, porém, foi-me ele ainda fiel e consegui reunir as idéias adiante transcritas, todas elas pautadas na mais legítima lealdade para com aquele pugilo de bravos que tive a honra e a felicidade de comandar.
É possível, é evidente, que a outro comandante de companhia de fuzileiros poderá parecer estranha alguma conceituação que hoje trago a registro com o único propósito de servir a estudos pormenorizados que se desejar fazer a respeito da guerra na Itália, da doutrina de ontem em paralelo com a que se realiza hoje em nosso Exército Brasileiro, que nos parece muito benéfico à chegada de conclusões no aprimoramento do emprego das armas, mui especialmente da subunidade de infantaria, cuja missão no combate é, no ataque, aproximar-se o mais possível do inimigo para destruí-lo ou capturá-lo, tomando-lhe a posição, e na defensiva, repelir o avanço inimigo pelo fogo, mantendo, a todo custo, a posição ocupada.
Procurei n este registro focalizar as fases mais importantes em que a companhia de fuzileiros foi empregada durante a campanha, descrevendo fatos e comportamentos, através de informações colhidas do batalhão, em relatórios escritos e orais, e por meio de companheiros de fileira que comigo conviveram na guerra e após seu término.
Para isso, seguiremos o sumário elaborado justamente sob as idéias enumeradas e que norteará o presente trabalho.
II – Organização
A companhia de fuzileiros tipo FEB, compunha-se da seção de comando, três pelotões de fuzileiros e um pelotão de petrechos, este correspondendo ao pelotão de apoio na atual organização, com menor poder de fogo, evidentemente, em face da presença, no atual pelotão de apoio, da seção de morteiros 81 e outra, de canhões sem-recuo, principal meio de defesa a serviço da companhia.
Em ligeira observação, verifica-se que a atual organização possui maior poder de fogo e mais autonomia em combate, por poder dispensar o acompanhamento, em determinadas missões, da companhia de apoio do batalhão.
O pelotão de petrechos da companhia tipo FEB possuía, além de uma seção de metralhadoras leves .30, uma seção de morteiros 60 mm. Além desse armamento, a companhia possuía uma metralhadora .50, arma geralmente empregada contra viaturas de qualquer tipo e contra a aviação inimiga.
À falta de armamento de maior potência na companhia de fuzileiros, o batalhão reforçava as companhias segundo as missões, com suas seções de metralhadoras pesadas e morteiros 81.
Evidentemente, a atual organização dá à companhia maior liberdade de ação em combate, maior autonomia.
Não se deve inferir daí, entretanto, que a organização tipo FEB tenha sido insuficiente para atuar nos idos de 40, na II Grande Guerra. O batalhão supriu essa necessidade.
A companhia de fuzileiros era mais fluída, menos pesada, mais leve, em detrimento, é lógico, de sua capacidade de combate.
Forçosamente, a mecanização, a blindagem, meios e princípios generalizados no modo de combater hoje, foram aperfeiçoando a organização atualmente existente.
Quanto a efetivo, a companhia tipo FEB possuía da ordem de 200 homens. Seus pelotões possuíam 41 homens, inclusive um 3º sargento orientador; fora o capitão comandante e o 1º tenente subcomandante, a seção de comando constava de 33 praças.
No que se refere a armamento, o fuzil (arma individual) usado era o Springfield ou Garand, hoje substituídos pelo FAL.
As metralhadoras eram leves – ponto 30, e pesadas – ponto 50.
Além disso, como já nos referimos anteriormente, a companhia possuía três morteiros 60, hoje distribuídos aos pelotões de fuzileiros.
Sobre transporte, a companhia possuía duas ou três viaturas ¼ de tonelada (jeep) para o comando da companhia e usadas para carregar o material do pelotão de petrechos, nos grandes deslocamentos.
O equipamento da Seção de Comando, inclusive os sacos de lona, eram transportados em viaturas do batalhão.
Parece-nos merecer especial enforque a questão do uniforme.
Era ele de lã verde-oliva, que resguardava o homem da inclemência do clima europeu, nos meses de inverno. Além da calça e blusa, foi distribuída uma jaqueta, à semelhança de nossa japona, porém oferecendo vantagens por ser de duas faces, uma delas forrada de lã que aquecia a contento.
Foram também distribuídas galochas de borracha que resguardavam os pés da friagem, evitando o conhecido problema do “pé-de-trincheira”. Para forrar o capacete, havia um gorro de lá que protegia a cabeça e os ouvidos do vento, da neve e do frio.
Aos motoristas, foi pago um par de óculos especiais de forma a proteger os olhos da neve e do vento quando na direção.
Em síntese muito ligeira, aqui estão elementos que constituíram características da companhia tipo FEB. Poderíamos entrar em outras minudências, lembrando, por exemplo, a capa branca, o forro branco da barraca, com o objetivo de mascarar, camuflar, no lençol branco que cobre a Itália nos meses de dezembro, janeiro e fevereiro e outras peças que o Exército Norte-Americano, a quem cabia apoiar a FEB no aspecto, distribuiu às forças brasileiros.
Não julgo, porém, de real importância para o objetivo do trabalho e, por isso, passo a considerações sobre o emprego da companhia em combate.
III – Emprego
Não pretendemos examinar o emprego da companhia tipo FEB em todas as fases do combate.
Preferimos adiantar desde já que fugiu bastante ao que se ensina e se aprende na teoria. Na prática, as missões atribuídas às unidades eram bem superiores ao que normalmente se via nos manuais e se exercitava em paz. As frentes de ataque e de defesa, os objetivos a conquistar e as posições a guardar, a manter, distribuídas à companhia tipo FEB, eram mais amplas do que previam os regulamentos, aconselhavam os princípios táticos. Entretanto, eram missões ... E missões se cumprem com os meios disponíveis.
Atribuímos esse distanciamento da teoria o fato da escassez de forças no teatro de operações italiano, à situação em si. Essa não observância às possibilidades ideais da subunidade acarretava dificuldades no desenrolar do cumprimento da missão.
No âmbito do batalhão, provocava verdadeiros vazios entre as subunidades ao ameaçar os flancos. Dificultavam as ligações entre elas e o comando do batalhão se sentia algumas vezes sem poder influir sobre o combate dada a falta de ligações, pelo rádio 111, que falhava em momentos precioso para a conduta da operação.
No âmbito da companhia, entre os pelotões, ocorria o mesmo problema, pois nem o fio, nem o rádio, nem o mensageiro funcionavam a pleno êxito nessas oportunidades em que o bombardeio da artilharia e de morteiros inimigos era desfechado sobre a coluna atacante, sobre os núcleos de defesa de uma posição.
Em face desses problemas, ocorria também a pouca disponibilidade de meios para constituir a reserva, princípio que garante a manutenção do impulso na ofensiva, e na defensiva assegura o combate para a defesa de uma posição tomada ao inimigo.
Como exemplo gritante, citamos a ação de 21 de fevereiro de 1945, sobre Castelo, em que o comandante do I Batalhão do Regimento “Sampaio” usou um pelotão da 1ª Companhia como elemento de segurança imediata dos elementos de comando do batalhão que acompanhava o ataque, ficando assim aquela subunidade com dois pelotões somente para cumprir a missão que lhe fora atribuída, de atacar à retaguarda e à esquerda do dispositivo do batalhão, em ligação com os elementos mais da direita da 10ª Divisão de Montanha, que fora lançada sobre a crista do conjunto Belvedere - Monte Gorgolesco - Capela de Ronchidos – Della Torracia. E observe-se ainda que, para essa operação, o batalhão solicitou e obteve o reforço da 5ª Companhia (do capitão Waldir Moreira Sampaio) ao regimento de infantaria, fato também que não nos parecia muito usual na teoria, mas que, segundo sentiu o major comandante do I Batalhão, se tornava imprescindível para que o ataque fosse reanimado e crescesse de ímpeto, o que realmente ocorreu, com absoluta segurança.
Na defesa, quase sempre, os dispositivos eram muito dispersos, as frentes largas demais, determinando a leitura cuidadosa de um plano de fogos em que estes se cruzassem evitando vazios, trechos não batidos.
Os pelotões ocupavam pontos críticos não permitindo que guardássemos reservas no âmbito da companhia.
O batalhão quase sempre preferia suprir essa dificuldade, colocando uma companhia ou mesmo o pelotão em condições de atuar na frente vulnerável, ameaçada.
O problema, porém sempre existiu: frentes superiores às possibilidades dos meios, determinando cuidadosa vigilância, inclusive por meio de pequenas patrulhas à noite para evitar surpresas desagradáveis.
Sobre patrulhas, reservamos um item especial, dado seu largo emprego em campanha, em particular nos meses em que o inverno italiano obrigou aos aliados a fazerem uma parda na guerra de movimento, aproveitando para recompletarem seus efetivos, reorganizarem-se para a grande ofensiva da primavera, enquanto o degelo bloqueava as estradas.
IV – Patrulhas
Patrulha na região da Torre di Nerone, 1944.
Como todos sabem, os meses de defensiva na Itália tiveram como ações de movimento, agressivas, as conhecidas patrulhas do “pracinha”, que se infiltrava nas linhas inimigas em busca de informações, em busca de prisioneiros e para precisar melhor as posições que nos incomodavam de dia e à noite com tiros de metralhadoras e fogos de artifício, para irritar o nervo brasileiros que, a pouca distância, às vezes, chegava a sentir os preparativos e ouvir suas conversas no idioma alemão.
Segundo a missão que recebia, a patrulha se dizia:
- de Reconhecimento
- de Combate
- para fazer prisioneiro.
Prisioneiros alemães.
Não vamos definir os diferentes tipos de patrulha, convindo porém focalizar que a de combate normalmente tinha por missão “se possível” ocupar a posição inimiga, expulsando, destruindo ou capturando seus ocupantes e, por isso, era considerada de maior importância e de maior responsabilidade para os patrulheiros.
As patrulhas tanto se realizavam durante o dia como à noite, tudo em função dos fins a que deveriam servir ao escalão que as determinava.
Eram constituídas desde pequenas esquadras de ligação até o pelotão reforçado, que tinha por missão enfrentar o adversário (tendo em vista o combate para ocupar posição, desalojando dela o ocupante) ou capturar prisioneiro.
Normalmente, as patrulhas vinham em ordem escrita do batalhão, que agia por iniciativa própria ou por ordem do regimento.
Ao chegar a ordem à subunidade, os homens que constituiriam a patrulha eram cuidadosamente selecionados, segundo a missão a que seria levados.
O estudo da missão “ordem de patrulha” começava com a interpretação do documento, por parte, inicialmente, do comandante da companhia, e posteriormente, em conjunto com o oficial ou sargento designado.
Eram fatores a pesar nesse estudo os seguintes dados:
- missão
- terreno, principalmente o objetivo, o local até onde deveria chegar a patrulha, os itinerários de ida e de regresso, os acidentes mais importantes do terreno a percorrer, trechos minados etc.
- inimigo, natureza e efetivo do inimigo com que provavelmente os patrulheiros iriam encontrar.
Esse estudo era feito inicialmente na carta, e, posteriormente, no terreno, de um posto de observação (PO) de onde seria abarcada a maior extensão da área a percorrer. Quando possível, aos patrulheiros de maior responsabilidade no cumprimento da missão era mostrado no terreno o processo de como deveria cumprir sua tarefa no conjunto da patrulha.
Conforme a importância da missão, o batalhão acionava seus morteiros e o observador avançado da artilharia para apoiar a patrulha em caso de necessidade. Houve um pelotão que, durante uma “patrulha de ocupação” de dia, recebeu apoio de fogo de artilharia, que assegurou seu retorno às bases, isolando elementos inimigos que procuravam cercar, envolver a patrulha, mediante uma progressão protegida por pequena dobra do terreno. Não fosse o desencadeamento do fogo previsto e a patrulha teria sido severamente castigada por sua audácia em penetrar nas linhas inimigas em as conhecer devidamente.
Ao término da missão, de retorno às linhas inimigas, cabe ao comandante da patrulha fazer relatório oral pormenorizado ao comandante da companhia, que o transmite, imediatamente, ao comandante do batalhão, por intermédio do oficial de permanência, de forma que as informações se tornem úteis e não percam em sua validade por decurso de tempo.
O General Crittenberger, comandante do IV Corpo americano, aperta a mão do 3º Sgt. Onofre de Aguiar que acabou de retornar com a sua patrulha, novembro de 1944.
Além das informações orais, é feito um relatório por escrito o m ais explícito possível, registrando-se, de preferência, a natureza do inimigo, quanto a efetivo, armamento e missão.
Acompanha o relatório um croquis onde eram amarradas as resistências (PO e postos de comando, PC), com os meios de comunicação usados pelo inimigo.
Quanto a prisioneiros, estes não devem permanecer por muito tempo no PC da companhia. Devem ser encaminhados o mais cedo possível ao PC do batalhão.
Assim se procedia na Itália.
Em anexo, um Relatório de Patrulha, elaborado pelo então tenente Carlos Augusto de Oliveira Lima, comandante de uma patrulha, à base de pelotão reforçado.
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REGIMENTO “SAMPAIO”
I Btl / 1ª Cia
Em 25 de janeiro de 1945.
Do 1º Ten Carlos Augusto de O. Lima
Ao Sr. Major Cmt do I Btl
Relatório da patrulha do dia 24 de janeiro de 1945.
Dia: vinte e quatro (24)
Hora de Saída: 09:55h
Hora de Regresso: 18:00h
Duração: 08:05h
Efetivo: Um pelotão de fuzileiros (Pel Fzo), uma seção de metralhadoras leves (Sç Mtr L), uma equipe de mineiros com três homens e um radiotelegrafista.
Comando: do 1º Ten Carlos Augusto de Oliveira Lima.
Missão: ocupar o Ponto 999, caso não encontre resistências fortes capazes de a deter.
Itinerário: Oratório delle Sassane, Ponto 832, Caselina e Ponto 999.
Execução:
A) Mecanismo:
1) À saída das linhas, o pelotão tomou o dispositivo de grupos sucessivos a fim de passar a região minada na frente das posições. O movimento foi protegido por densa neblina que descia sobre a região.
2) Ao passar o terreno minado, já dentro dos bosques das castanheiras, o pelotão mudou de formação passando a um GC à frente e dois atrás, todos desenvolvidos. A Sc Mtr L deslocou-se à retaguarda uns 100 metros.
3) Passagem do rio: o grupo ponta atravessou o rio Marano, a fim de fazer o reconhecimento da margem e de Seneveglio. O 2º GC desceu ao barranco do rio, protegendo o reconhecimento da ponta, enquanto o 3º GC e a Sc Mtr L ficaram a uns 300 metros à retaguarda, a fim de apoiar o primeiro escalão. A equipe de mineiros deslocou-se com o GC ponta.
4) Subida do espigão de Oratório: o GC ponta subiu a encosta do espigão enquanto o 2º GC, da passagem do rio, acompanhava o movimento; e o 3º GC e mais uma peça de Mtr, desciam até o rio. A outra peça de Mtr, acompanhou o 2º GC, próximo ao morteiro do pelotão. (nota do Clermont: o que indica que a fração, também, tinha sido reforçada por uma peça da seção de morteiros 60 da companhia). Em cada parada foi feito o reajustamento necessário e foram das missões aos diversos elementos. Em Senevlegio foram ouvidos civis que informaram que há mais de 10 dias os alemães tinham descido até ali.
5) Reconhecimento da casa grande Oratório: o 1º GC atingiu a casa grande e reconheceu-a, não tendo encontrado inimigo. O comandante do pelotão (Cmt Pel), ao deslocar-se para a região da casa grande, determinou que o GC que vinha à retaguarda, à esquerda, reconhecesse uma posição inimiga naquela ocasião descoberta. Isto foi feito e no interior da posição foi encontrada somente uma carta particular. Enquanto isso se passava foram encontradas várias minas pelo GC ponta a uns 100 metros ao norte da casa grande.
O Cmt Pel determinou que os mineiros fizessem um reconhecimento à frente do GC ponta e procurassem remover as minas, abrindo passagem para o primeiro elemento. Foram retiradas duas minas, tendo o Cmt Pel feito, pessoalmente, o reconhecimento do trecho minado, encontrado fios altos e várias minas e booby-traps (“armadilhas para tolos”) à superfície da terra umas, e outras enterradas. Até então nenhuma manifestação inimiga sobre a patrulha. Como o terreno minado se estendesse por toda a frente do itinerário, o Cmt Pel julgou aconselhável abrigar seus homens e proceder um estudo mais demorado do terreno, a fim de poder atravessá-lo. Uns 10 minutos passaram-se nessa situação e quando o Cmt Pel comunicou-se pelo rádio com o comandante da companhia (Cmt Cia), foram vistos vários alemães progredindo pela direita, em direção à casa grande; foi quando o 3º sargento Bernardindo Jesus da Silva, do grupo da esquerda e à retaguarda, por iniciativa própria atirou sobre dois deles, prostrando-os. Este movimento inimigo foi visto pelos mineiros que ainda removiam minas, tendo o soldado nº 573, José Torres de Oliveira da Companhia de Comando do I Batalhão (CC I), atirado num dos alemães que progredia, tombando-o. Foi trocado então um forte tiroteio, tendo os alemães desaparecido aproveitando uma pequena dobra do terreno. Várias metralhadoras inimigas atiraram então de direções diversas sobre a patrulha. Convém notar mais uma vez que o disfarce e a natureza da pólvora e das armas dos alemães não permitiram à patrulha amarrar as resistências. Foram procedidos vários deslocamentos dos GC da patrulha para aproveitar melhor o terreno, ao mesmo tempo que se procurava posição melhor de tiro, para as direções de onde partiam os tiros inimigos. Tornou-se difícil encontrar posições para os fuzis automáticos (FA) e Mtr, em virtude dos pés enterrarem-se na neve, em média 50 centímetros. Foram tentados vários deslocamentos, aproveitando o inimigo para atirar nessa ocasião, prejudicando as intenções da patrulha. Como essa situação se demorasse sem que a patrulha precisasse as resistências, o Cmt Pel resolveu comunicar-se com o Cmt Cia, com o que obteve apoio de artilharia e de morteiros, permitindo realizar um desdobramento pela esquerda, aproveitando as ravinas a oeste do espigão, guardado como estava de Geletto. Determinou o Cmt Pel que a Sç Mtr L organizasse uma posição de tiro de maneira que protegesse esse movimento e que o 3º GC guardasse a direita, atirando sobre qualquer reação inimiga que dessa direção partisse. O GC ponta tentou atingir a casa, progredindo uns 50 metros. Cada vez que esse GC progredia, cerrado tiroteio caía sobre ele, prejudicando sua progressão, já grandemente prejudicada pela neve que impedia os lances rápidos. O movimento sobre a neve é quase que andando. No entretanto, a patrulha não desanimou. Foram dados três tiros de bazooka sobre a casa, onde o inimigo resistia. Com os elementos de apoio e proteção foram trocados vários tiros de FA e fuzil ordinário (FO, isto é, a arma individual do soldado), nesse momento. O GC que avançava sobre a casa atirou também na direção das resistências, não conseguindo neutralizá-las, nem diminuir o seu fogo. Foram mandados três foguetes vermelhos pelo inimigo, à direita da patrulha, e observados em seguida movimentos na mesma direção, sendo evidente a intenção do inimigo de envolver a patrulha. Comunicado o que acontecia ao Cmt Cia, este determinou, por ordem do Sr. major, Cmt Btl, que a patrulha retraísse, tomando todas as precauções indicadas para fugir a qualquer movimento de envolvimento, enquanto fogo de artilharia, metralhadoras .30 e .50 e morteiros apoiavam o retraimento e sua acolhida na base de partida. O retraimento foi feito sob ordens e as precauções aconselhadas.
B) Informações sobre o inimigo:
O inimigo continua ocupando o espigão de Oratório delle Sassane, estendendo suas posições nas encostas leste a oeste.
1) (...)
2) Reações inimigas:
a) Fogos – o inimigo fez fogo de Mtr e FO.
b) Movimento – de deslocamento de casas até um barranco e desbordamento;
c) Sinais luminosos – foguetes à direita do dispositivo;
d) Um inimigo aproximou-se vestido com traje civil, saindo de uma casa com uma metralhadora escondida nas costas, fazendo fogo com a mesma sobre elementos da patrulha que reagiram, mas não conseguiram abatê-lo.
3) Efetivo inimigo: é de difícil avaliação, no entanto, sabe-se que as posições inimigas são ocupadas por três a cinco homens, armados de Mtr L, havendo às vezes uma pesada.
C) Terreno:
1) Natureza: montuoso, limpo com ligeiros bosques de castanheiras. Descoberto e cortado pelo fosso Marano, cujos buracos nas passagens obrigatórias atingem 30 metros de altura.
2) Obstáculos: os obstáculos naturais já citados entre os quais conta-se a neve, juntamente com as minas.
D) Material inimigo encontrado: uma carta particular dentro de uma organização, um cano de morteiro leve e uma granada de bazooka.
E) Feridos e mortos: Nenhum.
Carlos Augusto de Oliveira Lima.
1º Ten Cmt da Patrulha.
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V – O Pelotão de Petrechos
Pouquíssimas vezes na FEB, a companhia de fuzileiros teve oportunidade de empregar o pelotão de petrechos como um todo.
As duas peças de metralhadora e as três peças de morteiros 60 eram entregues quase sempre de reforço aos pelotões. Isto até mesmo na defensiva, em razão dos elementos da subunidade ficarem distanciados uns dos outros e precisarem de apoio imediato desses petrechos.
Esta foi a característica principal, a nosso ver, no emprego desse pelotão. Não me recordo uma só vez em que o Pelotão de Petrechos da 1ª Companhia haja atuado, em conjunto, com suas duas peças de metralhadora e três peças de morteiro 60.
Convém assinalar, porém, que as metralhadoras e os morteiros 60 tiveram amplo emprego na Campanha constituindo sempre fator para aumentar o moral do pelotão de fuzileiros ao se ver apoiado por aquelas armas.
Por isso, talvez esse fato deva ter levado à adoção da atual organização do pelotão da companhia de fuzileiros, que traz em sua estrutura a presença de uma peça de morteiro 60.
Soldado Oscar Garcez tentando tirar um sorriso de um condecorado veterano alemão, feito prisioneiro em 1945.
Recordo-me que no dia 22 de fevereiro de 1945, já nas encostas nordeste/noroeste de Castelo, divisando o compartimento seguinte, tendo sido avistada uma resistência inimiga junto às casas de La Possione, o próprio comandante do pelotão, que atacara com duas peças de morteiros junto ao Pelotão Aquino, conseguiu atingir em cheio a resistência inimiga, expulsando seus ocupantes de lá. Os alemães, então, usando de um pequeno estratagema, (Nota do Clermont: uma grande sacanagem, na minha opinião...) levantaram a bandeira da Cruz Vermelha e fizeram remover em maca o armamento, muito provavelmente morteiros e metralhadoras que guarneciam a posição, para uma outra posição abrigada do fogo de Castelo. Tão logo terminaram a transferência de equipamento, desencadearam poderosa saraivada de fogo de morteiro e metralhadora sobre nossas posições ocupadas na noite anterior.
O General Mark Clark, comandante do 5º Exército americano, inspeciona uma bateria brasileira, 1944.
Foi preciso que nos abrigássemos e os fizéssemos silenciar com o fogo de morteiros 60 e da artilharia solicitada por intermédio do observador avançado.
O tenente Cecil Wale Barbosa de Carvalho, comandante do Pelotão de Petrechos, havia ele próprio calculado a distância de 1.000 m e colocado a primeira granada no tubo do morteiro. Menciono este caso como pequeno louvor ao serviço prestado pelo morteiro 60 na Campanha da Itália.
Em síntese, os morteiros 60, hoje incorporados ao pelotão de fuzileiros, constituem poder de fogo que dá aos pelotões maior possibilidade de autonomia no combate, batendo resistências abrigadas fora da trajetória das armas de tiro tenso.
VI – Comunicações
Convém enfatizar o emprego do hand-talk, na Itália.
As ligações no âmbito da companhia eram mantidas através deste equipamento, nas ações de movimento, em particular.
No âmbito do batalhão, o rádio 111 também atendeu regularmente às necessidades, falhando algumas vezes por defeito do próprio aparelho.
Em algumas ocasiões, a 1ª Companhia manteve ligação com o batalhão através do hand-talk da Companhia de Petrechos, cujo comandante geralmente acompanha o PC do batalhão.
Os mensageiros e o telefone tiveram ampla aplicação no desenvolvimento da Campanha da Itália, em particular na defensiva, quando, principalmente, a subunidade substituía tropa americana na posição. Aliás, é boa a norma norte-americana de não recolher os fios usados e deixá-los para a tropa substituta.
Em razão da escassez dos efetivos, como dissemos anteriormente, a companhia substituía comumente o batalhão, e este o regimento, ocupando a subunidade, quase sempre os PC e PO, com órgãos de comanda da subunidade, o que facilitava sobremodo o estabelecimento das ligações, na defensiva.
A sinalização por intermédio de foguetes também foi muito usada, como se pode verificar nas diferentes ordens de operações.
No caso particular da 1ª Companhia do Regimento “Sampaio”, por exemplo, na conquista de Castelo, na tarde de 21 de fevereiro, foi comunicado ao batalhão por meio de um foguete de cor âmbar, código conforme prescrevia a ordem de ataque, informação logo reiterada por meio de telefone.
Houve ocasiões em que o batalhão reforçava as companhias com um rádio 511 (bengala).
Não se pode queixar sobre os meios de transmissões usados na FEB. Funcionaram bem não obstante as interferências inimigas usadas nos sistemas telefônicos e rádios. Em suma, não são eles responsáveis pela falta de ligação. Deve ter havido muito problema com as transmissões, mas não os culpemos. Outros fatores devem ter concorrido, não os meios de transmissões da época.
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O General Everaldo José da Silva foi comandante da 1ª Companhia de Fuzileiros, Regimento “Sampaio”, na Campanha da Itália; Chefe da Divisão de Ensino da Academia Militar das Agulhas Negras e comandante da 1ª Brigada de Infantaria; membro da Academia de Letras de São João del-Rei e membro do Instituto Histórico e Geográfico de Minas Gerais. Por seus feitos recebeu as condecorações da Cruz de Combate de 1ª Classe e a Bronze Star, da América do Norte.
Fonte: Warfareblog, disponível em:https://www.warfareblog.com.br/2020/03/a-companhia-de-fuzileiros-na-campanha.html