1.5.12
Trabalho nas Sociedades Teocráticas
Quem construiu Tebas, a das sete portas?
Nos livros vem o nome dos reis,
Mas foram os reis que transportaram as pedras?
Babilônia, tantas vezes destruída,
Quem outras tantas a reconstruiu? Em que casas
Da Lima Dourada moravam seus obreiros?
No dia em que ficou pronta a Muralha da China para onde
Foram os seus pedreiros? A grande Roma
Está cheia de arcos de triunfo. Quem os ergueu? Sobre quem
Triunfaram os Césares?
Em cada página uma vitória.
Quem cozinhava os festins?
Em cada década um grande homem.
Quem pagava as despesas?
Tantas histórias
Quantas perguntas.
O poema de Bertold Brecht (1898-1956) faz questionamentos sobre os anônimos que construíram as diferentes
sociedades. Você consegue identificar quais foram esses trabalhadores e a posição social que ocuparam nas sociedades em que viveram? Qual a relação entre o poema e o trabalho em diferentes sociedades: antigüidade, pré-colombianas e feudal?
O mundo do trabalho nas sociedades teocráticas
Egito antigo
No Egito, por volta do ano 3100 a.C., Menés, governante do Alto Egito, fez a unificação dos reinos: do Alto Egito (região ao sul, com extenso vale no rio Nilo) com o Baixo Egito (ao norte em torno do delta do Rio Nilo). Então, Menés tornou-se faraó do Egito.
Foi no Egito antigo, localizado no nordeste do continente africano, que desenvolveu-se um tipo de sociedade teocrática. O Faraó era considerado monarca de origem divina e proprietário de todas as terras. A sociedade gípcia compunha-se de altos funcionários do governo, sacerdotes e governadores de províncias ou nomos (os nomarcas), que tinham como base do regime de produção a servidão coletiva dos camponeses. O felá (camponês) constituía a maioria da população. Estes trabalhadores das aldeias cultivavam as terras e pagavam pelo seu uso em quantidades determinadas de cereal. Os camponeses também prestavam serviços ao Estado nas construções de canais de irrigação, diques, templos, palácios e túmulos. Recebiam por esse período de trabalho apenas alimentos.
Outros trabalhadores também possuíam uma vida difícil como a dos felás, eram eles: pedreiros, mineiros, escultores, marceneiros, etc.
Os escravos no Egito resultavam das conquistas dos faraós na Núbia, na Líbia e na Síria, principalmente nos séculos XV e XIII a.C. Foram utilizados nos serviços domésticos e nas grandes obras públicas.
A condição de escravo doméstico era mais suave do que a dos escravos utilizados nas grandes obras públicas, pelo rigor do trabalho exigido nestas últimas.
Será que existiam outros tipos de trabalhadores no Egito?
Texto 1
Além da mão-de-obra ocasional fornecida pelos camponeses na época da inundação, quando os trabalhos agrícolas se paralisavam, as obras públicas empregavam também trabalhadores permanentes, remunerados em espécie. A arqueologia revelou verdadeiras ‘cidades operárias’ (por exemplo, na necrópole de Tebas e em Tell el-Amarna). A escravidão teve certa importância econômica nas minas e pedreiras estatais e, no Reino Novo, também nas terras reais e dos templos. Houve igualmente tropas militares auxiliares constituídas de escravos, e existiam escravos domésticos, às vezes numerosos. A economia egípcia, no entanto, nunca foi ‘escravista’ no sentido em que o foi na Grécia clássica e helenística e a da Roma de fins de República e do Alto Império.
Sociedades Pré-colombianas
Outros exemplos de sociedades teocráticas ocorreram na América, entre as civilizações pré-colombianas. A religião possuía grande importância para essas organizações sociais, o que tornou possível a formação de uma poderosa classe sacerdotal. O governo foi constituindo-se em uma teocracia centralizada, sendo as civilizações: Asteca (México), Maia (América Central e México) e Inca (Peru), os exemplos mais significativos devido ao seu alto grau de organização social. Os grupos sociais mais privilegiados nestas sociedades eram os sacerdotes, governantes e guerreiros, enquanto a maioria da população dividia-se entre camponeses livres e escravos. Você consegue imaginar como era organizado o trabalho nestas sociedades?
Os Astecas
Ocuparam a região do lago Texcoco, no vale do México, por volta do ano 1325. A sociedade asteca teve seu processo de destruição em meados do século XVI com a chegada dos espanhóis. Esta sociedade teve como base econômica as comunidades aldeãs, ou calpulli, que formavam uma Confederação Asteca. Nestas comunidades a posse da terra e o trabalho eram coletivos, cada família recebia um lote de onde retiravam sua subsistência e pagavam tributos. Esses camponeses ainda trabalhavam nas terras da nobreza.
Outro grupo numeroso foi o dos “criados perpétuos”, chamados de escravos pelos cronistas espanhóis. Este segmento social constituía-se por aqueles que não queriam se casar ou cultivar a terra que lhes pertencia, perdiam seus meios de subsistência e seus direitos. Pertenciam também a esse grupo os condenados por algum crime, sendo oferecidos para trabalhar para outras pessoas ou colocados à venda. Entendia-se como venda somente a força de trabalho do indivíduo e não sua pessoa, de modo que seus filhos continuavam livres; portanto, essa prática era diferente de outras formas de escravidão, como a grecoromana e a colonial moderna.
Os Maias
Surgiram na península de Iucatã, no México, aproximadamente no ano 700 a.C., e por volta do século IV d.C., os Maias ocupavam as regiões que hoje são os países do México, Belize e Guatemala. A desintegração desta sociedade ocorreu durante a chegada dos espanhóis devido a um processo contínuo de urbanização que destruiu seus meios de subsistência agrícolas.
Na sociedade Maia, os mazebualob, ou seja, classe inferior, eram os que produziam a riqueza. Realizavam o trabalho na agricultura e na construção das cidades. No período que não havia colheita, desenvolviam atividades de artistas, pintores, escultores, etc. Moravam nas periferias das cidades e trabalhavam em lugares cada vez mais distantes, conforme as novas terras eram cultivadas.
No Antigo Império Maia, nem todos os escravos destinavam-se à produção; mas no Novo Império Maia, as constantes guerras transferiram os trabalhadores do campo para as atividades bélicas e os escravos foram utilizados nas construções militares. As lutas por escravos foram suspensas devido a chegada dos espanhóis (século XVI), dos quais tiveram que se defender. Neste caso, a escravidão provinha de prisioneiros de guerra, filhos de escravos, órfãos de pai e mãe ou adquiridos por troca ou compra.
A civilização Inca
Desenvolveu-se na América do Sul, próximo da cordilheira dos Andes, em regiões onde formam os atuais países do Peru, Chile, Equador e Bolívia. Foi a partir do século XII que os Incas estabeleceram-se na cidade de Cuzco, chefiados por Manco Capac, onde iniciou-se a construção de um grande império. Por volta do ano de 1531, o império Inca foi destruído pelos espanhóis.
Entre os povos Incas, os llacta-runa, trabalhadores das comunidades aldeãs, ayllu, dedicavam-se a extrair da terra o alimento necessário a sua subsistência, ainda tinham que trabalhar nas Terras do Sol, do Inca e dos kurakas (antiga nobreza local que representava o Estado).
Numa escala social inferior, encontravam-se os yanaconas, cuja origem deu-se na revolta da cidade Yanayku contra Tupac Yupangui (1438 – 1471). Sendo os yanaconas vencidos por este, foram condenados pelo Inca à servidão perpétua, estendendo-se aos seus descendentes.
Os yanaconas realizavam diversos serviços, como: domésticos, carregadores, limpeza dos templos, etc. Conforme o Estado determinava, os criminosos, os prisioneiros de guerra, os membros de um aylluou rebelados podiam ser transformados em yanaconas.
No Império Inca também existia a mita. Essa compreendia uma obrigação de prestação de serviço gratuito e obrigatório, que durava em torno de dois a três meses por ano. Esta obrigação recaía sobre todas as pessoas casadas. O Estado requisitava, através da mita, grande número de mão-de-obra para realização dos serviços públicos, como: a construção de caminhos, fortalezas, centros urbanos, canais de irrigação, etc. Além disso, esses trabalhadores cuidavam do cultivo das terras e rebanhos do Inca, do Sol e dos Kurakas.
E os Astecas desenvolviam as mesmas atividades de trabalho que os Incas?
Texto 2
Astecas
Quanto ao trabalho rural, existiam quatro tipos básicos de trabalhadores: 1) os calpuleque ou membros do calpulli (comunidade residencial com direitos comuns sobre as terras e uma organização interna de tipo administrativo, judiciário, militar e fiscal), que trabalhavam as terras deste para suprir suas próprias necessidades, pagar o tributo, e estar permitido alugar partes do solo do ‘barro’; 2) os teccaleque eram também membros de um calpulli, com a única diferença de que o resultado do seu trabalho servia para sustentar a corte, além de suprir as próprias necessidades; 3) Os arrendatários, que lavravam Terras alheias (de nobres ou de comunidades), dispondo ou não do uso de outras parcelas a título pessoal; 4) os mayeque, camada inferior da população rural, igualmente arrendatários (vitalícios) – eram a mão-de-obra dependente que trabalhava nas terras do rei, dos nobres e outros particulares.
Texto 3
Incas
O ciclo da vida agrícola estava baseado na ajuda mútua (ayni), ou seja, em intercâmbios de trabalho entre as famílias para a semeadura e a colheita, bem como para outros fins (construção de casas, por exemplo). A divindade ou fetiche tutelar do ayllu (aldeia habitada por diversas famílias nucleares vinculadas pelo parentesco formando uma comunidade), a waka, e o chefe, ou kuraka, recebiam prestações de trabalho da comunidade; não havia, porém, qualquer forma de tributos in natura além das prestações de trabalho.
O kuraka centralizava, através de tais trabalhos forçados (mita), mais riqueza — representada em especial por bens raros, como: a coca, a bebida fermentada de milho, certos tipos de vestimentas, etc.Trabalho e arte nas sociedades pré-colombianas As sociedades pré-colombianas, além de possuírem um regime teocrata, destacaram-se também por outra característica marcante de sua existência: a representação artística, sendo a arquitetura um de seus maiores legados. Os templos foram monumentos de grande importância para esses povos, construídos com o esforço da maior parte da população, eles representavam o status dos sacerdotes.
Você pode observar, no documento 1, o Templo das Inscrições em Palenque e, também, no documento 2, o palácio do governador em Uxmal, ambos localizados na província de Iucatã, no México.
Nestas duas imagens é representado o estilo de construção destes povos com motivos retangulares, o que nos possibilita perceber seu conhecimento também na matemática. Tanto a pirâmide quanto o palácio apresentam estas formas, trabalhadas em relevo, com uma íngreme escadaria que corta um dos lados da pirâmide e dá acesso ao templo.
Juntamente com a arquitetura, o trabalho artístico Maia manifestouse também na escultura a partir de objetos de decoração dos templos.
O documento 3 apresenta um objeto que propõe uma representação do sagrado para esta sociedade Maia.
Com as pesquisas da arqueologia, descobriu-se que a cultura Maia foi uma das poucas sociedades em que os artistas escreviam seu nome nas obras. Esta é uma particularidade importante, pois, na maioria das sociedades antigas, o trabalho do artista era anônimo, a serviço da coletividade, dos ritos sagrados, caracterizado, muitas vezes, como um
trabalho escravo.
A arquitetura é também um dos aspectos surpreendentes da cultura Inca. Possuía simplicidade e imponência em suas portas ornamentais em forma de trapézio. A cidade de Machu Pichu é que melhor documenta a concepção arquitetônica e urbanística dos Incas. Existem várias hipóteses para explicar o significado da construção desta cidade
perdida, até a década de 1940, nos Andes peruano.
Mas, pouca coisa se sabe sobre os motivos que levaram os Incas a transportar, com árduo trabalho, pedras e água para construir uma cidade atualmente muito visitada, cujas eternas testemunhas foram antes apenas o sol, as estrelas e o vento.
O mundo do trabalho nas sociedades da antigüidade clássica: Grécia e Roma Algumas das civilizações da antigüidade baseavam-se em sistemas escravistas, apesar da existência de outras formas de trabalho. Em cada sociedade essa relação de trabalho foi instituída visando a objetivos e a justificativas diferenciadas.
Grécia antiga
Para os gregos dos séculos VI a IV a.C., a condição de escravo estava ligada à concepção de política que a sua sociedade desenvolveu, principalmente em Atenas.
Na Grécia, o cidadão, para participar ativamente das discussões dos problemas da pólis (cidades-estado), bem como se dedicar à elaboração de leis e aos cargos públicos, necessitava do ócio – tempo livre – para exercer essas funções. Leia o texto do filósofo Will Durant (1885- 1981) e analise a visão dele em relação ao trabalho.
Texto 4
Aristóteles o olhava com desprezo do alto da filosofia, como próprio de homens sem inteligência, como indicado apenas para escravos e como apenas preparador de homens para a escravidão. O trabalho manual, acreditava ele, entorpece e deteriora a mente, não deixando tempo nem energia para a inteligência, para a política.
Apesar da sociedade grega ser voltada para as cidades e à vida urbana, a agricultura constituía-se na principal atividade econômica, ou seja, eram livres os camponeses que retiravam da terra seus próprios meios de subsistência. Por isso, possuir terra tinha grande importância para esta sociedade. Na maioria das cidades gregas dos séculos VI e V a.C., só os cidadãos podiam ser proprietários. No entanto, em suas poucas faixas de terras férteis, os homens gregos tentavam subtrair do solo fraco: frutas, leguminosas, trigo, cevada e, em maior escala, azeite de oliva e vinho. A escassez de terras facilitou a formação de núcleos urbanos independentes.
Mas, para manter a estrutura das cidades, conseguir tempo livre para dedicar-se a sua administração e produzir riqueza, foi necessário que generalizasse o trabalho escravo. Portanto, o escravismo tornouse o modo de exploração econômico que sustentava a cidade e o campo e que proporcionava privilégios às elites gregas.
A escravidão na antigüidade originou-se, principalmente, da guerra ou das dívidas, sendo esta última forma abolida na Grécia por volta do século V a.C. A grande maioria dos escravos destinava-se ao trabalho agrário, no entanto, realizavam todo o tipo de trabalho, seja nas minas, nas oficinas, nas residências e para o Estado.
Mas o que era ser escravo na Grécia Clássica?
Ser escravo nas pólis significava não poder participar da vida política, ser excluído de parte das festas religiosas, ser desprovido de direitos e da educação para jovens cidadãos.
Assim, o que restava ao escravo?
Texto 5
Para um escravo tornar-se adulto não implicava um salto qualitativo ou uma preparação gradual, como acontecia com os filhos dos cidadãos livres. Se o adjetivo andrápodon, homem-pré, usado para designar o escravo, tendia a identificá-lo com a condição dos quadrúpledes, tetrapoda, o termo pais (relativo a criança), pelo qual era freqüentemente chamado, realçava a sua eterna condição de menoridade.
Como diz Aristófones nas Vespas ‘é justo chamar pais a quem apanha pancada, mesmo que seja velho’.
Em Atenas, só se podia aplicar castigos físicos a escravos e a crianças, não a adultos livres. Talvez só os escravos pedagogos, que acompanhavam os filhos do senhor à casa do mestre, é que podiam aprender indiretamente a ler e a escrever, assistindo às lições. Mas, por princípio, a única instrução que um escravo podia receber estava associada ao tipo de trabalho que desempenhava na casa do patrão, numa gama que ia dos menos duros serviços domésticos ao trabalho duríssimo nas minas, reservado exclusivamente aos escravos e em que também se utilizavam crianças, não só nas minas da Núbia, de que nos fala Diodoro Sículo, mas também, nas minas atenienses do Láurio.
Roma Antiga
Assim como na Grécia, em Roma a escravidão foi praticada por vários séculos. Na Península Itálica, no final do século III a.C., havia grandes massas de escravos, mas foi a partir do século I a.C. que generalizou-se a escravidão.
A escravidão provinha principalmente dos prisioneiros de guerras, resultado das conquistas realizadas por Roma a partir de meados do século III a.C., como as Guerra Púnicas (Roma contra Cartago).
Os romanos diferenciavam os escravos de acordo com o trabalho que realizavam. Os escravos destinados ao trabalho no campo integravam à família rústica, pesava sobre eles severa disciplina, submetidos às ordens do vilicus (feitor, arrendatário). No ano 160 a.C., Marcus Porcius Cato, também chamado de Catão, o Velho (243-143 a.C.), recomendava que sobrecarregasse os escravos com os serviços, sem importar-se com o tempo ou dias de feriado, pois a produção agrícola constituía-se na base econômica da sociedade romana.
Nas cidades romanas, os escravos pertencentes aos ricos senadores ou plebeus faziam parte da “família urbana”, dependendo diretamente dos seus senhores ou de outros escravos. Esses escravos desempenhavam serviços domésticos e profissionais, como: arquitetos, músicos e gramáticos. Os escravos também desenvolviam serviços como: nas pedreiras, fábricas de tijolos e nos moinhos.
Sendo assim, os romanos distinguiam os escravos entre especializados em determinados ofícios e os escravos
de serviços mais penosos. Merecem destaque alguns aspectos do direito romano, em relação à condição dos escravos. Estes não tinham direito de contrair matrimônio legítimo, a união entre escravo e escrava era o contubernium, ou seja, não reconhecida legalmente. Os filhos de escravos pertenciam ao senhor. Portanto, os escravos eram vistos como
“coisa”, ou um instrumento – instrumentum vocale, um grau acima do gado, considerados instrumentum semi-vocale –, isto é, propriedades de um senhor.
O escravo romano podia adquirir sua liberdade pela concessão de seu dono, vontade do príncipe ou pelo benefício da lei, como no caso da venda de um escravo com a cláusula de ser manumitido (liberto) em determinado prazo, quando vencido esse prazo, o escravo estava livre.
Filosofia e escravidão
Por volta dos séculos VI e V a.C., a filosofia teve início na Grécia.
Esta dimensão do conhecimento humano possui grande importância para a sociedade contemporânea, pois tem contribuído na discussão de temas relacionados à política, à ética, à moral, à liberdade e outros. O conhecimento da filosofia só foi possível para os cidadãos gregos porque possuíram tempo reservado para dedicarem-se a reflexão, a cidadania e ao governo. Enquanto os escravos realizavam atividades não reflexivas, de transformação da natureza, consideradas inferiores pela sociedade grega. Portanto, a diferença social entre os homens era considerada “natural”, não havia, para os gregos, contradição entre a divisão do trabalho manual e intelectual, sendo assim, o comando de uma parte e a obediência de outra.
Na época de Aristóteles (século IV a.C.), discutia-se que havia homens feitos para liberdade e outros para a escravidão, isto significava que, todo aquele que não tinha nada de melhor para oferecer do que o uso de seu corpo e a força física, estavam condenados à escravidão por natureza.
Documento 4
Os instrumentos podem ser animados ou inanimados, por exemplo: o timão do piloto é inanimado, o vigia é animado (pois o subordinado faz às vezes de instrumento nas artes). Assim também os bens que se possui são um instrumento para a vida, a propriedade, em geral, uma multidão de instrumentos, o escravo um bem animado e algo assim como o instrumento prévio aos outros instrumentos. Se todos os instrumentos pudessem cumprir seu dever obedecendo às ordens de outro ou antecipando-se a elas, como contam das estátuas de Décalo ou dos tridentes de Hefesto, dos que diz o poeta que entravam por si só na assembléia dos deuses, se as lançadeiras tecessem sós e os plectos tocassem sozinhos a cítara, os maestros não necessitariam de ajuda, nem de escravos os amos.
O que é chamado habitualmente de instrumento, o é de produção, enquanto que os bens são instrumentos de ação; a lançadeira produz algo à parte de seu funcionamento, enquanto que a roupa ou o leito produzem apenas seu uso. Além disso, como a produção e a ação diferem essencialmente e ambas necessitam de instrumentos, estes apresentam necessariamente as mesmas diferenças. A vida é ação, não produção, e por isso o escravo é um subordinado para a ação. Do termo propriedade pode-se falar no mesmo sentido que se fala de parte: a parte não somente é parte de outra coisa, senão que pertence totalmente a esta, assim como a propriedade. Por isso o amo não é do escravo outra coisa que amo, porém não lhe pertence, enquanto que o escravo não só é escravo do amo, como lhe pertence por completo.
Daqui deduz-se claramente qual é a natureza e a função do escravo: aquele que, por natureza, não pertence a si mesmo, senão a outro, sendo homem, esse é naturalmente escravo; é coisa de outro, aquele homem que, a despeito da sua condição de homem, é uma propriedade e uma propriedade sendo, de outra, apenas instrumento de ação, bem distinta do proprietário.
Documento 5
É louvável mandar em seus escravos com moderação. Mesmo no que diz respeito às nossas posses humanas, cumpre perguntar-se constantemente, não apenas tudo aquilo que podemos fazê-los sofrer sem sermos punidos, mas também o que permite a natureza da eqüidade e de bem, a qual ordena poupar mesmo os cativos e aqueles que se compra com dinheiro. Quando se trata de homens livres de nascença, honrados, é mais justo tratá-los não como material humano, mas como pessoas que estão sob tua autoridade e que te foram confiadas, não como escravos, mas como pupilos. Aos escravos, é permitido refugiarem-se junto a uma estátua. Embora tudo seja permitido para com um escravo, existem coisas que não podem ser autorizadas em nome do direito comum dos seres animados. Quem podia ter para com Védio Pólio um ódio maior que seus escravos? Ele engordava moréias com sangue humano e mandava jogar quem o ofendia num lugar que não era senão um viveiro de serpentes.
Fonte:http://www.ahistoria.com.br/trabalho-nas-sociedades-teocraticas/