2.9.11

CULTURA: FUNCIONAMENTO E MUDANÇA

1. INTRODUÇÃO

Nos últimos séculos o termo cultura passou a se apresentar com mais freqüência em debates e questionamentos diversos, ou até mesmo como fonte para explicação de vários fenômenos contemporâneos, alguns até reincidentes, mas que em outrora foram explicados por outras analises.
Essa fase que se faz necessário o emergir da cultura, vista com olhos bastante diferente daqueles que primeiramente a analisaram, deve-se ao fato da necessidade de explicar uma serie de fatos que, antes explicados por uma corrente positivista, tornavam-se “limitados a contribuição para a ciência”.

A partir do seculo XIX surge na Europa uma corrente filosófica positivista, na qual trabalhava com os fenômenos das manifestações de forma positiva e objetiva, preocupados em transparecer os fatos tais como eram, desconsiderando qualquer tipo de influencia externa, assim como se propunham a analisar os fenômenos naturais, de forma imutável onde “sempre uma coisa vem depois da outra”. Essa forma de se fazer ciência foi fundamental para o avanço intelectual , mas em certo momento deixou de ser suficiente para explicar todos os fenômenos sócio-culturais.

O paradigma positivista então passou a ser alvo de várias controvérsias, e assim dando lugar a outras formas de se pensar e analisar o ser humano nas suas ações. A NHC- juntamente com a micro-história, abre um leque de possibilidades de novas analises para sujeitos históricos, personagens que sempre se permaneceram em anonimato devido a produção historiográfica oficial ser de caráter excludente.

Toda essa etapa em seu curso deu origem a uma forma diferenciada se fazer história, pois passa a considerar não só o que esta escrito no papel, mas a analisar entre linhas o esta dizendo , fazendo uso daquele ao qual, ao meu ver, não permite haver apenas um conceito de cultura, que é a subjetividade , haja visto que a construção da cultura depende tanto do todo como do individual e nesse individual, não há a mínima possibilidade de definir ou estabelecer comportamentos humanos, pois o homem é um ser imprevisível por natureza.


CULTURA: FUNCIONAMENTO E MUDANÇA

A muito a ser discutido sobre o processo cultural pelo quais inúmeras sociedades passam e vem passando ao longo dos anos de existência, isso de forma ininterrupta, pois todas as culturas estão sempre em movimento, embora em algumas esse processo se apresente de forma bastante lenta. Em outras esse processo se apresenta de marcante onde se pode encontrar em cada membro e em todos os membros estão presentes os valores culturais. Umas se mantém um sentimento de fidelidade e cristalizado como se fossem valores eternos e imutáveis, em outros produzem peças artesanais, comidas, até mesmo a linguagem passa por modificações.

É de fato difícil e até mesmo arriscado, estabelecer as fronteiras entra culturas estáveis e culturas em mudanças, considerando que todas as culturas estão em movimento, determina-se então, que cultura em mudança serão aquelas nas quais as mudanças culturais ocorrem de forma aceleramento do ritmo. Para aquelas na qual o processo e mais lento, considera-se cultura em funcionamento.

Herskovits considera como parte extremamente influente do instalar-se de um desses dois momentos da cultura – funcionamento e mudança- em sociedades, o processo de enduculturação, sendo inclusive o primeiro a utilizar o termo para designar os comportamentos individuais aos padrões da cultura de uma sociedade, ainda na fala dele;

“ Os aspectos da experiência de aprendizagem que distinguem o homem das outras criaturas, e por meio das quais, inicialmente, e mais tarde, na vida consegue ser competente em sua cultura, pode chamar-se endoculturação. Constitui essencialmente um processo de consciente e inconsciente condicionamento que se efetua dentro dos limites sancionados por determinados aspecto de costume. Por esse processo não só se consegue toda adaptação à vida social, como também todas aquelas satisfações, que, embora fazendo naturalmente parte da experiência social, derivam mais da expressão individual que da associação com outros no grupo”.


O processo de endoculturação começa após o nascimento da criança, e se evolui com forme o seu amadurecimento psicológico, haja visto que a cultura não é transmitida de forma biológica, mas sim por processos culturais. Para Titiev o ser humano nasce 100% biológica, e assim começa a receber após o seu nascimento, uma serie de informações e comportamentos padronizados ao qual tem que assimilar o Máximo, ao ponto de inverter a condição de cem por cento biológico para cem por cento cultural. Mello acredita ser impossível se alcançar os cem por cento cultural, isso por que a condição biológica sempre estará presente, embora todo recém nascido caminhe no sentido cultural.

Emílio Durkheim, em sua teoria do controle social, afirma que a cultura é uma forma de se manter o controle social, como uma arma indispensável para a vida em sociedade, justificando a forma como no processo de endoculturação é imposta para a criança. Não importa o que se faça ou por quem se faça, por mais que se pense que uma atitude é tomada sem nenhum tipo de influência, de forma mais racional possível, cada ação do ser humano e influencia direta do processo de endoculturação ao qual sofreu na infância, está presente e ativa no inconsciente humano.

Este processo de endoculturação, para Mello , é dividido em três momentos, onde no primeiro, na condição de criança até a juventude, o homem é comparado a uma esponja aceitando praticamente todas as mensagens da cultura, considerado até mesmo sem personalidade. No segundo momento, a maturidade, aceita-as em função da cultura interiorizada, partindo então para a reformulação. A terceira é a velhice, onde raramente aceita uma reformulação, a cultura interiorizada está cristalizada e impermeável as novas sugestões da cultura provocadas pelas novas situações.

Contudo pode-se ter uma breve analise do processo de interação da cultura para com novos indivíduos que nela surgem constantemente, a cultura individual, no processo de maturidade, pode modificar os processos culturais, havendo mudanças de forma mais acelerada, fazendo e refazendo novas leituras socioculturais, sempre fazendo uso de uma ligação do homem de forma individual e de forma coletiva, no sentido mais plural possível, sem se dispor da relação do homem de hoje com toda a sua essência.


NOTA SOBRE O ETNOCENTRISMO

Dá-se o nome de Etnocentrismo à atitude dos grupos humanos de supervalorizar seus próprios valores, sua própria cultura. O fenômeno do etnocentrismo manifesta-se de várias formas, podemos sentir quando as pessoas ridicularizam as outras ou tem um comportamento de superioridade e credibilidade perante a própria cultura.

Outro fato interessante é o de que na cultura ocorre o fenômeno de mudanças e que também é verdade que o uso gera o sentimento de posse, um exemplo disso é a industrialização que levou mais de duzentos anos nos países industrializados foi feita no Brasil em pouco mais de meio século e isso foi efeito da difusão cultural. Outros exemplos de etnocentrismo é o nacionalismo, o culto ao futebol, a admiração da mulata entre outros.
“O que se pode dizer é que nenhum povo que não acredita em si e em suas potencialidades é capaz de grandes realizações, um grupo humano que não cultiva o etnocentrismo possivelmente não possui sua própria cultura.” (MELLO, 1987 p.91)

PROCESSO CULTURAL: ASPECTOS DIACRÔNICOS

Poucos são os estudos sobre mudança cultural, já que os estudos estão sempre direcionados para as culturas primitivas e isoladas. No Brasil, grande parte dos estudos etnológicos está sendo dedicado para o processo de aculturação e de contatos culturais, um exemplo disso é como a cultura do índio esta modificada.
Dois estudos dão embasamento em torno do problema da mudança: a orientação marxista e a orientação Weberiana.

No estudo de Marx existem quatro principais contribuições: em primeiro lugar ele afirma que há a evidência a permanência dos conflitos em qualquer sociedade, em segundo compreendeu que os conflitos sociais geram dois grupos opostos, em terceiro que o conflito é o motor da história e que dentro deste fato há em quarto fatores estruturais da mudança social que são: forças exógenas, que vêm do exterior, influências do meio físico por exemplo. E forças endógenas da mudança que são engendradas pelo próprio funcionamento na estrutura, influências internas.

Já no estudo de Max Weber, procura demonstrar como os valores culturais podem determinar um tipo de economia. Um exemplo na orientação que ele propõe é a ética protestante onde a falta de confiança era resultado da falta de fé e isso implicava na rotina daquele grupo.
Os dois estudos são importantes e fica claro que a questão de mudanças e transformações culturais mesmo vistos de maneira distintos, por um lado econômico e cultural agem sobre a sociedade.

INVENÇÃO E DESCOBERTA

A endoculturação garante a continuidade da cultura, pois é um processo cultural responsável pela padronização do comportamento humano através da transmissão dos valores culturais. Mas qual o fenômeno que promove a mudança e a transformação da cultura? É a invenção e a descoberta.
Toda cultura e todos os seus valores um dia forma inventados ou descobertos pelo homem, é importante enfatizar que o processo de endoculturação como o da invenção são processos universais da cultura , isto é, processo comum a qualquer cultura particular , seja moderna ou primitiva.
Assim, para diferenciar a descoberta da invenção , a descoberta é todo acréscimo de conhecimento e invenção é toda nova aplicação de conhecimento.

DIFUSÃO CULTURAL

Entende-se por difusão cultural como sendo o processo de propagação de elementos de uma cultura para outra, encontrando no contato o fator indispensável para essa dinâmica. No entanto esse processo não ocorre de forma homogênea e nem regular, pois depende de fatores que possam proporcionar a relação entre os agentes culturais, em se tratando desses fatores podemos citar o determinismo geográfico e o desenvolvimento tecnológico dos meios de comunicação.

Como já foi abordado, o contato é o fator principal dentro o processo de difusão cultural, pois ele disponibiliza a uma sociedade ou grupo cultural, o conhecimento referente aos elementos que compõe a cultura do outro. O determinismo geográfico proporciona um processo de difusão entre grupos os culturais pertencentes a um mesmo espaço geográfico, onde o grupo que se encontra mais próximo ao ponto de origem a um determinado traço cultural está mais receptível ao processo de difusão.

No entanto com o desenvolvimento tecnológico dos meios de comunicação, que em conseqüência disso gera uma grande velocidade na propagação das informações, vem possibilitar um maior contato entre as sociedades, sem que estas possam estar ligadas pelo espaço geográfico, um exemplo a que podemos citar para melhor entender essa dinâmica foi à tragédia ocorrida no Rio de Janeiro, onde um jovem com características típicas de um terrorista extremista do Oriente Médio entrou em uma escola, e em uma atitude insana alvejou dezenas de crianças, evento não muito comum a cultura brasileira.

A difusão cultural é um dos fenômenos que mais chama a atenção dos antropólogos na atualidade, pois se torna cada vez mais raro a existência de grupos isolados, como diz MELLO:

“Não pode haver difusão de elementos de uma determinada cultura se ela for completamente isolada. Por outro lado, o não isolacionismo é uma tendência encontrada em todas as sociedades até hoje conhecidas. São imemoráveis as noticias de contatos entre os povos. (MELLO, 1987 p.104)

Mello reafirma que a difusão cultural não pode haver sem que haja um contato, no entanto a aceitação e a assimilação dos elementos que compõe a cultura do outro é relevante a vontade do indivíduo, podendo ele adotar ou não os aspectos culturais tidos em questão.

Segundo Lowie existem os centro de difusão, que servem para identificar os pontos de origem de determinado traço cultural, no entanto a complexidade ocorre em demonstrar o direcionamento de um determinado traço, devido a isso os antropólogos buscam demonstrar esses fenômenos de forma separada: O Fenômeno do Paralelismo e o Processo de Aculturação.

O Fenômeno do Paralelismo refere-se a invenções ou inventos ligados a grupos culturais relacionados ou paralelos, esse processo busca explicar a origem de expressões populares, ditados e provérbios, através de pesquisas sobre as tradições orais, no entanto a complexidade nos leva a um estudo voltado para história de uma determinada cultura, a exemplo a cultura brasileira , que em sua formação cultura recebeu a influência de vários grupos culturais, tais como portugueses, franceses, italianos, africanos e isso se comprova em vários setores da cultura brasileira, porém são nas expressões populares onde surgem as mais
diversas dúvidas a respeito do ponto de origem, vejamos alguns exemplos:
 Filhos criados, trabalhos dobrados (corresponde também a espanhóis e italianos);

 Nada como um dia após o outro (há correspondente no espanhol);
 Descobri um santo para cobri outro (correspondente no francês);
Como vimos através dos exemplos acima citado o processo de difusão demonstra algumas complexidades no que desrespeito as semelhanças entre culturas, porém esse processo obedece a uma dinâmica que pode ser explicada através de um fenômeno que ocorre dentro do processo de difusão cultural, nesse caso referimo-nos ao Processo de Aculturação.

Com base nos estudos de Herskovits o conceito de aculturação pode ser definido como: “Em resumo, por conseguinte, a difusão, nesses termos, é o estudo da transmissão cultural consumada; enquanto que Aculturação é o estudo da transmissão cultural em andamento”.

Na citação de Herskovits o processo de aculturação está relacionado à fase posterior ao contato, onde o grupo social está assimilando os aspectos culturais do outro, valendo lembrar que o Processo de Aculturação difere do Processo de Endoculturação, onde o primeiro está lidado ao individuo, enquanto o segundo refere-se a coletividade. Desse modo podemos dar como exemplo o processo de aculturação indígena no Brasil, pois em relação a outros elementos culturais que também fizeram parte da formação cultural brasileira, a exemplo dos portugueses e africanos, que de certa forma foram assimilados pela cultura brasileira, a cultura indígena não teve o mesmo foi tão assimilada, pelo contrario o contato com os brancos acarreta vário problemas, que podem até levar a extinção da cultura indígena.

Segundo Darcy Ribeiro hoje no Brasil as culturas indígenas são identificadas pelo grau de contato e de integração, dessa forma existem os grupos isolados, os de contatos intermitentes, os de contato permanente e os integrados. Os grupos isolados são aqueles casos raros marcados pelo não contato com os brancos; os intermitentes são os casos onde há um contato mais de forma esporádica; os permanentes onde o contato é mais intenso; e os integrados onde o processo de difusão já foi concluído.

Cultura e ambiente

Desde 1878 usa-se o termo ecologia para designar o ramo da ciência que estuda as relações dos seres vivos e suas casas e essa relação entre o meio geográfico e o homem vai influenciar diretamente no comportamento dos seres que ali residem. Existe uma relação de dependência e harmonia tamanha que alguns seres vivos não sobrevivem se retirados de seu habitat. Mudando da visão macro e olhando diretamente para os povos que ocupam as mais diferentes regiões do planeta, a primeira impressão é que as diferenças entre eles se dão sumariamente por causa da diferença cultural. A facilidade de adaptação do homem faz com que ele ocupe quase todas as regiões do planeta, porém, existe uma maior concentração onde o clima é mais favorável ao desenvolvimento em função de fatores como tecnologia e conhecimento.

O homem diferencia-se na postura, nos gestos, no modo de falar, agir, nos hábitos e nos costumes. As dificuldades de uma região ficam marcadas nas linhas de expressão do povo, nas feições da face e no corpo sofrido. O homem carrega em si as raízes do ambiente que se envolve. Alguns elementos culturais não se desenvolvem em ambientes desfavoráveis ao passo que outros afloram sem que ao menos seja esperado. O solo, o clima e demais condições do meio ambiente influenciam diretamente no desenvolvimento de um povo já que é do solo que tiram seu sustento. As condições geográficas vão influências em todos os ramos da sociedade, no idioma, na política, na religião, na produção agrícola no estilo das casas, ou seja, define os costumes e o modo de agir de todo um grupo social.

É importante lembrar que ter condições favoráveis não significa que o um povo irá se desenvolver, um ambiente rico e favorável oferece um leque bem maior de possibilidades de desenvolvimento, de encaminhamento da cultura ao passo que ambientes pobres minimizam as possibilidades de desenvolvimento cultural de um povo e até torna-os previsível em seus comportamentos culturais. Não é que o ambiente limite o grau cultural de um povo, pode-se dizer no máximo que o ambiente limita ou favorece o afloramento dessa cultura, ou seja, não basta ter as ferramentas, é preciso saber usá-las.

O domínio do homem sobre a natureza o torna muito mais dependente. O homem moderno não se vê sem poder fazer utilização da eletricidade, computadores, automóveis e de telefones celulares. Existe uma relação total de dependência, não só com meio ambiente e sim com a cultura que lhe impõe que se você não utiliza artifícios para tornar a vida mais cômoda e ágil, você está ultrapassado e antiquado. Contata-se assim que o ambiente é indispensável para que exista cultura e para que esta possa se desenvolver, pois, é do ambiente é o berço do desenvolvimento cultural dos povos e o conhecimento acumulado, ou seja, a experiência é o fator determinante para que exista um maior aproveitamento do meio ambiente ocupado.

Cultura e personalidade

A formação da personalidade depende de alguns fatores que podem ser analogamente ligados à matéria prima da personalidade, como os elementos físicos, o temperamento e a inteligência que em grande parte é passado por uma relação de hereditariedade. Embora essa personalidade que se forma no seio familiar seja importante, não é exclusivamente responsável pela formação da personalidade de um ser, o ambiente ou a sociedade em que esse ser está inserido vai exercer muita influência na sua formação. A escola, as amizades e o tipo de sociedade que esse ser está inserido vai exercer muita força sobre essa formação de personalidade.

Uma das definições de personalidade a coloca como um conjunto de qualidades mentais do individuo, isto é, a soma total de suas faculdades racionais, percepções, idéias, hábitos e relações emocionais condicionadas. A dificuldade de se definir personalidade está no fato de que hora vê-se o individuo como ser individual ora como unidade social.

Comportamento individual é a particularidade de cada um, seu jeito de ser, modo de agir, já o comportamento como unidade social está relacionada com o que a sociedade espera de você, do modo que esperam que você haja e comporte-se no meio social conforme normas e leis, ou seja, padrões a ser seguidos pelos pertencentes desse meio.

Fonte: http://www.webartigos.com/articles/74705/1/DINAMISMO-CULTURAL/pagina1.html#ixzz1WpxcSD5D