Em 12 de junho de 1929, nascia a menina que daria um rosto ao Holocausto. Desde a publicação de seu diário em 1947, Anne Frank é símbolo contra a intolerância. Sua paixão pessoal "humanizou" o inconcebível extermínio.
Família Frank escondeu-se dos nazistas por dois anos
O Diário de Anne Frank já foi editado em mais de 50 idiomas e vendeu, desde sua publicação em 1947, dezenas de milhões de exemplares. O livro foi adaptado para o palco e, entre 1959 e 2001, inspirou 11 filmes de cinema e TV, da Holanda a Hollywood.
Nascida em 12 de junho de 1929, a autora faleceu com apenas 15 anos de idade no campo de concentração nazista de Bergen-Belsen. Valor literário à parte, o maior mérito de Anne foi, postumamente, ter dado um rosto ao Holocausto.
Pois, se Otto Frank não houvesse decidido publicar os registros íntimos dessa adolescente, feitos durante os dois anos em que a família esteve escondida dos nazistas em Amsterdã, ela seria apenas mais uma entre os 6 milhões de judeus exterminados.
Um rosto no Holocausto
Mais do que assassiná-los, o regime nazista apagou milhões de existências, condenando os mortos ao anonimato. Isso permite que, até os nossos dias, haja quem tente não só negar a dimensão da carnificina ("Certo, mataram alguns judeus, mas 6 milhões?!"), mas também racionalizar o injustificável, procurando motivações políticas e econômicas, enfim, a "culpa" dos judeus por seu destino.
Felizmente, é quase impossível manter essa pretensa objetividade, ao ouvir de uma adolescente – que se expressa no tom singelo de uma irmã, amiga ou filha – os efeitos da campanha assassina de Hitler sobre o cidadão comum. Ao ler seu diário, nos damos conta que quem sofreu tantas frustrações, humilhações e outros atos de violência poderia ser qualquer um de nós, judeu ou não.
Thomas Heppener, da Casa Anne Frank, em Amsterdã, acredita que a menina tornou-se "um símbolo e a vítima mais conhecida dessa época". Apesar de tudo o que já foi dito, escrito e mostrado sobre o período de 1933 a 1945 na Europa, "esse diário é a melhor forma de penetrar nas esperanças e desejos das pessoas", afirma.
Nazistas fecham o cerco
Os Frank mudaram-se de Frankfurt para a Holanda exatamente em 1933, ano em que os nacional-socialistas subiram ao poder. Otto, pai de Anne, fundou uma firma em Amsterdã. Durante sete anos, a família levou uma vida normal e pacífica.
Esse quadro se transformou de um só golpe quando os nazistas ocuparam a Holanda, em 1940, segundo ano da Segunda Guerra Mundial. Assim como os outros judeus, a família foi sendo pouco a pouco cerceada, o acesso à escola e às piscinas públicas lhes foi cortado, e o pai de família não pôde mais gerir seus próprios negócios. Todos os judeus tinham que portar o estigma da estrela amarela em público, sob ameaça de severas penas.
Quando, em 1942, Margot, uma das irmãs, foi convocada para trabalhar no Leste Europeu, os Frank decidiram entrar para a clandestinidade. Enquanto nos escritórios e depósitos "oficiais" continuavam as atividades usuais da firma de Otto, eles passaram a habitar, juntamente com uma família amiga, as salas vazias nos fundos do prédio.
Uma escada unia as duas partes da casa, e a passagem era camuflada por uma estante móvel. Ao todo, oito pessoas passaram 25 meses nesse esconderijo, totalmente isoladas do mundo exterior. Isto só foi possível com a conivência de quatro funcionários, que traziam comida e livros, e os mantinham informados sobre os acontecimentos políticos.
"Kitty", o confidente
Anne Frank: tom singelo de uma irmã, amiga ou filha
Um diário, denominado "Kitty", tornou-se o confidente de Anne nesse exílio e fuga mental para as limitações do dia-a-dia. A ele, a menina confiava suas idéias e aspirações, sua opinião sobre os inevitáveis atritos interpessoais ditados pela convivência longa e forçada no esconderijo.
De forma tocante, ela falou de seu desenvolvimento físico, das relações com o pai e a mãe, e do amor. Revelou detalhes cotidianos aparentemente insignificantes, como a restrição de ir ao banheiro somente à noite, quando a firma estava fechada. Mas também narrou momentos de pavor, noites em que a capital holandesa foi bombardeada, ou a presença de estranhos na loja, que forçava os fugitivos à imobilidade quase total.
Símbolo universal contra a intolerância
Porém, em 1944, alguém – até hoje não se sabe exatamente quem – denuncia os clandestinos. Poucos dias depois, a SS revistava a firma, levando os oito embora, de início para um campo de trabalho forçado na Holanda.
Mais tarde, foram transportados num trem de carga até Auschwitz, e de lá a Bergen-Belsen, na Baixa Saxônia. Em março de 1945, poucas semanas antes da libertação desse campo, Anne e Margot morreram de tifo.
Dos oito clandestinos da Prinsengracht 263, apenas Otto Frank sobreviveu ao Holocausto. A casa onde a família se ocultou durante dois anos foi transformada em museu em 1957, recebendo uma média de 900 mil visitantes por ano, sobretudo jovens.
Ela é um monumento palpável contra o antissemitismo e outras formas de intolerância. Na África do Sul, por exemplo, Anne foi transformada num símbolo do combate ao racismo. Segundo Jan van Kooten, da Fundação Anne Frank: "Ela nunca será esquecida. Quer no Chile, no Brasil ou na Bolívia, ela é conhecida e amada em todo o mundo".
Fonte: DW.DE