No dia 8 de junho de 1946, o presidente da Indonésia, Sukarno, conclamava seu povo a resistir contra os holandeses, que tentavam reconquistar sua antiga colônia.
Sukarno, primeiro presidente da Indonésia
A Indonésia percorreu um longo e penoso caminho para se livrar do domínio colonial da Holanda. A sangrenta luta pela independência durou quatro anos: da proclamação da República Independente da Indonésia, em 1945, até seu reconhecimento e a retirada dos holandeses, em 1949.
O maior arquipélago do mundo, com mais de 17 mil ilhas, foi dominado pela Índia no início da era cristã e islamizado a partir do século 15. No século 16, esteve em poder dos portugueses, que ali estabeleceram centros comerciais. No século seguinte, foi conquistado pelos holandeses e tornou-se colônia da Companhia Holandesa das Índias Orientais. Depois da falência da mesma, as ilhas passaram a ser administradas diretamente pelo governo holandês.
Obstáculos no caminho para a liberdade
Os quatro séculos de colonização holandesa e a Segunda Guerra Mundial determinaram a luta pela independência. As manifestações anticolonialistas começaram no século 19, mas o nacionalismo ganhou impulso no século seguinte. Em 1918, as autoridades holandesas criaram o Conselho do Povo, contudo os nacionalistas não aceitaram a participação de indonésios numa administração controlada pelos Países Baixos. Uma rebelião liderada pelo Partido Comunista Indonésio explodiu em 1926 e foi sufocada no ano seguinte.
O Japão ocupou a Indonésia em 1942, durante a Segunda Guerra Mundial, e expulsou os holandeses. A 17 de agosto de 1945, dois dias após a capitulação japonesa diante dos aliados ocidentais, os líderes nacionalistas Sukarno e Hatta proclamaram a independência.
No começo de 1946, os holandeses tentaram restabelecer o domínio colonial, mas os indonésios estavam decididos a defender sua kemerdekaan (liberdade). Depois de quatro anos de guerrilhas e da ameaça de boicote econômico pelos Estados Unidos, a independência foi reconhecida em dezembro de 1949.
"Para Sukarno, a independência significava formar uma nação. Ele não se restringiu à luta armada e tentou fazer alianças com outros países colonizados. Lutou e teve sucesso em nível político; conseguiu unificar as visões políticas de muitas correntes divergentes, mas nunca aderiu ao militarismo. E esse foi seu grande problema. No final, foi deposto por um general." Assim a jornalista Hendra Pasuhuk descreve o líder da independência de seu país.
Divisão do movimento pela liberdade
Natural de Java, Sukarno sempre tentou integrar em vez de dividir. A 8 de junho de 1946, conclamou o povo a resistir contra os holandeses, com os quais ao mesmo tempo tentava negociar. Ele sabia que a unificação e libertação da Indonésia não poderiam ser alcançadas pela luta armada, visto que a Holanda detinha evidente superioridade militar. O apoio às negociações defendidas por Sukarno não era unânime, o que acabou dividindo o movimento pela liberdade.
Jovens revolucionários de diversas tendências políticas, os chamados pemudas, exigiam o reconhecimento da independência pela Holanda. Esses anarquistas, que em parte se opunham a Sukarno, promoviam manifestações radicais contra os colonialistas. Em julho de 1946, chegaram a sequestrar o vice-presidente Shahjir e forçaram Sukarno a interromper as negociações com os holandeses.
Sukarno, no entanto, permaneceu irredutível. Em outubro de 1946, seus esforços por uma solução pacífica desembocaram num acordo de cessar-fogo. Esse acordo, porém, não significava uma garantia definitiva contra agressões dos militares holandeses. Segundo Hendra Pasuhuk, independentemente do colonialismo ou não, era necessário estabelecer uma certa ordem no caos. Essa tarefa coube aos holandeses, encarregados pelos aliados de administrar os territórios indonésios.
Do domínio colonial à ditadura
A violência desproporcional usada pelos holandeses demonstrou que eles não queriam entregar a colônia de mão beijada, uma vez que estavam em jogo fortes interesses econômicos e políticos. Sob pressão das Nações Unidas, a Holanda somente entregou a soberania de seus territórios à República dos Estados Unidos da Indonésia a 22 de dezembro de 1949.
Livres do domínio colonial, os indonésios enfrentaram uma longa ditadura militar. Em março de 1966, Sukarno foi forçado a transferir o poder aos comandantes militares, liderados pelo general Suharto, que foi formalmente declarado presidente dois anos depois. Suharto governou o país por 32 anos, até maio de 1998. Segundo denúncias da imprensa, nesse período ele acumulou uma fortuna de U$ 40 bilhões.
Barbara Fischer (gh)
Fonte: http://www.dw.de/1946-indon%C3%A9sia-luta-pela-independ%C3%AAncia/a-318987