18.6.13

A verdadeira história do Samba do Arnesto

Júlia Matravolgyi


O compositor brasileiro Adoniran Barbosa passou anos espalhando por ai que o Arnesto o convidou para um samba no Brás – mas, quando ele chegou lá, não encontrou ninguém e ficou com uma baita de uma “réiva”. Essa é a história narrada no clássico Samba do Arnesto (1953).
Para quem quiser refrescar a memória, é só apertar o play!
Pois é, acontece que o “causo” não foi bem assim – e o pobre do Arnesto ainda levou a fama por dar um bolo no compositor. Pedimos licença para recontar essa história, mesmo que a versão de Adoniran seja, de longe, muito mais emocionante. Solta o som!

O Arnesto nos convidou
Pra começo de conversa, o Arnesto na verdade se chama Ernesto Paulelli. Mas não adiantou repetir “meu nome é Ernesto!”, já que Adoniran preferia chamá-lo por um nome que “desse samba”.
Aliás, o Sr. Paulelli não convidou ninguém para samba nenhum: ele e Adoniran se conheceram em 1938, quando se encontraram na Rádio Record, onde Ernesto ia se apresentar ao lado da cantora Nhá Zefa. Trocaram cartões, o que fez o sambista exclamar “Arnesto… esse nome dá samba! Vou fazer um samba para você. Duvida?”.
Ernesto só ouviu a canção quase vinte anos depois, em 1955.
Ele mora no Brás
Na verdade, ele mora na Mooca, bairro da zona leste paulistana, há mais de cinquenta anos. Mas até os anos 1940, época em que conheceu Adoniran, o Ernesto morava mesmo no Brás.
O fato é: se não tinha samba no Brás, nem na Mooca, já que o Arnesto não tinha convidado ninguém.
Da outra vez, nóis não vai mais
Esse fardo o Sr. Ernesto teve que carregar a vida toda. Hoje ele tem 98 anos e ainda leva a fama de “furão”. O compositor se justificou, uma vez, quando encontrou Arnesto, depois que a música já fazia sucesso “é que sem mancada não tem samba!”. O Sr. Paulelli ganhou de presente as partituras originais de quando seu amigo compôs o samba que o “rebatizou”.
Arnesto mostra sua “nova” certidão de batismo.
 Foto: Luiza Sigulem/Reprodução.

Para a nossa sorte – e do Arnesto também – o nome realmente deu um samba. Em todo caso, da próxima vez, pra evitar a “réiva” é melhor “ponhar” um recado na porta “assinado em cruz, porque não sei escrever”.
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