"Nem português, nem brasileiro; Vieira era inteiramente jesuíta," já disse um autor. O pe. Antônio Vieira nasceu a 6 de fevereiro de 1608, em uma casa pobre na Rua do Cônego, em Lisboa, tendo sido um dos mais influentes homens de seu século em termos de política portuguesa. Seu pai servira a marinha e fora, por dois anos, escrivão da Inquisição portuguesa. Seu pai se mudou em 1609 para o Brasil, onde assumiu um cargo de escrivão em Salvador; em 1614 trouxe a família para o Brasil quando Antônio tinha 6 anos de idade. Antônio estudou na única escola de Salvador da época: a dos jesuítas. Consta que não era um bom aluno no começo, mas depois tornou-se brilhante. Juntou-se a Companhia de Jesus como noviço em maio de 1623. Existem muitas lendas sobre Vieira, incluindo que na juventude sua genialidade lhe fora concedida por Nossa Senhora e que uma vez um anjo lhe indicou o caminho de volta à escola quando estava perdido. Quando em 1624 os holandeses invadiram a Bahia, Vieira se refugiou no interior, onde começaram seus impulsos missionários. Um ano depois tomou os votos de castidade, pobreza e obediência, abandonando o noviciado. Não partiu para a vida missionária, no entanto. Estudou muito além da teologia: lógica, física, metafísica, matemática e economia. Em 1634, após ter sido professor de retórica em Olinda, se ordenou. Em 1638 já ensinava Teologia. Apesar de antes pensar-se que Vieira defendia a posse do Nordeste por Portugal, hoje sabe-se que ele preferia que Portugal o entregasse a Holanda apesar de seu famoso sermão em favor da posse (Portugal gastava 10 vezes mais com o Nordeste do que ganhava e a Holanda era um inimigo militar muito superior na época). Em 1641 começou a carreira com diplomacia na conturbada Portugal do século XVII. Quando eclodiu uma disputa entre dominicanos (membros da inquisição) e jesuítas (catequistas), Vieira, defensor dos judeus, cai em desgraça, enfraquecido pela derrota de sua posição quanto à questão Nordeste. Em 1644 ele deixa Portugal como embaixador (seu pai, que antes vivia pobre, é nomeado pensionista real) para negociar com a Holanda a devolução do Nordeste, com grau de sucesso complexo numa ocasião da história de Portugal que quase acaba com Portugal como parte da Holanda. O povo de Portugal não gostava das pregações de Vieira em favor dos judeus e após estes tempos conturbados da política portuguesa ele acaba voltando ao Brasil, onze anos após voltar para a Europa. Fica no Nordeste algum tempo e volta para a Europa com a morte de D. João IV, tornando-se confessor da regente D. Luísa. Quando chega a questão do sucessor de D. João, Vieira fica no lado perdedor e é desterrado para o Porto, enquanto os jesuítas têm seus privilégios removidos. A Inquisição chega a prendê-lo na época após não ter sucesso em censurá-lo. Novamente no lado mais fraco na época da deposição de D. Afonso IV, vai ao Vaticano após meses sem pregar. Encontra o papa à beira da morte e fica em Roma. Quando em 1671 nova expulsão dos judeus é feita, Vieira parte na defesa deles. Em 1675 ele é absolvido totalmente pela Inquisição. No começo de 1681 volta ao Brasil e volta a pregar. Suas obras começam a ser publicadas na Europa, onde são elogiadas até pela Inquisição. Já muito velho e doente, tem que espalhar circulares sobre sua saúde para manter em dia sua longa correspondência. Em 1694 já não escreve do próprio punho. Em 10 de junho começa a agonia quando perde a voz e acabam-se seus discursos. Em 17 de junho de 1697 morre. Vieira tem uma obra complexa que exprime suas opiniões políticas, sendo não propriamente um escritor mas um orador. Além de seus Sermões existe o Clavis Prophetarum, seu livro de profecias que nunca acabou. Entre os sermões exitem dois que são os mais célebres: o Sermão da Quinta Dominga da Quaresma e o Sermão da Sexagésima. Vieira também tem uma classificação complexa quanto a nacionalidade: passou mais da metade de sua vida no Brasil, o próprio povo, quando ele caía em desgraça, chamava-o de "Judas do Brasil"; mas foi uma importante figura para Portugal na política interna e externa, para não falar na cultura.