7.7.11

O Destino Manifesto e a Guerra contra o México

(1846-1848)


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General Z.Taylor, pôster pela guerra

A ideologia do Destino Manifesto, que fazia dos americanos uma espécie de novo povo eleito, desde que se difundiu entre eles a partir da metade do século XIX , agiu como um poderoso elemento mobilizador da energia do país e dos indivíduos para a conquista de novos territórios ao oeste e sul do continente. Foi um verdadeiro elixir do expansionismo e do intervencionismo norte-americano, que, depois de ter anexado o Texas em 1836, engoliu a metade do território do México na guerra de 1846-48.

"A pura raça anglo-americana está destinada a estender-se por todo o mundo com a força de um tufão. A raça hispano-mourisca será abatida."

New Orleans Creole Courier, 27.01.1855.


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Alegoria do Destino Manifesto

O constante avanço da colonização para o Oeste e para o Sul da América do Norte fez brotar em meio àquela sociedade em formação a ideologia do Destino Manifesto, que expressava um dogma de autoconfiança e ambição supremas - a idéia de que a incorporação aos Estados Unidos de todas as regiões adjacentes, mesmo que estivessem bem afastadas de Washington, constituía a realização virtualmente inevitável de uma missão moral assinalada à nação pela própria Providência. O Destino Manifesto era, de certa forma, uma adaptação americanizada da ideologia do imperialismo providencialista que começava a surgir na Europa e que teve, posteriormente, no poeta Rudyard Kipling, sua forma literária mais acabada, explicitada na frase "o fardo do homem branco", na qual o europeu era visto vagando pelo mundo primitivo dos demais continentes encarregado de civilizar os nativos. E, sob o ponto de vista teológico, uma versão secularizada, adaptada aos americanos, da idéia bíblica do povo eleito, escolhido pelo Todo-Poderoso para açambarcar toda a Terra da Promissão.

A questão texana, que se iniciou em 1836, foi um poderoso fator de mobilização nacional para a concretização de mais uma etapa do Destino Manifesto.


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O General Santa Anna rende-se a Sam Houston em San Jacinto,1836

O território do Texas, que inicialmente pertencia ao império mexicano (proclamado em 1823), é tão vasto quanto a França. Colonos americanos haviam lá se estabelecido tanto clandestinamente como aceitando o convite do Imperador Augustin I (Itubirde) para ali se fixarem como "empresários". Durante os onze primeiros anos, eles possuíam relativa autonomia, sendo que S. F. Austin governava a região

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Sam Houston, presidente do Texas

praticamente sem fazer consultas à capital mexicana. Assim, estes colonos nem tomaram conhecimento quando, em 1825, o Congresso mexicano votou a abolição da escravatura no território nacional, e não emanciparam os seus servos. Os atritos aumentaram quando, depois do império ter sido abolido, o general Santa Anna resolveu instituir uma constituição centralista que suprimia com os particularismos e com as assembléias locais. Os colonos texanos, vendo-se ameaçados, se amotinaram e expulsaram a guarnição mexicana de San Antonio.

Los Alamos e San Jacinto

A resposta não tardou. O general Santa Anna, marchando para o norte, dizimou uma centena de fronteiriços, aventureiros americanos, em Los Alamos (6 de março de 1836), onde cinco mil mexicanos cercaram e mataram todos os 144 sitiados, comandados pelo coronel Travis e pelo aventureiro David Crockett e seus caçadores do Tennessee - num episódio que foi celebrado como a Tróia dos texanos -, mas terminou fragorosamente derrotado na batalha de San Jacinto, quando Sam Houston, o general-em-chefe dos texanos, não só destroçou as forças mexicanas como capturou o próprio comandante-em-chefe: o general Santa Anna, em trajes civis, em pessoa (21 de abril de 1836). Os texanos ratificaram sua nova constituição, legalizaram a escravidão e elegeram Sam Houston presidente. Logo trataram de obter o reconhecimento dos Estados Unidos bem como encaminharam uma solicitação de anexação pela União. Se foi Jackson quem reconheceu a república do Texas, coube ao presidente Tyler admiti-la na União em caráter definitivo em fevereiro de 1845.


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Alamo, a Tróia dos colonos texanos


A guerra mexicana


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O presidente James Polk (1845-49)

A anexação do Texas implicava praticamente numa declaração de guerra ao México, que até então não havia reconhecido a sucessão do seu território. O presidente James Polk, recém-empossado em 1845, aproveitou-se da ocasião não apenas para confirmar a integração do Texas à União como também estender seus interesses para as regiões do Novo México e da Califórnia. Para evitar futuros confrontos com as nações européias ainda presentes em amplas áreas da América, Polk enunciou uma advertência no sentido de que se uma antiga colônia, rompidas suas relações com a metrópole e declarada sua independência, desejasse juntar-se aos Estados Unidos, esta questão seria considerada de "interesse interno" pertinente apenas aos americanos. Deste modo, Polk preparava o terreno para poder dar início à política expansionista que faria com que os Estados Unidos se fixassem definitivamente no Pacífico. A guerra eclodiu no momento em que o presidente havia ordenado que suas tropas se deslocassem para a fronteira sudoeste para dar proteção ao território texano. Rusgas fronteiriças serviram de pretexto para uma declaração formal de guerra contra o México.


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Batalha de Cerro Gordo

Califórnia independente


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Capitão Fremont, líder da Califórnia

Ao mesmo tempo, o comodoro Sloat, comandante da zona do Pacífico, recebeu instruções de se apoderar de San Francisco, enquanto uma rebelião de caçadores, aventureiros e colonos americanos, liderados pelo capitão John Charles Fremont, apelidadoThe Pathfinder, chefe da Milícia de Voluntário chamada Bear Flaggers, depois de render as guarnições mexicanas, proclamava a República da Califórnia (14 de junho de 1846).

Poucos tempo depois, em janeiro de 1848, o capitão John Suttler e o carpinteiro James Marshal acharam uma maravilhosa pepita à beira do rio American Fork, no Moinho Sutter, dando início à Golden Rush, a célebre corrida do ouro da Califórnia.

O ataque conjugado ao México


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Batalha de Monterrey, 1846

As forças norte-americanas invadiram o México através de dois movimentos. O primeiro foi executado pelo general Zachary Taylor, que atravessou a fronteira do Rio Grande e, bem mais equipado, derrotou as forças mexicanas em Monterrey, em setembro de 1846. O segundo materializou-se no bloqueio e ocupação do porto mexicano de Vera Cruz.


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A conquista da Cidade do México

Polk aceitou o oferecimento do general Santa Anna, que se encontrava exilado em Cuba, que se comprometera a "firmar o tratado que fosse preciso firmar" desde que Polk o auxiliasse a retornar ao poder. A cidade do México cai sob ocupação americana em setembro de 1847, depois do general Scott bater as forças mexicanas remanescente na batalha de Chapultpec, obtendo a seguir um armistício com Santa Anna (pelo qual este recebeu dez mil dólares). A conquista da Cidade do México, especialmente o assédio norte-americano ao forte de Chapultepec, antiga residência-fortaleza dos vice-reis espanhóis, submetido a intenso bombardeio, reproduziu de certa forma, pela desproporção dos recursos em armas, o sítio que esta mesma cidade, a outrora bela e imponente capital do império asteca, sofreu pelas forças de Cortés, o conquistador espanhol, quatro séculos antes. A resistência demonstrada pelos defensores, por sua vez, tornou-se um mito nacional entre os mexicanos, especialmente o feito dos seis últimos cadetes (niños héroes), que preferiam lutar até a última bala do que se entregar. O heroísmo deles serviu para a maioria dos mexicanos como um antídoto à vilania do general Santa Anna, que pouco fez para manter a honra nacional, fazendo com que graças àquela atitude, ainda que desesperada, a batalha de Chapultepec, que foi uma inequívoca derrota militar, se assomasse aos mexicanos como uma vitória moral.

O Tratado Guadalupe-Hidalgo

Em 2 de fevereiro de 1848, foi assinado o Tratado Guadalupe Hidalgo, no qual o México reconheceu a fronteira do Rio Grande como definitiva, cedendo em caráter permanente o Texas, perdendo ainda o Novo México, o Arizona, o Colorado, a Alta Califórnia, incluindo Nevada, Utah e o Wyoming: uma área que perfazia bem mais da metade do território mexicano. Como as baixas fatais dos americanos alcançaram 2.703 homens, é de se supor que foi a maior proporção de terras obtidas numa guerra pelo menor número de vidas perdidas na sua conquista em toda a história moderna. O vencedor assumiu as obrigações de pagamentos pendentes bem como de indenizar o vencido em quinze milhões de dólares. É fácil, pois, entender o profundo sentimento antiamericano presente nos mexicanos até os nossos dias. Para Lippman, a conquista da maior parte do México, a pretexto de expandir a democracia, "foi uma vilania vestida com a armadura de uma causa justa". Conclusão não muito diferente que chegou um dos próprios


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Batalha nas proximidades da cidade do México

participantes da guerra, o general Ulysses Grandt, que em 1846 era um jovem oficial. "Não creio", escreveu ele nas suas memórias, "que jamais tenha existido uma guerra tão malvada como aquela que os Estados Unidos travaram contra o México. Foi o que eu pensei então quando era jovem, só não tive fortaleza moral suficiente para apresentar minha renúncia".

Dividem-se os intelectuais

Interessa observar a maneira totalmente contraditória que dois intelectuais americanos viram a guerra mexicana e a subseqüente cessão do território aos Estados Unidos. Enquanto Henry Thoureau denunciou a guerra como um ato covarde de uma nação poderosa contra uma república pobre, pregando a desobediência civil, conclamando, por meio do seu panfleto Civil Desobedience, 1849, os cidadãos americanos que não pagassem imposto e nem aceitassem colocar uniforme, Walt Whitman, ao contrário, endossou-a com entusiasmo dizendo: "O que tem a haver esse México miserável e ineficiente - com suas superstição, com sua paródia de liberdade, sua tirania real de poucos sobre muitos - que tem ele a haver com a grande missão de povoar o novo mundo com uma raça nobre? Que seja nosso lograr esta missão!"(5)


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H.Thoreau e W.Whitman, opostos durante a guerra contra o México

Leia mais:
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» A Conquista do Canal do Panamá
» O Corolário Roosevelt e a Diplomacia do Dólar
» Cuba e a Guerra Hispano-americana de 1898
» A Doutrina Monroe, 1823
» EUA e o Delírio Intervencionista
» O Império de Classe Média

Notas

1) WEINBERG. A. Destino Manifesto. Buenos Aires. Paidós, 1968, p. 16.

2) MORRISON & COMMAGER. História dos Estados Unidos da América. São Paulo: Melhoramentos, v. II, p. 13 e seg.

3) MORRISON & COMMAGER. Op. cit., p. 26-8.

4) MORRISON & COMMAGER. Op.cit. p. 28-9, também em Dozer, D. América Latina. 2.ed., Porto Alegre: Globo, 1974, p. 301.

5) QUIROGA, Miguel Angel G. - El poder de una idea [http://www.pbs.org/kera/usmexicanwar/mainframe-sp.html]

Fonte: