Conhecidos desde a Antiguidade, os berberes são povos autóctones – ou seja, povos naturais da região – do norte da África. Não fosse por eles, as rotas comerciais da África sub-saariana com o Oriente Médio e até mesmo com a Europa demorariam séculos para tornar-se realidade.
Inicialmente os berberes viviam em tribos esparsas que cobriam uma boa parte do deserto do Saara, principalmente na região onde hoje temos a Mauritânia, o Marrocos, a Argélia, o Mali, a Líbia e até mesmo a Tunísia – região que nós costumamos chamar de “Magreb”.
Como nômades, ao longo do tempo eles desenvolveram a capacidade de viver e cobrir grandes distâncias de deslocamento no deserto, acostumando-se às limitações físicas e climáticas que só um deserto pode impor a quem o desafia.
Hoje os antropólogos que estudam os berberes não os classificam como apenas UM povo comum, mas sim um conjunto de povos nômades que tem características sociais e lingüísticas bem parecidas mas que não tem uma definição – até os dias de hoje – como um povo unido em torno de um Estado, apesar de uma identidade cultural bem comum entre as diversas tribos.
Permitam-me um exemplo rápido de povo que mesmo sem uma nação geograficamente definida se identifica como povo comum: os judeus, que mesmo expulsos da Palestina na Antiguidade e espalhados por diversos países – até a fundação do Estado de Israel em 1948 – mantinham-se ligados por laços culturais e religiosos.
Cabe aqui também citar uma peculiaridade dos berberes: após a expansão islâmica dos séculos VIII e IX, muitos se converteram ao islã e transmitiram sua herança religiosa. Hoje podemos dizer que a característica mais comum ao povo berbere é justamente a adoração ao islã.
Normalmente os berberes são classificados de acordo com os dialetos específicos de cada grupo, que também costumam ocupar uma região de forma esparsa ou não. Os três principais grupos berberes – que são também grupos lingüísticos – são os tuaregues, os tamazights e os chleuhs. Temos também os chamados berberes dos oásis, os chaouias, os rifains e os kabyles.
Os mercadores do deserto:
Com o tempo os constantes deslocamentos vão credenciar os berberes à tarefa de comerciantes e principais transportadores de produtos entre a parte central e sul do continente – onde nós temos savanas e florestas tropicais que ficaram isoladas por séculos por conta da proteção do deserto do Saara – com os grandes centros consumidores da Antiguidade.
Desnecessário dizer que os principais aliados na árdua tarefa dos berberes em viajar pelo deserto por semanas ou meses sempre foram o camelo e o dromedário, animais que suportam viver nas condições extremas da região.
Estes são turistas, mas o que seria das caravanas do deserto sem os camelos?
Os berberes transportavam e comercializavam de tudo, desde peles de animais selvagens abatidos nas florestas e savanas, marfim, cerâmicas, lanças, pedras preciosas e até escravos, capturados depois de batalhas entre as tribos sub-saarianas e vendidos no Egito, na Núbia e no Oriente Médio.
Normalmente os berberes faziam a ponte entre as mercadorias produzidas pelos ashantis, bantos, songhais, haussas e bambaras, entre outros povos sub-saarianos e da região do sahel – aquela região logo abaixo do Saara que precede as florestas africanas – para outras regiões e vice-versa, garantindo a circulação de muitos produtos entre o continente africano e o Oriente Médio, garantindo o abastecimento de especiarias às cidades africanas litorâneas do Mediterrâneo e do Atlântico.
Mercado de especiarias em Marrocos. Há séculos abastecido pelos berberes
Fonte: http://www.historiazine.com/2011/05/os-povos-berberes.html