Os rom (plural: roma), chamados vulgarmente de ciganos[1], são povos tradicionalmente nômades, originários do norte da Índia e que hoje vivem espalhadas pelo mundo, especialmente na Europa, sendo sempre uma minoria étnica nos países onde vivem.
São subdivididos em diversos grupos, como os sintos e os caló.
Ver artigo principal: História do povo ciganoHistória
Devido à ausência de uma história escrita, a origem e a história inicial dos povos rom foram um mistério por um longo tempo. Há 200 anos, antropólogos culturais criaram a hipótese de uma origem indiana dos roma, baseada na evidência lingüística, o que foi confirmado pelos dados genéticos.
Acredita-se que os roma têm as suas origens nas regiões do Punjab e do Rajastão, no subcontinente indiano. Eles iniciaram a sua migração para a Europa e África do Norte, pelo planalto iraniano, por volta de 1050.
Até meados do século XVIII, teorias da origem dos roma se limitavam a especulações. Então, em 1782,Johann Christian Cristoph Rüdiger publicou sua pesquisa que apontava a relação entre o romani e ohindi. Trabalhos seguintes deram apoio à hipótese que o romani possuía a mesma origem das línguas indo-arianas do norte da Índia.
Os roma originaram-se de uma casta inferior do noroeste da Índia, que, por causas desconhecidas foi obrigada a abandonar o país no primeiro milênio d.C.. Partiram em direção à Pérsia onde se dividiram em dois ramos: o primeiro, que tomou rumo oeste, atingiu a Europa através da Grécia; o segundo partiu para o sul, chegando à Síria, Egito e Palestina. No século XII, os roma enfrentaram o avanço dos muçulmanos, que invadiram a Índia. Devido a conquista territorial e política dos estados hindus, muitas caravanas rom partiram para a Europa, Oriente Médio e Norte da África, em uma migração que os roma chamaram de Aresajipe. O grupo espalhou-se, principalmente, pelo continente europeu:Hungria, Áustria e Boêmia, chegando à Alemanha em 1417. Em 1428, encontrava-se na França eSuíça, em 1422 atingia a Bolonha. Em 1500, surgiram os primeiros ciganos ingleses. Os anos de 1555e 1780 são marcados pelos ciganos por um período de perseguições e intolerância: em vários países foram cometidos atos de violência contra os ciganos.
A falta de uma ligação histórica precisa a uma pátria definida ou a uma origem segura não permitia que se lhes reconhecesse como grupo étnico bem individualizado, ainda que por longo tempo haviam sido qualificados como Egípcios. O clima de suspeitas e preconceitos se percebe no florescimento de lendas e provérbios tendendo por os roma sob mau prisma, a ponto de recorrer-se à Bíblia para considerá-los descendentes de Caim, e portanto, malditos.[2] Difundiu-se também a lenda de que eles teriam fabricado os pregos que serviram para crucificar Cristo (ou, segundo outra versão, que eles teriam roubado o quarto prego, tornando assim mais dolorosa a crucificação de Cristo. Caracterizados pelo nomadismo, o modo de vida dos ciganos e suas condições de subsistência são sempre determinados pelo país em que se encontram: os mais ricos são os ciganos suecos e os mais pobres encontram-se nos Bálcãs e no sul da Espanha.
Embora mantendo sua identidade, em alguns aspectos os roma revelam grande capacidade de integração cultural: sempre professam a religião local dominante, da mesma forma que suas danças, músicas, narrativas e provérbios manifestam a assimilação da cultura no meio em que se radicam. Sua capacidade de assimilar músicas folclóricas permitiu que muitas fossem preservadas do esquecimento, principalmente as do oeste europeu. Excluindo as publicações soviéticas, existem apenas nove livros escritos em romani.
Durante a Segunda Guerra Mundial, de duzentos a quinhentos mil ciganos europeus teriam sido exterminados nos campos de trabalho e de extermínio nazistas, episódio denominado de porajmosentre os roma. Esta realidade começou a ser recuperada pela historiografia apenas a partir dos anos 1970.
Idiomas
A maioria dos roma falam algum dialeto do romani, língua muito próxima das modernas línguas indo-europeias do norte da Índia e do Paquistão, tais como o prácrito, o maharate e o punjabi.
Tanto o sistema fonológico como a morfologia podem ter sua evolução facilmente reconstruída a partir do sânscrito. O sistema numeral também reflete parcialmente os respectivos vocabulários sânscritos. Com as migrações, os roma levaram sua língua a várias regiões da Ásia, da Europa e das Américas, modificando-a. De acordo com as influências recebidas distinguem-se dialetos asiáticos de europeus. Entre as línguas que mais influenciaram nas formas modernas do romani estão o grego, o húngaro e oespanhol.[carece de fontes]
Tradições
Os roma não representam, como já se salientou, um povo compacto e homogêneo; mesmo pertencendo a uma única etnia, existe a hipótese de que a migração desde a Índia tenha sido fracionada no tempo e que desde a origem fossem divididos em grupos e subgrupos, falando dialetos diferentes, ainda que afins entre si. O acréscimo de componentes léxicos e sintáticos das línguas faladas nos países atravessados no decorrer dos séculos acentuou fortemente tais diversificações, a tal ponto que podem ser tranqüilamente definidos como dois grupos separados, que reúnem subgrupos muitas vezes em evidente contraste social entre si.
As diferenças de vida, a forte vocação ao nomadismo de alguns, contra a tendência à sedentarização de outros pode gerar uma série de contrastes que não se limitam a uma simples incapacidade de conviver pacificamente.
Em linhas gerais se poderia afirmar que os sintos são menos conservadores e tendem a esquecer com maior rapidez a cultura dos pais. Talvez este fato não seja recente, mas de qualquer modo é atribuído às condições socioculturais nas quais por longo tempo viveram.
Quanto aos roma de imigração mais recente, se nota ao invés uma maior tendência à conservação das tradições, da língua e dos costumes próprios dos diversos subgrupos. Sua origem desde países essencialmente agrícolas e ainda industrialmente atrasados (leste europeu) favoreceu certamente a conservação de modos de vida mais consoantes à sua origem. Antigamente era muito respeitado o período da gravidez e o tempo sucessivo ao nascimento do herdeiro; havia o conceito da impureza coligada ao nascimento, com várias proibições para a parturiente. Hoje a situação não é mais tão rígida; o aleitamento dura muito tempo, às vezes se prolongando por alguns anos.
No casamento, tende-se a escolher o cônjuge dentro do próprio grupo ou subgrupo, com notáveis vantagens econômicas. É possível a um rom casar-se com uma gadjí, isto é, uma mulher não-rom, a qual deverá porém submeter-se às regras e às tradições rom. Vige naturalmente o dote, especialmente para os ciganos; no grupo dos sintos, tende-se a realizar o casamento através da fuga e conseqüente regularização. Aos filhos é dada uma grande liberdade, mesmo porque logo deverão contribuir com o sustento da família e com o cuidado dos menores. No que se refere à morte e aos ritos a ela conexos, o luto pelo desaparecimento de um companheiro dura em geral muito tempo. Junto aos sintos parece prevalecer o costume de se queimar a kampína (o trailer) e os objetos pertencentes ao defunto. Entre os ritos fúnebres praticados pelos roma está a pomána, banquete fúnebre no qual se celebra o aniversário da morte de uma pessoa. A abundância do alimento e das bebidas exprimem o desejo de paz e felicidade para o defunto.
Além da família extensa, entre os roma encontramos a kumpánia, ou seja, o conjunto de várias famílias (não necessariamente unidas entre si por laços de parentesco) mas todas pertencentes ao mesmo grupo e ao mesmo subgrupo ou a subgrupos afins.
O nômade é por sua própria natureza individualista e mal suporta a presença de um chefe: se tal figura não existe entre os roma, deve-se reconhecer o respeito existente com os mais velhos, aos quais sempre recorrem para dirimir eventuais controvérsias.
Entre os roma, a máxima autoridade judiciária é constituída pelo krisnitóri, isto é, por aquele que preside a kris. A kris é um verdadeiro tribunal rom, constituído pelos membros mais velhos do grupo e se reúne em casos especiais, quando se deve resolver problemas delicados inerentes a controvérsias matrimoniais ou ações cometidas com danos para membros do mesmo grupo. Na kris podem participar também as mulheres, que são admitidas para falar, e a decisão unilateral cabe aos membros anciãos designados, presididos pelo krisnitóri, que após haver escutado as partes litigantes, decidem, depois de uma consulta, a punição que o que estiver errado deverá sofrer.
Em tempos recentes a controvérsia se resolve, em geral, com o pagamento de uma soma proporcional ao tamanho da culpa, no passado, se a culpa era particularmente grave, a punição podia consistir no afastamento do grupo ou, às vezes, em penas corporais.
Religião
Os roma não têm uma religião própria, não reconhecem um deus próprio, nem sacerdotes, nem cultos originais. Parece singular o fato de que um povo não tenha cultivado no decorrer dos séculos crenças particulares em mérito à divindade, nem mesmo formas primitivas de tipo antropomórfico ou totêmico. O mundo do sobrenatural é constituído pela presença de uma força benéfica, Del ou Devél, e de uma força maléfica, Beng, contrapostas entre si numa espécie de zoroastrismo, provável resíduo de influências que esta crença teve sobre grupos que em época remota atravessaram a Pérsia.
Existem pois, nas crenças ciganas, uma série indefinida de entidades, presenças que se manifestam sobretudo à noite. Quanto à religião, em geral os roma parecem ter-se adaptado no decorrer da história às confissões vigentes nos países que os hospedaram, mas sua adesão parece ser exterior e superficial, com maior atenção aos aspectos coreográficos das cerimônias, como procissões, peregrinações, próprias de uma religiosidade popular ainda largamente cultivada no âmbito católico. Um sinal de mudança se dá pela difusão do movimento pentecostal, ocorrida a partir dos anos 50, através da Missão Evangélica Cigana, surgida na França.
Em seguida a isso, registram-se todavia profundas lacerações no interior de muitas famílias, devido às radicais mudanças de costume que tal adesão impõe e que encontram explicação na natureza fundamentalista do movimento religioso em questão. Tais imposições muitas vezes acabam por induzir os roma a uma recusa de suas peculiaridades culturais, ainda que dependa muito da capacidade de crítica e de discernimento de cada indivíduo.
Parlamento Europeu recebe prémio de comunidade rom
O presidente do Parlamento Europeu, Hans-Gert Pöttering, recebeu no dia 2 de abril de 2009 um prêmio pelo trabalho desenvolvido peloParlamento Europeu na defesa dos direitos da comunidade rom na Europa. O prêmio foi entregue por representantes das principais organizações europeias, em nome da comunidade rom, antes do Dia Internacional dos Roma, que se celebra no dia 8 de abril.[3]
Dos 12 a 15 milhões de roma que vivem na Europa, 10 milhões vivem em Estados-Membros da União Europeia, a maioria dos quais adquiriu a cidadania europeia com o alargamento de 2004 e a adesão da Romênia e da Bulgária em 2007.
Maiores concentrações rom no mundo
País | População rom (est.) | Referência |
---|---|---|
Albânia | 70.000 | [1] (Microsoft Word). |
Alemanha | 110.000 – 130.000 | Liégeois, Jean-Pierre (1994). Roma, Tsiganes, Voiageurs (em francês). Conseil de l'Europe, 34. |
Argentina | 300.000 | Tchileva, Druzhemira (2004-11-16). Emerging Romani Voices from Latin America (em inglês). European Roma Rights Centre. |
Brasil | 678.000 (est. do governo) – 1.000.000 | [2] [3] |
Bulgária | 370.908 (censo) ou 700.000 – 800.000 | [4] [5] [6] |
Canadá | 80.000 | Lee, Ronald (Outubro de 1998). Roma in Canada fact sheet (em inglês). Roma Community Centre. |
Espanha | 600.000 – 800.000 | [7] |
Estados Unidos | 1.000.000 | [8] |
França | 280.000 – 340.000 | Liégeois, Jean-Pierre (1994). Roma, Tsiganes, Voiageurs (em francês). Conseil de l'Europe, 34. |
Grécia | 300.000-350.000 | [9] [10] |
Hungria | 189.984 ou 450.000 – 600.000 | [11] |
Índia | 2.274.000 | [12] [13] |
Irã | 110.000 | [14] |
Itália | 90.000 – 110.000 | Liégeois, Jean-Pierre (1994). Roma, Tsiganes, Voiageurs (em francês). Conseil de l'Europe, 34. |
Macedônia | 53.879 - 260.000 | [15] [16] |
República Tcheca | 11.746 (censo) ou 220,000 | [17] [18] |
Turquia | 5.000.000 | [19] |
- Portugal: 40.000 (2001)
- Romênia: 535.140 (2002)
- Rússia: 183.000
- Sérvia: 108.193
- Eslováquia: 92.500
- Ucrânia: 48.000
Ver também
Referências
- ↑ Declaração do Povo Rom (Ciganos) aos Povos, Governos e Estados das Américas. (em português). Minga Informativa de Movimientos Sociales. Página visitada em 2008-05-25.
- ↑ Gênesis 9:25
- ↑ Parlamento Europeu e Comunidade Roma
Ligações externas
- A etnia cigana em Portugal
- European Roma Rights Centre
- A verdadeira origem dos Ciganos (Rom e Sintos)
- Specialized Library with Archive "Studii Romani" (em inglês)
- Preliminary Results 2002.doc
- Qual o lugar dos ciganos no mundo moderno? - reportagem do site de jornalismo Opinião e Notícia que aborda o histórico e a situação do grupo na atualidade, mostrando estatísticas, curiosidades e análises sobre o futuro dos ciganos.