A FASE INICIAL
A primeira fase da Geografia no Brasil inicia-se em 1500, com as descrições da terra recém descoberta e a ser conquistada, juntamente com as medições cartográficas para a confecção das cartas de navegação para o Atlântico Sul.
Ambas as tarefas feitas por especialistas que viajavam nas expedições de descobrimento e de exploração ocorridas durante o início do século XVI. No contexto das explorações portuguesas, dois especialistas descreveram os principais fatos geográficos, logo na primeira viagem de descoberta: Pero Vaz de Caminha e Mestre João de Faras.
O primeiro, como escrivão oficial da frota comandada por Pedro Alvares Cabral, que tomou posse das terras descobertas no litoral da Bahia, inaugurou com sua carta ao rei de Portugal, Manuel I, uma série de crônicas geográficas sobre o Brasil, ao descrever com minúcias o quadro físico (forma do litoral, solo, clima, vegetação, fauna) e o quadro humano (os índios que habitavam nosso litoral), tentando explicar traços fisionômicos e atitudes desse povo estranho que os portugueses passariam a conhecer a partir daquela data. O segundo, na qualidade de astrônomo e cartógrafo da frota, também informa ao rei, em carta escrita entre 28 de abril e 10 de maio de 1500, as principais determinações astronômicas do hemisfério sul e informa sobre as modificações cartográficas a serem impostas nos próximos mapas de navegação (portulanos) de Portugal.
As expedições que se seguiram, no início do século XVI, não geraram documentos importantes por parte dos portugueses, embora duas delas tenham sido pilotadas por Américo Vespúcio, considerado um dos melhores navegadores da época.
AS DESCRIÇÕES DOS PRIMEIROS COLONOS E EXPLORADORES
Na segunda metade do século XVI, com o processo de colonização já consolidado, começa a ser produzida uma série de trabalhos descritivos de cunho geográfico, feitos por portugueses que se fixaram na terra.
Colonizadores como Pedro Magalhães Gandavo (História da Província de Santa Cruz, de 1576) e Gabriel Soares de Souza (Tratado descritivo do Brasil, de 1587) e padres jesuítas como José de Anchieta (Tratado Descritivo do Brasil, de 1799) são os mais importantes.
Digno de nota também foi o importante trabalho do alemão Hans Staden (Viagem ao Brasil, de 1557), fruto de sua estada forçada junto aos índios tupinambás, no litoral da capitania de São Vicente (atual São Paulo), em virtude de um naufrágio ocorrido por volta de 1550. Foi também na segunda metade do século XVI quando a França tentou conquistar uma parcela do novo território português na América do Sul, ocupando em 1557 a atual baía de Guanabara, forçando Portugal a criar um novo polo de defesa e ocupação, iniciado com um ataque naval em 1560, no qual foi destruído o forte de Coligny, depois com a fundação da cidade do Rio de Janeiro em 1565 e finalizando com a definitiva expulsão dos franceses em 1567.
No contexto da ocupação francesa, dois missionários religiosos realizaram importantes trabalhos geográficos e cartográficos sobre o Brasil. O padre franciscano André Thévet escreveu os tratados Cosmografia (1575) e Singularidades da França Antártica (1557) e o protestante calvinista Jean de Léry o livro Viagem à Terra do Brasil (1578), além de desenhar a carta do litoral do Rio de Janeiro França Antártica - O Rio de Janeiro (1580).
No início do século XVII os trabalhos de dois padres capuchinhos franceses, que percorreram a província do Maranhão, marcaram os estudos geográficos na porção norte do país, Claude d'Abberville com sua História dos Padres Capuchinhos na Ilha do Maranhão e Terras Circunvizinhas (1614) e Yves d'Evreux com uma continuação do trabalho de d'Abberville, Suíte da História das Memoráveis Aventuras no Maranhão entre 1613-1614 (1615). Além dos franceses, portugueses radicados na terra e padres missionários continuam a produção geográfica sobre o Brasil.
Ambrósio F. Brandão, fazendeiro pernambucano, escreveu o Diálogo das Grandezas do Brasil (1618), o padre visitador Fernão Cardim escreveu um tratado sobre o clima, Do Clima e Terra do Brasil (1625) e o padre espanhol Cristóval de Acuña descreveu o Amazonas em seu Novo Descobrimento do Rio das Amazonas (1641), ao acompanhar o navegador português Pedro Teixeira em sua viagem do Peru até a foz do Amazonas, feita entre 1637-39. No contexto histórico da ocupação holandesa em Pernambuco, organizada por Maurício de Nassau a partir de 1638, os trabalhos de Astronomia, Geografia e Botânica organizados pelo alemão Georg Marcgrave foram considerados os melhores até então executados. Foram incluídos em sua História das Coisas Naturais do Brasil (1648) e na Proginástica Matemática Americana, obra de astronomia que ficou inconclusa, em função do falecimento do autor em 1655, aos 34 anos. Marcgrave também construiu o primeiro observatório astronômico do hemisfério sul, em Pernambuco, em 1639.
A FASE DAS EXPLORAÇÕES CIENTÍFICAS
O século XVIII inaugura a fase dos levantamentos sistemáticos sobre as características físicas do território, em consonância com os mais recentes estudos geodésicos levados a efeito pelos cientistas europeus, que haviam iniciado campanhas sistemáticas de medições em várias partes do mundo.
O matemático francês Charles Marie de La Condamine foi um dos europeus que participaram dessas expedições.
No seu caso, a realização foi medir um arco de meridiano, em terras da Amazônia peruana. Seu retorno a Europa se deu atravessando a Amazônia brasileira, descendo o grande rio até Belém. Suas observações e estudos geraram a Carta do Curso do Maranhão ou do Grande Rio das Amazonas em 1743 e 1744, conforme as observações astronômicas por M. de La Condamine (1745).
Seus escritos sobre a natureza e a organização social das populações ribeirinhas o enquadraram como um dos melhores geógrafos do século XVIII.
As questões de limites entre os reinos de Portugal e Espanha introduziram um novo componente nos estudos geográficos, a necessidade de mensurações sistemáticas dos respectivos territórios e a constante atualização cartográfica das linhas de fronteira. Na esteira desses trabalhos, foram conhecidos novas áreas do interior do Brasil.
Alexandre de Gusmão organizou o Mapa dos Confins do Brasil com as Terras de Espanha na América Meridional (1749), que subsidiou as negociações do Tratado de Madri em 1750.
Nessa mesma época, outros grupos de geógrafos mapearam as fronteiras do sul com o Uruguai, além de estabelecerem os novos limites para o Tratado de Santo Ildefonso em 1777, que praticamente definiu as atuais fronteiras brasileiras.
O fim do século XVIII marca o início de uma nova fase nos estudos da Natureza e do povoamento do Brasil.
Alexandre Rodrigues Pereira foi o primeiro brasileiro nato a chefiar uma equipe de pesquisa da Universidade de Lisboa, com a incumbência de levantar informações sobre a região amazônica, entre 1785 e 1788.
Todo o seu material, depositado no Real Gabinete de História Natural, em Lisboa, foi confiscado pelo General Junot, comandante das tropas francesas que invadiram Portugal em 1808, e quase todo o acervo foi enviado a Paris, para uso do naturalista Étienne Geoffroy Saint-Hilaire.
Em 1815 Portugal recuperou esse acervo e em 1842 o repassou ao Brasil.
A GEOGRAFIA COMO CIÊNCIA NO BRASIL
No século XIX foi editada a primeira obra de compilação geográfica do Brasil, Corografia Brasílica, do padre Manuel Aires de Casal (1817). Paralelamente outros geógrafos, geralmente envolvidos com os governos provinciais, organizaram quadros de referência geográfica de diversas áreas do país, principalmente nas regiões norte e centro oeste.
Em 1869 foi editado o primeiro trabalho geográfico especializado orientado a um só assunto, a Navegação Interior do Brasil, de Eduardo José de Morais, um perito em hidrografia que organizou a primeira classificação das bacias hidrográficas brasileiras e lançou a idéia de ligação entre bacias através de canais ou ferrovias. Foi também nesse século quando aumentou substancialmente a participação de cientistas europeus na geografia brasileira, exemplificados nos trabalhos de Amedée Ernest Barthélemy Mouchez sobre o litoral do país, de Alexander von Humboldt sobre biogeografia da Amazônia, John Mawe sobre condições de vida da população, Wilhelm Ludwig Eschwege sobre geologia e geomorfologia, a dupla Johanan Baptist Spix e Karl Friedrich Philipp von Martius sobre botânica e etnologia, Auguste de Saint-Hilaire sobre biogeografia e geografia geral, Louis Rodolphe Agassiz sobre biogeografia e geomorfologia, Elisée Reclus sobre geografia regional.
Ainda no século XIX, foram fundados o Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (1838) e a Sociedade Brasileira de Geografia (1883). Na transição para o século XX, dois brasileiros deram uma grande contribuição para os estudos geográficos, o general Cândido Mariano da Silva Rondon, ao explorar sistematicamente o noroeste do Brasil, e José Maria da Silva Paranhos, o Barão do Rio Branco, aoestudar detalhadamente nossas regiões de fronteiras. Foi também nesse período que o enfoque interpretativo na Geografia iniciou seu combate aos tratados descritivos estanques. Capistrano de Abreu e Euclides da Cunha são os expoentes dessa corrente.
O caráter científico da Geografia brasileira estabeleceu-se durante o século XX, com a formação institucionalizada de cursos universitários de Geografia, em São Paulo e Rio de Janeiro, orientados por professores estrangeiros, como Pierre Deffontaines, com a fundação da Associação dos Geógrafos Brasileiros e com a criação do Conselho Nacional de Geografia em 1937, agência do Governo Brasileiro encarregada de subsidiar o planejamento territorial do Brasil.
Fonte:
http://acienciageograficatoco.blogspot.com/2010/04/historia-da-geografia-no-brasil.html