A época da mineração no período colonial A mineração dos anos setecentos foi desenvolvida a partir do ouro de aluvião, tendo como características o baixo nível técnico e o rápido esgotamento das jazidas. No extrativismo aurífero, as formas de exploração mais comuns encontradas eram as lavras e afaiscação. A primeira representaria uma empresa em que era utilizada a mão-de-obra escrava e se aplicava uma técnica mais apurada. Já a faiscação era a extração individual, realizada principalmente por homens livres. A organização da exploração aurífera começou em 1702, quando o Estado português editou o Regimento das Terras Minerais, disciplinando a exploração aurífera estabelecida pela Carta Régia de 1602, que declarava a livre exploração, mediante o pagamento doquinto; em outras palavras, a quinta parte do que se extraía (20%) era o imposto devido à metrópole. Por esse regimento, organizava-se a distribuição das jazidas que eram dividi das em datas - porções das jazidas que representavam a unidade de produção - e passadas para os exploradores mediante o sistema de sorteio, promovido pelaIntendên cia das Minas, principal órgão de controle e de fiscaliza ção da mineração do ouro. No que refere a tributação, inicialmente existia o quinto, cuja cobrança era dificultada pela circulação do ouro em pó, que permitia a prática cotidiana do contra bando; como exemplo, o ouro era contrabandeado na carapinha dos escravos ou nos famosos santos de pau oco. Com o intuito de efetivar sua cobrança e evitar o contrabando, em 1720, foram criadas as Casas de Fundição - que só vieram a funcionar em 1725, em Vila Rica - com a finalidade de transformar o ouro em barras timbradas e quintadas. Em 1730, o quinto foi reduzido para 12% e, em 1735, foi criado um novo imposto, a capitação, onde se cobrava 17 gramas por escravo em atividade na mineração. Em 1750, época do apogeu do ouro, foi instituído o quinto por estimativa, conhecido como finta, ou seja, a fixação de uma cota fixa de 100 arrobas que incidia sobre toda a região aurífera. A partir daí, já com o prenúncio da decadência da mineração, essa cota não era alcançada, gerando-se o déficit que se avolumava a cada ano. Com isso, em 1765, foi instituída a derrama, forma arbitrária de cobrança do quinto atrasado, que deveria ser pago por toda a população da região, inclusive com bens pessoais. E esse quadro, marcado pela extorsiva tributação, aumen tou o descontentamento contra os abusos da metrópole. Por volta de 1729, Bernardo da Fonseca Lobo des cobriu as primeiras jazidas diamantíferas no arraial do Tijuco ou Serro Frio, hoje Diamantina. Teve início, as sim, a exploração dos diamantes, que, como a do ouro, também era considerada um monopólio régio. Em 1733, foi criado o Distrito Diamantino, única área demarcada em que se podia explorar legalmente as jazidas. A exploração era livre, mediante o pagamento do quinto e da capitação sobre o trabalhador escravo. Em 1739, a livre extração cedeu lugar aosistema de con trato, que deu origem aos ricos contratadores, como João Fernandes, estreitamente ligado à figura de Xica da Silva. Diante das irregularidades e do desvio dos impos tos, além do alto valor que alcançavam as pedras na Europa, em 1771, foi decretada arégia extração, que contava com o trabalho de escravos alugados pela coroa. Posteriormente, com nova liberação da exploração, foi criado o Livro de Capa Verde, contendo o registro dos exploradores, e o Regimento dos Diamantes, procurando disciplinar a extração. Contudo, o monopólio estatal sobre os diamantes vigorou até 1832. No Brasil, paralelamente a isto, ocorreu um deslocamento do eixo econômico e demo gráfico do litoral para a região Centro-Leste, acompanhado da inten sificação do tráfico negreiro e do remanejamento do contingente interno de escravos. Com isso, a colônia co nheceu uma verdadeira explosão populacional, ultrapassando com folga a casa de um milhão de habitantes, no século XVIII. Geradora de novas necessidades, a mineração condi cionou um maior desenvolvimento do comércio, associa do ao fenômeno da urbanização. Desenvolveu-se o mer cado interno, possibilitando a dinamização de todos os quadrantes da colônia, que se organizaram para abastecer a região do ouro. A vida urbana e o próprio caráter da exploração aurífera geraram uma sociedade mais aberta eheterogênea, convivendo lado a lado o trabalho livre e o trabalho escravo, embora este fosse predominante. Co mo conseqüência, a concentração de renda foi menor, en riquecendo, principalmente, os setores ligados ao abaste cimento. Finalmente, a "corrida do ouro" promoveu a penetra ção e opovoamento do interior do Brasil, anulando em definitivo a velha demarcação de Tordesilhas. Todo o conjunto de conseqüências, anteriormente ci tadas, refletiu-se na vida cultural e intelectual da mine ração, marcada por um notável desenvolvimento artístico. Na literatura, destacaram-se os poetas intimamente relacionados ao Arcadismo. Na arquitetura e na escultura, emergiram as figuras de Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho, e mestre Valentim, nomes importantes do barroco mineiro. Na música, além da disseminação de uma música popular - modinhas e lundus - sobressaíram-se os gran des mestres da música sacra - barroca, com as missas e réquiens de Joaquim Emérico Lobo de Mesquita e do pa dre José Maurício Nunes Garcia. Nesse contexto, a influência européia, com os novos princípios liberais disseminados pela Enciclopédia, ali mentaria o primeiro movimento de caráter emancipacio nista: a Inconfidência Mineira. Fonte:
Legislação, órgãos e tributos da mineração
A exploração dos diamantes
As conseqüências da mineração
Uma cultura mineira