O vice-rei do Egito, Mohammed Ali, levou em duas ocasiões o Império Otomano à beira da dissolução e as grandes potências europeias a uma grave crise internacional. Em 1832, ele anexou a Síria que, como o Egito, era uma província do Império Otomano, e logo avançou com as suas tropas até as portas de Istambul.
Somente uma intervenção da Rússia salvou o governo otomano de uma derrota completa. Em consequência, a Turquia tornou-se praticamente um protetorado da Rússia, que assegurou então aos seus navios de guerra o direito de atravessar os estreitos de Bósforo e de Dardanelos, o que era tradicionalmente proibido aos outros países.
Em 1839, voltou a ocorrer um confronto militar entre o sultão e seu vassalo infiel. E, mais uma vez, Mohammed Ali conseguiu impor-se militarmente. O diplomata prussiano Helmuth von Moltke, atuante na Turquia há vários anos, constatou na época:
"Quem acompanha atentamente o desenrolar dos acontecimentos no Oriente não pode negar que o império turco precipita-se no despenhadeiro da ruína com uma velocidade cada vez maior. Considerando as consequências imprevisíveis que um desaparecimento repentino do Império Otomano na comunidade internacional geraria, não se pode censurar a política europeia, que procura adiar o máximo possível tal catástrofe."
Faltou consenso na Europa
Enquanto Prússia, Áustria, Rússia e Inglaterra concordavam que o Império Otomano deveria ser apoiado, a França tomou o partido dos rebeldes egípcios. No segundo trimestre de 1840, as cinco potências tentaram em vão encontrar uma solução, numa conferência em Londres.
Sem apoio da França, as demais quatro potências aprovaram, em julho de 1840, a primeira Convenção Londrina, dando um ultimato para o restabelecimento do poder do sultão na Ásia Menor. Mas somente a intervenção da frota inglesa é que obrigou o vice-rei egípcio à capitulação definitiva e à retirada da Síria.
O chefe do governo francês, muito indignado com essa afronta, viu-se obrigado a ameaçar as outras potências com guerra, por pressão da opinião pública. Contudo, a ameaça era militarmente pouco realista. A França não teria condições de enfrentar sozinha as quatro outras potências no campo de batalha. O rei francês Luís Felipe 1º demitiu seu chefe de governo pouco depois e cedeu na questão.
Sem a participação da Turquia
Em julho de 1841, chegou-se então a um consenso entre todas as potências europeias na Segunda Convenção Londrina, que regulava também a questão dos estreitos marítimos:
Artigo 1º: Sua Alteza o Sultão declara de sua parte que está firmemente decidido a manter no futuro o princípio básico fixo e imutável como velha regra do seu império, por força do qual é proibida em qualquer época aos navios de guerra das potências estrangeiras o cruzamento dos estreitos marítimos de Dardanelos e do Bósforo, e enquanto o governo turco encontrar-se em paz, Sua Alteza não permitirá a entrada de nenhum navio de guerra estrangeiro nos citados estreitos marítimos. E Suas Majestades o imperador da Áustria, o imperador da Rússia, o rei dos franceses, a rainha da Grã-Bretanha e o rei da Prússia unem-se para observar esta resolução do Sultão e para preservar a conformidade com o princípio básico acima mencionado…
Com isso, foi atribuído oficialmente à Turquia o papel de guardiã dos estreitos marítimos. Porém, as duas convenções londrinas, ambas aprovadas sem a participação do governo turco, deixaram uma coisa clara: o antes poderoso Império Otomano tornara-se um fantoche nas mãos das potências europeias.
Mas também as relações de força entre as grandes potências haviam se alterado. A influência russa em Istambul foi enfraquecida pelo documento; a Turquia passou a buscar cada vez mais o apoio da Inglaterra. O bom entendimento entre britânicos e franceses ficou prejudicado, e a reputação da França sofreu arranhões, por seu comportamento durante a crise.
13.7.11
1841: Segunda Convenção Londrina sobre o Império Otomano
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