Estereótipo é um tipo de visão rígida acerca de como os membros de diversos grupos sociais se comportam, independentemente de como se comportam de fato. Os estereótipos criam barreiras sociais que podem dificultar ou até impedir que a interação social ocorra. Os policiais, por exemplo, tendem a parar motoristas negros com maior freqüência a fim de checar documentos, posse de armas, drogas ilegais etc. Os estereótipos raciais podem, portanto, ajudar a perpetuar relações conflituosas entre a policia e a população negra, em sua maioria das camadas populares. Em relação ao estereótipo de gênero, por exemplo, na maioria das escolas, professores e orientadores educacionais esperam que os meninos se saiam melhor em matemática e ciências e também esperam que as meninas tirem notas melhores em línguas. Pais e mães, por sua vez, tendem a reforçar esses estereótipos em suas atividades cotidianas, através da ideologia de gênero: conjunto de idéias sobre o que constitui papéis e comportamentos femininos e masculinos apropriados. Costumam presentear as meninas com bonecas e adereços domésticos e os meninos com carrinhos ou bola de futebol. Um fator importante da ideologia de gênero encontra-se na hora da escolha dos cursos universitários. As jovens tendem, em sua maioria, a escolher cursos de Humanas, que acabam levando a empregos com remuneração mais baixa, porque esperam ter que dedicar grande parte da vida ao cuidado dos filhos e da casa. Os efeitos dessa escolha são: grande restrição das oportunidades de carreira e de salários das mulheres em áreas ligadas às ciências e aos negócios; e a formação de guetos sexuais nas carreiras acadêmicas. Quando as hierarquias de gênero interagem com as hierarquias de raça e de classe, estes estereótipos se fazem mais presentes. Em geral, homens brancos com bom nível de renda são aqueles que dispõem de melhores oportunidades educacionais e, uma vez na universidade, reproduzem o mesmo padrão de formação de guetos sexuais das carreiras acadêmicas. Administração, Engenharia Elétrica, Engenharia Civil, Física são cursos majoritariamente masculinos e Enfermagem, Letras, Psicologia, cursos majoritariamente femininos.
Discriminação e preconceito
1 – Diferentes termos e significados
• Racismo: Crença segundo a qual a característica visível de um grupo (por exemplo: cor da pele) indica e justifica sua inferiorização e até segregação.
• Preconceito: Qualquer atitude negativa em relação a uma pessoa ou a um grupo social que derive de uma idéia preconcebida sobre tal pessoa ou grupo. É possível, então, dizer que a atitude preconceituosa está baseada não em uma opinião adquirida coma experiência, mas em generalizações que advêm de estereótipos.
• Discriminação: Tratamento injusto de pessoas devido ao fato de pertencerem a um determinado grupo. Implica em separar, segregar e estabelecer diferenças.
Na década de 1950, o cientista social, Oracy Nogueira, na tentativa de reformular a noção de preconceito de cor, escreveu o livro Preconceito de Marca. As relações raciais em Itapetininga, em que fazia um estudo comparativo da "situação racial" brasileira com a dos Estados Unidos. O autor identificou a existência de dois padrões de discriminação: "preconceito de marca" e "preconceito de origem". O primeiro caracterizaria o racismo à brasileira enquanto o segundo tipo descreveria a realidade americana.
“Preconceito de marca”: em relação às aparências, isto é, quando toma como pretexto para as suas manifestações discriminatórias, os traços físicos do indivíduo, a fisionomia (cor da pele, textura do cabelo, formato facial), os gostos, o sotaque...
“Preconceito de origem”: suposição de que o indivíduo descende de certo grupo étnico considerado inferior. Assim, o indivíduo ligeiramente branco, nos EUA, são considerados e tratados como negro. No Brasil, o mestiço, em função da ausência ou de traços negroides pouco visíveis podem ser tratados como brancos, ou não são considerados negros.
2 – Diferentes formas de discriminação, preconceito e intolerância
Discriminação de raça: racismo
Na segunda metade do séc. XIX na Europa, a noção de raça ganhou contornos científicos. Características como inteligência e comportamento passam a ser investigadas a partir de correlações com o corpo humano. Dentre os principais integrantes desta corrente de pensamento, podem ser citados o italiano Cesare Lombroso (1835-1909) e o francês Arthur de Gobineau (1816-1882). Lombroso, médico italiano, foi considerado o “pai” da antropologia criminal. Ele estabelecia relações entre elementos anatômicos e a criminalidade (considerado um fenômeno físico e hereditário). Gobineau entendia que a miscigenação resultava na degeneração das raças consideradas superiores. Entretanto, tratava-se de um fenômeno inevitável. O racismo científico no Brasil (1870-1930) foi um pensamento oriundo das faculdades de direito (Recife e São Paulo) e de medicina (Bahia e Rio de Janeiro). A miscigenação era entendida como barreira à identidade nacional positiva concebida aos moldes evolucionistas europeus. A presença e costumes de povos indígenas e africanos foram considerados obstáculos ao progresso e à modernidade no Brasil. O médico baiano Nina Rodrigues (1862-1906), por exemplo, afirmou que a miscigenação ocorrida no Brasil condenava o país ao atraso por um longo tempo. Nos Estados Unidos, a “direção suprema da raça branca” teria garantido a formação de uma sociedade civilizada. Os brasileiros sofreriam com a “instabilidade emocional do mestiço”, que explicaria a degeneração da população. Nos dias de hoje ainda prevalecem, no senso comum, idéias que associam raça, características biológicas e habilidades ou comportamentos. Os negros são considerados melhores no futebol, na música popular e socialmente percebidos mais próximos da criminalidade. É como se comportamentos esportivos, artísticos e criminosos fossem determinados pela raça. Mas a explicação para isso não se encontra na raça ou em predisposições de caráter biológico, mas em condições socioculturais. De maneira geral, pessoas que se deparam com preconceito e discriminação, muitas vezes encontram nos esportes, na indústria do entretenimento e na criminalidade formas de ascensão social que lhes são negadas em outras áreas.
Discriminação de gênero: sexismo
A desigualdade entre mulheres e homens foi socialmente construída há muitos anos, mas três grandes processos sócio-históricos que explicam o seu crescimento: o surgimento de guerras e conquistas de longa distância, que fortaleceram a posição dos homens, aumentando sua autoridade e o poder masculino; o desenvolvimento da agricultura de arado, que exigia adultos fortes trabalhando o dia todo; e a atribuição das mulheres à esfera doméstica e dos homens à esfera pública durante o início da era industrial. Uma das mais importantes expressões da desigualdade de gênero hoje em dia é a defasagem de salário entre homens e mulheres, ainda que desempenhem as mesmas funções. Embora a discriminação de gênero seja ilegal, ela ainda não desapareceu e se faz presente por meio do assédio sexual e do estupro. Segundo pesquisa realizada pela Fundação Perseu Abramo, a cada 15 segundos uma mulher é agredida no Brasil.
Discriminação de sexualidade: homofobia
Homossexualidade é uma orientação sexual e afetiva dirigida a pessoas do mesmo sexo. A homossexualidade existiu em todas as sociedades e, em algumas, como a Grécia Antiga, ela era incentivada. Mais freqüentemente, no entanto, atos homossexuais foram reprimidos e até proibidos. Neste sentido, foram criadas comunidades, subculturas e organizações em defesa dos direitos dos homossexuais e da diversidade sexual em geral, organizando passeatas, paradas e grupos de pressão política para expressar sua autoconfiança e exigir direitos iguais aos da maioria heterossexual. Entretanto, muitas pessoas, inclusive crianças e jovens, são muito rígidas ao reforçar papeis de gênero convencionais e aplicam sanções a outras pessoas que se “desviam” das convenções. A discriminação contra homossexuais ocorre principalmente por meio de referências preconceituosas no intuito de humilhar, discriminar, ofender, ignorar, tiranizar e ameaçar.
Além de uma linguagem pejorativa, a antipatia a homossexuais fica evidente quando algumas pessoas estão dispostas a defender suas crenças com base no uso da força. De acordo com dados do Grupo Gay da Bahia, entre 1991 e 2004, mais de 1.600 homossexuais foram assassinados no Brasil. Isto torna o Brasil um dos países mais intolerantes do mundo no que diz respeito à opção sexual.
Discriminação de religião: intolerância religiosa
Dada a grande diversidade de religiões, podemos considerar uma mais importante ou mais correta que as demais? Existe alguma religião que possua valores ou verdades superiores aos das outras? Afirmar a maior importância de uma religião em relação às demais não deixa de ser uma atitude determinista. Cada religião busca orientar comportamentos em uma dada coletividade e esta, por sua vez, apresenta um ritmo próprio de desenvolvimento, distinto daquele de outras sociedades, nem por isso melhor ou pior. Neste sentido, não existe religião superior ou inferior, cada uma procura proporcionar alívio espiritual e explicações existenciais aos fiéis que são por ela atendidos. Apesar das três grandes religiões monoteístas (cristianismo, judaísmo e islamismo) apresentarem princípios teológicos em comum (formação da moral e da ética individual), apresentando fortes vínculos entre si, ainda podemos constatar conflitos existentes entre seus adeptos. Fundamentalismo religioso: apego ao cumprimento estrito dos preceitos dos textos sagrados, ou seja, interpretação ao pé da letra, sem considerar o momento histórico em que foram criados. Às vezes, essa crença pode levar algumas pessoas a colocar a fé acima da própria vida, induzindo-as a aceitar suicidar-se, inocentes como forma de protestar ou de resistir ao que consideram uma ofensa à religião e aos costumes de sua comunidade.
Multiculturalismo e políticas de reconhecimento
O pleno reconhecimento da igualdade e da cidadania, associado à questão de igualdade de tratamento às culturas de grupos étnicos diferentes aponta na direção de uma política multicultural. Diferentemente do pluralismo cultural, que reconhece as diferenças, mas não exige tratamento em pé de igualdade a todas as culturas, o multiculturalismo tende necessariamente a reconhecer a igualdade de valor intrínseco a cada cultura. Podem ser relacionadas aqui as “minorias” - grupos sistematicamente discriminados em razão de suas diferenças para com os padrões de raça, etnia, sexualidade e orientação sexual -, assim como movimentos sociais tais como os dos trabalhadores rurais sem teto e o dos sem teto nas cidades.
2.7.11
Estereótipos e Estigmatização
Estereótipo e estigma
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