7.7.11

Voltaire e os fundamentos da História

Por Geraldo Magela Machado
Voltaire, pseudônimo de François-Marie Arouet (Paris, 21 de Novembro de 1694 – 30 de Maio de 1778), foi um poeta, ensaísta, dramaturgo, filósofo e historiador iluminista francês. Ele defendia a liberdade de ser e pensar diferente.

Segundo ele, os primeiros fundamentos de toda história são os relatos dos pais aos filhos, transmitidos em seguida de geração em geração, o que faz com que vão perdendo a credibilidade aos poucos e, por fim, a fábula toma a frente dos fatos e derruba a verdade. Assim, os relatos dos povos antigos estão repletos de exageros.

Um desses exageros está na história de Roma, na qual Rômulo, seu fundador, era filho do deus Marte, que foi amamentado por uma loba e que marchou com mil homens até a aldeia dos sabinos e combatido seus vinte e cinco mil soldados.

Voltaire dizia que, às vezes, as coisas prodigiosas e improváveis devem ser relatadas, mas apenas como provas da credulidade humana, no campo das opiniões e tolices. Para ele, se quisermos conhecer um pouco da história antiga, devemos verificar a existência de monumentos incontestes.

Um desses monumentos citados por Voltaire é a coletânea de observações astronômicas feitas na Babilônia durante 1900 anos seguidos e que foram enviadas à Grécia por Alexandre, o que prova, segundo ele, a existência dos babilônicos vários séculos antes, pois a artes nada mais são do que a obra do tempo.

A utilidade da história, segundo Voltaire, reside no fato de que podemos nos utilizar dos fatos pretéritos, para antever e prevenir eventos futuros. Histórias de tiranos nos alertam para não confiar todo o poder de uma nação à apenas uma pessoa. Eventos com exércitos que foram destruídos pela fome em regiões inóspitas, dizem aos generais para não ir para uma batalha sem suprimentos.

A história moderna mostra claramente, ainda segundo Voltaire, que quando uma nação se acha demasiadamente preponderante, as demais se insurgem contra ela, na tentativa de manter um certo equilíbrio. Esse equilíbrio era desconhecido pelos povos antigos, o que fez com que Roma tivesse o domínio que teve.

Se a história fugir aos olhos das nações, há o perigo de flagelos passados voltarem a atingir a humanidade, pois não haveria nenhuma precaução contra seu ressurgimento. Pestes, guerras, revoluções tornariam a abalar o equilíbrio do mundo.

Voltaire acreditava que, se aniquilassem o estudo da história, a humanidade veria novamente os massacres que tanta dor causou a muitos. Conhecer a história é conhecer o mundo e evitar que atos desumanos voltem a acontecer.

Fonte: VOLTAIRE, A filosofia da história / Voltaire; tradução Eduardo Brandão. – São Paulo : Martins Fontes, 2007. – (Voltaire vive).