10.3.12

Hans Staden

Em “O Encontro Fortuito de Gerard van Oost e Oludara”, o Gerard cita Hans Staden como uma influência na sua decisão a viajar para o Brasil.  E para falar a verdade, Hans Staden foi uma influência minha na hora de criar o próprio personagem de Gerard van Oost!
Hans Staden era um mercenário alemão de Homberg que fez duas viagens para o Brasil no meio do século XVI.  Na sua primeira viagem, ele participou em uma invasão marinha no Arquipélago Madeira, lutou com corsários franceses na costa do Brasil e foi um de quarenta homens que fizeram recuar oito mil índios que sitiavam uma pequena fortaleza em Igaraçu.
Batalha contra franceses perto do estado Paraíba
Mas tudo isso não era nada anormal na época.  Na verdade, foi sua segunda viagem que estabeleceu a fama dele.  Seu navio naufragou perto da Ilha de São Vicente, onde ele e outros sobreviventes foram contratados pelos Portugueses a serem artilheiros no Forte Bertioga.  Os portugueses e seus aliados tupiniquins estavam em guerra com seus vizinhos tupinambá.
Náufrago perto da Ilha de São Vicente
Um dia, enquanto ele caçava sozinho, Hans foi capturado pelos Tupinambá.  Eles o sequestraram durante nove meses.  Durante o tempo dele entre os Tupinambá, ele participou em batalhas, tentou convencer mercadores franceses (aliados dos Tupinambá) a resgatá-lo e fez todo o possível para escapar, mas nada adiantou.  Ele também presenciou o churrasco brasileiro original: onde os Tupinambá assaram e devoraram um guerreiro inimigo.
Os Tupinambá assam um inimigo enquanto Staden protesta
Os Tupinambá planejavam comer o Staden também, mas ele conseguiu adiar a execução com vários truques e desculpas.  No final, o capitão francês Guillaume Moner o salvou, enganando os Tupinambá, dizendo que os irmãos de Staden tinham vindo buscar ele.
Hans Staden volta para casa
De volta para Europa, Staden escreveu um livro sobre as suas viagens com um título muito descritivo: A Verdadeira História dos Selvagens, Nus e Ferozes Devoradores de Homens, Encontrados na América, e Desconhecidos Antes e Depois do Nascimento de Cristo na Terra de Hessen, Até os Últimos Dois Anos Passados, Quando o Próprio Hans Staden de Homberg, em Hessen, os Conheceu, e Agora os Traz ao Conhecimento do Público Por Meio da Impressão Deste Livro.  Uau!
Hoje em dia, muitas edições chamam o livro por um título mais fácil de escrever: Duas Viagens ao Brasil.
O livro virou bestseller na Europa, tão popular que versões falsas foram lançadas (provando que a pirataria não é novidade de hoje em dia).
Luís Alberto Pereira dirigiu um filme maravilhoso em 1999 relatando a segunda viagem de Hans Staden.  O filme recria o livro de maneira impressionante.  Para dar um só exemplo, é um dos únicos filmes feitos com a língua tupi antigo, o idioma mais comum no litoral brasileiro quando os portugueses chegaram em 1500.  Ainda mais impressionante é que tupi antigo desapareceu como língua falada há duzentos anos atrás!  Os atores estudaram o idioma com historiadores brasileiros, e tiveram que aprender as falas uma a cada vez.  O filme chama-se Hans Staden e recomendo-o muito!
(Imagens: do livro original de Hans Staden.)