15.3.12

Hinduísmo



Swami Sunirmalananda

Introdução


O Nome “Hinduísmo”

O que significa a palavra hindu? Geralmente, para muitos ocidentais, as pessoas que vivem na Índia são chamadas hindus. Essa parece ser uma boa idéia, por que Swami Vivekananda comentou em uma de suas conferências: “Agora, esta palavra hindu, como era aplicada para designar os habitantes do outro lado do (Rio) Indus, seja qual possa ter sido seu significado em tempos antigos, perdeu toda a sua força nos tempos modernos, porque todos os povos que hoje vivem desse lado do rio Indus, não mais pertencem a uma única religião...”.

Em primeiro lugar, o termo hindu não é um termo sânscrito. Em segundo lugar, ele nunca foi encontrado nos Vedas ou na literatura religiosa que veio a seguir. Nenhum dos grandes acharyas como Shankara, Ramanuja e outros, usou esse termo. Em terceiro lugar, esse termo não tem nenhum significado. Dessa forma, o próprio nome está errado. Na opinião geral, o termo hindu foi usado pelos persas. Eles não conseguiam pronunciar a palavra Sindhu – quando falavam à respeito do rio Sindhu. Assim, pronunciavam hindu. Dessa palavra mal pronunciada surgiu o nome hinduismo.

Portanto, os indianos antigos, geralmente, não aceitam esse termo significando qualquer coisa relacionada com a sua religião. Um erudito escreveu: “A situação política de nosso país nos séculos passados, digamos nos últimos 20 ou 25 séculos, fez com que se tornasse muito difícil entender a natureza dessa nação e de sua religião”. Os eruditos ocidentais e os historiadores também falharam em descobrir o verdadeiro nome dessa terra de Brahman, desse vasto país que tinha as dimensões de um continente. Portanto, ficaram satisfeitos em chamar essa terra por esse termo sem significado: hindu. Parece que o poder político foi responsável por insistir no uso dessa palavra hindu. Ela foi encontrada, é certo, na literatura persa. Hindu-e-falak significa “O negro do céu” e “Saturno”. No idioma árabe hind, não hindu, significa nação. É vergonhoso e ridículo ter visto ao longo da historia que o nome hindu foi dado pelos persas para o povo que eles encontraram em nosso país quando chegaram ao sagrado solo do Sindhu”. A Inglaterra, que nos governava, nos chamava hindus, talvez para nos diferenciar dos muçulmanos. Essa palavra acabou se tornando um nome definitivo.

No entanto, sem um conhecimento apropriado, essa palavra acabou se tornando famosa. Infelizmente, a palavra hindu tem sido usada por todos, até mesmo pelos próprios indianos. O termo hinduísmo é freqüentemente utilizado para designar uma enorme gama de atividades, sejam elas de caráter religioso, político, cultural, etc.



O Nome Verdadeiro
Qual deveria ser, então, o nome correto dessa religião? Swami Vivekananda e todos os outros grandes santos e eruditos dizem que “Vaidika Dharma” ou “Sanatana Dharma” deveria ser o nome correto. Vivekananda declarou: ‘O único nome nos tempos modernos que deveria designar cada hindu por toda a terra seria “Vedantista” ou “Vaidika”. Nesse sentido eu sempre uso as palavras “vedantista” e “Vedanta”.

Assim, hinduísmo é o nome dado à religião que existia na antiga terra de Aryavarta (A terra da Ásia) desde tempos imemoriais. Diferentes caminhos, diferentes culturas, diferentes hábitos, diferentes vestuários, diferentes deuses e deusas, diferentes preces, tudo isso junto, hoje agora, tem sido chamado de hinduísmo.



Sanatana Dharma
Sanatana significa eterna. Dharma significa religião. O nome correto do hinduísmo deveria ser Sanatana Dharma ou religião eterna. Essa religião é eterna por que praticamente não tem começo nem fim. Não tem começo, no sentido de que, a terra dos arianos, a Índia, existe desde tempos desconhecidos, com uma cultura muito grande e muito profunda. Essa cultura e civilização seguida de algumas práticas vieram a ser chamada religião.

Seria um nome emocional, dado por alguém que pensa que sua religião é eterna? Não é assim. Então, por que é chamada Sanatana? É assim chamada por que nunca teve um começo. Começa com a criação propriamente dita. Shankara, na sua introdução ao Bhagavadgita, diz que quando o universo foi criado, o Senhor criou os seres humanos e lhes deu a religião. Dessa forma, o hinduismo não tem um fundador, e assim não está envolvido com nenhuma personalidade em particular.



A Expansão do Sanatana Dharma
Quem é um seguidor da Sanatana Dharma ou Religião Eterna? Qualquer pessoa que crê na Realidade, na espiritualidade, nas práticas espirituais, nas escrituras do mundo, nos santos e nos grandes ideais, é um seguidor da religião eterna. Infelizmente, a palavra Arya foi impropriamente entendida com uma conotação bastante estreita. Max Muller começou isto. Arya significa nobre. Este era todo o significado. Max Muller deu a ele uma cor regional e os arianos se tornaram uma raça. Qualquer um, nascido em qualquer lugar do mundo, que tivesse uma descendência nobre, era um ariano.

Há mais de 5.000 anos atrás, os ideais da religião eterna foram espalhados por todas as direções. Em seu livro, An Introduction to Hindu Culture (Uma Introdução à Cultura Hindu), Swami Harshananda mostrou como esta eterna religião chegou ao Afeganistão, à América, à China, Mayanmar, Java, Indonésia, Irã, Corea, Nepal e muitos outros países, há muito tempo atrás. Ele também mencionou como, muito antes de Cristóvão Colombo ter descoberto as Américas, a civilização indiana tinha se espalhado entre os astecas do México. Depois, a Grécia foi uma estudiosa do Sanatana Dharma. Existem outras civilizações que aprenderam as eternas verdades desta religião.

Uma vez mais, hoje, as verdades eternas da Vedanta e do hinduísmo estão se espalhando por todos os lugares. Isto é devido ao advento do santo dos tempos modernos, Ramakrishna, e seu singular discípulo, Vivekananda.

Swami Vivekananda disse sobre seu mestre: “Um (Shankara) tinha um grande intelecto, o outro (Chaitanya) tinha um grande coração. O tempo se fez propício para que nascesse alguém que fosse a encarnação de ambos, cabeça e coração. O tempo se tornou propício para nascer aquele que, em um único corpo, deveria trazer o intelecto brilhante de Shankara e o maravilhoso, expansivo e infinito coração de Chaitanya... Alguém que veria Deus em todos os seres, alguém cujo coração iria chorar pelos pobres, pelos doentes, pelos sem casta, pelos oprimidos, por todos neste mundo, dentro e fora da Índia. E que, ao mesmo tempo, com seu grande e brilhante intelecto, iria conceber os nobres pensamentos que harmonizassem todos os conflitos religiosos, não somente na Índia, mas fora dela também. E que manifestaria a religião universal, como a maravilhosa harmonia entre o intelecto e o coração. A situação na Índia, bem como no mundo, era terrível durante este período. As pessoas se esqueceram de suas religiões, e o hinduísmo, com suas numerosas ramificações, começou a entrar em conflito. As idéias ocidentais foram introduzidas. As pessoas desistiram de ter esperança. Eles haviam perdido a fé em Deus. Se a Índia tivesse morrido, o mundo encontraria dificuldade para entender a espiritualidade. E assim, como costuma acontecer, a renovação veio mais uma vez na Índia.

Vivekananda disse: “... a parte mais maravilhosa disto foi que o trabalho de sua vida estava justamente perto de uma cidade impregnada pelo pensamento ocidental, de uma cidade que corria loucamente atrás dessas idéias ocidentais, de uma cidade que se tornou mais européia que qualquer outra cidade da Índia. Lá, ele (Ramakrishna) viveu, sem qualquer formação acadêmica... mas os mais brilhantes graduados de nossa universidade encontraram nele um gigante intelectual... Deixe-me agora somente mencionar o grande Sri Ramakrishna, a culminação dos sábios da Índia, o maior benfeitor deste tempo. O filho de um pobre sacerdote nasceu numa aldeia afastada, desconhecida e na qual sequer se podia pensar, hoje é literalmente adorado por milhares na Europa e América e amanhã será adorado por milhares mais. Quem conhece o jogo do senhor!”



Características Importantes do Hinduísmo
Existem algumas características importantes no hinduísmo:
-> É uma religião revelada; não foi fundada por nenhum profeta, é eterna.

-> Tem uma abordagem positiva da vida.

-> Fala do principio eterno, que existe por detrás de tudo o que é transitório.

-> Fala da unidade básica que está como o fundo a todas as coisas.

-> O hinduísmo tem uma abordagem científica em relação às questões fundamentais, tais como a criação, etc.

-> O hinduismo tem uma abordagem científica também em relação à religião e à espiritualidade.

-> O hinduísmo aceita a teoria da reencarnação como um conceito básico, junto com a teoria do karma.

-> O hinduismo ensina o ideal da liberação para todos.

-> Dá a mais ampla liberdade para todos – do ateísta àquele que adora Deus sem forma.

-> O hinduísmo é inclusivo. Todas as formas de práticas religiosas são bem-vindas.

-> Dá ênfase à sadhana (prática espiritual) e à vida monástica.

-> A dádiva da Índia para o mundo é sua luz espiritual.

Ao longo da história, a Índia inspirou muitas pessoas de várias maneiras. Schopenhauer disse: ‘Em todo o mundo não existe estudo tão benéfico e tão inspirador, quanto o dos Upanishads. Eles são produtos da mais alta sabedoria. “Está destinado, mais cedo ou mais tarde, a tornar-se a fé do povo”. E mais, “O estudo dos Upanishads tem sido o consolo da minha vida e será o consolo da minha morte”.




A Glória da Sanatana Dharma
O mundialmente famoso Max Muller disse: “Se quiséssemos encontrar, no mundo todo, o país mais dotado de riquezas, do poder e a da beleza que a natureza pode conceder – em alguns sentidos o próprio paraíso na terra – eu apontaria a Índia. Se a mim fosse perguntado sob que céu a mente humana desenvolveu algumas das suas mais preciosas dádivas, que tenha refletido, da forma mais profunda, sobre os maiores problemas da vida e encontrado soluções para alguns deles, que merecerá a atenção mesmo daqueles que estudaram Platão e Kant – eu apontaria a Índia. E se eu perguntasse a mim mesmo em que literatura nós, aqui na Europa, que fomos nutridos quase que exclusivamente pelo pensamento dos gregos e dos romanos, e pelo pensamento da raça semítica, a judaica, podemos encontrar os ajustes tão necessários para tornar nossa vida interior mais perfeita, mais abrangente, mais universal, na verdade uma vida mais verdadeiramente humana, não apenas para esta vida, mas para uma vida transfigurada e eterna – novamente eu apontaria a Índia.”

Esse grande solo da índia foi dividido em muitas partes durante o decorrer dos séculos devido a razões políticas. As pressões políticas só fizeram aumentar ainda mais o sofrimento do povo e afetaram o hinduísmo de forma bastante desfavorável. Outras religiões forçaram os hindus a renunciar a sua religião eterna para aderir aos seus credos. Os seguidores de outras religiões mataram milhares e milhares de hindus, puniram-lhes severamente e causaram-lhes infindáveis sofrimentos, pelo fato de serem seguidores do hinduísmo. Por esse motivo, a Índia perdeu muito de seu glorioso passado, da sua gloriosa tradição, de suas glórias arqueológicas, etc., mas, ainda assim, os princípios fundamentais não foram perdidos.



As Escrituras do Hinduísmo: Os Vedas
Todas as outras religiões têm um livro como base. O hinduismo não tem. Ele não está baseado em nenhum livro em particular. Mas está baseado nas verdades eternas. Essas verdades foram subseqüentemente agrupadas em forma de escrituras, chamada de Vedas. Vivekananda diz: “Os hindus receberam sua religião através da revelação, os Vedas. Afirma-se que os Vedas não tem começo nem fim. Isso pode soar estranho para a audiência. Como pode um livro não ter começo nem fim. Mas, os Vedas não significam livros. Significam o tesouro acumulado de leis espirituais, descobertas por diferentes pessoas, em tempos diferentes. Assim como a lei da gravidade existia antes de sua descoberta, e continuará existindo mesmo que toda a humanidade se esqueça dela, o mesmo acontece com as leis que governam o mundo espiritual”.

Dessa forma, os Vedas são as escrituras básicas do hinduísmo ou do Sanatana Dharma. O que são os Vedas? “Veda” significa conhecimento – todo o conhecimento – que os seres humanos necessitam para se desenvolver física, moral, ética e espiritualmente. Rig Veda, Yajur Veda, Sama Veda e Atharva Veda—esses são os quatro Vedas. Devemos lembrar que os Vedas não significam livros.



Escrituras Secundárias
1 – Upavedas 2 – Vedangas





3 – Smritis [ leis como os mandamentos]
Manu Smriti, Yajnavalkya Smriti, Parasara Smriti, Vishnu Smriti , Daksha Smriti, Samvarta Smriti, Vyasa Smriti, Harita smriti, Satatapa Smriti, Vasishta Smriti, Yama Smriti, Apastambha smriti, Gautama Smriti, Sankha-Likhita Smriti, Usana Smriti, Atri Smriti, Saunaka Smriti



4 – Itihasas [Histórias] Ramayana e Mahabharata


5 – Puranas [contem historias, vida das encarnações, e filosofia simplificada]


18 são Mahapuranas e outros são Upapuranas. Os Mahapuranas são: Matsya, Kurma, Agni, Skandha, Linga, Vayu, Shiva, Varaha, Padma, Garuda, Narada Bhagavata, Vishnu, Vamana, Bhavishya, Markandeya, Brahmanda, Brahma.


6 – Ágamas (Vaishnava, Shakta, e Shaiva)
a] Vaishnava Ágamas: Vaikhanasa, Pancharatra, Pratishthasara e Vijnanalalita ágamas

b] Shakta Ágamas, são tantras: Mahanirvana, Kularnava, Kulasara, Prapanchasara, Tantraraja, Rudra-Yamala, Brahma-Yamala etc.

c] Shaiva Ágamas são 28.

7– Darshanas [os seis sistemas da filosofia hindu: sankhya, yoga, nyaya, vaisheshika, purva mimamsa e uttara mimamsa].



Os ideais
De acordo com o hinduísmo, a meta da vida não é, por um lado, somente desfrutar dos prazeres do mundo, nem por outro, fugir para a floresta como forma de uma absoluta rejeição ao mundo. Para nos orientar em relação às metas da vida, ele nos dá os seguintes ideais a ser seguidos:

1 – Dharma — viver com retidão ou virtude; obedecer as leis dos smritis

2 – Artha — obter riqueza com retidão para servir os outros seres.

3 – Kama — satisfazer os desejos com retidão e sob controle

4 – Moksha — a meta da vida é a liberação

Esses quatro ideais existem para ser seguido por todos. O desejo por desfrutar das coisas do mundo (kama) e a riqueza (artha) devem ser equilibrados pela virtude (dharma) e pelo anseio por liberação (moksha). Esse é o projeto central da vida para toda a humanidade, dada pela religião eterna, para se alcançar aquela que é a grande meta de todo ser humano: a liberação de todas as suas limitações.

Mas será que essas metas estão destinadas para todos? Será que todos poderão praticá-las? Sim. O hinduísmo coloca esses ideais para todas as pessoas nesta terra. Essas são as metas comuns – a meta de se conquistar riqueza e a meta de desfrutar são conhecidas de todos. Mas como temperar estas duas metas com os ideais de uma vida mais elevada, isso deve ser conhecido. E é isto que o hinduísmo nos ensina.


Os Quatro Estágios
Para que possamos praticar esses quatro ideais juntamente, o hinduismo dividiu a vida em quatro estágios. Esses estágios são evidentes na vida moderna também. Os quatro estágios são:

-> Brahmacharya — O estágio da vida de estudante. Até por volta de 20-25 anos, o jovem irá para o lugar de seu mestre, com a finalidade de estudar.

-> Garhasthya — Após completar seus estudos, o jovem estará pronto para se casar e levar uma vida de chefe de família (garhasthya)

-> Vanaprastha — Após completar o período como chefe de família e tendo cumprido com todas as responsabilidades familiares, vem o estágio de aposentado (vanaprastha).

-> Sannyasa - Finalmente, a alma se prepara para partir do mundo e de todas as suas relações e atrações (sannyasa).

Se o ideal da pessoa é viver por 100 anos, ele ou ela dividirá a vida em quatro partes. Na ultima parte dos 25 anos, se dedicará a pensar em Deus exclusivamente.

Assim, embora ele ou ela pudesse ter levado qualquer outro tipo de vida, sua vida foi dirigida para a meta em direção a liberação da tristeza e do sofrimento, alcançando assim a pura bem-aventurança.

Cada um dos quatro estágios da vida tem várias regras e regulamentos. Elas foram escritas por sábios como Manu e tinham que ser seguidas. Por exemplo, no estágio do estudante, o jovem tinha que ser verdadeiro, de coração puro, e assim por diante. No estágio de chefe de família, tinha que praticar, diariamente, os cinco grandes sacrifícios. No estágio da vida de aposentado, tinha que se devotar mais e mais a atividades elevadas. Esse estágio era chamado de estágio do morador da floresta, por que ele tinha que vagarosamente passar os poderes de administrador da família para seus filhos. Então, chega o estágio final, quando tem que dedicar sua mente a Deus.



As Quatro Ordens [varna]
Junto com os quatro estágios da vida, haviam mais divisões. Nem todas as pessoas estão preparadas para o mesmo tipo de atividade e nem todas as atividades são as mesmas. Com isso em mente, nossos antigos sábios dividiram as pessoas em quatro amplas classes: a classe intelectual, aqueles podem dedicar à vida ao estudo, a meditação, etc.; a classe dos guerreiros, que podem dirigir o reino; a classe dos negociantes que podem produzir alimento, fazer negócios, etc.; e a classe que mantêm a sociedade limpa. Essas quatro classes foram respectivamente chamadas de brahmana, kshatriya, vaishya, e shudra.

Essa divisão da sociedade foi um passo muito importante para manter a sociedade bem. Essa divisão em quatro categorias foi um meio muito importante para manter o equilíbrio da sociedade de uma maneira espiritual. Toda essa antiga sociedade foi construída sobre esse plano. O plano era perfeito. A questão de privilégios acabou surgindo somente mais tarde e, com eles, os problemas começaram também a surgir.



Os Sacramentos Hindus
A vida do hindu é um sacramento. Ele ou ela nasce religioso, vive religiosamente e morre dentro dessa mesma perspectiva. Tudo que o hindu faz tem um caráter religioso. Ele ou ela come, bebe, dorme, caminha e até mesmo respira levando em consideração o aspecto religioso! Assim, para tal hindu, todos os eventos da vida são importantes..

Há dez importantes rituais na vida do hindu, chamado samskaras. Esses rituais são feitos nas seguintes ocasiões:
1 – Garbhadana — quando da concepção do filho no útero materno

2 – Pumsanvana — quando o bebê completa 4 ou 5 meses no útero materno

3 – Simanton-nayana — quando o bebê completa 7 meses no útero materno

4 – Jaatakarma — após o nascimento do bebê

5 – Naama-karana — cerimônia para dar o nome ao bebê, alguns dias após o nascimento

6 – Anna-prashana – quando se alimenta o bebê com o primeiro grão de arroz, por volta de 8 ou 9 meses

7 – Chuda-karma – cerimônia de remoção do cabelo de nascimento dos meninos apenas; em Bengala, para as meninas também

8 – Upanayana – cerimônia de iniciação das primeiras três castas, na vida espiritual.

9 – Samaa-vartana – cerimônia de gradução

10 – Vivaaha – cerimônia de casamento

Esses são, então, os rituais chamados samskaras, que cada individuo tem que passar de acordo com o hinduísmo. Cada ato é considerado sagrado, e é um sacramento. Desse modo, a vida ganha em alegria e em significado.



A Meta da Vida Humana de Acordo com o Hinduísmo
Já mencionamos que a meta dos seres humanos é a liberação. A liberação de todas as limitações, tristezas e sofrimentos é a meta. Essa meta tem sido designada por diversos nomes, tais como: mukti, moksha, nirvana, kaivalya, e assim por diante, por diferentes escolas. Os métodos de explanação são diferentes, mas a idéia é a mesma.

Existem muitas escolas no hinduismo, algumas das quais ensina a idéia de liberação para todos. Se eu for liberado, todos serão liberados. Tal é a idéia.

A vida, de acordo com o hinduísmo, é continua. Ela continua até a alma ser liberada de sua prisão. O tempo flui de forma unilateral e contínua. No entanto, os hindus chegaram a dividir o tempo nas menores e nas maiores partes concebíveis. Eles tinham a noção correta, desde a menor até a maior quantidade de tempo. Assim, dividiram perfeitamente o tempo. Em relação aos números maiores, são importantes as 4 eras ou yugas. Cada ciclo se completa ao final de 4 yugas. Essas yugas, ou eras, são períodos muito longos de tempo e, para cada yuga, há uma Encarnação Divina. Algumas vezes até mais do que uma.



Os deuses do hinduísmo
Existe muita discussão a respeito dos deuses do hinduísmo. As pessoas continuamente criticam a idéia hindu de “numerosos deuses e deusas”. Como podem haver numerosos deuses? O hindu adora apenas a um Deus, mas através de inúmeros nomes e formas. Por essa razão, há um grande número de deuses e deusas. Desde os tempos védicos existe essa máxima: “A realidade é Uma, mas os sábios a chamam por diferentes nomes”. “Agora, porque se deve dar diferentes nomes para essa Realidade única? Isso acontece por que existe variedade na natureza, e as diferentes pessoas têm mentes e gostos diferentes. Dessa forma, a variedade torna-se necessária. Isso, portanto, de nenhuma maneira magoa a Deus. A segunda razão pela qual há milhões de deuses e deusas no hinduísmo é: o hinduísmo adora o próprio ser humano como Deus. Assim, todos os seres são deuses.

Swami Vivekananda afirmou que deveriam existir tantas religiões quanto existem seres humanos. Cada pessoa é única e, assim, suas idéias e ideais são diferentes.

Os hindus adoram quase tudo: as árvores, as plantas, os animais, os pássaros e até mesmo as pedras. Por trás de todas essas coisas, o hindu só vê o Único e Supremo Ser. Isso, novamente, tem dado margem ao surgimento de dúvidas. Mas, o que está por trás dessa idéia é de que tudo é santo e sagrado. Ver Deus em tudo é o ideal. As pessoas comuns não verão nada, nem mesmo em Deus, enquanto que uma pessoa ideal verá Deus mesmo nas coisas mais comuns — essa é a diferença.

O Ser Uno e Supremo, chamado Brahman, é a única existência. Todos os diferentes deuses são diferentes formas e manifestações desse mesmo e único Deus. É esse Ser Uno e Supremo que se tornou todas as coisas. As mais antigas escrituras, os Vedas, declaram que Deus é um e é chamado Brahman. Essa Suprema Realidade não pode ser descrita por que, está além de pensamentos e palavras. Assim tem sido chamada Sat-chit-ananda (Existência-Consciência e Bem-aventurança absolutas) – isso é o mínimo que pode ser dito a respeito da Realidade. Essa mesma realidade tem sido vista de diferentes maneiras, por diferentes grupos e sistemas do hinduismo. Discutiremos isso mais adiante. Portanto, todos os vários deuses e deusas são as manifestações desse Supremo Uno.



A adoração de imagens, praticada pelos hindus é, geralmente, ridicularizada. Mas, todas as religiões têm uma forma ou outra de imagens ou símbolos. Assim, isso não é um privilégio apenas do hindu. Quando o hindu adora uma imagem feita de pedra, ou uma pintura, ele não está rezando para a pedra ou para a imagem dessa maneira: “Ó pedra, dê-me isso ou aquilo.” Ele está na verdade rezando a Deus, através desse meio concreto. Inúmeros santos tem surgido no decorrer dos séculos, a partir desse tipo de adoração às imagens. O hindu nunca considera a adoração à imagem como o passo final na religião. Ele sabe que esse tipo de adoração é apenas o primeiro estágio. O segundo estágio é pensar em Deus, que está no céu, o terceiro, pensar em Deus que está no coração, e o ultimo estágio é pensar que Deus é onipresente.



Sistemas de filosofia
São seis os sistemas de filosofia da Índia. Todos são chamados astikas ou teistas, por que aceitam os Vedas como a verdade eterna. Há alguns que não aceitam os Vedas. Esses são chamados nastika ou ateístas.

Deles, exceto um, quase todos não dão muita importância à idéia de Deus. Mas, todos eles ensinam a permanência do Ser ou Atman. Embora suas idéias sobre o Atman sejam diferentes, eles ensinam que o atman é a entidade permanente por trás da aparente irrealidade.

Esses seis sistemas são: o Samkhya, a Yoga, o Nyaya, a Vaishesika, o Purva Mimamsa e o Uttara Mimamsa ou Vedanta. Desses sistemas, o Samkhya e a Yoga seguem o mesmo padrão de pensamento. O Nyaya e o Vaisheshika seguem também um mesmo padrão de pensamento. mas o Purva Mimamsa e o Uttara Mimamsa têm padrões de pensamento diferentes.

A Vedanta, que é a ultima parte dos seis sistemas, é a maior dádiva concedida à humanidade. É a culminação, a mais elevada de todas as idéias. Ela é a essência de todas as filosofias do mundo. Esse sistema tem sua origem na ultima parte dos Vedas, os Upanishads. A Vedanta ensina as verdades absolutas – Brahman, Atman, etc. Ela aceita todos os pontos de vista sobre Deus e sobre a religião. Dessa forma, existem várias escolas de Vedanta, pelo menos seis. Dentre elas, três são as mais importantes. Essas três escolas são: o Dualismo (a escola Dvaita), o Dualismo qualificado (a escola Vishishadvaita) e o Não-Dualismo (a escola Advaita).

1. Dualismo: o Dualismo não significa somente dualismo em relação a Deus e a alma, mas dualismo em outras coisas também. O dualista não aceita a unidade da alma com Deus. A alma, o mundo e Deus são três entidades eternas, que nunca nasceram e nunca foram criadas. Continuam separadas. Na liberação, a alma fica mais próxima de Deus, adquire Suas qualidades e O serve. Madhvacharya, o santo do sul da Índia, propagou essa doutrina do dualismo. Através da devoção alcança-se a Deus.

2. Dualismo-não qualificado [Vishishtadvaita]: essa está entre o dualismo e o monismo. Esse sistema aceita o fato que somente Deus é verdadeiro, o universo e nós mesmos, somos manifestações de Suas glórias. Na liberação, a alma assimilará todas as qualidades de Deus, exceto o poder de criar. Ramanuja, o propagador dessa escola, desenvolveu o sistema de devoção e disse que a devoção tem três estágios: o estágio no qual a alma torna-se pura, o estágio no qual a alma sabe que é Brahman. Então, ao final, vem o estágio no qual ela quer se tornar unida com o Supremo Atman. De acordo com essa escola, a devoção é o caminho para se alcançar a Deus.

3. Não-Dualismo [Advaita]: essa escola ensina que existe uma única Realidade, e todo o resto é apenas uma sobreimposição sobre essa Realidade única. Shankara foi o iniciador dessa escola. A idéia de que eu e você somos separados é uma ilusão. Através do caminho do conhecimento e do discernimento, alcança-se o mais elevado, que é a consciência não dual.

De acordo com Vivekananda, todas as religiões estão contidas nessas três escolas. “Isso é o quero dizer com a palavra Vedanta, ou seja, que ela abarca o campo do dualismo, do monismo qualificado e da advaita na Índia”.


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