Grupos radicais islâmicos ainda ameaçam o alcance da estabilidade política na Somália.
Em sua história recente, o território somali foi mais uma das várias regiões subordinadas ao mando e à exploração da ordem imperialista. Nesse caso, a porção norte do território ficou sob o mando da Inglaterra e a região leste dominada pelos italianos. Chegada a década de 1960, sob o contexto de descolonização, os dois espaços conquistaram a sua autonomia e se unificaram para a formação de um único estado independente.
Ao longo de sua primeira década de independência, a Somália foi conduzida por um governo de orientação democrática. Isso até 1969, quando o general das Forças Armadas, Mohamed Siad Barre, promoveu um golpe de estado que o transformou em líder máximo do país nos vinte anos seguintes. No ano de 1991, o general acabou sendo destituído do posto ditatorial pela força militar imposta pelos grupos políticos armados que se formaram durante esse tempo.
Conhecido como “warlords”, esses grupos se dividem em três principais facções: o Movimento Nacional Somali (SNM), o Movimento Patriótico Somali (SPM) e o Congresso Somali Unido (USC). Tendo cada um dos “warlords” reivindicando o poder para si, o cenário político somaliano mergulhou em uma profunda crise em que nenhuma autoridade central ou conciliadora tivesse capacidade de alcançar a estabilidade nacional.
Não bastando isso, em maio de 1991, os clãs do norte se unificaram e declararam a sua independência com a formação da República da Somalilândia. Mesmo sem reconhecimento internacional, essa região acabou firmando a sua autonomia com uma forma de governo própria. Em meio a crise política, a grave situação de fome e miséria impeliu a ONU a intervir na Somália com o oferecimento de mantimentos para a população menos favorecida.
Em pouco tempo, os recursos levados pela ONU instigaram o acirramento entre as milícias que controlavam as várias vias de acesso do país. Desse modo, a Organização das Nações Unidas autorizou a chegada de tropas norte-americanas que poderiam utilizar a força para garantir o trabalho humanitário e buscar uma resolução àquela delicada situação política. Contudo, em 1994, essa crise acabou se potencializando com a permanente atuação das milícias e a saída do exército estadunidense da região.
No ano de 2000, a crise política e os constantes conflitos internos foram discutidos em uma reunião no Djibuti, onde houve a reunião de 200 delegados somalis. O evento acabou estabelecendo a criação de uma Assembleia Nacional e repassou o governo ao presidente Abdulkassim Salad Hasan. No mês de outubro, o novo governo foi formado. Logo em seguida, alguns grupos armados dissidentes não reconheceram a nova autoridade e, com isso, preservaram o desgastante estado de guerra.
Em 2004, uma nova reunião tentou reatar o diálogo entre os clãs e os grupos armados para a formação de um parlamento capaz de reorganizar a nação somali. A partir de então, a influência e a predominância da religião muçulmana acabou estabelecendo a adoção de leis islâmicas para todo o território. Entretanto, o alcance da paz foi novamente ameaçado quando os grupos islâmicos armados do país resolveram declarar guerra a Etiópia, país vizinho apoiado pelos Estados Unidos.
A invasão das tropas etíopes acabou aprofundando o caos, a miséria e a fome que se arrastam entre a população somali. Somente em 2008, um acordo de cessar fogo conseguiu empreender a paz entre os dois países. Em janeiro de 2009, a completa saída da Etiópia do país foi seguida pela organização de um novo Parlamento agora tomado pela oposição islâmica moderada. Ainda hoje, o novo governo enfrenta a ação das milícias islâmicas de orientação radical, como o a do grupo Al Shabab.
Por Rainer Sousa
Fonte: http://guerras.brasilescola.com/seculo-xx/guerra-civil-na-somalia.htm